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Exercício e saúde óssea

  Graduação em Educação Física - URCAMP/RS
Pós-Graduação em Ginástica Médica - FICAB/RJ
Pós-Graduação em Exercícios Resistidos - FMUSP/SP
www.vetorialnet.com.br/~cafp
Edison Alfredo de Araújo Marchand
cafp@vetorialnet.com.br
(Brasil)

 

 

 

    Resumo
O objetivo deste estudo foi realizar uma revisão bibliográfica e uma análise sobre artigos que abordassem o tema atividade física e saúde óssea, buscando expor o que tem sido estudado e qual a atual situação do conhecimento científico.
Atualmente as pesquisas buscam alternativas de como prevenir e tratar a osteoporose (ADAMI et al., 1999; COUPLAND & CLIFFE, 1999; UUSI-RASI et al., 1998; WOLFF; KEMPER et al.,1999; MATSUDO & MATSUDO,1992).
A densidade mineral óssea tem relação direta com o grau de atividade física, principalmente força muscular. Logo, a redução acentuada da atividade física resulta em declíneo da massa óssea.
O exercício regular é recomendado pelos prováveis benefícios músculo-esqueléticos, favorecendo o aumento da força, densidade mineral óssea, coordenação e flexibilidade, e reduz o risco de quedas principalmente em idosos.
Tanto o exercício aeróbio como o anaeróbio traz benefício para a massa óssea desde que tenha a intensidade suficiente.
Evitando a vida sedentária, a atividade muscular adequada repercutirá em benefícios que refletem numa melhor qualidade de vida, reduzindo os índices de mortalidade e morbidade causados pelos possíveis problemas provenientes da osteoporose.
    Unitermos: Atividade Física. Exercício físico. Saúde óssea.

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 6 - N° 33 - Marzo de 2001

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Introdução

    Cada vez mais pessoas idosas estão aumentando a expectativa de vida, ao mesmo tempo essa população é mais sedentária e tende a ter maiores problemas de saúde do que os mais jovens. Nesse sentido, existe a tendência da inversão da pirâmide populacional, conseqüêntemente vai gerar problemas sócio-econõmicos.

    O envelhecimento é um fenõmeno biológico e psicológico que gera influência a nível familiar e social. O processo de envelhecimento caracterizado pela perda gradual das funções orgânicas, onde o idoso retém sua capacidade intelectual e física em níveis aceitáveis é chamado de senescência. E quando os sinais de degeneração muito intensos aparecem, ocorre o envelhecimento patológico, chamado senilidade.

    Uma das conseqüências do envelhecimento é a perda gradual da massa óssea, que se torna mais frágil, esse processo que não apresenta sintomatologia dolorosa chama-se osteoporose.

    A osteoporose, um grave problema de saúde pública, é uma doença que atinge principalmente mulheres e homens idosos. Os gastos com saúde e a assistência médica a essa população representam um grande custo financeiro.

    A osteoporose é caracterizada pela diminuição da densidade mineral óssea de 30% ou mais abaixo da densidade óssea média de indivíduos saudáveis na terceira década de vida. Ela ocorre a partir do momento que o processo de remodelagem passa a apresentar maior taxa de remoção do que formação óssea.

    Uma em cada três mulheres pós-menopausicas apresentam osteoporose. Em idosos nonagenários, a maior incidência de fratura de quadril é em mulheres, 33%, já nos homens esses valores caem para 17%. Esses idosos com fraturas de quadril geralmente tornam-se dependentes para executar suas atividades cotidianas ou morrem devido a complicações.

    Na América do Norte ela afeta aproximadamente uma em cada quatro mulheres e um em cada 10 homens acima dos 50 anos. Em virtude do aumento da longevidade existe a tendência de aumentar paralelamente o número de pessoas com osteoporose e com isso o número de fraturas na população geriátrica.

    A fundação Nacional de Osteoporose coloca que mais de 24 milhões de norte americanos sofrem de osteoporose e que a maioria são mulheres pós-menopausicas e essas mulheres são afetadas aproximadamente oito vezes mais que os homens.

    A osteoporose nos Estados Unidos tende a ser um problema crescente para homens e mulheres idosas pois, atualmente 12% da população acima dos 65 anos tem osteoporose e esse valor tende a dobrar nas próximas três décadas.

