Natação Sincronizada: quantificação da força máxima na remada americana executada na posição vertical invertida | |||
Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física da Universidade do Porto (Portugal) |
Carla Carmo, Ricardo Fernandes João Paulo Vilas-Boas vilasboas@portugalmail.com |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 7 - N° 34 - Abril de 2001 |
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IntroduçãoSendo a Natação Sincronizada (NSinc) uma modalidade eminentemente técnica, cujos conteúdos são realizados em piscinas de águas profundas, o estudo das posições de equilíbrio assume uma elevada importância. As remadas são movimentos característicos desta modalidade, as quais têm como objectivo garantir apoios à nadadora de forma a que esta se consiga propulsionar e equilibrar no meio aquático.
A remada americana (RAmer), quando executada correctamente, garante à nadadora a propulsão necessária para alcançar a pretendida elevação nas posições invertidas e também a sustentação imprescindível para realizar a elevação dos membros inferiores (mi) na vertical, partindo de diferentes posições. Sem a execução de uma remada ou de uma outra acção motora propulsiva que a substituísse, a nadadora deixaria de se manter numa posição vertical invertida (PVInv) e iria iniciar um movimento de rotação, até atingir a posição vertical direita (cf. Vilas-Boas, 1984).
Quando em apneia inspiratória, a nadadora tem, normalmente, uma densidade ligeiramente inferior à da água da piscina, o que lhe permite flutuar e equilibrar-se, permanecendo emersa uma determinada porção do seu corpo. No caso das PVInv, a porção emersa é uma dada percentagem dos mi. Se, nesta situação, fossem adicionados à nadadora cargas estáticas que ela tivesse de suportar, parte do peso dessas cargas seria compensada pela impulsão hidrostática correspondente ao volume imerso dessas mesmas cargas (ImpPesos) e, outra parte, seria compensada por um aumento da força de impulsão hidrostática (Imp) conseguida pela nadadora. A massa acrescentada (PPesos) ao peso da nadadora (PNad), diminuída da respectiva impulsão hidrostática (ImpPesos) que a nadadora suportasse sempre totalmente imersa e sempre na mesma posição, constituiria, então, a força máxima (Fmáx) desenvolvida pelo esforço muscular e pela hidrodinâmica particular da RAmer.
Apesar da RAmer ser uma das mais importantes na NSinc, poucos são os estudos que se conhecem e nenhum quantificou a Fmáx exercida pela nadadora durante a PVInv, constituindo este estudo uma primeira abordagem à esse tema durante este gesto técnico. Complementarmente, procuramos relacionar os níveis de Fmáx com o nível técnico da nadadora.
Material e métodosA amostra foi constituída por sete nadadoras (n=7) de nível nacional, com uma média de idades, peso e altura de 15.14 (± 1.07) anos, 55.5 (± 6.24) Kg e 160.4 (± 4.86) cm, respectivamente. A recolha de dados foi realizada numa piscina coberta e aquecida (27.5º), com a profundidade de 1.90m. Foi colocada uma cinta lombar (Bollinger) em cada nadadora, a qual sustentava lateralmente e de forma equilibrada cargas adicionais variáveis de 1Kg e 2Kg.
Figura 1. Representação da montagem das cargas adicionais na nadadora Numa primeira fase foi determinada a carga adicional necessária para assegurar a neutralidade hidrostática (IImpNad + ImpPesosI) = (IPNad+PPesosI) em PVInv e em imersão total. A nadadora entrava na água, sendo auxiliada por terceiros, que suportavam os pesos até ser colocada na PVInv. Depois iam sucessivamente sendo adicionados ou subtraídos pesos até que a nadadora, imóvel e sem ajuda, mantivesse a PVInv com os pés imediatamente abaixo da superfície da água.
