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¿Que formação para o novo jogador de rugby?

   
Treinador e Jogador de Rugby I Divisão.
Formador da Escola de Treinadores da F.P.R.
Lic. Educação Física e Desporto
Mestre em Alto Rendimento Desportivo (Portugal)
 
 
Luís Miguel Teixeira Vaz
irmaos.vaz@mail.telepac.pt
 

 

 

http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 7 - N° 42 - Noviembre de 2001

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Introdução

    Tendo em atenção o perfil de competências, o formador ou treinador de rugby, é geralmente, o grande responsável pela orientação dos primeiros passos dos jovens jogadores em direcção aos níveis de prática desportiva. Assim sendo, este deverá ter a capacidade de dominar e conhecer as características de diferentes formas de prática que o jogo de rugby moderno exige. De igual modo deverá conhecer que o treino é um processo objectivo cujo percurso não deve ser deixado ao acaso.

    Conhecer os seus princípios e os seus processos pedagógicos e científicos são cada vez mais importantes, ao ponto de reconhecer que tão importante quanto é, praticar desporto, é fazê-lo no respeito por princípios e regras de natureza formativa.

    ¿Que formação para o novo Jogador de Rugby ? O modelo metodológico ideal de formação de jogadores de rugby na actualidade não existe. No rugby, o modelo desejável é por si só flexível.

    Partilho da opinião que se o objectivo da formação consistir em preparar os jovens jogadores para que estes enfrentem as situações constantes de mudança que presidem o rugby na actualidade, será conveniente que o rugby dos mais jovens não seja de todo diferente do rugby praticado pelos campeões.


¿Que formação para o novo jogador de Rugby?

    Formar um jogador de rugby, para que este esteja bem preparado, ou formar uma equipa, para que todos os jogadores possam actuar em conjunto com o mesmo objectivo, não é certamente uma tarefa fácil para as equipas técnicas.

    Em todas as situações de jogos competitivos, cria-se uma relação de força individual e colectiva que transmite o nível de jogo de cada equipa.

    De acordo com Pierre Villepreux (1993), num jogo a equipa vencedora sabe, no plano individual e colectivo, resolver os problemas apresentados pela equipa adversária, dominando os factores tácticos , técnicos e psicológicos.

    O nível de jogo expressa a qualidade de rendimento. A prática de alto nível é um exemplo do que mais se destaca, pois é aqui que surgem as noções sobre eficácia, rendimento e espectáculo.

    Na actualidade, a metodologia do treino de rugby evoluiu profundamente em função das novas formas de rendimento das equipas e dos novos conhecimentos.

    Hoje compreende-se que não basta dividir o jogo em partes, reproduzindo-se as situações típicas de prática. Já não se torna tão viável copiar um modelo posicional ou de aprendizagem para se estabelecerem bases óptimas de aprendizagem.

    "O que deve estar presente em cada situação de iniciação ou de aprendizagem é o jogo em si mesmo" (Pierre Villepreux,1993).

    O rugby é uma actividade rica em situações imprevistas, às quais o indivíduo que joga tem que responder. O comportamento dos jogadores é determinado pela interligação complexa de vários factores de natureza fisiológica, física, táctica, técnica e psicológica. (...).

    Assim sendo, considero que os novos jogadores devem resolver situações de jogo que, dadas as mais diversas configurações, exigem uma elevada adaptabilidade e especificidade no que respeita à dimensão táctico-cognitiva.

    Sendo o jogo de rugby fértil em acontecimentos imprevisíveis, requer, por parte dos seus intervenientes, uma permanente atitude táctico-estratégica.

    A dimensão táctica ocupa o núcleo da estrutura de rendimento pelo que a função principal dos demais factores, sejam eles de natureza técnica, física ou psíquica, é a de cooperar no sentido de facultarem o acesso a desempenhos tácticos de nível cada vez mais elevado.

    Dentro do enquadramento pedagógico, o rugby apresenta uma especificidade própria, o Confronto Físico. Esta noção é fundamental logo à partida, como refere Nerin (1986). O acto motor está inicialmente condicionado pela personalidade do jovem, nas dimensões motora, afectiva e cognitiva.

    Neste sentido, a aprendizagem deve primeiramente resolver os problemas que vão surgindo no plano afectivo, em vez de uma aprendizagem estereotipada analítica e técnica.

    De acordo com Rocha e Cordovil (1995), a concepção do ensino e aprendizagem do rugby aponta no sentido de criar condições para que o jovem praticante se aproprie activamente do rugby, identificando os "porquês" antes dos "como ", a táctica antes da técnica.

    Este problema de abordagem (técnica e/ou táctica) nas fases iniciais de aprendizagem é também, no rugby , diferenciado por vários treinadores e técnicos quanto à sua duplicidade de abordagem.

