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Fatores de risco para o câncer de fígado e a contaminação da água

Risk factors for liver cancer and the contamination of water

Factores de riesgo para contraer cáncer de hígado y la contaminación del agua

 

*Enfermeiro graduado pela Universidade do Estado da Bahia, Guanambi, Bahia

**Biólogo e Enfermeiro - Professor Auxiliar

da Universidade do Estado da Bahia, Salvador, Bahia

***Bióloga- Professora Adjunta da Universidade do Estado da Bahia, Caetité, Bahia

****Enfermeira - Professora Substituta da Universidade Federal da Bahia, Salvador, Bahia

*****Enfermeira - Professora Auxiliar

da Universidade do Estado da Bahia, Guanambi, Bahia

******Fisioterapeuta- Professor Assistente

da Universidade do Estado da Bahia, Salvador, Bahia

Filipe Gomes Gadeia Brito*

Magno Conceição das Merces**

Patrícia Maria Mitsuka***

Técia Maria Santos Carneiro e Cordeiro****

Daniela Sousa Oliveira*****

Marcio Costa de Souza******

mcsouzafisio@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Objetivos: identificar fatores de risco para a neoplasia hepática, avaliar a presença de cianobactérias nas águas de abastecimento humano e sua relação com os casos de câncer hepático. Métodos: estudo de caso e pesquisa documental de caráter exploratória realizada em um município baiano. Foi aplicado um questionário aos casos e analisada a densidade de cianobactérias presentes nas represas em documentos. Resultados: os fatores de risco relacionados à neoplasia hepática foram: cirrose hepática, tabagismo, consumo de álcool e hereditariedade. Ao verificar o consumo de água: 100% faziam uso; 50% apresentaram sinal ou sintoma relacionado ao consumo; 100% afirmaram ter percebido alteração do gosto e 25% modificação na cor e odor. Não havia monitoramento das represas; os laudos constaram presença de Microcystis em ambas as barragens e a densidade de cianobactérias atingiu níveis altos. Conclusão: os fatores de risco para o câncer hepático, em sua maioria, são modificáveis. A falta de monitoramento, a presença de Microcystis nas represas e o consumo da água contaminada torna essa população vulnerável ao câncer. É imperativo a fiscalização das empresas responsáveis e a necessidade de pesquisas que estabeleçam a causalidade entre a água e o câncer hepático.

          Unitermos: Qualidade da água. Cianobactérias. Fatores de risco. Neoplasias hepáticas. Saúde Pública.

 

Abstract

          Objectives: To identify risk factors for liver cancer, assess the presence of cyanobacteria in the human water supply and its relation to the cases of liver cancer. Methods: A case study and documentary research of exploratory character held in a Bahian municipality. A questionnaire to cases and analyzed the density of cyanobacteria present in dams in documents was applied. Results: The risk factors related to liver neoplasia were: liver cirrhosis, smoking, alcohol consumption and heredity. When checking the water consumption: 100% used; 50% had signs or symptoms related to consumption; 100% said they had noticed changes of taste and 25% change in color and odor. There was no monitoring of dams; the reports consisted presence of Microcystis in both dams and cyanobacteria density reached high levels. Conclusions: The risk factors for liver cancer, mostly, are modifiable. The lack of monitoring, the presence of Microcystis in dams and consumption of contaminated water makes it vulnerable to cancer. Oversight of undertakings and the need for research to establish causality between the water and the liver cancer is imperative.

          Keywords: Water quality. Cyanobacteria. Risk factors. Liver cancer. Public health.

 

Resumen

          Objetivos: identificar factores de riesgo para la neoplasia hepática, evaluar la presencia de cianobacterias en aguas para consumo humano y su relación con los casos de cáncer hepático. Métodos: estudio de caso e investigación documental de carácter exploratorio realizada en un municipio de Bahía, Brasil. Se aplicó un cuestionario de casos y se analizó la densidad de cianobacterias presentes en las represas en informes. Resultados: los factores de riesgo relacionados con la neoplasia hepática fueron: cirrosis hepática, tabaquismo, consumo de alcohol y herencia. Al verificar el consumo de agua: el 100% hacía uso; el 50% presentó una señal o un síntoma relacionado con el consumo; el 100% afirmó haber percibido alteración del gusto y el 25% modificación en el color y el olor. No hubo monitoreo de las represas; los controles constataron la presencia de Microcystis en ambas represas y la densidad de cianobacterias alcanzó niveles altos. Conclusión: los factores de riesgo para el cáncer hepático, en su mayoría, son modificables. La falta de monitoreo, la presencia de Microcystis en las represas y el consumo de agua contaminada hace que esta población sea vulnerable al cáncer. Es imperativo la fiscalización de las empresas responsables y la necesidad de investigaciones que establezcan la causalidad entre el agua y el cáncer hepático.

