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Avaliação de conhecimento sobre atividade física e hipertensão em um grupo de idosos de Caxias - Rio de Janeiro |
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Mestranda em Educação/UERJ. Graduada em Medicina (1997) Licenciada em Educação Física (1978) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Programa de Pós Graduação em Educação - UERJ. Universidade do Estado do Rio de Janeiro |
Elizabeth Carvalho Lugão
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Pensando na "educação como prática da liberdade", procuramos esclarecer e tornar as pessoas participantes. O presente trabalho tem como objetivo avaliar conhecimentos relacionados à qualidade de vida de um grupo de idosos (Projeto IMMA - Duque de Caxias). O conhecimento específico em questão refere-se à atividade física e hipertensão, visando à melhoria da qualidade de vida; pressupõe maior participação do indivíduo na manutenção de sua saúde, pelo conhecimento dos possíveis danos provocados pela hipertensão, e dos benefícios da adoção de um estilo de vida saudável. Usamos um questionário aberto para 56 pessoas (52 mulheres e 4 homens, de 40 a 80 anos), tentando avaliar o conhecimento dos presentes em relação ao tema. Os que eram analfabetos (5 %) ou com dificuldade de leitura/escrita foram ajudados. Embora 48 % da amostra sejam hipertensos, 79 % ignoram o significado e suas conseqüências, sendo que 18 % destes eram hipertensos. Quanto à atividade física, 25 % responderam corretamente. Concluímos que, nesta amostra, o conhecimento sobre hipertensão (21 %) é ligeiramente inferior ao de atividade física (25 %), havendo desconhecimento sobre ambos os termos, embora sejam importantes para adoção de um estilo de vida saudável.
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http://www.efdeportes.com/
Revista Digital - Buenos Aires - Año 5 - N° 26 - Octubre de 2000
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Introdução
Paulo Freire sugere dar ao Homem a oportunidade de re-descobrir-se pela atitude reflexiva em que ele próprio vai se descobrindo, se manifestando e se configurando - “método de conscientização”“A verdadeira reflexão crítica origina-se e dialetiza-se na interioridade da ‘práxis’ constitutiva do mundo humano - é também ‘práxis’. (...) Na constituição da consciência, mundo e consciência se põem como consciência do mundo ou mundo consciente e, ao mesmo tempo, se opõem como consciência de si e consciência do mundo. (...) isolamento é a negação do homem (...) O diálogo fenomeniza historiciza a essencial intersubjetividade humana. O diálogo não é um produto histórico, é a própria historicização (...), é o movimento constitutivo da consciência.” (PAULO FREIRE, 1987)
Estudando Paulo Freire, percebemos a importância do conhecimento na vida das pessoas e, como ele, impomo-nos a pensar a “educação como prática da liberdade”. Com esta visão do mundo, sentimos necessidade de esclarecer as pessoas e torná-las participantes, além de dar-lhe a opção da escolha, mas com “conhecimento de causa”. O presente trabalho é parte de uma dissertação de mestrado, que tem como objetivo avaliar conhecimentos de um grupo de idosos participantes do Projeto IMMA (Idosos em Movimento - Mantendo a Autonomia), freqüentadores do Pólo Caxias. (O Projeto IMMA é desenvolvido por um grupo de professores de educação física, médicos e fisioterapeutas do Rio de Janeiro.) O conhecimento específico em questão refere-se à atividade física e hipertensão, visando a melhoria da qualidade de vida do idoso, oq pressupõe maior participação deste na manutenção de sua saúde pelo conhecimento dos possíveis danos provocados pela hipertensão e dos benefícios da adoção de um estilo de vida saudável através da vida ao ar livre, nutrição adequada e prática de atividades físicas.
Metodologia
Foi usado um questionário aberto para uma amostra composta por 56 pessoas, sendo 52 mulheres e quatro homens, com idades variando entre 40 e 80 anos, tentamos desta forma avaliar o nível de conhecimento dos presentes em relação ao tema. O Projeto possui 5% de analfabetos e, aproximadamente, 51% que concluíram (ou não) até a 4.ª série do atual ensino fundamental. As pessoas com dificuldades de leitura/escrita foram ajudadas pelos aplicadores.A literatura entende hipertensão como a elevação crônica da pressão arterial sistêmica, que pode acarretar seqüelas mórbidas importantes, como infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca congestiva, acidente vascular cerebral (AVC) e/ou insuficiência renal. A maioria dos hipertensos é assintomática, estando, por isto, mais sujeitos a morrer repentinamente, pois a hipertensão pode ocasionar morte súbita. A elevação da pressão arterial sistêmica representa um dos problemas mais comuns de clínica médica. (Wilson, 1992, Oparil, 1997, Joint National Comittee, 1997) O conhecimento desta condição permite a orientação do idoso no sentido de adotar um estilo de vida saudável e tratamento farmacológico eficiente, evitando o aparecimento de doenças limitantes ou incapacitantes.
