efdeportes.com


 

Efeitos do uso de esteroides anabolizantes por mulheres

Effects of the use of anabolizing steroids by women

Efectos del uso de esteroides anabólicos por parte de mujeres

 

Mayse Doro Melluzzi*

José Nunes da Silva Filho**

jose_nunes_99@hotmail.com

 

*Pós-Graduação em Treinamento desportivo e Fisiologia do Exercício

**Pós-Graduação em Treinamento desportivo e Fisiologia do Exercício

Professor de Pós-Graduação da Faculdade de Sinop (FASIPE/MT)

Mestre em Ciências do Exercício e do Esporte (PPGCEE/UERJ)

(Brasil)

 

Recepção: 02/12/2017 - Aceitação: 16/12/2017

1ª Revisão: 13/12/2017 - 2ª Revisão: 13/12/2017

Resumo

    Introdução: os esteroides anabolizantes androgênicos (EAA) são derivados sintéticos da testosterona utilizados inicialmente para fins terapêuticos. Atualmente, essas drogas estão sendo agregadas, de forma abusiva e indiscriminada, para a melhora do desempenho em atividades físicas e para fins estéticos. Porém, a maioria dos usuários desconhece ou não acreditam nos efeitos adversos que o uso indevido dessa droga pode causar. Objetivos: neste estudo, objetiva-se verificar os possíveis efeitos colaterais do uso não terapêutico e indiscriminado dos EAA, e as possíveis mudanças que podem ocorrer no corpo feminino. Materiais e métodos: trata-se de um estudo de revisão de literatura de característica narrativa. Foram buscadas informações em livros, artigos, e alguns sites de instituições de ensino de referência nacional, para interação e contextualização do tema da pesquisa. Para busca dos artigos, acessaram-se as bases de dados Scielo, Portal de periódicos CAPES, o Google Acadêmico, e o Sistema Integrado de Biblioteca da Universidade de São Paulo (USP). Resultados: os resultados demonstraram que vários efeitos colaterais podem ser causados pelo uso não terapêuticos e abusivos dos EAA, provocando mudanças significativas e irreversíveis no organismo feminino. Notou-se ainda, que quando bem administrado e prescrito por médicos, o mesmo pode servir como intervenção para o tratamento de algumas doenças. Conclusão: os efeitos dos EAA podem ser tanto positivos quanto negativos para a saúde das mulheres. No entanto, quando a sua utilização ocorre sem a devida prescrição e orientação por profissionais da área médica, seus efeitos colaterais podem ser gravíssimos, irreversíveis e até mesmo levar a morte.

    Unitermos: Esteroides. Efeitos adversos. Testosterona. Mulheres.

 

Abstract

    Introduction: androgenic anabolic steroids (AAS) are synthetic derivatives of testosterone used initially for therapeutic purposes. Currently, these drugs are being added, abusively and indiscriminately, to improve performance in physical activities and for aesthetic purposes. However, most users are unaware of or do not believe in the adverse effects that misuse of this drug can cause. Objectives: In this study, we aimed to verify the possible side effects of the non-therapeutic and indiscriminate use of AAS, and the possible changes that may occur in the female body. Materials and methods: this is a literature review study of narrative feature. Information was searched in books, articles, and some sites of educational institutions of national reference, for interaction and contextualization of the research theme. To search the articles, we accessed the Scielo databases, CAPES Journal Portal, Google Academic, and the Integrated Library System of the University of São Paulo (USP). Results: The results demonstrated that several side effects may be caused by the non-therapeutic and abusive use of AAS, causing significant and irreversible changes in the female organism. It was also noted that when well administered and prescribed by doctors, it can serve as an intervention for the treatment of some diseases. Conclusion: the effects of AAS can be both positive and negative for women's health. However, when its use occurs without proper prescription and guidance by medical professionals, its side effects can be very serious, irreversible and even lead to death.

    Keywords: Steroids. Adverse effects. Testosterone. Women.

