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Metodologia de ensino-aprendizagem para pessoas idosas

  Graduada em Educação Física, especialista em
Educação na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)
Mestranda em Educação na UERJ, orientanda do
Dr. Alfredo G. de Faria Junior (Brasil)
Soyane Vargas
soyane.vargas@zipmail.com.br

 

 

 

 
Resumo:
    Este ensaio pretende demonstrar a necessidade de criação de uma metodologia de ensino/aprendizagem em programas educacionais para as pessoas idosas, seja no ensino formal, não-formal e, em especial, no ensino das atividades físicas. Para isto, a análise partirá das principais características que acompanham o processo do envelhecimento, baseando-se, também, nos objetivos gerais da 'pedagogia crítico superadora'.
    Justificando a necessidade de criação de pesquisas no campo da metodologia de ensino para idosos, demonstraremos algumas das tendências existentes nas pesquisas em didática, visando situar a importância da pesquisa nessa área, sobretudo no que diz respeito a população idosa.
    Unitermos: Exclusão social. Pessoa idosa. Metodologia de ensino. Atividade física.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 7 - N° 39 - Agosto de 2001

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Introdução

    Nos países em desenvolvimento, os projetos na área da educação são comumente voltados para crianças e jovens, com a função de prepará-los para o ingresso na vida profissional. Apesar do aumento da expectativa de vida, a necessidade da criação de oportunidades educacionais para pessoas idosas ainda é vista como menos importante (FARIA JUNIOR, 1998). No entanto, é grande o número de pessoas idosas que não tiveram acesso nem mesmo ao ensino fundamental.

    Em 1998, o percentual de pessoas idosas no Brasil era de 8,8% do total da população, isto eqüivale à 14 milhões de pessoas com 60 anos ou mais. O processo acentuado do envelhecimento é um fenômeno relativamente recente da realidade brasileira, mas já se configura como uma das maiores populações de pessoas idosas do mundo. Estando à frente, inclusive, de países como a França, Grã-Bretanha e Itália (BRASIL, IBGE, 2000).

    A concentração de idosos é maior nas áreas urbanas, o nível de escolaridade é baixo e está aliado a baixa condição econômica na maioria dos casos (idem). De certo modo as desigualdades promovem a exclusão social (FITOUSSI, ROSANVALON, 1997). A desigualdade de renda evidencia a desigualdade social, fazendo dos idosos um dos grupos considerados socialmente excluídos de alguns benefícios básicos como: saúde, educação, moradia, etc.

    O idoso vive situações que o discrimina e o exclui socialmente, Nanci Boutique e Rosa de Lourdes Santos (In: PAPALEO NETO, 1996) acreditam que não exista apenas um envelhecer,

"...mas processos de envelhecimento - de gênero, etnia, de classe social, de cultura - determinados socialmente. As desigualdades do processo do envelhecimento se devem, basicamente, às condições desiguais de vida e de trabalho a que estiveram submetidas as pessoas idosas" (p. 82).

    Em virtude da baixa condição social da maioria dessa população, apontada nos indicadores sociais, as pessoas idosas são consideradas socialmente excluídas por muitos autores que abordam as questões sobre exclusão social. Além disto, o próprio processo do envelhecimento - ainda irreversível sob o aspecto das transformações fisiológicas, psicológicas e sociais - ampliam as desigualdades, exigindo ações mais efetivas por parte dos profissionais que atuam na área da gerontologia.

    Apontar algumas dessas transformações torna possível identificar e estabelecer metodologias de ensino seguras e eficazes, que contribuam significativamente para suprir algumas necessidades básicas dos idosos e, assim, ampliar as possibilidades de melhoria da qualidade de vida destas pessoas.


Transformações biopsicosicoais

    Observa-se que, no aspecto fisiológico, as principais mudanças ocorrem nos sistemas cardiovascular, músculo esquelético, nervoso central e no metabolismo. (Quadro 1)


Quadro 1: Aponta as alterações fisiológicas no idoso.
Retirado do texto 'O atleta idoso' HOUGH, BARRY, EATHORNE,
In: MELLION (org.), 1997, p. 60.

    Essas transformações não surgem exclusivamente de maneira regressiva, também, possuem íntima relação com as atividades realizadas durante a vida e com os fatores genéticos. No aspecto psicológico é possível identificar algumas mudanças importantes. Muitas vezes essas mudanças são afetadas por algumas doenças - patoinvolução - ou, simplesmente, pelas alterações naturais do organismo -ortoinvolução (FRANKS, HEDEGARD, 1973).

    A deterioração gradativa de várias aptidões ocorrem de maneira qualitativa e quantitativa, levando sempre em consideração as características de cada indivíduo. O desempenho e a capacidade intelectual de pessoas que possuem um nível elevado da função intelectual, apresentam menor declínio em relação àquelas que possuem um nível intelectual inferior. Por outro lado, as funções verbais complexas são menos influenciadas com o avançar da idade cronológica. (ibid.).

    A pessoa idosa muitas vezes apresenta dificuldade de se libertar de certos padrões de comportamento, demonstrando resistência para assimilar novas orientações para resolução de alguns problemas (ibid. ).

    Com o aumento da idade cronológica há um decréscimo das funções sensório-motoras, especialmente, as mais complexas. Preocupando-se com a metodologia a ser trabalhada com os idosos, torna-se oportuno sugerir formas de simplificação de algumas tarefas para melhoria do desempenho como um todo. Pois, se a redução da função sensório-motora torna o desempenho mais lento, porém demonstra-se mais preciso (ibid. ).

