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Diferentes modelos de ensino
de jogos esportivos na educação física escolar

  * Professora UNOESC - Xanxerê, Santa Catarina (Brasil)
**Professor da Ball State University (EE.UU.)
Maria Elizete Pozzobon*
Alan Asquith**
pozzobon@desbrava.com.br

 

 

   
Artigo Original (parte da Dissertação de Mestrado do PPGCMH/UFSM)

Resumo
    Este estudo, tem por finalidade apresentar aos professores que atuam na Educação Física Escolar, dois diferentes modelos para o ensino dos Jogos Esportivos.
     O primeiro, baseia-se no modelo tradicional de ensino dos Jogos Esportivos, onde a abordagem do ensino, está centrada na aproximação dominante orientada ao desenvolvimento da competência técnica. Neste modelo, trabalha-se separadamente a habilidade técnica escolhida, para introduzir posteriormente um jogo e finalmente tentar integra-la a uma situação real de jogo.
     O segundo modelo, é uma proposta alternativa, denominada de Jogos Esportivos Modificados, a qual, propõe um novo enfoque para o ensino dos jogos esportivos e baseia-se no Modelo desenvolvido por BUNKER E THORPE (1982). O Modelo dos Jogos Esportivos Modificados, além de possibilitar mudanças na estrutura dos jogos, inverte o processo de ensino e aprendizagem, exagerando em princípios táticos e reduzindo as exigências técnicas demandadas pelos Jogos Esportivos Tradicionais.
    Apesar das diferenças apresentadas entre as duas abordagens, deve-se ressaltar que nenhum modelo de jogos esportivos é tão eficiente que possa ser aplicado em todas as situações, desta maneira, cabe aos professores de Educação Física a escolha do modelo adequado de acordo com a situação em questão.
    Palavras-chave: Jogos esportivos. Ensino. Educação física escolar.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 7 - N° 37 - Junio de 2001

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Introdução

    O jogo é utilizado como componente curricular por várias disciplinas, mas é na disciplina de Educação Física, que este, se destaca através da realização dos Jogos Esportivos. Apesar dos jogos esportivos ocuparem um papel de destaque dentro da Educação Física escolar, os mesmos, não têm sofrido avanços nas últimas décadas, podendo isto ser facilmente observado através dos currículos apresentados pela maioria das escolas, as quais, por um longo período vêm desenvolvendo seus programas de Jogos, baseados em modelos centrados nas habilidades técnicas.

    Segundo DEVÍS (1992), o esporte é para alguns, o grande protagonista da Educação Física, para outros no entanto, o grande colonizador da Educação Física contemporânea. Em qualquer dos casos, temos que reconhecer que o esporte é atualmente, o elemento central dentro de nossa profissão, o qual tornou-se um elemento muito controvertido e problemático do ponto de vista educativo.

    Autores como BUNKER & THORPE (1982 e 1983), THORPE (1992) e ASQUITH (1994), consideram que uma aula de jogos que enfatiza o desempenho técnico em detrimento da participação, privilegia os alunos mais hábeis e gera desvantagem à maioria. O mesmo aplica-se aos currículos, que enfatizam as atividades e os esportes culturalmente masculinizados, onde a maioria das alunas são discriminadas.

    A ênfase dada ao ensino de jogos esportivos, onde as habilidades técnicas, são o ponto central do conteúdo desenvolvido durante as aulas de educação Física, tem reforçado a idéia de que a função do esporte na escola está mais em treinar do que em educar. Para DEVÍS (1992), quando ensina-se através do modelo da racionalidade técnica, onde os meios são instrumentos para alcançar um fim específico, acaba-se separando a teoria da prática, a condição física da técnica, a técnica da tática e por conseqüência as habilidades técnicas do contexto real do jogo. Esta forma de ensino de jogos esportivos tradicionais, apresenta muitas limitações, pois não considera certos fatores característicos jogos, como a complexidade, a adaptabilidade e a incerteza.

