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A aprendizagem do judô e os níveis de raiva e agressividade |
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*Professor de Educação Física e Judô da FEDF (Brasil) **Professor Titular Visitante da Universidade de Brasília (Cuba) |
Milton Hidenobu Hokino * |
Resumo: O objetivo da pesquisa é verificar através do teste de STAXI, o potencial de raiva médio e individual, das pessoas que iniciam no judô, assim como verificar se após algum tempo de aprendizagem, houve alguma modificação nestes potenciais. Foram analisados 38 alunos no total, sendo 27 homens e 11 mulheres. Utilizou-se como protocolo, o teste de STAXI do Manual do Inventário de Expressão de Raiva como Estado e Traço, de Charles D. Spielberger, o qual foi adaptado e padronizado para a população brasileira. Na verificação dos resultados da pesquisa, não foram detectados, valores estatisticamente significativos, na média geral dos níveis de raiva, e nos testes iniciais e finais, do grupo pesquisado. Mas analisando individualmente alguns casos, encontramos algumas modificações significativas, comparando os níveis iniciais e os finais, após a iniciação no Judô. Entre as diferenças significativas, estão a diminuição do estado geral de raiva, a diminuição de expressão de raiva para fora, e o aumento do controle de expressão de raiva. Resultados semelhantes, foram detectados em outra pesquisa, realizada com praticantes de outros esportes de lutas como Kung Fu e Tae Kwon Do. Unitermos: Raiva. Agressão. Violência. Judô.
Resumen: |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 6 - N° 31 - Febrero de 2001 |
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Introdução
Diferenciação entre Raiva, Agressividade, Agressão e violência.
O conceito de raiva, usualmente se refere a um estado emocional que abrange sentimentos que variam de leves aborrecimentos, até a fúria e cólera. A Agressividade, a Agressão e a Violência se referem a comportamentos expressados em relação a outras pessoas, em relação a objetos do meio ou até mesmo em relação à própria pessoa.
A emoção de Raiva é uma condição necessária, mas não suficiente para o desenvolvimento de comportamentos agressivos, pois a maneira como uma pessoa vivencia suas emoções de Raiva e as expressam em comportamentos agressivos ou não, dependerá de muitos fatores, principalmente de sua personalidade.
A personalidade de uma pessoa é determinada por diversos fatores, entre os principais estão a sua constituição Biológica e Psicológica, e principalmente, as influências do meio social e cultural em que vive, como também, das influências educacionais e esportivas que recebe.
São nas influências Educacionais e Esportivas, que nós professores de Educação Física atuamos, e na qual reside nossa maior responsabilidade, pois podemos influir no comportamento de crianças, adolescentes e jovens, cujas personalidades encontram-se em constante formação.
Através de um adequado processo de ensino e treinamento psicológico, pode-se influenciar na personalidade do atleta, e consequentemente na sua maneira de experienciar e vivenciar seus sentimentos de Raiva, e expressar sua agressividade de maneira adequada, ou seja, poderá se proporcionar um auto controle, que favorecerá o seu rendimento esportivo e influenciará na sua Educação Social, Cultural e Desportiva.
A Experiência de Raiva é conceituada como tendo dois componentes principais: Estado e Traço de Raiva. O Manual do Inventário de Expressão da Raiva como Estado e Traço (STAXI = State Trait Anger Expression Inventory), de Charles D. Spielberger, fornece medidas concisas de Experiência e Expressão de Raiva.
O Estado de Raiva é definido como um estado Emocional caracterizado por sentimentos subjetivos que variam de intensidade que vão de um leve aborrecimento até a cólera. A intensidade do Estado de Raiva varia em função da injustiça percebida, ataque ou tratamento injusto pelos outros e frustrações resultantes de obstáculos ao comportamento dirigido a um objetivo.
O Traço de Raiva é definido como a disposição de perceber uma gama diversa de situações como desagradáveis e frustradoras, e a reagir a tais situações com elevações freqüentes no Estado de Raiva. Os indivíduos com um traço de raiva muito alto experienciam o estado de raiva mais freqüentemente e com maior intensidade do que indivíduos com traço de raiva baixo.
