efdeportes.com

As habilidades motoras aquáticas básicas
Tiago Barbosa

http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 6 - N° 33 - Marzo de 2001

2 / 2


    A abordagem da flutuação nesta fase é importante, para criar nos alunos uma consciencialização dessa possibilidade no meio aquático, a qual não é "vivenciável" no meio terrestre (Mota, 1990; Moreno e Garcia, 1996).

    Finalmente, serão também incluídas nesta categoria de habilidades aquáticas básicas as rotações. O motivo para a sua inclusão neste tipo de habilidades justifica-se pelo facto das rotações não serem mais do que alterações momentâneas do equilíbrio adquirido, ou seja, de alterações esporádicas do equilíbrio atingido. Essas rotações poderão ser efectuadas sobre diferentes tipos de eixos (internos e externos) e sobre diversos planos (sagital, frontal e transverso).

    A abordagem nesta etapa da formação das rotações será decisiva para a apropriação mais tarde, por exemplo, das técnicas de viragem na Natação Pura Desportiva.


3.2. Propulsão

    Como já foi referido, as alterações em termos de equilíbrio, devem-se a diferenças no mecanismo propulsivo utilizado no meio aquático. No Quadro 2 apresentam-se as alterações em termos de propulsão que se verificam no meio aquático, segundo Mota (1990).

    A Força Propulsiva Efectiva, em condições de escoamento estável, decorre da componente na direcção do deslocamento da resultante entre a Força de Arrasto Propulsivo e da Força Ascensional (Schleihauf, 1979). Já em condições de escoamento instável, a propulsão explica-se devido à produção de vórtices (Colwin, 1992).

    Acresce-se que quanto menor for a intensidade da Força de Arrasto Hidrodinâmico oposta à direcção de deslocamento do sujeito, maior será a velocidade de nado para uma dada intensidade de Força Propulsiva. Assim, o aumento da velocidade de nado decorre do aumento da intensidade da Força Propulsiva e da diminuição da intensidade das diversas componentes da Força de Arrasto Hidrodinâmico oposta à direcção do deslocamento do sujeito, isto é, do Arrasto de Fricção, do Arrasto de Pressão e do Arrasto de Onda.

Quadro 2. Comparação das alterações de comportamentos no meio terrestre
e no meio aquático, em termos de propulsão (adaptado de Mota, 1990).

    Por sua vez, os saltos poderão ser considerados como o método de deslocamento de um indivíduo do meio terrestre para o meio aquático. Isto porque, nas actividades aquáticas, os deslocamentos não são necessariamente efectuados sempre em contacto com a água. Daí a sua inclusão neste grupo de habilidades, embora alguns autores refiram que os saltos deverão fazer parte do equilíbrio (Vasconcelos Raposo, 1978; Catteau e Garoff, 1988; Carvalho, 1982; 1994).

    A inclusão dos saltos nesta fase da formação assume particular importância para a posterior abordagem das partidas na Natação Pura Desportiva ou, dos Saltos para a Água, por exemplo.


3.3. Respiração

    Uma das principais limitações impostas pela passagem à posição horizontal, relaciona-se com a necessidade de imersão da face, a qual se constitui como uma limitação da função ventilatória (Holmér, 1974). Ou seja, o mecanismo respiratório sofre algumas alterações quando o sujeito se encontra no meio aquático, devido à face se encontrar temporariamente imersa e das características físicas desse mesmo meio, nomeadamente o facto deste ser mais denso que o ar. Logo, o trabalho de aperfeiçoamento da respiração pressupõe a criação de um automatismo respiratório necessariamente diferente do automatismo inato (Mota, 1990).

    No Quadro 3 comparam-se as principais características do mecanismo respiratório no meio terrestre e no meio aquático, de acordo com Mota (1990).

Quadro 3. Comparação das principais características do
mecanismo respiratório no meio terrestre e no meio aquático (adaptado de Mota, 1990).


3.4. Manipulações

    As manipulações consistem em manter uma relação de interacção entre o indivíduo e um ou vários objectos, permitindo explorá-lo(s) e, simultaneamente, explorar todas as suas possibilidades (Moreno e Sanmartín, 1998). No caso concreto das actividades aquáticas, esses objectos são usualmente materiais auxiliares como por exemplo, as placas, as barras para efectuar imersões ou, os flutuadores.

    São considerados casos particulares de manipulações aquelas que são realizadas com as bolas, como sejam os lançamentos, os passes e as recepções. Os lançamentos podem ser realizados a um determinado alvo - ou não - com o próprio corpo ou com outro(s) objecto(s). No caso do objecto ser lançado a um outro indivíduo que por sua vez o recebe, denomina-se de passe. Já as recepções poderão ser efectuadas com determinada parte do corpo, parado ou em movimento.