    Apesar dos Jogos Esportivos Tradicionais sofrerem uma infinidade de críticas, quanto ao seu desenvolvimento na educação Física escolar, o esporte continua sendo o conteúdo dominante nos programas dessa disciplina. Neste estudo, os Jogos esportivos tradicionais, serão entendidos como jogos esportivos institucionalizados, os quais possuem regras específicas, englobando o handebol, futebol, basquetebol, voleibol, futsal entre outros.

    Segundo THORPE (1992), devido as críticas feitas ao modelo utilizado para o ensino dos Jogos Esportivos Tradicionais (modelo isolado) e preocupados com a abordagem de ensino utilizada para desenvolver este modelo, um grupo de professores ingleses, tais como Almond, Bunker e Thorpe entre 1970 e 1980, desenvolveram estudos com o objetivo de superar esta abordagem. Destes estudos, surgiu um novo modelo de ensino para os jogos esportivos, no qual, o processo de ensino e aprendizagem, está centrado no desenvolvimento das habilidades táticas dos jogos. Este novo modelo, denomina-se de modelo de Bunker & Thorpe, e serve de base para o ensino dos Jogos Esportivos Modificados.


Jogos esportivos tradicionais

    De acordo com DEVIS (1992), na maioria das escolas, os jogos esportivos continuam sendo desenvolvidos de forma tradicional. O método de ensino dos jogos esportivos, baseia-se no modelo de aula apresentado por Read (1988), o qual possui a seguinte estrutura:

  • Introdução - nesta fase da aula, são realizados exercícios de aquecimento ou práticas de habilidades conhecidas.

  • Desenvolvimento - nesta etapa da aula, são desenvolvidas as habilidades técnicas, freqüentemente, realizadas de maneira isolada, como por exemplo os fundamentos de um determinado esporte.

  • Conclusão - habitualmente um jogo conclui uma aula. Tradicionalmente a formação das equipes é feita da seguinte maneira: uma turma é dividida em alunos que podem e alunos que não podem fazer a aula. No primeiro caso, os alunos que possuem habilidades para praticar fazem parte do jogo, enquanto que os demais aguardam sua vez para jogar. Outra alternativa é dividir a turma em várias equipes, enquanto duas jogam, as demais aguardam sua vez.

    O modelo desenvolvido por Read em 1988, representa a aproximação dominante, orientada ao desenvolvimento da competência técnica. Neste modelo, trabalha-se separadamente a habilidade técnica escolhida, para introduzir posteriormente, no melhor dos casos, um jogo e finalmente tentar integra-la em uma situação real de jogo. O referido modelo, denomina-se de modelo isolado, por basear-se na execução repetida de habilidades técnicas específicas, sem se preocupar como engajá-las e manejá-las dentro das exigências do jogo, não estabelecendo conexões entre as demandas problemáticas e as habilidades específicas. Trata-se de um modelo limitado a transferir a aprendizagem técnica à situação contextual do jogo.

    Com o objetivo de facilitar o entendimento do processo de ensino dos Jogos Esportivos Tradicionais foi desenvolvido por READ (1988) o modelo isolado, o qual será apresentado a seguir.


Modelo isolado


    Segundo READ (1992), para alunos que encontram-se na faixa etária entre 10 e 14 anos, o treinamento técnico normalmente ocupa a maior parte do tempo de uma aula de Educação Física, de modo que a realização de jogos serve para descansar da austeridade da técnica. A introdução de um jogo, poderá demorar até o ponto em que o professor esteja satisfeito com a execução das habilidades técnicas de seus alunos. Devido a austeridade da execução dos fundamentos, quando o professor introduz um jogo, os alunos respondem quase que exclusivamente à emoção da competição. Desta forma, existe pouca conexão entre o que se praticou, como se praticou e o que é necessário dentro do contexto do jogo.

    Para autores como BUNKER & THORPE (1982), THORPE (1992), ASQUITH (1994 e 1995) e SPACKMAN (1983), os Jogos Esportivos Tradicionais, necessitam de uma certa modificação, a qual visa facilitar a aprendizagem, bem como possibilitar a participação da maioria dos alunos durante as aulas.