A Expressão de Raiva é conceituada como tendo três componentes principais. O primeiro componente - a Raiva para Fora - envolve a expressão da raiva em relação a outras pessoas ou objetos do meio. O segundo componente - a Raiva para Dentro - envolve a repressão dos sentimentos de raiva, ou seja é dirigida para dentro da pessoa. Diferenças individuais no grau em que uma pessoa tenta controlar a expressão de raiva constituem o terceiro componente da expressão de raiva - o Controle de Raiva.
O comportamento agressivo é um dos fatores que mais tem gerado conflitos em nossa sociedade, gerando uma ambivalência em relação à agressividade, pois muitos a admiram, principalmente quando ela se apresenta como iniciativa criadora, mas muitos também a condenam e a repudiam quando ela se apresenta como uma das alterações condutais que mais preocupam os estudiosos, educadores e pais. A estas circunstancias soma-se a diversidade e a distancia existente nas conceituações teóricas acerca de sua origem, funções e modificabilidade da agressão, criando consequentemente confusão com respeito ao que deve ser feito ou não se deve fazer, quando nos encontramos diante de um comportamento agressivo.
A agressão é usualmente definida como uma conduta manifestada com a intenção de destruir, ferir, degradar ou subjugar uma pessoa (inclusive a si próprio), um grupo de pessoas ou um objeto material. Ao atos agressivos percorrem uma escala que vai de um olhar inamistoso, uma palavra mais rude, uma bofetada, o assassinato, o suicídio, até a destruição de uma cidade e de uma população.
Muitos autores acreditam que o homem possui um instinto de agressão. Apresentando-se o estímulo apropriado- frustração por exemplo - uma pessoa irá naturalmente reagir de modo agressivo. Ela não precisa aprender a ser agressiva, mas no entanto aprende maneiras específicas e culturalmente prescritas de condutas agressivas.
Para alguns autores (Lorenz, 1966), a agressão é um impulso inato inevitável, que desempenhou uma função positiva na história da evolução do ser humano. Seguindo a coerência desta afirmativa, este impulso não deveria ser inibido, senão canalizado, para que sua descarga fosse realizada através de atividades socialmente adequadas.
Segundo outras posturas (Bandura, 1979), considera-se que a agressão é aprendida mediante uma aprendizagem social. Para estes autores, trata-se de condutas indesejáveis que podem ser eliminadas mediante modificação de conduta.
Existem posturas intermediárias (Bolby, 1969), que conceituam a agressão como um impulso aprendido em uma história de frustrações e necessidades precoces insatisfeitas. A repressão destes impulsos afetaria negativamente o desenvolvimento do indivíduo, por isso no contexto da psicoterapia, tenta-se conhecer e compensar as frustrações das quais foi gerado.
Outras posturas (Coll, 1993), consideram que as condutas agressivas não constituem “per se” um distúrbio de comportamento; são outros pontos chaves que nos permitem identificá-las como tal distúrbio: sua finalidade, sua persistência, estabilidade e generalização, os quais, nos fornecerão os dados para determinar se uma conduta é agressiva ou não.
Na vida, como nos esportes, muitas vezes o progresso e a realização dependem de uma agressividade adequada. Por isso a agressividade não é necessariamente um atributo indesejável da personalidade, basta que ela seja usada de maneira construtiva e positiva, de acordo com as regras desportivas e culturais, inerentes ao desporto praticado.
No âmbito esportivo, há portanto, necessidade de se diferenciar os tipos de agressividade. Pode ocorrer a agressividade no sentido de combatividade, positiva e sublime, como resultado da lealdade a um valor, a um nome, à Pátria, a um clube a uma equipe; como também, pode ocorrer a agressividade prejudicial, que viola as regras sociais e desportivas, podendo se encaminhar para a agressão e à violência.
