Efeito fisiológico imediato da aula de uma atividade física na água, em mulheres com hipertensão arterial |
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* Professor de Educação Física. Especialisa en Atividade Física Teapêutica. Centro de Saúde 04 de Taguatinga. Brasília-DF. **Prof. de Fac. de Educ. Física. Universidade de Brasília. Diretor do Instituto Latino-americano de Atividade Física Terapêutica (ILAFiT) |
Esp. Fabrício Carvalho Marques Silva* Dr. Ramón Fabián Alonso López** (Brasil) |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 7 - N° 43 - Diciembre de 2001 |
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Introdução
Com o crescente aumento da população de hipertensos, o alto custo social gerado por esta patologia e a conscientização dos problemas causados por uma hipertensão arterial sistêmica levantam uma preocupação nos indivíduos de pressão arterial elevada e das entidades governamentais em procurarem alternativas que amenizem ou solucionem os problemas causados pelas disfunções pressóricas. Dentre os métodos preventivos e de tratamento, os programas de atividade física são uns dos mais indicados, sendo utilizado em alguns casos como substitutos ou redutores das prescrições de medicamentos anti-hipertensivos. Dentro de um programa de atividade física há suficientes evidências dos benefícios na redução de morbidade e mortalidade.
A partir desses eventos, os profissionais de educação física estão buscando especializar-se para poder atender essa parcela da população que necessita de uma orientação prática sistematizada e adequada para a sua condição clínica, pois a cada dia que passa há uma maior procura por esse tipo de trabalho entre estas pessoas que possuem algum tipo de problema de saúde, entre os quais destacamos a hipertensão. Que pelo fato de ser uma patologia multicausal e multifatorial torna-se necessário que o profissional realize um trabalho multidisciplinar e interdisciplinar, participando ativamente em conjunto com outros profissionais da área de saúde no trabalho com o hipertenso.
O grande desafio dos tempos modernos, entres outros fatores, é a de como a população mundial se adaptará a nova realidade de vida, onde a evolução tecnológica e o contínuo crescimento populacional, e com eles suas vantagens e desvantagens, estão transformando o modo de vida em todo mundo, pois estes fatores podem ser considerados pontos primordiais e indicadores para a caracterização de um estilo de vida que pode ser modificável de acordo com a maneira pela qual é conduzida. Ou seja, relacionar o grande impulso tecnológico com o modo de vida da população é saber entender e interpretar os benefícios e os malefícios que norteiam esses fatores.
“A atividade física está classificada como um dessas medidas que englobam as recomendações não farmacológicas para a prevenção, tratamento e controle da hipertensão” (5).
A expressão Hipertensão Arterial Essencial pode significar simplesmente que a hipertensão é de origem desconhecida (6,8); definição que realmente é bastante simplificada em seus conceitos, mas muito evidente em suas conseqüências agudas e crônicas. A fisiopatologia da hipertensão esta longe de uma definição tão clara. Na verdade, Kaplan (1980) afirmou que a imensa maioria de todos os casos de hipertensão é idiopática, ou seja, de origem desconhecida (14).
Essa definição demonstra o que seja a pressão arterial quando em indivíduos sadios ou sem alguma complicação aparente, que interfira diretamente no funcionamento perfeito do sistema arterial. Quando isso acontece, o funcionamento é alterado fisiologicamente e então surgem complicações como, por exemplo, a hipertensão arterial. Em essência a pressão arterial constitui uma função do sangue arterial por minuto (DC) e da resistência vascular ou periférica imposta a esse fluxo (11). Essa definição demonstra o que seja a pressão arterial quando em Para definir a pressão arterial, utiliza-se a seguinte equação hemodinâmica (7,13):
PRESSAO ARTERIAL= Débito Cardíaco x Resistência Vascular Periférica
A classificação da hipertensão arterial se dá em relação à origem, isto é, em hipertensão primária ou essencial e hipertensão secundária. Existem dois tipos de hipertensão arterial (HA): hipertensão primária e secundária. A hipertensão arterial primária corresponde a 90% dos casos e se caracteriza por não haver uma causa conhecida, enquanto os 10% restantes correspondem à hipertensão arterial secundária, onde é possível identificar-se uma causa para a hipertensão (5).