 

Resumen

    Introducción: los esteroides anabólicos androgénicos (EAA) son derivados sintéticos de la testosterona utilizados inicialmente con fines terapéuticos. Actualmente, estas drogas están siendo utilizadas, de forma abusiva e indiscriminada, para la mejora del rendimiento en actividades físicas y para fines estéticos. Sin embargo, la mayoría de los usuarios desconocen o no creen en los efectos adversos que el uso indebido de este medicamento puede causar. Objetivos: En este estudio, se pretende verificar los posibles efectos colaterales del uso no terapéutico e indiscriminado de los EAA, y los posibles cambios que pueden ocurrir en el cuerpo femenino. Materiales y métodos: se trata de un estudio de revisión de literatura de carácter narrativo. Se buscan informaciones en libros, artículos, y algunos sitios de instituciones de enseñanza de referencia nacional, para interacción y contextualización del tema de la investigación. Para la búsqueda de los artículos, se accedió a las bases de datos Scielo, Portal de revistas CAPES, Google Académico, y el Sistema Integrado de Biblioteca de la Universidad de São Paulo (USP). Resultados: los resultados demostraron que varios efectos colaterales pueden ser causados ​​por el uso no terapéutico y abusivo de los EAA, provocando cambios significativos e irreversibles en el organismo femenino. Se notó además que cuando es bien administrado y prescrito por médicos, el mismo puede servir como intervención para el tratamiento de algunas enfermedades. Conclusión: los efectos de los EAA pueden ser tanto positivos como negativos para la salud de las mujeres. Sin embargo, cuando su uso ocurre sin la debida prescripción y orientación por parte de profesionales del área médica, sus efectos colaterales pueden ser gravísimos, irreversibles e incluso llevar la muerte.

    Palabras clave: Esteroides. Efectos adversos. Testosterona. Mujeres.

 

Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 22, Núm. 235 (2017)


 

Introdução

 

    Qual o preço para o corpo “ideal”? Partindo-se dessa pergunta, percebe-se que as mulheres da sociedade atual vêem o corpo como algo a se comparar com a “perfeição”. Sendo cada vez mais alva de modificações, modelagem, aumentarem, diminuir, alterando sua estética natural, fazendo com que muitas mulheres utilizam desse artifício, até chegar ao corpo “ideal”. (Da Costa, Silva Filho, Da Costa, 2017).

 

    Dentre tantas opções para efetivar essas diversas transformações, os anabolizantes ganharam espaço, além do mais, o acesso e o baixo custo benefício, comparado a tantos outros procedimentos estéticos, faz dele um grande vilão para quem deseja obter um corpo “perfeito”.

 

    Os (EAA) se caracterizam por serem andrógenos sintéticos com agilidade anabólica semelhante à testosterona. Esses têm a função primária de ampliar e manter características sexuais masculinas, longe da função anabolizante que acarreta o aumento da síntese proteica e, por conseguinte o aumento da massa muscular. (Alves, 2000)

 

    Na mulher é produzido estrógeno nos ovários caracterizando os aspectos femininos, nos homens o andrógeno é produzido pelo testículo, caracterizando a identidade masculina, ambos produzidos pelos dois sexos apenas com predominâncias diferentes. (Fonseca et al., 2010).

 

    O aumento do consumo não terapêutico dos anabolizantes, especialmente entre a população jovem, tem sido relatado por pesquisadores em vários países, constituindo-se em um crescente problema de saúde pública. As altas taxas de consumo de esteroides entre jovens apontam para uma mudança no perfil dos usuários. O uso de anabolizantes, que antes era restrito a atletas e fisiculturistas, popularizou-se entre os jovens não atletas que passaram a utilizá-lo para fins estéticos. (Iriart et al., 2009)

 

    Na década de 1950 ganhou-se destaque pelo início da ingestão dos esteroides anabolizantes com finalidades médicas, sua ampliação sintética permitiu a alteração da composição química natural desses hormônios para restringir as propriedades androgênicas e acrescer seus efeitos anabólicos na musculatura, sendo assim, o uso de esteroides anabolizantes ganharia outra magnitude, não somente como uso médico. (McArdle et al., 2008)

 

    Serviço de Informação de Substâncias Psicoativas (SISP) notou-se um número de solicitação de informações sobre os EAA, que vêm crescendo gradualmente, uma vez que o uso impróprio tem sido encontrado entre alunos de academia de musculação, atletas de halterofilismo, pessoas de baixa estatura, na tentativa de melhorar a aparência, com fim de aprimorar o desempenho sexual ou como amadorismos vêem aumentando de forma desproporcional. Contudo uso abusivo e indiscriminado pode ocasionar efeitos colaterais graves, os quais são ignorados pelos usuários (Lise et al., 1999).

 

    O próprio medo faz com que a ingestão dos EAA seja oculta pelos usuários pela qual os mesmos não obtêm informações o suficiente, sendo assim não procuram a atenção clínica, deixando as consequências sobre a saúde ignorada epidemiologicamente. (Cecchetto et al., 2012).