    A osteoporose é uma doença possível de se prevenir e tratar, muitos indivíduos que dela sofrem nunca tiveram um diagnóstico e muito menos tratamento.

    A perda óssea pode diminuir ou reverter-se quando detectada e revertidos fatores de risco como a inatividade física, consumo insuficiente de cálcio, baixo peso corporal, tabagismo e genética. A troca do estilo de vida e o estímulo a realização de atividades físicas são ótimas e eficazes opções de terapia5.

    Para prevenir a osteoporose muitos fatores são relevantes nos primeiros anos de vida, tais como: ingesta adequada de cálcio, exercício moderado e evitar o tabagismo e o álcool. O exercício com pesos é recomendado pelos prováveis benefícios sobre a ossatura. Esta atividade favorece o aumento de força, coordenação e flexibilidade e diminui o risco de quedas principalmente em idosos.

"Quando é aplicada uma força ou uma pressão sobre um osso, ele se curva. Isso desencadeia uma cascata de eventos que estimulam as células a fortalecer o osso, o qual pode se adaptar à pressão ou à falta da mesma pela formação ou perda de massa. Para que o osso torne-se maior e mais denso, a pressão deve ser maior e além dos níveis normais." (NIEMAN: 111, 1999)

    O exercício torna-se eficaz na prevenção e no tratamento da osteoporose presumivelmente devido a diminuição do risco de quedas em função do aumento da massa muscular e aos efeitos de preservação de massa óssea.

    Dentre os fatores de risco inalteráveis para a osteoporose, a menopausa é um importante, seja ela natural ou não. Outro fator é a idade, onde a maior redução da massa óssea ocorre a partir da quinta década de vida. O sexo é outro fator imutável onde, as mulheres atingem seu pico de massa óssea inferior aos homens e após a menopausa apresentam reduções mais rápidas no conteúdo mineral ósseo.

"1/3 a 50% de toda perda óssea nas mulheres está relacionada com a menopausa." (NIEMAN: 109, 1999)

    O estilo de vida é o que realmente se pode manipular para tratar e prevenir a osteoporose. Reduzir o tabagismo, o álcool, a cafeína, o consumo de proteína, aumentar a ingesta de cálcio, intensificar os exercícios físicos e a terapia de reposição hormonal.

    A prevenção das fraturas osteoporóticas resume-se na manutenção e/ou melhoramento das propriedades materiais e estruturais do tecido ósseo.

    O exercício físico vigoroso até os 30 anos de idade, principalmente, e adequada ingesta de cálcio, tende a fornecer um elevado pico de massa óssea e com isso previnesse os possíveis problemas de osteoporose no período da menopausa pois, os ossos que recebem tensão proveniente da atividade física tendem a fortalecer-se.

"... se as mulheres mantiverem uma boa força muscular por meio de exercício intenso, a densidade óssea deverá ser melhor preservada mesmo na velhice." (NIEMAN: 114, 1999)


Objetivo

    O objetivo deste estudo foi realizar uma revisão bibliográfica e uma análise sobre artigos que abordassem o tema atividade física e saúde óssea, buscando expor o que tem sido estudado e qual a atual situação do conhecimento científico.

    Atualmente as pesquisas buscam alternativas de como prevenir e tratar a osteoporose, que é a principal causa de fraturas em idosos e mulheres pós-menopausicas.

    Sua incidência aumenta muito e este fato pode ser em consegüência da maior espectativa da vida populacional e falta de prevenção. As fraturas, por ela provocadas, levam a dificuldades de mobilidade e capacidade funcional, gerando incapacidade física, isolamento social, depressão, diminuição da qualidade de vida, morte prematura e aumento dos gastos com saúde. Esses são alguns motivos pelos quais a osteoporose é objetivo de pesquisa no universo científico.


Revisão bibliográfica

    ADAMI et al.1 estudaram 250 mulheres pós-menopausicas, com idades entre 52 e 72 anos, que participaram durante seis meses de um programa de treinamento. A metade das participantes iniciaram o programa e a outra ficou como grupo controle. O programa incluía: marcha, alongamento para membros superiores, exercícios respiratórios e posteriormente foram acrescidos exercícios para fortalecer o punho, sendo utilizados pesos de 500 gr, para o músculo braquioradial, totalizando dez minutos de exercícios.

    Mediante DXA - densitometria de raio X de energia dual, foram feitas avaliações pré e pós treino da densidade mineral óssea do fêmur, coluna lombar e rádio ultradistal.

