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Influência do nível de desenvolvimento cognitivo na tomada de |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 5 - N° 25 - Setiembre de 2000 |
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2.4. Procedimentos
As crianças foram avaliadas individualmente através um Diagnóstico Operatório para a "construção" (Gil, 1995, p.118) dos grupos pré-operatório e operatório-concreto. Logo após, identificado o nível operatório em que a criança se encontrava, formou-se uma dupla com outra criança do mesmo nível, para participar do jogo de situação. A dupla desenvolveu a atividade sem a observação dos demais integrantes da amostra.
Antes de iniciar o jogo o entrevistador explicou à dupla de sujeitos participantes os objetivos do mesmo. O entrevistador, através de perguntas, assegurou-se de que as crianças tivessem compreendido corretamente os propósitos do jogo. Uma vez iniciada a atividade ludomotora, o entrevistador permitiu que o jogo se desenvolvesse sem interrupções durante 5 min.. Transcorridos este minutos iniciais, o entrevistador interrompia o jogo, tomando a bola para evitar distrações, interrogava a um e a outro participante sobre as idéias ou antecipações elaboradas anteriormente à ação realizada, gravando tanto suas perguntas quanto as respostas dos sujeitos. Durante esta entrevista, evitou-se que o outro sujeito participasse da conversa.
Todos os sujeitos participaram do jogo durante aproximadamente 35 minutos, tempo suficiente para permitir ao entrevistador, fazer um número considerável de intervenções e registros das respostas explicativas e justificativas de ambas as crianças, o que possibilitou a análise.
2.5. Tratamento dos dadosPara alcançar os objetivos propostos pela pesquisa, foi realizada a análise dos dados coletados, observando-se cada um dos objetivos específicos.
1) - Para identificar e comparar as idéias e argumentos utilizados pelas crianças para justificar as estratégias utilizadas no jogo motor de situação, utilizou-se um procedimento hermenêutico, com a análise de conteúdo realizada em três etapas:
1ª Etapa: Leitura das respostas dadas durante a entrevista, com o objetivo de compreender o que realmente os alunos quiseram explicar e, a partir disso, foram destacadas as expressões chave.
2ª Etapa: Reunião dos argumentos, freqüentemente identificados dentro dos grupos em categorias mais amplas.
3ª. Etapa: Cálculo da freqüência da cada categoria, e com base nisso, realizou-se a análise comparativa entre os grupos.
2) - A fim de atender ao objetivo específico de comparar o tipo de estratégias utilizadas nos jogos motores de situação, que crianças em diferentes níveis de desenvolvimento cognitivo (pré-operatório e operatório-concreto) apresentam (desde a perspectiva das manifestações motoras), somaram-se as freqüências de uso de três recursos táticos (ataque: finta, escolha, deslocamento) em dez eventos do jogo (10 ataques), de 6 sujeitos do grupo pré-operatório e 6 sujeitos do grupo operatório-concreto. A observação do comportamento baseou-se nas categorias:
Finta: movimento que indicava um arremesso para um determinado local e era alterado para outro setor da linha de fundo.
Escolha: arremesso realizado para o setor da linha de fundo, onde o oponente não se encontrava em condições de interromper o deslocamento da bola.
Deslocamento de ataque: posicionamento do sujeito para o meio da quadra, junto a rede.
Operacionalizadas as categorias, elaborou-se a ficha para o registro dos comportamentos. O preenchimento dessa ficha foi realizado com base na observação minuciosa da fita de vídeo, com o registro do desenvolvimento do jogo de situação dos sujeitos que foram incluídos na análise, permitindo a observação detalhada e reiterada de cada uma das fases analisadas.
As categorias de finta e escolha, foram operacionalizadas em três dimensões: Utilizou (+), Utilizou medianamente (+ -), Não utilizou (-) .As categorias de deslocamentos de ataque e de defesa, em duas dimensões: Utilizou (+) e Não utilizou (-) conforme segue:
1 - Finta
1.1. (+) Realizou um movimento que insinuava um arremesso para um determinado setor da linha de fundo ou repetidamente modificava completamente a direção, e lançava ao local oposto do insinuado pela fase de preparação do movimento inicial.
1.2. (+ -) Realizou movimentos prévios ao arremesso final, porém, sem uma amplitude suficiente que indicasse uma fase de preparação de um movimento de engano.
1.3. (-) Não realizou nenhum tipo de movimento prévio às fases do movimento de arremesso final.
2 - Escolha
2.1. (+) Gesto corporal de arremesso que objetivou alcançar o setor da linha de fundo, onde o oponente não se encontrava em condições de interromper o deslocamento da bola, ou seja, que a bola fosse lançada o mais longe possível da localização do colega.
2.2. (+ -) Gesto corporal de arremesso que objetivou alcançar o setor da linha de fundo onde o colega não pegasse a bola, sem selecionar o local mais longe do oponente.
2.1. (-) Orientação do gesto corporal de arremesso em direção ao colega.
3 - Deslocamento de ataque
3.1. (+) Deslocamento do sujeito para frente da quadra, próximo à rede, com o propósito de arremessar.
3.2. (-) Arremesso sem deslocamento para frente.