    No tocante ao aprendizado e a memória dos indivíduos idosos, a utilização de experiências anteriores para solução de novos problemas pode afetar o processo ensino/aprendizagem, dificultando a recepção de novas informações. Percebe-se ainda notória interferência na compreensão e na interpretação de informações (ibid.). Entretanto, se entendermos "... aprendizagem como toda mudança de conduta duradoura originária da experiência" (FARIA JUNIOR, op. cit. ), pode-se inferir que as pessoas idosas têm condições de continuar aprendendo.

    Em geral, os indivíduos idosos apresentam, também, uma diminuição na capacidade de percepção; um comportamento mais vagaroso - que é observável principalmente nas tarefas que envolvam uma maior complexidade em sua realização - e, um aumento da sensibilidade ao estresse (FRANKS, HEDEGARD, op. cit.).

    É importante, também, diferençar o envelhecimento normal do patológico, pois algumas vezes podem ser reveladas dificuldades ao definir os limites entre a normalidade e a patologia. (ibid. ).

    Segundo Faria Junior (1991), no âmbito social algumas teorias abordam as questões do envelhecimento, como a teoria do desengajamento social, a teoria da atividade e a teoria da subcultura.

    A teoria do desengajamento social trata da necessária retirada de papéis sociais em virtude da diminuição da interação entre o idoso e outras pessoas do sistema social, sendo considerada uma teoria que possui suas bases sociológicas no funcionalismo1, em geral, marginaliza o idoso. A teoria da atividade está pautada numa perspectiva do anti-envelhecimento, considerando que as pessoas idosas devem permanecer ativas, pois compartilham das mesmas necessidades sociais e psicológicas dos mais jovens. A teoria da subcultura do envelhecimento, preconiza o aumento da interação das pessoas idosas com outras que como eles estão envelhecendo, objetivando por um lado a consciência de grupo e pelo outro podendo incentivar a segregação.


Aspectos didático-metodológicos

    Em função das características gerais apresentadas pelas pessoas idosas, fica claro que as propostas educativas para idosos exigem metodologias especiais para o processo de ensino/aprendizagem. Contudo, não se considera que essas pessoas necessitem apenas de programas segregativos. Entretanto, programas que não respeitam suas características podem resultar em fracasso e/ou por em risco sua própria integridade física e psicológica. Desta forma, poderá fomentar a situação de exclusão social vivida pela maioria dessas pessoas.

    No caso específico das etapas do desenvolvimento humano, os idosos, como nas outras etapas (infância, adolescência), apresentam peculiaridades que não devem ser desconsideradas nas propostas educativas de maneira geral. Consoante com essas peculiaridades, a Lei n.º 8.842 sugere que na área da educação seja necessário "adequar currículos, metodologias e material didático" (BRASIL, 1994, p.207).

    Metodologia de ensino/aprendizagem é o procedimento didático ou técnica de dirigir e orientar o processo educativo. Todo método de ensino precisa estar adaptado ao público que visa atender, considerando as necessidades, os interesses e, principalmente, respeitando as características - limites e potencialidades - de cada pessoa.

    Em relação às pesquisas em educação, no Brasil, os procedimentos didático- metodológicos vêm acompanhando as seguintes tendência, nos últimos 10 anos (GARRIDO, 1999):

  • 1991/92 as pesquisas dirigiram-se às práticas pedagógicas bem sucedidas.

  • 1993/94/95/96 pôde-se observar a preocupação com a construção do saber docente na profissionalização. Tendo como foco central o professor, objetivou-se a resignificação da didática. Identificou-se, também, estudos ligados às questões epistemológicas; a avaliação das metodologias aplicadas nas escolas, articulando a reflexão sobre a formação do professor e a relação teoria e prática.

  • 1997/98/99 observou-se maior preocupação com a epistemologia e com a reconstrução da didática; bem como, a prática resignificando a teoria e o saber do professor, focando a contribuição da didática na formação do professor e a influência desta formação em sua prática pedagógica. A teorização a partir da análise da prática, enfatiza o problema da fraca formação dos professores, além de demonstrar uma evolução do diálogo entre didática e a prática de ensino. Outra característica é que a maioria das pesquisas são de campo, sob a análise qualitativa.

    Fazer a abordagem do desenvolvimento da pesquisa em didática é relevante, especialmente, para a reflexão sobre o direcionamento com que vem sendo dado nesta área, o conhecimento que vem sendo produzido, além de levantar as lacunas existentes nessas pesquisas. Como é o caso, por exemplo, do que vem sendo produzido sobre metodologias de ensino/aprendizagem para idosos.

    Os trabalhos em didática direcionados a essa população são raros, por isto é importante a busca de alternativas que possibilitem o aperfeiçoamento dos programas educacionais voltados para os idosos.

    De maneira geral, a estruturação de um programa educacional deve basear-se na seleção dos conteúdos. Esta escolha irá definir qual o conhecimento e os métodos necessários para sua assimilação, evidenciando, também, a natureza do pensamento teórico que se pretende desenvolver (COLETIVO DE AUTORES, 1992). Nesta direção o programa educacional pode ter como elementos principais: o conhecimento de que trata a disciplina de forma sistematizada; o tempo pedagogicamente necessário para o processo de apropriação do conhecimento e, os procedimentos didático-metodológicos utilizados para o desenvolvimento do processo ensino/aprendizagem.


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