Num segundo momento, tentamos avaliar o conhecimento dos presentes em relação à atividade física. A literatura especializada mostra uma distinção entre os termos exercícios físicos e atividades físicas. Atividade física é qualquer movimento corporal produzido por músculos esqueléticos, que resulta em gasto energético maior que os níveis de repouso (Caspersen In: Colantonio, 1998). Exercício físico seria toda atividade física planejada, estruturada e repetitiva que tem por objetivo a manutenção de um ou mais componentes da aptidão física.( Caspersen. In: Colantonio, 1998). Aptidão física está relacionada à saúde como a capacidade de realizar as atividades do cotidiano com vigor e energia, assim como demonstrar capacidades associadas a um baixo risco de desenvolvimento prematuro de distúrbios orgânicos pela falta de atividade física.(Pate In Colantonio, 1998) Enquanto esporte seria um sistema ordenado de práticas corporais de relativa complexidade que envolve atividades de competição institucionalmente regulamentadas, que se fundamenta na superação de competidores ou marcas (recordes), resultados anteriores estabelecidos pelo próprio esportista. (Generalitat de Catalunya, 1991). Atividade física para Faria Júnior (1990) seria “qualquer forma de movimento humano (organizado), não utilitário (nem ocupacional, nem laboral) ou terapêutico, produzido por músculos esqueléticos, produzindo substancial gasto energético geralmente manifestado através de jogos ativos, ginástica, dança , desporto ou atividades de lazer ativo, como rastelar, praticar jardinagem, caminhar, nadar ou correr. Este conceito pressupõe a existência de oito subdomínios: a atividade física como experiência social, experiência pedagógica, catarse, competição, superação de recordes e limites pessoais, experiência estética, promoção da saúde e exercício da cidadania”. Podemos verificar que, embora o último autor dê uma conotação mais social e mais abrangente à definição de atividade física, ambos concordam que “qualquer movimento produzido por músculos esqueléticos (movimentos voluntários, portanto), produzindo gasto energético” seria atividade física, que será o conceito adotado por nós na avaliação de conhecimento do idoso.
Resultados
As respostas à pergunta “O que você entende por hipertensão?” foram as seguintes: ‘pressão alta’(21,5%), ‘pressão irregular’(12,5%), ‘doença no coração’(16,1%), ‘doença’(7,1%), ‘palpitação’(1,8%), ‘não sei’(32,1%) e não responderam (9%). Percebemos que de uma amostra de 56 pessoas, 21,5% sabiam o significado do termo hipertensão, enquanto os restantes (78,5%) desconheciam, sendo que, na amostra, 48,2% declaravam-se hipertensos. Afirmavam ser hipertensos, porém ignorando o significado do termo: 18 %. A importância do conhecimento desta condição mórbida é a possibilidade de adotar-se estilos de vida que previnam suas conseqüências nefastas e, às vezes fatais (infarto agudo do miocárdio, AVC, etc), alé da utilização de farmacoterapia adequada, quando necessário.As respostas para a pergunta “O que você entende por atividade física?” foram as seguintes: ‘não sei’ (16%), ‘exercícios’ (19,6%), ‘exercitar o corpo’ (5,3%), ‘ginástica’(14%), ‘dança, caminhada’(13%), ‘é bom para a saúde’(25%), ‘dá mais flexibilidade’(1,8%), melhora a articulação’(3,5%), ‘trabalho normal’(1,8%). Em relação à atividade física, podemos notar que alguns confundem o conceito de atividade física com as modalidades de atividades físicas e/ou exercícios físicos, enquanto outros confundem atividade física com os resultados proporcionados pela atividade física. Percebemos que neste grupo eles não sabem definir atividade física, que seria, simplesmente, movimentar-se. Se aceitarmos exercício físico (que é uma atividade física estruturada) como resposta, podemos dizer que, no grupo, 25% responderam corretamente, caso contrário, podemos dizer que nesta amostra eles não sabem o que é atividade física.
Conclusão
Pudemos notar pelas respostas obtidas, que embora o conhecimento sobre hipertensão seja baixo, o conhecimento sobre atividade física é menor ainda. Se tomarmos atividade física como sinônimo de exercícios, podemos dizer que o conhecimento sobre hipertensão é ligeiramente inferior ao de atividade física. Ambos conceitos são importantes para que o indivíduo possa adotar um estilo de vida saudável, conscientemente, e possa exercer plenamente sua cidadania. Conhecer estes conceitos é mais importante ainda num grupo em que quase a metade se declara hipertenso. Lembramos que esta população tem baixa escolaridade, tendo, por isto, pouco contato com professores. Concluímos que no Projeto devemos trabalhar mais a área cognitiva, pois além da prática, devemos participar na conscientização do indivíduo.
Bibliografia
BURY, Michael, HOLME, Anthea. Measuring quality of life. In: JOHNSON, Julia, SLATER, Robert (eds). Ageing and later life. London: Sage, 1993. p. 233-238.
COLANTONIO, Emilson. Vida Saudável - a importância da atividade e dos exercícios físicos na qualidade de vida. SPRINT Magazine. Rio de Janeiro: Ed. Sprint, jan/fev 1998.
FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e prática da libertação: uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. 3 ed. São Paulo: Moraes, 1980.
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999.
JOINT NATIONAL COMITTEE. O Sexto Relatório da Comissão Nacional Conjunta de Prevenção, Detecção, Avaliação e Tratamento da Hipertensão Arterial. Arch. Intern. Med. v. 157, n.24, nov 1997. p. 2413 - 2441.
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revista digital · Año 5 · N° 26 | Buenos Aires, octubre de 2000
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