 

    A proposta desse artigo é promover o conhecimento sofre os efeitos do EAA no organismo feminino, quais os benefícios e os malefícios que o mesmo pode trazer. Discutir sobre os estudos citados, e ressaltar as contribuições que o mesmo traz para população diante desse assunto.

 

Conceitos de esteroides anabolizantes

 

    Os (EAA) hormônios esteroides anabolizantes androgênicos envolvem a testosterona e seus derivados. São produzidos nos testículos e no córtex adrenal, e geram as características sexuais acessórias agregadas à masculinidade, geralmente a utilização primaria associada aos EAA estava relacionada a tratamentos médicos de determinados tipos de doenças. (Da Silva et al., 2002).

 

    Os hormônios esteroides são produzidos pelo córtex da supra-renal e pelas gônadas (ovários e testículos). Os esteroides anabolizantes ou esteroides anabólico-androgenicos (EAA) referem-se aos hormônios esteroides da classe dos hormônios sexuais masculinos, promotores e mantenedores das características sexuais á masculinidade (incluindo o trato genital, as características sexuais secundárias e a fertilidade), os mesmo incluem a testosterona e seus derivados. (Da Silva et al., 2002).

 

    Os EAA exibem um centro básico proveniente da composição química do colesterol, consequentemente são hormônios da classe lipídica. A biossíntese dos hormônios esteroides é limitada a alguns poucos tecidos, como o córtex das glândulas adrenais e gônadas, os quais promulgam diferentes formas do implexo enzimático, responsável pelo processamento da molécula de colesterol. Já os andrógenos são hormônios sexuais masculinos e bancam uma das classes de hormônios esteroides, são dados, principalmente, pelos testículos e, em menores proporções, pelas adrenais (Bianco, Rabelo, 1999).

 

    A testosterona tem um papel fundamental, ela exerce efeitos instituídos como androgênicos e anabólicos em uma longa e extensa disparidade de tecidos-alvo, sendo eles o sistema reprodutor, sistema nervoso central, a glândula pituitária anterior, o rim, o fígado, os músculos e o coração. Com os efeitos androgênicos, a testosterona desempena importantes funções, ela é responsável, pelo crescimento do trato reprodutor masculino e desenvolvimento das características sexuais secundárias, enquanto que os efeitos anabólicos incitam a fixação do nitrogênio e somam a síntese proteica (Hebert et al., 1984; Shahid, 2001; Sinha-Hikim et al., 2002 apud Nunes, 2010).

 

    Nos seres humanos, a testosterona é o androgênio mais importante, ele é secretado nos homens cerca de 8mg/dia, sendo 95% pelas células Leydig (essa célula produz a maior parte de testosterona, fora o testículo) e apenas 5% pelas supra – renais. Já nas mulheres a testosterona é secretado pelos ovários e glândulas supra renais, sendo que 50% da testosterona secretada (0,25 mg/dia) é sintetizada extra glandularmente, onde o hormônio androstenediona é produzida pela supra renal e convertida em testosterona. (Basaria et al., 2001).

 

    Na fase adulta, o homem encontra uma concentração plasmática de testosterona que varia de 300 a 1.000 ng/dl e a taxa de produção diária entre 2,5 e 11 mg. Quarenta por cento da testosterona circulante ligam-se a uma proteína plasmática denominada proteína ligante do hormônio sexual, aproximadamente 2% estão livres, sendo que o restante está associado à albumina e outras proteínas plasmáticas (Da Silva et al., 2002).

 

    Necessário citar os principais hormônios esteroides anabolizantes secretados no organismo, como o cortisol que é o principal hormônio esteroide, secretado pelas células da parte média do córtex adrenal humano (zona fasciculada), com diversos efeitos fundamentais para a vida do corpo.

 

    Entre as ações do cortisol, a mais conhecida é aumentar o suprimento de glicose sanguínea para os tecidos, principalmente cérebro e coração. Ele age pela ascensão do catabolismo das proteínas e pela estimulação da conversão dos aminoácidos resultantes em glicose (gliconeogênese), que ocorre principalmente no fígado. É por causa desse papel no metabolismo dos carboidratos que o cortisol e esteroides semelhantes são chamados de “glico”-corticoides. Os glicocorticoides são substâncias de estrutura química relacionada à estrutura do cortisol, conhecidas como esteroides adrenais. O cortisol, que exerce importante papel no equilíbrio eletrolítico e no metabolismo de carboidratos, proteínas e lipídeos, possui um potente efeito anti-inflamatório (Dornas et al., 2006).