          Unitermos: Calidad del agua. Cianobacterias. Factores de riesgo. Neoplasias hepáticas. Salud pública.

 

Recepção: 28/08/2016 - Aceitação: 12/11/2017

 

1ª Revisão: 06/09/2017 - 2ª Revisão: 08/11/2017

 

 
Lecturas: Educación Física y Deportes, Revista Digital. Buenos Aires, Año 22, Nº 234, Noviembre de 2017. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O câncer é considerado um problema de saúde pública no Brasil em virtude da morbimortalidade. Os casos novos desta patologia crescem a cada ano. No Brasil, a estimativa para 2014 e 2015 foi de cerca de 576.000 casos novos de neoplasia maligna, incluindo os casos de pele não melanoma (Inca, 2014). A região geográfica com maior número de casos foi a Sudeste, seguida pela Sul e Nordeste. Entre as dez principais causas de morte por câncer no Brasil em 2008 estava o câncer de fígado, ocupando a 6ª posição entre indivíduos do sexo masculino e a 8ª entre indivíduos do sexo feminino (Inca, 2012 e Inca 2014).

    Os tumores hepáticos do tipo primário estão geralmente associados a doença hepática crônica, infecções por hepatite B e C, cirrose, exposição a determinadas toxinas químicas (cloreto de vinil, arsênico), tabagismo (principalmente quando associado com o uso de álcool) e a aflatoxina4. Vale ressaltar que a esquistossomose também consiste em um fator de risco em áreas endêmicas.2 Neste sentido, a doença hepática crônica de qualquer etiologia é considerada fator predisponente no desenvolvimento de câncer hepático (Inca, 2014, Smeltzer et al, 2009 e Vieira et al, 2012).

    Outrossim, estudos apontam a associação da neoplasia hepática com a presença de cianotoxinas hepatotóxicas produzidas por cianobactérias. Destacam-se as microcistinas, presentes em águas destinadas ao abastecimento humano, pois tais organismos não são eliminados pelo tratamento convencional da água (Calijuri, Alves e Santos, 2006 e Leal e Soares, 2004).

    A presença destes microrganismos em águas de abastecimento humano representa um risco à saúde pública, devido aos efeitos neurotóxicos, hepatotóxicos e dermatotóxicos que podem ser gerados aos indivíduos que consumirem ou mantiverem contato com esta água contaminada (Rodriguez, Moura e Pinto, 2006 e Brandão e Domingos, 2006).

    Nesse sentido, o presente estudo teve como objetivos identificar fatores de risco para a neoplasia hepática por meio de casos em um município do sudoeste baiano; e avaliar a presença de cianobactérias nas águas de abastecimento humano do município e sua relação com os casos de câncer hepático.

Métodos

    Trata-se de um estudo de caso e uma pesquisa documental de caráter exploratória. O campo de estudo foi um município situado na região sudoeste do estado da Bahia com distância aproximada de 800 km da capital baiana. A população do estudo foi formada por quatro casos de câncer hepático.

    Para seleção dos casos, foi consultada a central de marcação de exames e consultas do município, onde foi informado que existiam 05 pacientes residentes na cidade com a patologia estudada. No entanto, um destes foi a óbito em maio de 2014. Os outros quatro casos foram convidados a participar da pesquisa na sua própria residência a partir dos endereços informados pela central de marcação.

    O instrumento adotado para coleta dos dados foi um questionário, composto de 21 questões norteadoras, elaborado pelos próprios pesquisadores. O instrumento foi composto por variáveis sociodemográficas (sexo, idade, naturalidade), referentes ao processo de saúde-doença do participante (tempo do diagnóstico, metástase, hereditariedade, presença de cirrose, esquistossomose, hepatite B e C), estilo de vida (uso de tabaco, ingestão de bebidas alcoólicas) e fatores ambientais relacionados à água (consumo de água da rede de abastecimento, água encanada em casa, alterações organolépticas na água, aparecimento de sintomas relacionado ao uso da água, avaliação das represas Esmeralda e Diamante e sintomas apresentados).

    A coleta de dados foi realizada no período de março a abril de 2014 por meio de uma entrevista nas residências dos próprios participantes.