    Os resultados obtidos foram os seguintes: não ocorreu modificação na massa global do segmento estudado, foi observado uma notável remodelação de sua estrutura e de sua geometria, houve aumento da área compacta do osso às custas do componente esponjoso. E ocorreu aumento da área cortical do rádio ultradistal.

    Os autores sugerem que os exercícios físicos localizados podem favorecer o processo de remodelação geométrica do osso, assim como a estrutura dos segmentos ósseos específicos.

    COUPLAND & CLIFFE4 realizaram um estudo transversal que constituiu uma ampla amostra, mulheres entre 51 e 61 anos que tinham em média seis anos de menopausa, não tinham usado estrógeno nos últimos três meses e possuiam a densidade mineral óssea da coluna lombar menor que 0,8 g/cm2 . As participantes responderam a um questionário sobre atividades caseiras intensas, jardinagem, caminhadas com distâncias superiores a 1,6 Km, ciclismo, práticas desportivas e sobre fatores de risco de fraturas osteoporóticas.

    Nas últimas quatro semanas, 98% das participantes, tinham participado de algum tipo de atividade física e 35% tinham participado de ciclismo, natação ou outra prática aeróbia. Somente 1% das participantes executaram exercícios com pesos e demonstrou relação pouco significativa com a densidade mineral óssea e 10% realizaram atividades vigorosas e também mostrou pouca relação com a densidade mineral óssea.

    As relações mais significativas com a densidade mineral óssea foi a nível de trocanter, peso corporal total e caminhada sobre a esteira. Quanto maior foi a velocidade, maior foi a densidade mineral óssea, 8,4% a mais comparando as que faziam em velocidade menor.

    Ocorreu resultado positivo entre o número de degraus que foram subidos e a densidade mineral óssea no trocanter e no esqueleto como um todo.

    O estudo mostrou a tendência de maior densidade mineral óssea trocantérica em mulheres com níveis maiores de atividade fisica.

    A relação de caminhadas rápidas e subir escadas com o aumento da densidade mineral óssea do trocanter femural se associa aos efeitos do esforço mecânico sobre os ossos.

    UUSI-RASI et al.11 em seu estudo objetivaram determinar a contribuição da atividade física e da ingestão de cálcio no tamanho e massa óssea em mulheres (n° 422), sãs com idades entre 25 e 30 (n° 132), 40 e 45 (n° 157) e 60 e 65 anos (n° 133); e examinarão as possíveis diferenças entre óssos que não suportão peso e entre epífises e diáfises de ossos largos. Dentre elas não haviam obesas, fumantes e consumidoras de drogas que podessem afetar o metabolismo ósseo.

    As participantes foram subdivididas em quatro grupos: ativas com alta ingestão de cálcio, ativas com baixa ingestão de cálcio, sedentárias com alta ingestão de cálcio e sedentárias com baixa ingestão de cálcio.

    Foram determinadas as idades, peso e IMC - índice de massa corpórea. Durante três dias foram avaliadas a ingestão de cálcio, distância percorrida, consumo de O2 , força muscular, atividade física pregressa e índice de trabalho corporal. Foi estimado o conteúdo mineral ósseo total, densidade mineral óssea do colo do fêmur e rádio distal do lado dominante e variáveis de resistência óssea.

    Como resultado o estudo demonstrou que a aptidão física do grupo de sedentárias foi 12% menor que as ativas, que apresentaram maior força muscular, distância percorrida em marcha e atividade atual. Com relação a massa óssea, o conteúdo mineral ósseo total foi em média 1,8% maior no grupo ativo quando comparado com as sedentárias. A densidade mineral óssea do colo do fêmur apresentou correlação positiva com o grupo de ativas em todas as idades (p>0,001), em média 4,7% maior que as sedentárias. Na diáfise radial, a relação entre atividade física e diâmetro ósseo variou com a idade. Em média a diferença era -1,3% nas jovens, 1,9% nas de idade intermediária e 5,7% nas de maior idade. Quanto as variáveis de resistência óssea, ocorreu aumento com a idade no grupo ativo e redução nas sedentárias.

