A influência da atividade física sobre a saúde mental de idosos |
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Graduação em Educação Física - URCAMP/RS Pós-Graduação em Ginástica Médica - FICAB/RJ Pós-Graduação em Exercícios Resistidos - FMUSP/SP www.vetorialnet.com.br/~cafp (Brasil) |
Edison Alfredo de Araújo Marchand
cafp@vetorialnet.com |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 7 - N° 38 - Julio de 2001 |
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Introdução
O objetivo do presente artigo foi realizar uma revisão sobre o tema atividade física e saúde mental.O envelhecimento é um fenômeno biológico e psicológico que gera influência a nível familiar e social. O processo de envelhecimento caracterizado pela perda gradual das funções orgânicas, onde o idoso retém sua capacidade intelectual e física em níveis aceitáveis, é chamado de senescência. E quando os sinais de degeneração muito intensos aparecem, ocorre o envelhecimento patológico, chamado senilidade.
O ciclo da vida humana é uma dinâmica comportamental, que cada indivíduo passa fase a fase, onde não se deve esquecer a concepção de ser humano lembrando de sua constituição e estruturação física e psicológica.
A qualidade de vida na terceira idade pode ser influenciada por alguns aspectos, tais como: o aspecto físico, que é caracterizado pelo crescente declínio das funções dos sistemas fisiológicos comprometendo a saúde; o aspecto psicológico, caracterizado por perdas na auto-imagem e auto-estima. Essas perdas são significativas devido ao envelhecimento, no sentido de se sentirem inúteis, pouco estimados e respeitados; e no aspecto social, a sociedade aliena o idoso do processo social.
Muitos estudos apontam a possibilidade de pessoas fisicamente ativas, em qualquer idade, apresentarem uma melhor saúde mental do que sedentários.
A faixa populacional que tende a sofrer com transtornos psicológicos são os idosos. E o maior problema por eles enfrentado é a depressão psíquica.
A depressão é caracterizada por tristeza, baixa da auto-estima, pessimismo, desesperança e desespero. Seus sintomas são, fadiga, irritabilidade, retraimento e pensamentos de suicídio. O comportamento depressivo é considerado uma resposta inadaptada a alguma perda.
Os diversos transtornos da vida como: perdas afetivas, aposentadoria, afastamento de atividades profissionais, sociais e familiares e dificuldades econômicas podem levar a problemas de saúde mental.
Portanto, a probabilidade de um idoso apresentar problemas de saúde mental pode ser maior do que em um jovem.
À medida que uma pessoa experimenta a situação de isolamento, as chances de aumentar a depressão são maiores. Existem evidências de que idosos internos apresentam maiores índices de depressão do que os não internos, que a boa saúde física e mental em idosos tem estreita relação 15 e de que as atividades sociais refletem de modo positivo no bem-estar físico e emocional desses indivíduos.
A auto-estima está continuamente sendo ameaçada no idoso. E dentre os fatores que podem promover a auto-estima destacam-se, principalmente, a saúde física, que favorece a independência; a saúde psicológica, que permite reagir com mecanismos de enfrentamento e defesa; pessoas que as permitem convivência e não isolamento; e segurança econômica, para suprir suas necessidades básicas. Na falência desses fatores o idoso não mantém sua auto-estima e tende a ficar depressivo.
A saúde mental do idoso está sustentada na percepção de ter sido útil e produtivo para sua família e sociedade. A aceitação da terceira idade como parte do ciclo da vida é um modo de aceitar a velhice. Quando essa aceitação não ocorre, a negatividade sobre si mesmo favorece ao quadro depressivo.
A depressão moderada em idosos, quando ocorre devido à falta de estímulo e não a uma causa intrínseca, pode ser atenuada quando possibilitamos ao idoso algo que ele gostaria de fazer.
A depressão é comum em indivíduos idosos e tem relação íntima com o declínio físico posterior. Foi encontrada a relação de que, quanto mais sintomas, maior a deterioração física. Assim como pacientes com bom estado de rendimento físico sem incapacidades, à gravidade dos sintomas depressivos, puderam preceder a diminuição do desempenho físico.
Indivíduos com depressão leve a moderada podem demonstrar melhora no quadro depressivo pelo incremento de atividade física regular tanto como de terapias convencionais.
Alguns estudos, a seguir, evidenciam que pessoas fisicamente ativas gozam de melhor saúde mental do que inativos.