Jogos esportivos modificados

    A proposta alternativa para o ensino de jogos esportivos, denominada de Jogos Esportivos Modificados, é a exemplificação da essência de um, ou de todo um grupo de jogos esportivos e a abstração global simplificada de natureza problemática e contextual de um jogo esportivo, que exagera em princípios táticos e reduz as exigências técnicas produzida pelos jogos esportivos tradicionais (THORPE et alii,1986).

    Com o objetivo de superar a abordagem de ensino dos jogos esportivos tradicionais BUNKER & THORPE (1982), desenvolveram um novo modelo alternativo, denominando-o de jogos esportivos modificados, os quais baseiam-se na abordagem de compreensão de jogos, onde todos e cada um dos alunos podem participar na tomada de decisões. Neste modelo, o ensino dos jogos progride através da tática de jogo, ao invés das habilidades técnicas esportivas. O mesmo baseia-se em considerações e argumentos táticos, onde os alunos reconhecem que os jogos podem ser interessantes e agradáveis, quando auxiliados e encorajados a tomar decisões corretas baseados na consciência tática.

    A consciência tática é definida por MITCHELL et alii (1994), como a habilidade para identificar os problemas que apresenta um jogo, que está em progresso e selecionar as habilidades-técnicas para resolver esses problemas. Esta abordagem de ensino de jogos, ficou conhecida como ensinar para compreender.

    A abordagem para compreensão dos jogos, segundo ASQUITH (1995), baseia-se em um programa de construção e/ou criação de jogos, a qual tem como objetivo principal, tornar os alunos conscientes de princípios pedagógicos enquanto jogam seus próprios jogos, e então, aplicar estes conhecimentos a outros jogos do mesmo tipo.

    Para ALMOND (1983) e ALMOND & WARING (1992), a abordagem dos Jogos Esportivos Modificados, oferecem oportunidades reais para as crianças conceberem e desenvolverem seus próprios jogos. De acordo com estes autores, no modelo dos Jogos Esportivos Modificados, os alunos constróem algo que é seu, envolvem-se em seu próprio aprendizado, compartilham idéias, trabalham de maneira cooperativa e naturalmente descobrem por que as regras são importantes e a que propósito elas servem.

    Neste modelo de ensino dos jogos esportivos, os alunos tornam-se responsáveis por seu próprio currículo. O professor fornece uma estrutura, por exemplo o tipo de jogo a ser jogado, o equipamento ou aparato a ser usado, a área do jogo, e assim por diante, porém, a escolha do conteúdo será de responsabilidade dos alunos.

    Os jogos são denominados de modificados, por não serem jogos principais ou pequenos jogos, mas por serem uma forma diluída do jogo principal. Eles podem ser competitivos ou cooperativos, e são recomendados para qualquer nível de escolaridade.

    Os Jogos Esportivos Modificados possuem regras flexíveis, que oferecem uma grande possibilidade de mudanças durante o desenvolvimento do jogo, assim como a construção e/ou criação de novos jogos. Por outro lado, mantém em essência a natureza problemática e contextual do jogo esportivo, não pertencendo a nenhuma instituição desportiva e não estando sujeito a formalização e padronização dos Jogos Esportivos Tradicionais (READ, 1992).

    Para DEVÍS & VELERT (1992), a prática dos Jogos Esportivos Modificados permite a alteração dos principais elementos do jogo, tais como: o material utilizado para o jogo, que poderá ser grande, pequeno, leve, pesado, borracha, madeira dentre outros; os equipamentos utilizados poderão ser raquetes de diferentes tamanho, tacos, cones, aros, pneus, colchonetes, argolas, bolinhas de borracha e outros; a área poderá ser adaptada às condições do local; as regras do jogo poderão ser modificadas para adequar-se ao contexto, tais como número de participantes, pontuação, etc., sem no entanto perder a essência do jogo.

    Entre os anos de 1970 e 1980, um grupo de professores ingleses, tais como, THORPE; BUNKER & ALMOND (1986), começaram a questionar-se sobre o modelo de ensino utilizado para o desenvolvimento dos Jogos Esportivos Tradicionais em aulas de Educação Física escolar, o qual limitava-se em apresentar um número de jogos isolados, sem levar em conta suas semelhanças e diferenças, considerando apenas, que o conhecimento adquirido pelos alunos em um jogo esportivo poderia ajudar em outro jogo. Neste modelo de ensino dos jogos, as habilidades técnicas são o foco central e mais importante de uma aula de jogos, por parte da maioria dos professores.