Consideremos a classificação do último consenso internacional, fornecido pelo “VI Joint National Committee on Detection, evaluation and Treatment of High Blood Pressure”, na tabela abaixo (9):
Categoria
Sistólica (mmHg)
Diastólica (mmHg)
Normal
< 130
< 85
Normal Alto
130 a 139
85 a 89
Hipertensão
Estágio 1 (leve)
140 - 159
90 - 99
Estágio 2 (moderada)
160 - 179
100 - 109
Estágio 3 (severa)
180 - 209
110 - 119
Estágio 4 (muito severa)
> 210
> 120
Classificação da Pressão Arterial de Adultos de 18 anos de idade ou mais (VI JNC).Sabe-se que a hipertensão está presente em 17% dos adultos de acordo com o National Health and Nutrition Examination Survey (11) e também uma grande parte da população mundial (90 a 95%) sofre de hipertensão arterial essencial, ou seja, isso significa que a hipertensão é idiopática (sem uma causa conhecida).
A epidemiologia é o ramo da medicina que estuda as relações entre os vários fatores que determinam as freqüências e a distribuição de uma doença (14), no caso da hipertensão arterial essencial os dados epidemiológicos atualmente estão aproximadamente em torno de 15 a 20% de pessoas com hipertensão. No caso da população idosa, mais da metade é portadora de hipertensão arterial (15), fato esse que traz problemas adicionais aos serviços de saúde, uma vez que a tendência de aumento da população idosa é bastante evidente.
A hipertensão arterial é uma doença crônica degenerativa mais comum em nosso meio, estimando-se que sua prevalência na população adulta seja de 15%, e constitui um importante fator de risco coronário, estando relacionada a 40% dos óbitos por doenças cardiovasculares e a uma maior chance de desenvolver complicações, tais como acidente vascular cerebral (derrame), infarto do miocárdio e insuficiência cardíaca (18).
O American College of Sports Medicine (1994) recomendou que os exercícios aeróbicos tivessem uma duração de 20-60 minutos, de 3 a 5 vezes por semana, com freqüência cardíaca máxima de 60 a 90%. Portanto, provavelmente, os melhores resultados a serem obtidos com redução dos níveis pressóricos estão dentro do limite mencionados anteriormente, constituindo em uma excelente forma de se desenvolver adaptações benéficas ao sistema cardio-respiratório, não só para indivíduos hipertensos, mas também para pessoas sadias. (3,17)
A inatividade física é reconhecidamente um dos mais importantes fatores de risco para as doenças cardiovasculares. O estilo de vida sedentário, o tabagismo, a hipertensão arterial e a dislipidemia compõem situações passíveis de modificação, para um conjunto de doenças crônico-degenerativas consideradas o principal problema de saúde dos tempos atuais. “Dados indicam que 20% dos adultos são pouco ativos (apenas uma vez /semana) e somente 8% fazem atividade física regular (três vezes /semana) no Brasil” (4). Isto evidência a importância de que se deve atribuir aos programas de Atividade Física Terapêutica como meio para a abordagem junto ao hipertenso.
O aumento da atividade física tende a reduzir os casos de doenças coronarianas em um terço, devido à melhora da capacidade cardio-respiratória e ao controle dos fatores de risco (17). A orientação para atividade física não dispensa uma avaliação clínica e busca dos fatores de risco coronariano.
O profissional das Ciências Médica ou Saúde conhece e determina se o paciente necessita de exercício físico para sua reabilitação ou manutenção da saúde. O professor de Educação Física dirige a atividade física terapêutica em coordenação direta com o médico, o qual terá a responsabilidade de controlar e avaliar o efeito do exercício físico de acordo com o processo de recuperação do enfermo (1,2).
Todos esses procedimentos fazem parte de uma correta abordagem no tratamento não medicamentoso junto às pessoas com hipertensão, ou seja, um planejamento adequado e uma aplicação consciente do programa de atividade física é de grande importância nos resultados obtidos com os hipertensos.
Exercícios isométricos, como levantamento de peso, não são recomendáveis para indivíduos hipertensos. Pacientes em uso de medicamentos anti-hipertensivos que interferem na freqüência cardíaca (como, por exemplo, betabloqueadores) devem ser previamente submetidos à avaliação médica.
Os elementos a serem levados em conta para aplicar um programa de Atividade Física em pessoas com hipertensão arterial são (10):
Prescrição de exercícios: Para que o exercício traga benefícios ao hipertenso deve-se atentar para o tipo, intensidade, freqüência e duração do treinamento físico.