Exercícios físicos regulares tem influência no tratamento de doenças crônicas assim como na melhoria do bem estar geral. Exercícios de intensidade moderada a intensa, com duração prolongada, podem estar associados com a diminuição dos sintomas de depressão não psicótica. Essa melhora foi observada paralelamente ao melhor índice de aptidão cardiovascular.
Programas dirigidos de atividades físicas tendem a amenizar a redução significativa da capacidade física e funcional e da sensação de bem estar, que ocorre no decorrer da senescência, melhorando a qualidade de vida dos idosos.
NORTH, McCULLAGH & TRAN, relatam que a atividade física diminui significativamente a depressão em todos grupos de idade e níveis de aptidão, e as maiores reduções estão associadas com o maior número e duração das sessões.
Pesquisas evidenciam que indivíduos que realizaram um programa aeróbico por quatro meses, apresentaram nos resultados de testes neuropsicológicos, reduções nos graus de depressão quando comparados com aqueles que permaneceram sedentários.
LOUIS HARRIS demonstrou que indivíduos que se exercitavam regularmente relatavam sentir-se mais relaxados, mais dispostos, com melhor auto-estima, maior auto-confiança e com melhor produtividade no trabalho.
CAMPBELL'S SURVEY ON WELL-BEING, relata que pessoas ativas apresentavam menor depressão e melhor bem estar.
MEN's HEALTH, em seu estudo demonstrou que 54% dos homens se exercitavam para melhorar o bem-estar, 78% para promoção de saúde e 50% para controlar o stress.
STEPHES, concluiu em seu estudo que a atividade física está associada positivamente com a boa saúde mental, ou seja, bom humor, menor depressão e ansiedade, e melhor sensação de bem-estar.
Outras pesquisas demonstram que a prática de exercícios regulares, além dos benefícios fisiológicos, acarretam benefícios psicológicos, tais como: melhor sensação de bem estar, humor e auto-estima, assim como, redução da ansiedade, tensão e depressão.
Ao comparar dois grupos com depressão clínica, onde um executou exercícios aeróbicos e outro anaeróbico, durante o estudo, ambos os grupos demonstraram redução nos níveis de depressão e não apresentaram diferenças significativas entre eles. A conclusão que o estudo levou, é que os efeitos antidepressivos associados ao exercício não se restringem as formas aeróbicas de treinamento.
Exercícios com a freqüência semanal de três vezes, durante seis a nove semanas, são associados ao aumento significante da aptidão física e redução na pontuação da depressão. O estudo concluiu que o treinamento para melhorar a aptidão física é um elemento valioso no programa de tratamento para depressão.
Um grupo de mulheres deprimidas foi submetido a treinamento aeróbico extenuante, por um período de 10 semanas, e ao final do período demonstraram redução na depressão proveniente do exercício.
A associação de exercício com contato social resultaram em redução significante no escore total da Escala de Depressão de Beck. O exercício, a curto prazo, demonstrou efeito positivo, reduzindo sintomas depressivos no idoso moderadamente deprimido.
O treinamento de resistência progressiva, durante o período de 10 semanas, demonstrou ser um antidepressivo efetivo para tratar idosos deprimidos melhorando também força, moral, qualidade de vida e papel social.
A educação física embasada em estudos teóricos e práticos vem se preocupando em avaliar e analisar as influências e benefícios da atividade física em atletas, sedentários e em pessoas sadias ou com alguma patologia. A comprovação de que a atividade física regular traz inúmeros benefícios, tanto fisiológicos como psicológicos aos seus praticantes, está documentada na literatura.
O emprego de um programa de atividades físicas para pessoas idosas tende a aumentar seu estado de saúde, diminuindo a dependência, a ociosidade, favorecendo a socialização, e com isso melhorando sua qualidade de vida.
Assim, como outros fenômenos orgânicos, o envelhecimento deve ser conhecido não só no seu aspecto anatomo-fisiológico, mas também psicológico. O envelhecimento vem sendo encarado como um processo patológico e não como uma fase normal do ciclo da vida. Seria necessário não tentar combatê-lo, mas sim, passar a entendê-lo, pois passou a ser uma necessidade conhecer os aspectos orgânicos, psíquicos e sociais de uma população que cresce continuamente, tentando assim, reduzir os possíveis problemas de saúde pública.
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revista
digital · Año 7 · N° 38 | Buenos Aires, Julio de 2001 |