Os Esportes para a Catarse da AgressividadeAs pessoas, geralmente desejam e procuram estímulos que provocam “estado de agitação”, excitações e estímulos emocionais, na maioria das vezes, como um meio de fuga da mediocridade, do trabalho enfadonho, do tédio da vida rotineira, ou para a catarse de inibições forçadas e frustrações acumuladas. Praticamente todo o colorido da vida parece advir destes reflexos emocionais, sem os quais a vida parece insípida e monótona, principalmente para os jovens cheios de energia. Por isso, tem-se defendido os esportes como um escoadouro inofensivo para estas tendências, pois poucos espetáculos proporcionam a oportunidade de catarse como os eventos esportivos, graças à identificação dos espectadores com o atleta ou com a equipe.
Para os atletas, o esporte serviria como um canal para expressar principalmente as tendências agressivas, como um meio para sublimar as tendências anti-sociais, tornando seus praticantes mais sociáveis e amistosos, ou seja, serviria para que a agressividade se expressasse de maneira inofensiva e aceitável e fosse transformada em hábitos saudáveis.
O Judô - Princípios Históricos e FilosóficosO Desporto Judô, como o conhecemos hoje, teve suas origens no jiu-jitsu, que era uma arte marcial, praticada no antigo Japão, cuja finalidade era formar guerreiros. Por volta de 1877, quando o Japão saia de um longo período de guerras e se preparava para os anos de paz e reconstrução; um professor da Universidade de Tóquio, o alemão Dr. Baelz, começou a incentivar os estudantes para que praticassem a arte dos Samurais, que eram os antigos guerreiros japoneses. Mas notou-se no jiu-jitsu, daquela época, uma falta de embasamento pedagógico e objetivos educacionais, impossibilitando chamá-lo de esporte.
Jigoro Kano, que na época, era um dos estudantes da Universidade de Tóquio, interessou-se pelo estudo dos aspectos menos agressivos do jiu-jitsu. Pesquisou e analisou os diversos estilos da época, eliminou os golpes menos violentos e desenvolveu um sistema de luta, acompanhado de uma filosofia, que procurava acentuar o lado educacional, moral e espiritual, baseando-se em um modo de vida de melhor utilização da energia humana; cuja finalidade principal era formar cidadãos pacíficos e não guerreiros. A este sistema de lutas Jigoro Kano denominou JUDÔ, e em 1882, fundou sua escola com o nome de JUDÔ KODOKAN. O crescimento e divulgação do Judô pelo mundo, foi lento mas constante. O impulso decisivo ocorreu nas Olimpíadas de Tóquio em 1964, quando o Judô se tornou um Esporte de projeção Internacional.
Quando foi criado, o Judô tinha como princípio ser uma luta exclusivamente desportiva, servindo como canalização da excessiva combatividade, acalmando o espírito, o nervosismo e cultivando as qualidades morais, ao fazer da prática do esporte uma disciplina que é necessária observar até para com os adversários.
A filosofia do Judô é fortemente influenciada pela filosofia de vida oriental, a qual transforma a disciplina e o equilíbrio em formas de viver e encarar o semelhante. As palavras de Jigoro Kano sintetizam o princípio do Judô: “pelo treinamento em ataques e defesas, educa-se o corpo e o espírito, tornando o essência espiritual do Judô uma parte de seu próprio ser.” Assim, todos os valores que o judoca aprende nos seus treinamentos, como exemplo, a humildade e a perseverança, devem ser praticados nos atos do dia a dia. Disciplina, Respeito, Educação, desenvolvimento da Força Física e Técnica, são as cinco regras básicas que o judoca deve perseguir.
Com o processo de imigração japonesa para o Brasil, o desporto se infiltrou na cultura brasileira; e pelo que se pode concluir hoje, através dos resultados positivos alcançados pelos brasileiros nos vários campeonatos como as Olimpíadas, os mundiais, os pan-americanos, etc; e também pelo grande número de escolinhas e praticantes existentes, principalmente no período formativo; o Judô foi bem aceito em nossa cultura.