Numa segunda fase, as nadadoras foram sujeitas aos mesmos procedimentos, mas com um aumento progressivo da carga a partir da que definiu antes a neutralidade hidrostática, de modo a obter-se o valor da Fmáx sustida durante a execução da RAmer realizada à intensidade máxima por um período de 5''. Se a nadadora se mantivesse na posição vertical por mais de 5'' ou emergisse os pés, concluía-se que aquela força não era ainda a máxima, logo, na execução seguinte (cerca de 20 min depois), seria aumentado o peso. No caso inverso seria, naturalmente, diminuído. O valor do peso na água das cargas adicionais (PPesos) foi determinado por pesagem hidrostática das mesmas utilizando uma célula de carga (Globus).
Para a análise estatística dos resultados determinou-se a média (x), o desvio padrão (sd). Para se verificar a relação entre a força máxima e o nível técnico de cada nadadora utilizamos a correlação linear de Pearson (o nível técnico foi determinado pelos resultados das provas de figuras de um Campeonato Nacional Português).
Apresentação e discussão dos resultadosNo Quadro 1 apresentamos os resultados das provas de figuras de cada nadadora nos Campeonatos Nacionais que antecederam o estudo.
Quadro 1. Resultados da prova de figuras das nadadoras participantes num Campeonato Nacional
No Quadro 2 são apresentados os resultados obtidos após a realização dos testes para a quantificação da força máxima na água, durante a execução da RAmer na PVInv (resultados expressos em valores de peso e peso hidrostático). Numa primeira coluna estão apresentados os valores da carga necessários para se obter a neutralidade hidrostática, na segunda coluna estão representados os valores da Fmáx desenvolvida e, na terceira coluna, estão apresentados os valores totais do peso acrescentado a cada nadadora (coluna1 + coluna2).
Quadro 2. Valores da carga requerida para a neutralidade hidrostática, valor da Fmáx suportada em 5'' pelo
esforço muscular e valor máximo de carga adicionada a cada nadadora (expressos em Kg)Os valores médios da Fmáx suportada em 5'' pelo esforço muscular das nadadoras é satisfatoriamente concordante com os 3.401 Kg obtidos através de um método similar por Schleihauf (1979) para uma remada lateral de sustentação em posição vertical direita, com os m. superiores à altura dos ombros e executada por nadadores de natação pura desportiva.
A correlação entre os valores de força obtidos por cada nadadora e a respectiva classificação na prova de figuras foi de r = 0.579, valor que, apesar de não ser estatisticamente significativo, revela uma tendência para que as duas variáveis se associem positivamente. Este valor pode, assim, revelar que a Fmáx não será nem a única, nem provavelmente a mais importante capacidade física das nadadoras a determinar a sua qualidade técnica. No entanto não será uma qualidade a menosprezar no quadro da preparação desportiva em NSinc, já que a variância explicada da técnica pela força é da ordem dos 33.5%.
As nadadoras que apresentam um elevado nível técnico foram as que revelaram maiores índices de Fmáx, com excepção para a nadadora 7 (a qual, apesar de ter obtido uma elevada classificação técnica, não apresentou um elevado valor de força devido a um problema físico aquando da realização dos testes). Mediante esta possibilidade, correlacionamos novamente as duas variáveis em questão, tendo-se obtido um valor de r = 0.877 (p £ 0.05), que reforça a importância da força no quadro desta modalidade eminentemente técnica.
Outros factores, tais como as dimensões das superfícies propulsivas, a velocidade das mesmas, o grau de desenvolvimento da força muscular e a coordenação motora das nadadoras poderão certamente influenciar as duas variáveis em estudo.
ConclusõesAtravés deste estudo conclui-se que:
Os valores de Fmáx obtidos durante a execução da remada americana na PVInv são, em média, de 3.47 (± 1.83) Kg;
Há uma correlação positiva entre os valores de Fmáx exercidos e o nível técnico de cada nadadora.
Referências bibliográficas
Schleihauf, R. (1979). A Hydrodynamic Analysis of Swimming Propulsion. International Series on Sport Science - Swimming III, Vol.8.
Vilas-Boas, J.P. (1984). Determinantes Mecânicas do Equilíbrio Humano no Meio Aquático. AEISEF-UP.
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digital · Año 7 · N° 34 | Buenos Aires, Abril de 2001 |