    THORPE (1992), realizou um estudo sobre o ensino dos Jogos Esportivos Tradicionais, constando que havia diminuído a motivação intrínseca por parte dos alunos em relação a prática destes jogos, e isto, possivelmente teria ocorrido devido ao desejo dos professores em proporcionar a seus alunos melhores técnicas. Concluindo que, quando o processo de ensino e aprendizagem centra-se nas habilidades técnicas dos jogos esportivos, obtêm-se os seguintes resultados:

  1. um grande percentual dos alunos progridem muito pouco, devido a ênfase dada para a execução técnica;

  2. a maioria dos alunos que acabam sua formação escolar, saem da escola com o irrisório saber a respeito dos Jogos Esportivos Tradicionais;

  3. os supostos jogadores habilidosos, que os professores pretendem desenvolver possuem na realidade uma técnica limitada e pouca capacidade de decisão;

  4. formavam-se jogadores dependentes de seus professores/treinadores;

  5. fracassava-se no desenvolvimento de espectadores conscientes e administradores entendidos, em uma época em que os Jogos Esportivos Tradicionais constituem uma forma importante de entreterimento na indústria do ócio.

    Para THORPE (1992), é incorreto sugerir que tais resultados eram descuidos ou ineficiência dos professores, pois estes ensinavam desta maneira devido a sua formação, ou porque a maioria dos livros que liam propunham um enfoque sobre a técnica. Portanto, era hora de revisar o ensino dos jogos esportivos tradicionais.

    O problema fundamental que a abordagem de ensino de Jogos Esportivos Modificados se propõe a discutir, é a possibilidade do professor perceber que para muitos de seus alunos, o tempo disponível durante o currículo da Educação Física escolar, é insuficiente para aperfeiçoar ou alcançar níveis adequados para muitas das técnicas dos jogos esportivos. Quando o professor ensina a um nível que se adapta a média da turma, isto torna-se demasiado alto para os menos habilidosos, no entanto, este nível será pouco para os mais habilidosos. Desta maneira, surgiu a idéia de inverter o processo de ensino-aprendizagem dos jogos esportivos, introduzindo-os através das habilidades táticas do jogo e somente mais tarde, ou quando o professor julgasse necessário, seriam introduzidas as habilidades técnicas esportivas (THORPE, 1992).

    Conforme ASQUITH & POZZOBON (1999), esta abordagem é baseada em considerações e argumentos táticos, onde os alunos reconhecerão que os jogos podem ser tanto interessantes e agradáveis quando auxiliados e encorajados a tomar decisões corretas baseados em consciência tática.

    Para avaliar o grau de sucesso de um programa de construção e/ou criação de jogos, o professor precisa observar os alunos, ouvir suas discussões e perguntar. Para isto, deve-se proceder da forma mais informal e menos obstrutiva possível. Fazer perguntas, para confirmar seu entendimento de como o jogo é jogado, e o nível de envolvimento dos alunos, bem como de cooperação individual no jogo.

    É importante saber se os alunos estão se divertindo; se o nível de desafio é suficiente para manter o jogo excitante ou o aborrecimento está começando? Este é um problema em que o professor pode ajudar na solução.

    Pense nas oportunidades educacionais que os alunos terão, como:

  1. construir um jogo que é seu, algo que fizeram e criaram;

  2. descobrir por si mesmos por que as regras são importantes e a que propósito elas servem;

  3. estar envolvidos em seu próprio aprendizado;

  4. compartilhar suas idéias e trabalhar cooperativamente;

  5. comunicar-se e explicar como seu jogo desenvolveu-se; e,

  6. ensinar aos colegas, inclusive ao professor.

    Nos estágios iniciais de um programa de construção e/ou criação de jogos, é necessário limitar o número de escolhas a serem feitas pelos alunos, auxiliando-os na escolha de: área de jogo; formação das equipes e escolha de equipamentos.


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