Sendo o Judô um traço de aculturamento japonês no desporto brasileiro, é evidente que traz na sua prática a terminologia daquela cultura: como os nomes das técnicas, nos gestos como os cumprimentos, etc. Entretanto, é necessário se considerar que os “imputs” da cultura em que se encontra inserido o aluno, bem como os aspectos culturais do desporto brasileiro não venham a ser ignorados, assim também, no que se refere à cultura que traz cada um dos praticantes individualmente. Assim as adaptações são fundamentais no processo de transmissão de conhecimentos, e isto dependerá principalmente da experiência, capacidade e sensibilidade do professor.
A Agressividade no JudôNo Judô, como em qualquer esporte de lutas, necessita de um certo grau de agressividade para se alcançar êxitos, principalmente no rendimento competitivo. A agressividade exigida, é a agressividade positiva, de acordo com as regras de conduta e das regras desportivas de competição. Este tipo de agressividade necessita de um apurado autocontrole por parte do atleta, que o conseguirá através de uma adequada orientação e muito treinamento.
Este adequado comportamento agressivo, é incentivado principalmente nas competições , pois quando uma luta termina empatada, os árbitros costumam dar a vitória ao competidor que foi mais agressivo, mais combativo, ou seja aquele que se empenhou mais em conseguir a vitória. A agressividade excessiva e prejudicial é totalmente desincentivada nas competições de Judô, pois qualquer ato contrário às regras de conduta, ou às regras de competição, é punida com perda de pontos ou desclassificação, chegando até à suspensão das competições e da federação de Judô.
Um dos problemas, que podem surgir nas competições, é o dano psicológico causado pelo valorização excessiva da vitória, e da superação dos adversários; quando não se consegue a vitória, por exemplo: podem surgir a frustração e a raiva, podendo levar a atos agressivos prejudiciais e à violência; ou pode provocar também, o pior, que é a desistência de atletas promissores, mas que desistem, por falta de uma adequada orientação psicológica e desportiva. A orientação adequada poderia ser por exemplo a da auto superação, do aperfeiçoamento constante, da persistência e da dedicação, e principalmente da Educação Social, Cultural e Desportiva através da participação em Competições Esportivas.
MetodologiaA Pesquisa foi realizada entre os alunos Iniciantes dos Centros de Iniciação Desportiva (CID), CID JUDÔ CASEB, e CID JUDÔ CRESCER, ambos da FEDF. Foram pesquisados no total 38 pessoas, sendo 27 homens e 11 mulheres, com idade superior a 14 anos de idade, todos alunos iniciantes de Judô.
Como protocolo, utilizou-se o teste de STAXI, retirado do Manual do Inventário de Expressão de Raiva como Estado e Traço, de Charles D. Spielberger, o qual foi traduzido e padronizado para a população Brasileira por Angela Biaggio, servindo como parâmetro de comparação com os dados desta pesquisa.
Escalas do Teste de STAXI
ESTADO DE RAIVA: Mede a intensidade de sentimentos de Raiva num determinado momento.
TRAÇO DE RAIVA: Mede as diferenças individuais na disposição de vivenciar a Raiva.
TEMPERAMENTO RAIVOSO: Mede a propensão geral de vivenciar e expressar a Raiva sem provocação específica.
REAÇÃO DE RAIVA: Mede diferenças individuais na disposição para expressar a raiva quando criticado ou tratado de maneira injusta.
RAIVA PARA DENTRO: Mede a freqüência com que os sentimentos de Raiva são Reprimidos ou Guardados.
RAIVA PARA FORA: Mede a freqüência com que o indivíduo expressa sua raiva em relação a outras pessoas ou objetos do meio.
CONTROLE DE RAIVA: Mede a freqüência com que o indivíduo tenta Controlar a expressão de Raiva.
EXPRESSÃO DE RAIVA: Fornece um índice geral sobre a freqüência com que a raiva é expressada sem levar em conta a direção: Dentro, Fora ou Controlada.
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