    A análise das entrevistas foi realizada por meio da estatística descritiva em frequências absolutas e relativas, sendo processados os dados através do Microsoft Office Excel 2007. A pesquisa documental foi realizada por meio da avaliação dos laudos de análises da densidade de cianobactérias realizados por empresa responsável pelo abastecimento de águas no município. Os laudos analisavam dois ambientes aquáticos do município: Represa Esmeralda e Represa Diamante. Os dados referentes à densidade de cianobactérias disponibilizados para as duas represas apresentavam uma série temporal de nove anos (2004 a 2012) para Esmeralda e de cinco anos (2007-2011) para Diamante.

    Foi realizada uma análise descritiva dos laudos da água emitidos pela concessionária contendo as características de densidade das cianobactérias. Os níveis de densidades foram analisados tendo em vista os valores preconizados pela Portaria do Ministério da Saúde de nº 518/2004. Para preservar a identidade do município e da concessionária não foram divulgados nomes, assim como, as represas analisadas foram nomeadas por pedras preciosas (Esmeralda e Diamante).

    Este estudo seguiu a Resolução nº 466 de 2012 e foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Estado da Bahia com CAAE nº 24942313.0.0000.0057

Resultados e discussão

    Os casos de câncer hepático estudados no município do sudoeste da Bahia foram, na maioria, do sexo feminino, tiveram origem do próprio município e com idade entre 7 a 74 anos. O tempo do diagnóstico variou entre 1 a 6 anos, apenas um caso apresentou metástase. Os fatores de risco para o câncer hepático em que os casos estavam expostos foram a cirrose, uso de cigarro, álcool e fator hereditário, sendo que cada caso apresentou um destes fatores, respectivamente. Além disso, o consumo da água encanada do município e as alterações organolépticas foram relatados por todos os casos. Apenas, dois casos relataram o aparecimento de sintomas relacionado ao uso da água como a diarréia e a algia abdominal. A avaliação das duas represas pelos casos variou de regular a péssima.

    As avaliações dos laudos de análise da qualidade da água realizados pela concessionária responsável apresentaram Microcystis, cianobactérias produtoras de microcistina, assim como a empresa não realizava o monitoramento no período preconizado na Portaria 518/2004.

    Entre os casos entrevistados, verificou-se que 25% dos participantes da pesquisa foram do sexo masculino (01caso) e 75% do sexo feminino (03 casos). Embora este resultado seja diferente de outros estudos, como o realizado por Matos et al. no Ambulatório de Nódulos Hepáticos da Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, de 109 pacientes estudados com carcinoma hepatocelular, 73,4% eram homens. O carcinoma hepatocelular ocorreu com maior predominância em homens diferindo do presente estudo.

    No que concerne à naturalidade, 75% são naturais do próprio município (03 casos) e 25% é natural de outro município (01 caso). Ocorre uma grande variação geográfica na incidência da neoplasia hepática no Brasil, geralmente seguindo a distribuição da infecção crônica ocasionada pelo vírus da hepatite B, que apresenta alta incidência nas regiões Nordeste e Norte e a menor incidência na região Sul do país (Vieira et al., 2012).

    Ao verificar a faixa etária dos participantes da pesquisa, notou-se que a idade variou de 7 a 74 anos. O Brasil consiste de um país de incidência intermediária para o câncer hepático (Vieira et al., 2012). Em regiões de incidência baixa ou intermediária, a idade ao diagnosticar a doença costuma ser mais de 50 anos. Nos Estados Unidos e na Europa, a faixa etária com maior predomínio da patologia está entre os 60 a 79 anos. Em contrapartida, nas áreas de grande incidência, a neoplasia hepática acomete pacientes mais jovens, por volta dos 30 a 59 anos (Inca, 2014, Mattos et al., 2011).

    Quanto ao tempo do diagnóstico da doença, para o participante 01 a doença foi diagnosticada há 03 anos; para o participante 02 há 06 anos; o participante 03 descobriu a doença há 02 anos e o participante 04 descobriu há 01 ano. É importante salientar que o participante 02, a patologia foi diagnosticada aos 2 meses e 12 dias de idade e foi classificado como um hepatoblastoma raro. Para este mesmo participante o fator hereditário esteve presente, pois o bisavô, o tataravô e o tio-avô morreram por câncer de fígado.

    O câncer infanto-juvenil é tido como raro quando comparado com o câncer em adultos e corresponde entre 2 a 3% de todas as neoplasias malignas. O hepatoblastoma trata-se de um tumor raro que acomete, de forma geral, crianças com menos de 03 anos de idade, havendo predomínio para o sexo masculino e o quadro clínico inicial, em sua maioria, apresenta uma massa abdominal em hipocôndrio direito e epigástrio, além de anorexia, perda de peso, anemia, algia abdominal, entre outros. Estudos demonstram que a sobrevida para crianças portadoras de hepatoblastoma apresentou um significante aumento nos últimos anos (Inca, 2008).