    O desenvolvimento das diferentes modalidades desportivas tem sido influenciado por diferentes correntes de pensamento e pelos conhecimentos provenientes de múltiplas disciplinas científicas.

    Este facto conduziu a que ainda actualmente se sintam fortes influências desses métodos, não apenas no plano energético-funcional, mas também no plano técnico - táctico.

    Uma das consequências mais evidentes tem sido a obsessão pelos aspectos do ensino/aprendizagem centrados na técnica individual, partindo-se do princípio que a soma de todos os desempenhos individuais provoca um apuro qualitativo da equipa e também que o gesto técnico aprendido duma forma analítica possibilita uma aplicação mais eficaz nas situações de jogo.

    Desde os anos 60, que a didáctica dos jogos desportivos colectivos repousa numa análise formal e mecanicista de soluções pré-establecidas.

    O ensino das modalidades desportivas colectivas, como é o caso do rugby tem frequentemente consistido em fazer adquirir aos praticantes sucessões de gestos técnicos, empregando-se muito tempo no ensino da técnica e muito pouco ou nenhum no ensino do jogo propriamente dito.

    Na actualidade, esta concepção que privilegia a aprendizagem dos gestos técnicos e o seu tranfer para situações de jogo ainda se faz sentir, não sendo em minha opinião a forma mais viável na formação do novo jogador de rugby, mas respeito-a como uma das vias possíveis no ensino do rugby. Nesta perspectiva, ensina-se o modo de fazer (técnica) separado das razões de fazer (táctica).

    No rugby actual e moderno, o problema fundamental que se coloca ao jogador e equipa em minha opinião, é essencialmente táctico.

    Assim, considero conveniente que a técnica responda às situações do jogo, na medida em que o jogador deve por exemplo, numa situação de oposição, coordenar as acções com a finalidade de recuperar ou conservar a bola, tendo como objectivo atingir a zona de finalização e concretizar pontos.

    Sou da opinião que a técnica deve estar sempre em função da táctica. A acção, ou o gesto técnico, adquire relevância quando se realiza para conseguir um objectivo táctico individual ou colectivo e não na sua execução em si . A correcta execução desde um ponto de vista gestual de um elemento técnico em rugby por exemplo (Placagem) não valerá de nada se não se realizar no momento e lugar adequado.

    Não querendo aqui depreciar ou relegar a importância da técnica porque tenho consciência que não seria por si só também eficaz estar no momento e lugar adequado se não souber placar.

    Outros factores são igualmente do meu ponto de vista necessários, suporte físico, cognitivo e psicológico adequado.

    O jogo de rugby reclama movimentos desportivos motores de situação e colocação. As suas exigências informativas são elevadas, o controlo motor está nestas situações muito condicionado pelo processamento informativo dos jovens jogadores. O treino deve considerar a natureza destas circunstâncias se se desejar no meu entender um melhor rendimento.

    A optimização do controlo motor, neste caso, passa pela capacidade que o treinador tem para oferecer ao jovem atleta um abundante grau de situações problema na qual os jovens jogadores devem encontrar a sua solução, já que é difícil compreender a sua adaptabilidade motriz. Isto irá permitir que o repertório de respostas que o jovem jogador possui seja capaz de organizar um movimento particular para resolver o problema apresentado de forma concreta.

    As dificuldades encontradas, a partir da identificação do processo de ensino/aprendizagem do jogo com a aprendizagem dos gestos técnicos, têm provocado reacções que, na sua maioria, conduziriam ao entendimento do jogo a partir da noção de equipa.

    Peys,(1993) dá um significado importante ao ensino sistemático da apreensão do jogo. Isto é, o jogador, ao adquirir informações de forma consciente, pode orientar-se mais correctamente durante o jogo e manifestar mais êxitos nas acções tácticas.

    Actualmente sou da opinião que o treinador de rugby, ao estruturar a relação existente entre os factores técnico e táctico, deve proceder de modo a que o seu praticante entenda o que é que deve fazer (intenção táctica), antes de conhecer como é que deve fazer (modalidade técnica).

    Atendendo à variabilidade das situações do jogo de rugby moderno, importa que as acções técnico-tácticas escolhidas pelos jogadores estejam de acordo com a antecipação das acções que o adversário tem intenção de aplicar.

    As consequências do trabalho do treino devem pesar, antes de tudo, sobre as capacidades de decisão do jogador. Estas induzem-no a realizar correctamente o que percebe bem.

    O rugby de movimento, que é desejável pôr em execução, resulta ser, como o temos vivido e observado nos nossos dias, um jogo dinâmico com permanentes situações de mudança e evolutivas. Este tipo de rugby dá prioridade ao jogo à mão.

