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A técnica de viragem moderna
(provas de costas) é mais eficiente?

Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física,
Universidade do Porto.
ricfer@fcdef.up.pt

Ricardo Fernandes, José Virgilio Santos Silva
e João Paulo Vilas-Boas
(Portugal)

http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 5 - N° 28 - Diciembre de 2000

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    A prestação desportiva do nadador é mensurada através do tempo total de prova, compreendido entre o estímulo da partida e o toque na parede testa. Este tempo é considerado como o somatório dos tempos despendidos na partida, no nado, nas viragens e na chegada. Assim, a técnica de viragem é tida como muito importante, referindo Maglischo (1993) que o seu aperfeiçoamento técnico pode permitir melhorar, em média, 0.2 segundos por comprimento da piscina, o que se poderá traduzir em 11.6 s numa prova de 1500m.

    Em 1991, a Federação Internacional de Natação Amadora (FINA) introduziu uma modificação regulamentar no que se refere especificamente à viragem de costas para costas, o que levou técnicos e nadadores a adoptar uma nova técnica de virar - a Viragem Moderna. Como é do conhecimento geral, o nadador, ao executar essa nova técnica, pode realizar uma rotação para decúbito ventral e então efectuar a viragem propriamente dita, o que se torna num gesto técnico diferente das técnicas previamente mais usadas (técnicas Spin, Naber e Roll), assemelhando-se à viragem de rolamento ventral utilizada nas provas de estilo livre. Na sequência desta alteração, iremos apresentar uma reflexão sobre as vantagens adjacentes a esta nova técnica de virar, de forma a podermos tirar algumas conclusões sobre a pertinência da sua utilização.

    Na elaboração desta comunicação, procuramos ter em conta as diferentes fases em que se decompõe a Viragem Moderna, assim como chamamos a atenção para os parâmetros técnicos que demonstram a sua maior eficiência. Complementarmente, fornecemos alguns conselhos de forma a que a sua utilização seja realmente vantajosa.


Restrições regulamentares

    A regra SW 6.4 refere que durante a viragem o nadador poderá rodar para a posição ventral e que uma vez que o corpo tenha adquirido essa posição não poderá existir nenhuma acção de membros superiores (ms) e inferiores (mi) que seja independente do movimento contínuo da viragem. Por outro lado, especifica também que o nadador deve tocar a parede com qualquer parte do corpo e que deve retomar a posição dorsal após a saída da parede. Em relação ao deslize, é permitido ao nadador estar em imersão até uma distância de 15 metros, após a qual a cabeça deverá ter já rompido a superfície da água.


Descrição técnica

    Tendo em conta as regras acima descritas, treinadores e nadadores adoptaram uma nova técnica de virar, a qual pode ser decomposta nas seguintes fases (segundo Maglisho, 1993; Colwin, 1999 e Pelayo et al., 1999):

  1. aproximação à parede - à medida que o nadador se aproxima da parede começa a efectuar a rotação da cabeça e ombros no sentido do ms que se encontra mais avançado. A acção da cabeça será um dos aspectos fundamentais da viragem pois indica qual o trajecto a percorrer pelo tronco e mi. Esta rotação da cabeça é acompanhada também pela rotação dos ombros, bacia e mi até o corpo se encontrar totalmente na posição ventral, assim como da acção subaquática do ms mais avançado; esta rotação deve iniciar-se a uma braçada de distância da parede. Durante a rotação sobre o eixo longitudinal o nadador deverá efectuar a recuperação do ms mais atrasado, devendo depois utilizar a sua acção subaquática para se aproximar da parede e para iniciar a viragem propriamente dita;

  2. viragem propriamente dita - ambos os ms propulsionam o corpo para a frente e para baixo, auxiliados por uma acção de mi de mariposa que eleva a bacia. O corpo executa um rolamento de 180º para a posição dorsal, devendo encontrar-se numa posição engrupada. As mãos juntam-se e mudam a sua direcção para realizar um rápido movimento inverso, para manter o movimento contínuo do corpo e para ajudar à rotação. O apoio dos mi na parede deverá suficientemente fundo de forma a possibilitar um deslize a uma profundidade suficiente para evitar a turbulência na superfície;

  3. impulso - os mi encontram-se flectidos no momento de contacto com a parede, devendo ser a parte anterior dos pés a contactar e impulsionar a parede. O impulso deverá ser forte e rápido, estando o nadador na posição hidrodinâmica, i. e., com os ms em extensão superior e os restantes segmentos corporais devidamente alinhados;

  4. deslize e o reinicio de nado - o nadador desliza com o corpo em extensão, podendo utilizar acção dos mi de mariposa ou de costas para prolongar o deslize e para o efectuar de forma progressiva. O reinicio de nado deve ser efectuado próximo da superfície.