 

    A testosterona é convertida em vários outros metabólitos ativos como estradiol, androsterona, 3-α-hidroxi-5-β-androsta-17-ona e androstenediona. As substâncias ativas, inclusive metabólitos reduzidos (5-α-redutase) atravessam a membrana celular e liga-se com alta especificidade e baixa afinidade a receptores citoplasmáticos para esteroides. A complexa droga receptora é transloucada para o núcleo e liga-se à cromatina, induzindo a transcrição do RNA e a produção de proteínas específicas e ocasionando seus efeitos (Lise et al., 1999).

 

Possíveis mudanças no organismo feminino

 

    A forma como será utilizado os anabolizantes pode ser feita de várias maneiras, sublingual, ingestão oral ou aplicação injetável, adesivo transdérmico, testosterona tópica (manipulação de creme). A maneira como são administrado pelos usuários se darão por meio de ciclos, em que as doses maiores são aplicadas progressivamente, com um intervalo de período que pode variar de 4 a 18 semanas. Entre várias composições que geram os efeitos dos anabolizantes, os administrados oralmente como a oxitemetolona, a oxandrolona, metandrostelona e o estanazolol, são os mais utilizados no mercado. (Fonseca et al., 2010)

 

    Os autores Lima e Cardoso (2011) descrevem que o uso de EAA por mulheres traz um aparecimento comum de caracteres secundária ao masculino, os estudos citados a cima deixa claro essas informações e as possíveis mudanças, são elas; engrossamento da voz atrofia mamária, amenorreia (ausência da menstruação) e hipertrofia do clitóris.

 

    A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM, 2017) deixa bem claro em seu mural virtual que o uso de anabolizantes gera efeitos colaterais, em ambos os sexos, sendo eles: aparecimento ou aumento de acnes, queda do cabelo, alteração da função do fígado, tumores no fígado, explosões de ira ou conduta agressiva, alucinações, psicoses, coágulos de sangue, retenção de líquido no organismo, e aumento da pressão arterial.

 

    A atleta Rebeca Gusmão foi flagrada no Pan de 2007 com alto índice de testosterona, e virou notícia no Jornal do Brasil com uma observação feita pelo Professor de educação física e fisiologista do Hospital Universitário Pedro Ernesto, vinculado a UERJ, Gustavo Casimiro (2007) alertou “O corpo e o rosto feminino sofrem efeitos masculinizantes” (Jornal do Brasil, 2011). A voz de menina fica rouca por conta da parafonia, causada pela hipertrofia da laringe, que alias, é irreversível. O corpo ganha mais pelos, e a pele fica mais oleosa, provocando as acnes. (Santos, Medeiros, 2009).

 

Possíveis benefícios dos EAA para mulheres

 

    Podemos encontrar indicações médicas para o uso de androgênios no tratamento de determinados distúrbios ginecológicos. Em alguns casos, os androgênios são associados, a estrogênios na terapia de reposição hormonal pós-menopausa, com o objetivo de eliminar o sangramento endometrial que pode ocorrer quando o tratamento for realizado apenas com estrógenos. A testosterona tem um efeito paliativo em algumas mulheres em fase de tratamento de câncer de mama. Entretanto, como em nível de recuperação do paciente com o tratamento convencional são maiores, os androgênios não exercem um papel importante nesse tipo tratamento. Doentes em fase terminal do câncer, muitas vezes também fazem uso desse mesmo medicamento hormonal para ganhar peso. Foram feitos teste no Centro Regional de Informações de Medicamentos no ano de 2000, em animais associadas à insuficiência da medula óssea e insuficiência renal, porém não foi esclarecido ainda se os benefícios do tratamento superam os efeitos (Sousa, 2002).

 

    Para Ferrari (2011) os hormônios estrogênios podem ter as seguintes finalidades clínicas: anticoncepcional e terapia de reposição hormonal. Desde os anos de 1970, criou-se uma moda o uso de Deidroepiandrosterona (DHEA) como é mais popularmente conhecido, e se tornou inclusive um remédio “antienvelhecimento”. Até hoje não existem provas cientificamente comprovadas de sua eficiência, que foi bastante difundida por fabricantes do hormônio.