Com base na soma das freqüências da forma de uso de cada recurso tático, foram apresentadas tabelas com os resultados totais para os grupos pré-operatório e operatório-concreto, comparadas estatisticamente através da prova qui-quadrado, optando-se pela rejeição de Ho a um nível .001.
3) - Em relação ao objetivo específico, de estabelecer se existe relação entre o tipo de estratégia utilizada no jogo motor de situação e os tipos de operações cognitivas que caracterizam cada um dos estágios de desenvolvimento, foram comparadas as argumentações utilizadas em cada grupo e o tipo de comportamento tático verificado no jogo com as fontes bibliográficas que descrevem e explicam as operações mentais nestes períodos de desenvolvimento.
3. Resultados e discussão
3.1. Apresentação dos resultados
A análise dos resultados da entrevista foi realizada a partir de um procedimento hermenêutico, conforme especificado na metodologia. Para a apresentação e análise dos dados, descreve-se inicialmente, as categorias e suas concernentes definições na fase ataque, seguidas de tabelas contendo a freqüência de cada categoria, e estas por sua vez, seguidas de uma análise comparativa entre os grupos com nível de desenvolvimento intelectual operatório, em transição e pré-operatório.
As categorias surgidas na fase de ataque são descritas a seguir.
Categoria 1 - Escolha : compreende as respostas dos sujeitos que fizeram algum tipo de referência, no momento de selecionar a direção do arremesso, ao setor da linha de fundo onde o oponente não se encontrava em condições de interromper o deslocamento da bola. Expressões-chave : "...quando J. está do lado mais perto, eu atiro para o lado mais longe"; "... o I. estava lá e aqui tinha mais lugar então eu atiro para lá"; "Que ele estava lá e este [lateral] é mais longe, se pode fazer o gol aí"..
Categoria 2 - Finta: compreende aquelas respostas nas quais os sujeitos indicaram utilizar movimentos de engano ou finta, em que procuravam induzir determinada ação ao oponente para continuar com ação oposta. Expressões-chave : "fazendo que lanço para um lado, e seguidamente parando e lançando para outro"; "assim como lançando para um lado e logo para outro"; "Uma coisa que você vem, vai a arremessar... vai arremessar e freia e arremessa para o outro lado"; "você move a bola e ele se distrai, então você arremessa a bola e ele não a pega".
Categoria 3 - Descrição: inclui as respostas orientadas a narrar a forma (agachado, de pé, com a mão), qualidade (velocidade, força) e tipo de ação (arremessar, lançar, tirar) realizada para efetivar o ataque. Expressões-chave : "lançar com força"; "Vou lançar forte [a bola]", "Com a mão"; "arremessando-a"; " arremesso e tento que a bola entre naquela linha".
Categoria 4 - Objetivo: concentra todas as respostas dos sujeitos que descrevem o objetivo da fase (fazer o gol) ou desejo de conseguir o gol. Expressões-chave : "Ganhar"; "Penso que posso fazer o gol"; "Penso que vou ganhar", "Que [a bola] vai fazer o gol", "Que tenho que fazer o gol".
Categoria 5 - "Não sei": concentra as respostas dos sujeitos que declararam desconhecer o conteúdo de seus pensamentos no momento da ação. Expressões-chave : "Não sei"; "Não sei, a bola ou em outra coisa"; "Não sei,... porque quando eu jogo... não tenho vontade de pensar"; "Nada"; "Eu que sei".
Na Tabela 1 são apresentadas, dentro das categorias descritas acima, freqüências e percentagens e sujeitos dos grupos operatório, em transição e pré-operatório, que no transcurso das entrevistas, para justificar suas ações na fase de ataque, fizeram menção a aspectos incluídos dentro das mesmas.
Tabla 1- Freqüências e percentagens de sujeitos dos grupos operatório, em transição e pré-operatório,
Escolha Finta Descrição Objetivo Não sei Operatório n = 8 7 5 5 2 2 87.5% 62.5% 62.5% 25% 25% Transição n = 6 3 3 4 1 1 50% 50% 66,60% 16% 16% Pré-operatório n = 6 0 0 6 4 3 0% 0% 100% 66,60% 50%
que mencionaram a justificativa de suas ações, na fase de ataque, dentro de cada categoria.A Figura 1 mostra o gráfico com a distribuição por categoria e grupo das freqüências apresentadas na Tabela 1, onde se pode observar claramente as diferenças que apresentam a categoria escolha e finta, nas justificativas da ações na fase de ataque entre os grupos operatório e pré-operatório. Já entre os grupos operatório e em transição, as diferenças são menores. Também pode-se observar que nos três grupos, a descrição da ação aparece com uma freqüência alta, mas deve-se considerar que enquanto o grupo operatório e em transição, no transcurso da entrevista, conseguiram fazer referência a outros tipos de estratégias para justificar suas ações, o grupo pré-operatório não conseguiu ir além da menção dos objetivos ou do desejo de alcançar o gol e a descrição dos movimentos realizados na fase.
Figura 1. Freqüência relativa das respostas na fase de ataque
em função do nível de desenvolvimento cognitivo.
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