Tipo de exercício: O exercício dinâmico aeróbico comprovadamente reduz a pressão arterial, sendo considerado o mais adequado para o hipertenso. A sobrecarga pressórica imposta ao sistema cardiovascular durante a realização de exercícios isométricos e a efetividade duvidosa desse tipo de exercício como agente hipotensor levou a desencorajar este tipo de exercício para o hipertenso. No entanto atualmente tem sido recomendado que os exercícios aeróbios sejam complementados por exercícios localizados, realizados também de forma dinâmica com baixa intensidade e grande número de repetições (ver adiante em intensidade do exercício). Dessa forma se obteria uma melhor integridade do sistema músculo-esquelético e um aumento da força muscular que levaria a uma diminuição da sobrecarga diária ao coração, por redução da F.C. e da P.A. durante os esforços da vida cotidiana.
Intensidade do exercício: O exercício leve a moderado possui efeito hipotensor semelhante ou mesmo superior ao exercício intenso, e a pressão arterial se eleva menos durante a sua execução.
Aconselha-se que o exercício aeróbio de intensidade adequada para a redução da pressão arterial é aquele que atinge de 50 a 70% do VO2 máximo. Esse valor pode ser deduzido pela F.C. de reserva calculada pela fórmula (13):
F.C. treino = (F.C. máxima - F.C. repouso) X % intensidade (50 a 70) + F.C. repouso
Para os exercícios localizados recomenda-se o uso de 40 a 50% da carga máxima voluntária com grande número de repetições (20 a 25). Fundamentalmente é saber que o exercício físico terapêutico obedece a níveis previamente definidos, principalmente de intensidade, para o tratamento dos índices pressóricos. (19)
Freqüencia do exercício: Para que haja algum efeito hipotensor é recomendável uma freqüência mínima de 3 vezes por semana. Freqüências de exercícios semanais maiores produzem maior efeito hipotensor. Quanto a exercícios localizados recomenda-se a freqüência de 3 sessões semanais.
Duração do exercício: Possui relação direta com a condição física do indivíduo. Tempos maiores de exercício (40 minutos) são mais eficazes que períodos curtos de exercício (10 minutos) para obter o efeito hipotensor. Recomenda-se que o exercício aeróbio tenha de 30 a 45 minutos de duração.
O exercício físico regular reduz a pressão arterial, além de produzir benefícios adicionais, tais como diminuição do peso corporal e ação coadjuvante no tratamento das dislipidemias, da resistência à insulina, do abandono do tabagismo e do controle do estresse. Contribui, ainda, para a redução do risco de indivíduos normotensos desenvolverem hipertensão. (5)
Dentre as medidas não farmacológicas de tratamento para HAS a atividade física tem sido amplamente recomendada. Diversos estudos têm verificado que o treinamento físico é capaz de diminuir a pressão arterial de indivíduos hipertensos (10,16). No entanto deve-se atentar para a adequação do treinamento físico para essa finalidade, ou seja, quais as características do treinamento físico que ampliam seu efeito hipotensor.
Estudos epidemiológicos têm demonstrado relação inversa entre a pressão arterial e o nível de atividade física habitual ou o nível de condicionamento físico do indivíduo. “Entre os hipertensos tem sido demonstrado que o treinamento físico diminui significativamente a pressão arterial de repouso, em média na ordem de 10 mmHg, tanto da pressão sistólica quanto da diastólica, nos casos de Hipertensão Arterial Leve. O efeito do treinamento sobre a pressão arterial de 24 horas é até o momento controverso com poucos estudos e resultados contraditórios”.(10)
Existem alguns mecanismos que influenciam diretamente nos valores da pressão arterial; eles são múltiplos, complexos e ainda não totalmente esclarecidos. São basicamente mecanismos hemodinâmicos, neurais e hormonais, que podem ser chamados também de mecanismos de ação hipotensora, os quais vamos contextualizar a seguir (10):
Mecanismos hemodinâmicos: Redução da resistência vascular periférica decorrente de um estado de vasodilatação induzida pelo exercício; Redução do débito cardíaco, pela diminuição da freqüência cardíaca basal e por uma possível redução do volume plasmático dos indivíduos hipertensos treinados.
Mecanismos neurais: Redução da atividade simpática, que explicaria as alterações hemodinâmicas de vasodilatação periférica e bradicardia. O mecanismo é ainda desconhecido, mas sugere-se um aumento dos níveis de prostaglandina “E” e redução dos níveis de insulina.
Mecanismos hormonais: Redução da atividade da renina plasmática foi observada em alguns trabalhos. Outra substância como a taurina também pode estar envolvida, necessitando ainda novas investigações para avaliar a real contribuição desses fatores.
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