 

    Além disso, o DHEA também se tornou um produto a ser vendido para pessoas que queriam “prolongar” a vida com saúde. De tal modo, seria interessante tomar o hormônio desde a juventude para garantir um futuro de saúde e vitalidade. Infelizmente para uns ou felizmente para outros, há autores de livros científicos, como Karinch (2002), afirmando que o uso de DHEA e outros hormônios são totalmente seguros (Ferrari, 2011).

 

    Os objetivos do tratamento médico para a deficiência androgênica são de restabelecimento do funcionamento sexual assim como a libido e sensação de bem-estar. Adicionalmente a reposição androgênica pode prevenir a osteoporose, melhorar a densidade óssea, melhorar a saúde mental e restaurar os níveis de hormônio do crescimento (Morales et al., 2000 apud Medeiros, Cardoso, 2015).

 

    A autora Pardini (2014) explica sobre a reposição hormonal de estrógeno isolado ou associado à progesterona a uma determinada classe de mulheres, sendo elas abaixo de 60 anos, pós-menopausa e com alto índice de fraturas, afirma que é eficaz na prevenção da perda óssea associada à menopausa e na redução da incidência de fratura vertebral e não vertebral, incluindo pacientes de baixo risco. Embora a magnitude do decaimento na renovação óssea esteja relacionada aos níveis de estrogênio, a reposição em doses menores tem influência positiva na massa óssea da maioria das mulheres. Com base nas ênfases, a Terapia de Reposição Hormonal na Menopausa (THM) é a terapia de primeira linha nesses casos.

 

    O tratamento com testosterona não apenas aumenta a satisfação sexual, mas também o bem-estar de maneira global, influenciando positivamente na qualidade de vida. Faltam, contudo, evidências que dêem suporte ao tratamento com testosterona sem estrogenoterapia concomitante. Apesar de estarmos cientes da atuação da testosterona na influência positiva do humor, do bem-estar e da densidade mineral óssea em mulheres com baixos níveis de testosterona, não há dados suficientes que possam respaldar a indicação do uso de testosterona apenas com esses objetivos. Este deve ser monitorizado clinicamente e, se necessário, deve-se proceder à avaliação laboratorial para monitorização de possíveis teores supra fisiológicos de testosterona (Finotti, 2016).

 

    A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM, 2017), explica que nas mulheres as dosagens de testosterona são úteis para diagnosticar excesso de androgênios e não sua falta. É imprescindível basear-se nas queixas que possam estar ligadas com a falta de testosterona.

 

Materiais e método

 

    Este estudo utilizou como método para a coleta de dados uma revisão e baseou em buscas na literatura de forma não indutiva (Volpato, 2003). A pesquisa fala sobre “Efeitos do uso de Esteroides Anabolizantes por mulheres”. Foi realizada uma busca por artigos científicos publicados em revistas indexadas encontrados em bases de dados nacionais: Scielo; portal periódico CAPES e, no site de busca Google Scholar, sendo que este último busca também artigos relacionados ao tema não indexados nas bases de dados utilizadas.

 

    Inicialmente foram selecionados os termos chave seguindo a orientação dos Descritores em Ciências da Saúde “DeSC” (http://desc.bvs.br). Os termos utilizados na busca de artigos na língua portuguesa foram: Mulheres, Anabolizantes, Esteroides, saúde; na língua inglesa os termos utilizados foram: Women; Anabolic Agents; Steroids; Health. Os termos foram inseridos nos sites de buscas, separados pelos operadores booleanos “AND” e “OR”. A busca e seleção dos artigos foram realizadas no último semestre de 2016 nas bases de dados supracitadas.

 

    A primeira seleção dos estudos inclusos aconteceu através de uma leitura do título, seguindo da leitura do resumo e, caso atendesse aos critérios de inclusão, optava-se pela leitura completa do mesmo, para que fosse verificado na integra os critérios de elegibilidade. Após as etapas supracitadas, considerava-se o estudo apto a ser contemplado para presente revisão.

 

Resultados e discussão

 

    A presente revisão permitiu uma visão ampla sobre os efeitos do uso de EAA pelas mulheres. O EAA pode ser utilizado de várias formas como diz o estudo; sublingual, injetável, adesivo, transdérmico entre outros, e serão administrados por ciclos, de forma progressiva (Fonseca et al, 2010). Com a ingestão do mesmo, por ser um hormônio sintético masculino, irá acarretar algumas características secundárias masculinas, os estudos deixam de forma clara e evidente essas possíveis mudanças, que são engrossamento da voz, amenorreia, atrofia mamária, e outras mudanças que não se caracteriza pelo lado masculino, como, acne, queda de cabelo, retenção de líquido, e outros agravantes como, alterações da função do fígado, coágulo de sangue, aumento da pressão arterial (Lima, Cardoso, 2011).