    A apresentação destas habilidades é especialmente benéfica para a posterior abordagem de habilidades desportivas características de determinados jogos desportivos colectivos realizados no meio aquático, como é o caso do Polo Aquático.


4. Conclusões

    No decurso do processo de adaptação ao meio aquático deverão ser abordadas diversas habilidades motoras aquáticas básicas, as quais permitirão a posterior aquisição e assimilação de habilidades motoras aquáticas específicas de diversas actividades aquáticas. Além do mais, nesta etapa dever-se-á ter em atenção que nenhuma habilidade ou grupo de habilidades deve ser sobre ou subvalorizada em detrimento das restantes.

    Finalmente, dada a inter-relação que se verifica entre diversas habilidades, será possível combiná-las de múltiplas formas. Especialmente no período de consolidação de uma ou de várias habilidades e/ou em momentos mais avançados do processo de adaptação ao meio aquático.

Referências bibliográficas

  • ABRANTES, J. (1979). Biomecânica e Natação. Ludens. 4(1). pp. 30-34.

  • CARVALHO, C. (1982). Organização e planeamento das componentes equilíbrio, respiração e propulsão na 1ª fase de formação dum nadador. In: P. Sarmento, C. Carvalho, I. Florindo e A. Vasconcelos Raposo (eds.). Aprendizagem Motora e Natação. pp. 33-46. Edições do Instituto Superior de Educação Física da Universidade Técnica de Lisboa. Lisboa.

  • CARVALHO, C. (1994). Natação. Contributo para o sucesso do ensino-aprendizagem. Edição do autor.

  • CATTEAU, R. e GAROFF, G. (1988). O ensino da Natação. Editora Manole. São Paulo.

  • COLWIN, C. (1992). Swimming into the 21th century. Leisure Press. Champaign, Illinois.

  • CRESPO, I. e SANCHEZ, I. (1998). Didáctica da natação utilitária e educativa. Conferência apresentada no XXI Congresso Técnico-Científico da Associação Portuguesa de Técnicos de Natação. Porto.

  • GALLAHUE, D. (1982). Understanding motor development in children. John Wiley & sons. New York, New York.

  • HOLMÉR, I. (1974). Physiology of swimming man. Acta Phys. Scand. (407). Supl.

  • LANGENDORFER, S. e BRUYA, L. (1995). Aquatic readiness. Developing water competence in young children. Human Kinetics. Champaign, Illinois.

  • MORENO, J. e GARCIA, P. (1996). Valoración de las actividades acuáticas bajo el punto de vista educativo. In: F. Sontoja e I. Martínez (eds.). Deporte y salud: Natación y Vela. pp. 9-22. Universidad de Murcia. Murcia.

  • MORENO, J. e SANMARTÍN, M. (1998). Bases metodológicas para el aprendizaje de las actividades acuáticas educativas. INDE Publicaciones. Barcelona.

  • MOTA, J. (1990). Aspectos metodológicos do ensino da natação. Edição da Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física da Universidade do Porto. Porto.

  • NAVARRO, F. (1995). Hacias el dominio de la Natación. Editorial Gymnos. Madrid.

  • ROBERTSON, M. (1978). Longitudinal evidence for developmental stages in forceful overarm throw. Journal of Human Movement Studies. 4. pp. 167-175.

  • ROBERTSON, M. (1982). Describing stages within and across motor task. In: J.A. Kelso e J.E. Clark (eds.). The development of movement control and co-ordination. pp. 293-307. John Wiley & Sons. New York, New York.

  • SEEFELDT, V. e HAUBENSTRICKER, J. (1982). Patterns, phases, or stages: na analytical model for the study of developmental movement. The development of movement control and co-ordination. pp. 309-318. John Wiley & Sons. New York, New York.

  • SCHLEIHAUF, R. (1979). A hydrodynamical analysis of Swimming propulsion. In: J. Teradus, E. Bedingfield (eds.). Swimming III. pp. 70-109. University Park Press. Baltimore.

  • VASCONCELOS RAPOSO, A. (1978). O ensino da Natação. Edições do Instituto Superior de Educação Física da Universidade Técnica de Lisboa. Lisboa.

  • VILAS-BOAS, J.P. (1984). Determinantes mecânicas do equilíbrio humano no meio aquático. Edições da Associação de Estudantes do Instituto Superior de Educação Física da Universidade do Porto. Porto.


| Inicio |


Outros artigos em
Portugués | Actividades Acuáticas

  www.efdeportes.com/
http://www.efdeportes.com/ · FreeFind
   

revista digital · Año 6 · N° 33 | Buenos Aires, marzo de 2001  
© 1997-2001 Derechos reservados