    Ao formar os novos jogadores de rugby, convém , no meu entender, antes de mais, reflectir sobre o jogo que queremos e sobre o jogo que temos. Considero que aos jovens jogadores lhes convém desenvolver durante os treinos, primeiramente esta capacidade para jogar no "jogo total", pois é precisamente aí, nos encadeamentos de movimentos colectivos, que se expressa o melhor, devido à riqueza e à variedade das situações encaradas e à adaptabilidade dos jovens jogadores.

    Os jogadores devem ter uma compreensão lógica da nova forma de jogar, devem saber eleger, com o máximo de propriedade, a forma de jogo que mais se adapte ao relançamento do movimento dinâmico do jogo.

    René Deleplace (1996) sugere um trabalho de formação de jogadores durante o treino, que implique globalmente os jogadores em equipa contra equipa, subgrupo contra subgrupo, considerando também nesta categoria todos os efeitos de oposição possíveis. Classifica ainda estes tipos de oposição em 3 planos , o colectivo total, o colectivo de linha e a relação de oposição jogador contra jogador.

    Considero que os métodos de aprendizagem e de formação também devem mudar em função da evolução e tendência do jogo de rugby moderno.

    A Teoria "Tecnicista" (técnica antes da táctica) consistia em trabalhar as diversas técnicas individuais e colectivas sem oposição, com a esperança de formar também tacticamente o jogador.

    A aplicação em situação de jogo real só era realizada no final da formação técnica, e o jogo servia única e exclusivamente como recompensa prometida para os momentos em que se aprendia bem.

    O conceito formativo de jogadores de rugby já não pode ter, na minha opinião, por objectivo formar jogadores cujas habilidades respondam unicamente a uma noção de posição que implique ocupar posições em função das capacidades.

    No trabalho das capacidades técnicas em rugby, actualmente sou da opinião que se devem propor execuções técnicas em que prevaleça a repetição sem se repetir, isto é, propor tarefas em que se privilegie que o desportista corrija e se aperfeiçoe nos seus processos de solução e adaptabilidade das tarefas propostas, diversificando as tarefas com conjuntos similares e elementos de variação de forma a enriquecer o seu esquema motor de resposta, para que possa analisar diferentes variações de uma mesma técnica desportiva.

     Existe actualmente alguma unanimidade entre técnicos e formadores para as vantagens na utilização da oposição durante a formação de jogadores em função da estruturação e lógica do jogo moderno.

    O jogo e a competição constituem a base do trabalho de formação, em que a sua avaliação sobre o que se produz permite situar os progressos ou as lacunas na formação.


Propostas para a formação inicial de jovens jogadores de rugby

  • Utilização predominante de metodologia global - JOGO -.

  • Constante análise dos comportamentos observados.

  • Observação de vídeos de treinos e jogos da equipa.

  • Desenvolvimento das capacidades de jogo em equipa.

  • Desenvolver várias formas de solução de ataque e defesa em jogo.

  • Noção e alternância das formas de jogo agrupado / aberto.

  • Grau de complexidade reduzido em relação ao número de repetições de exercícios técnico-tacticos.

  • Realização de acções que se identifiquem o mais possível ao que se produz em jogo.

  • Privilegiar exercícios tácticos combinados com oposição.

  • Privilegiar com o jogo a descoberta de soluções por parte dos jovens jogadores.

  • Exercícios com execução e variabilidade que criem uma ampla disponibilidade motriz .

  • Aplicação e utilização de movimentos básicos do jogo.

  • Trabalho com grupos pequenos em espaços amplos.

  • Prática de diferentes situações reais de jogo com oposição passiva e activa.

  • Ensino prático dos princípios do jogo.

  • Apresentação prática através do jogo das regras essenciais.


Bibliografia consultada

  • Conquet, P. &, Devaluez, J. (1978), Les fondamentaux du rugby. Vigot, Paris.

  • Corless, Barrie (1988), El Rugby Técnica, Táctica y Entrenamiento, :Hispano Europeia.

  • Ferreira, J. & Cordovil, J. (1982), Rugby no ISEF. Perspectivas actuais e futuras, Ludens, ISEF UTL.; Vol. 6

  • Graça, Amândio; Oliveira, José (1995), O Ensino dos Jogos Desportivos, Porto: Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física da Universidade do Porto, 11-25; 219-244.

  • Godemet , A; (1987-1988), Rugby World Magazine, JAN, N & B ; 32-45.

  • Nerin, Jean-Peys; Peyresblanques, M. (1990), Rugby Entraînement Technique et Tactique, Paris: Editions Amphora.

  • Villepreaux, P. (1987), Rugby de movement et disponibilité du jouer. Mémoire I.N.S.E.P.


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