 

    Porém, embora o uso de EAA possa trazer diversos efeitos colaterais, observou-se também, com a presente pesquisa, que seu uso, quando administrado corretamente e sob a orientação e acompanhamento periódico de um médico, pode trazer alguns benefícios para a saúde das pessoas quando não utilizados para cunho estético (Ferrari, 2011). Por exemplo: na mulher, após a menopausa, e em uma determinada idade “avançada”, na qual, há um desgaste ósseo e outras perdas fisiológicas, a reposição hormonal pode ser considerada muito válida e ajudar no organismo da mulher. Inclusive, o uso adequado de hormônios, quando devidamente prescritos por um profissional, pode ser utilizado também no tratamento outras doenças mais graves, inclusive ao tratamento do câncer. O hormônio citado entra com o efeito paliativo, ou até mesmo na fase terminal do câncer servindo como recurso para o ganho de peso.

 

    Alguns autores relatam que são necessários mais estudos clínicos para comprovar se os efeitos benéficos do uso de EAA superam os efeitos, porém fica claro que o uso não controlado e, sem orientação profissional, pode trazer malefícios e consequências graves, como alucinações, psicoses, tumores no fígado entre outros.

 

    Por fim, cabe ressaltar, que em nenhum dos estudos encontrados, notou-se incentivo ao consumo de EAA sem o devido acompanhamento médico. Quanto ao consumo dos EAA voltado para o tratamento de doenças, só puderam ser vistos, devido à qualidade de uma boa orientação e prescrição de profissionais devidamente capacitados. Haja vista que cada organismo, deve receber, sempre, uma prescrição específica e singular para seu organismo, seus objetivos e/ou suas necessidades. Por tanto indica-se sempre, em quaisquer que seja seu objetivo e/ou necessidade, buscar sempre uma orientação profissional.

 

Conclusão

 

    Os estudos analisados trazem um alerta à população principalmente às mulheres, para as quais o estudo foi direcionado. O uso do hormônio masculino “testosterona”, em alguns casos, pode até trazer benefícios, pois, alguns autores mostraram em seus estudos pontos positivos que quando esses são administrados visando a saúde e qualidade de vida da mulher. Porém a orientação é que seu uso d seja feito apenas sob o acompanhamento e prescrição de um profissional capacitado, diminuindo os riscos que e seus efeitos colaterais para a saúde da mulher.

 

    Contudo, conclui-se que os EAA’s podem ser usados em tratamento de doenças, disfunções hormonais, praticantes de atividade física, mas apenas sob orientação de um profissional. Pois o uso incorreto autoprescrito e “amador” pode trazer efeitos indesejados, ou irreversíveis para o organismo humano, podendo causar graves danos à saúde, podendo ainda, levar o indivíduo a óbito.

 

Referências

 

    Abrahin, O. S. C., & de Sousa, E. C. (2013). Esteroides anabolizantes androgênicos e seus efeitos colaterais: uma revisão crítico-científica. Journal of Physical Education, 24(4), 669-679.

    Basaria, S; Wahlstrom, J. T; Dobs, A. S. (2001). Anabolic-androgenic steroid therapy in the treatment of chronic diseases. The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism, Springfield, v. 86, no. 11, p. 5108-5117.

    Bianco, A.C., Rabelo. R. (1999). Introdução à fisiologia endócrina. In: Aires MM. Fisiologia. (2ª ed.). Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; cap.65, p.741-65.

    Brum Filho, A. F., & Pedralli, M. L. (2010). Uso de esteroides anabólicos androgênicos por praticantes de musculação nas academias brasileiras. Lecturas: Educación Física y Deportes, Revista Digital. Ano 15, Nº 149. http://www.efdeportes.com/efd149/uso-de-esteroides-anabolicos-androgenicos-nas-academias.htm

    Cecchetto, F., Ribeiro de Moraes, D., & Silveira de Farias, P. (2012). Distintos enfoques sobre esteroides anabolizantes: riscos à saúde e hipermasculinidade. Interface-Comunicação, Saúde, Educação16(41).