Vantagens da Viragem Moderna

    Com a introdução desta nova técnica de virar as várias técnicas anteriormente utilizadas ficaram obsoletas (Maglischo, 1993). Desta forma, são vários os aspectos técnicos da Viragem Moderna referidos na literatura que traduzem vantagens para o nadador, as quais se podem traduzir em ganhos situados entre 0.2 e 0.6 segundos em cada viragem (Peyrebrune et al., 1992). Costill et al. (1992) e Maglischo (1993) referem que a não necessidade de existência de contacto da mão do nadador com a parede permite-lhe iniciar a viragem mais cedo, percorrendo desta forma uma menor distância, assim como lhe permite efectuar o rolamento de uma forma mais rápida. O último autor referido salienta, também, o facto de que com a introdução da nova regra os nadadores mais jovens já não têm de se preocupar com um eventual choque dos ms ou da cabeça contra a parede, assim como no caso de falharem ligeiramente a aproximação à parede poderem compensar esse atraso através da acção dos ms.


Conselhos para uma correcta realização da viragem:

    Os autores referidos nos parágrafo anterior, assim como Mason (1997) sugerem algumas normas a ter em conta aquando do treino da Viragem Moderna:

  • Utilizar as bandeirolas indicadoras dos vinte metros como referência para o momento em que terão de efectuar a rotação para a posição ventral. Com a definição do número exacto de acções dos ms que se devem fazer a 5 metros da parede evita-se olhar para a parede, eliminando movimentos parasitas da cabeça;

  • Após o inicio da rotação para a posição ventral não se deverá efectuar nenhum movimento de ms e/ou mi que seja independente da acção da viragem, pois estas acções implicam desqualificação;

  • Efectuar a viragem numa posição engrupada, de forma a que a velocidade de rotação seja alta. Deve-se tentar que a velocidade de rotação na execução do rolamento seja superior à velocidade de nado;

  • O contacto do nadador com a parede deve ser curto, mas deve-lhe permitir adoptar uma posição corporal óptima de saída (ângulo parede/nadador);

  • Rentabilizar o percurso subaquático posterior ao empurre da parede, de preferência com a utilização de acções curtas e rápidas de mi de mariposa. Diminuir a resistência ao avanço do nadador adoptando a posição hidrodinâmica.


Conclusões

    A conclusão principal a retirar deste estudo é que a Viragem Moderna apresenta realmente um conjunto de parâmetros técnicos cuja utilização parece trazer elevados benefícios na prestação desportiva nas provas de Costas. Com a não obrigatoriedade do nadador tocar com o ms no extremo da piscina, a utilização desta viragem parece tornar as provas de nado dorsal numa sequência de movimentos mais contínuos, o que se vai reflectir no tempo final alcançado. No entanto, a existência de dados cinemáticos que comprovem os benefícios técnicos anteriormente referidos é praticamente nula, pelo que urge a realização de estudos na área da biomecânica, de forma a confirmar as vantagens desta viragem e a fornecerem mais dados sobre uma técnica de virar que é bastante de criação bastante recente.


Referências Bibliográficas

  • Colwin, C. (1999). Swimming dynamics: Winning techniques and strategies. Masters Press. Illinois.

  • Costill, D. L.; Maglischo, E. W.; Richardson, A. B.. (1992). Swimming. Blackwell Scientific Publications, London.

  • Maglischo, E. W.(1993). Swimming even faster. Mayfield Publishing Company, Mountain View, California.

  • Mason, B. (1997). Biomechanical analysis of swimming turns. Proceedings of the AIS International Swim Seminar, pp. 24-26. Australia Institute of Sports.

  • Pelayo, P.; Maillard, D.; Rozier, D.; Chollet, D. (1999). Natation. Au collège et au lycée. Édicions Revue EP.S, Paris.

  • Troup, J. (1990). Race strategy: timing the start, turns, swim and finish. International Center for Aquatic Research Annual, studies by the International Center for Aquatic Research 1989-90, pp. 87-92. United States Swimming Press, Colorado Springs.


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