    Os autores do estudo concluem que o incremento da atividade física e da ingestão de cálcio sobre o conteúdo mineral ósseo total e a densidade mineral óssea tem efeito positivo. Ambos podem reduzir a perda óssea relacionada com a idade. Os resultados indicam que o ritmo moderado de atividade física juntamente com a ingetão de cálcio, desde a tenra idade, podem produzir benefícios sobre a atividade mecânica do esqueleto.

    WOLFF; KEMPER et al.12 realizaram uma resenha, a partir de técnicas metaanalíticas, de ensaios controlados aleatoriamente - ECA, e não aleatoriamente - ECNA, relativos aos efeitos dos programas de treinamento físico sobre a massa óssea de mulheres pré e pós- menopausicas, publicados entre o período de 1966 e 1996.

    Os estudos selecionados como ECA ajustaram-se aos seguintes critérios: estudo sobre sujeitos humanos, de natureza prospectiva, que compara entre si um número de duas ou mais intervenções, a destinação a um grupo é de caráter aleatório; caso o estudo se ajustasse somente aos três primeiros critérios, era selecionado como ECNA.

    Outros critérios foram considerados, tais como: o tempo de duração do programa (16 semanas ou mais), determinação relevante dos resultados de DMO - densidade mineral óssea, ou CMO - conteúdo mineral ósseo, determinações localizadas na coluna lombar e no colo do fêmur, realização de análises separadas para mulheres pré e pós-menopausicas, informação suficiente e adequada para determinar os efeitos do tratamento estudado e a variança.

    Os efeitos globais significativos de tratamento encontrados nos ECA foram de 0,84% anual a nível de coluna lombar e 0,89% anual no colo do fêmur. Em mulheres pré-menopausicas os efeitos foram: 0,79% anual a nível de coluna lombar e 1,39% anual no colo do fêmur. Já em mulheres pós-menopausicas foram: 0,79% e 0,89% anual, respectivamente.

    Analisando separadamente o tipo de treinamento físico feito por mulheres pós-menopausicas demonstra que o efeito global do tratamento, quando de resistência, foram significativos na coluna lombar, 0,96% anual e no colo do fêmur de 0,90% anual. Já o treinamento resistido não produziu efeitos globais significativos.

    Nos ECNA foram observados efeitos globais significativos de 1,85% anual na coluna lombar e de 1,39% anual no colo de fêmur. Esses ensaios revelam resultados significativos somente para mulheres pós-menopausicas, tanto na coluna lombar, 2,40% anual, como no colo de fêmur, 1,68% anual.

   O único estudo sobre treinamento resistido foi eliminado mas, o treino de resistência para mulheres pós-menopausicas teve efeito significativo, na coluna lombar foi de 2,25% anual e no colo de fêmur 1,86% anual.

    Nos ECA os efeitos globais de tratamento oscilam em 0,9% anual, o que indica que os programas de treinamento físico previnem ou revertem a perda óssea em aproximadamente 1% ao ano, em comparação aos grupos controle, tanto em mulheres pré como pós-menopausicas. Apesar do efeito global de tratamento de 0,95% ao ano parecer pouco, ele representa um efeito significativo sobre o desenvolvimento de fraturas osteoporóticas em populações numerosas.

    Os estudos sobre exercício e massa óssea concluem que tanto o exercício aeróbio, quando extenuante, como o exercício resistido, pode aumentar a massa óssea; a atividade leve não previne a perda óssea pós-menopausa e não aumenta a massa óssea na pré-menopausa.

    O importante para as mulheres que fazem exercícios físicos de forma adequada, é que a DMO está estreitamente relacionada com a probabilidade de futuras fraturas.

    O presente estudo concluiu que os programas de treinamento físico possuem potencial para reverter ou prevenir a perda óssea no colo do fêmur e columa lombar de mulheres pré e pós-menopausicas.

    Os ECA produzem efeitos globais de tratamento limitado porém clinicamente relevantes e consistentes de 0,9% ao ano.

    Já os ECNA revelam efeitos globais de treinamento aproximadamente duas vezes superior aos ECA, o que indica a confusão introduzida pela destinação não aleatória dos sujeitos.

    Os programas de treinamento físico devem contemplar-se como terapia preventiva e terapêutica da osteoporose.

    MATSUDO & MATSUDO7, o artigo tiverão como objetivo descrever os principais objetivos do exercício sobre a remodelação e o metabolismo ósseo, a sua importância na obtenção de um ótimo pico de massa óssea e seu papel na manutenção da estrutura, função e densidade óssea adequada.


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