    Da Silva, P. R. P., Danielski, R., & Czepielewski, M. A. (2002). Esteróides anabolizantes no esporte. Rev Bras Med Esporte, 8(6), 235-43.

    Da Costa, R. C. C., da Silva Filho, J. N., & Da Costa, L. P. (2017). Efeitos da síndrome de tensão pré-menstrual na atividade física de alunas universitárias de Educação Física no Rio de Janeiro. RBPFEX-Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício, 11(68), 550-557.

    Dornas, W.C; Nagem, T.J; Oliveira, T.T. (2006). Considerações sobre efeitos do uso de esteróides anabólicos androgênicos. Rev Bras Farm, v.87, p.3-8.

    Dos Santos, D. S., & Medeiros, A. G. A. (2009). O discurso midiático e as representações sociais do esporte: o atleta como modelo de comportamento. Pensar a Prática12(3).

    Ferrari, C.K.B. (2011). Abuso de hormônios esteroides anabólicos: o que não contaram pra você!. SaBios: Rev. Saúde e Biol., v.6, n.3, p.52-69.

    Finotti, M.C.C.F. (2013). Síndrome de insuficiência androgênica na mulher: diagnóstico e implicações terapêuticas. Brasília Médica. 50: 312-317.

    Fonseca, H. P., Scapinelli, A., Aoki, T., & Aldrighi, J. M. (2010). Deficiência androgênica na mulher. Rev Assoc Med Bras56(5), 579-82.

    Iriart, J. A. B., Chaves, J. C., & Orleans, R. G. D. (2009). Body cult and use of anabolic steroids by bodybuilders. Cadernos de saúde publica25(4), 773-782.

    Jornal do Brasil (2011). Aumento no número de mulheres usando hormônios masculinos preocupa médicos. Acessado em: 09.Set.2017.

    Karinch, M. (2002). Gaining or cutting weight. In: Diets designed for athletes. Champaign: Human Kinetics, Chapter 6, p. 107-142.

    Lima, A.P.D.; Cardoso, F. B. (2012). Alterações fisiológicas e efeitos colaterais decorrentes da utilização de esteroides anabolizantes androgênicos. Revista de Atenção à Saúde (antiga Rev. Bras. Ciên. Saúde)9(29).

    Lise, M. L. Z., Da Gama e Silva, T. S., Ferigolo, M., & Barros, H. M. T. (1999). O abuso de esteróides anabólico-androgênicos em atletismo. Revista da Associação Médica Brasileira45(4), 364-370.

    Medeiros, L. N., & Cardoso, R. A. (2015). Anabolizantes: benefícios e malefícios na busca do corpo ideal. e-RAC5(1).

    McArdle, W. D.; Katch, F. I.; Katch, V. L. (2008). Fisiologia do exercício: energia, nutrição e desempenho humano. (6ª ed.). Rio de Janeiro: Guanabara Koogan.

    Nunes, L. G. (2010). Esteroides anabolizantes: mecanismos de ação e efeito sobre o sistema reprodutor masculino. Lecturas: Educación Física y Deportes, Revista Digital, Nº 136. http://www.efdeportes.com/efd136/esteroides-anabolizantes-e-sistema-reprodutor-masculino.htm. Acessado 26/07/2016.

    Pardini, D. (2014). Terapia de reposição hormonal na menopausa. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia & Metabologia.

    Santos, D.S., Medeiros, A.G.A. (2009). O discurso midiático e as representações sociais do esporte: o atleta como modelo de comportamento. Revista Pensar a Prática, Goiás, v. 12, n. 3

    Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, SBEM. Anabolizantes e seus usos. Disponível em: https://www.endocrino.org.br/anabolizantes-e-seus-usos/. Acessado em: 09.Set.2017.

    Sousa, R.V. (2002). Efeitos do Uso de Esteróides Anabolizantes. Brasília. Disponível em: http://repositorio.uniceub.br/bitstream/123456789/2425/2/9760614.pdf. Acesso em: 09.Set.2017.

    Volpato, G.L. (2003). Publicação científica. (2ª ed.). Tipomic Gráfica e Editora, Botucatu, SP, 143p.


Lecturas: Educación Física y Deportes, Vol. 22, Núm. 235 (2017)
EFDeportes.com | ISSN 1514-3465 | Publicación Mensual | Buenos Aires - Argentina
© 1997-2017 | Derechos reservados