    Em relação à metástase, notou-se que em 25% dos casos (01caso) ocorreu metástase para o útero, ovário e intestino e em 75% dos portadores da patologia (03casos), não ocorreram acometimento de outros órgãos. Muitos pacientes desenvolvem metástases a partir do câncer hepático primário para outros órgãos no momento em que se faz o diagnóstico da doença e na maior parte das vezes ocorrem principalmente para o pulmão, linfonodos regionais, suprarrenais, rins, osso, pâncreas, coração ou estômago (Smeltzer, 2009). Dados estes que diferem dos resultados dos casos em estudo.

    Os 100% dos participantes do estudo não apresentaram esquistossomose. Esta doença, em áreas endêmicas é considerada como fator de risco para o desenvolvimento da neoplasia hepática, pois desde a fase aguda até a fase crônica apresenta manifestações hepáticas com evolução para a fase hepatoesplênica descompensada (Brasil, 2010).

    No que diz respeito à ocorrência de cirrose nos participantes da pesquisa, os dados demonstram que 25% desenvolveram cirrose hepática (01 caso), enquanto que 75% nunca apresentou a doença (03 casos). A cirrose hepática é considerada um fator de risco bastante documentado nas pesquisas, com presença em mais de 80% dos casos de carcinoma hepatocelular. As diversas causas da cirrose hepática como a infecção pelo vírus da hepatite B e C, álcool, hepatite crônica, doença de Wilson e a hemocromatose, são compreendidas como situações predisponentes para o carcinoma hepatocelular (Smeltzer, 2009).

    Sendo que qualquer doença que possa ocasionar a cirrose hepática é considerada também fator de risco para o câncer de fígado. A cirrose é uma patologia crônica caracterizada pela destruição disseminada de células hepáticas. Essas células destruídas são substituídas por células fibróticas e a medida que o tecido necrótico se forma, ocorre a formação de nódulos regenerativos e o parênquima hepático sofre alterações fibróticas extensas e irreversíveis. A patologia altera a estrutura e vascularização hepática, prejudicando assim os fluxos linfático e sanguíneo, causando a insuficiência do órgão (Antczak, 2005).

    Em se tratando de outros fatores de risco para o câncer hepático que são as hepatites B e C, verificou-se que 100% dos indivíduos (04 casos) não tiveram nenhuma dessas duas patologias. Em consoante o Brasil é classificado como de baixa endemicidade para as hepatites virais dos tipos B e C (Amorim e Hamann, 2013). No entanto, a infecção crônica pelo vírus da hepatite B é a principal causadora de carcinoma hepatocelular em todo o mundo5. Entretanto, o hepatocarcinoma é passível de prevenção, podendo esta ser do tipo primária ou secundária. A prevenção primária consiste na interrupção da transmissão do vírus causador da hepatite B, por meio da vacinação, uso de preservativos e controle da transmissão vertical e a secundária relaciona-se com a detecção precoce do tumor (Brasil, 2010).

    Ao verificar a ocorrência do tabagismo, outro fator de risco, 25% dos participantes (01 caso) declarou que fuma de forma esporádica há cerca de 09 anos, os outros 75% dos participantes (03 casos) afirmaram nunca ter fumado. As pessoas que fumam apresentam risco mais elevado de adoecer por câncer e outras doenças crônicas do que os não fumantes (Inca, 2006).

    O tabagismo é a principal causa evitável de câncer, sendo considerado fator de risco para diversas neoplasias como as de pulmão, fígado, pâncreas, laringe, bexiga, rim e leucemia mielóide; cerca de 30% dos óbitos por câncer são atribuíveis ao consumo de tabaco (Inca, 2006). O tabagismo é considerado como fator de risco, principalmente quando associado ao consumo de álcool (Smeltzer, 2009).

    Com relação ao consumo de álcool, notou-se que 25% dos participantes consumiu bebida alcoólica por cerca de 04 anos (01 caso) e em contrapartida, 75% nunca fizeram uso (03 casos). A associação do etilismo a qualquer um dos vírus da hepatite B ou C, ou a combinação dos dois, eleva a chance de desenvolver o carcinoma hepatocelular (Vieira et al., 2012). Cerca de 18% da população adulta brasileira apresenta um consumo exagerado de álcool, sendo mais intensificado para o sexo masculino, em jovens e indivíduos com maior escolaridade (Amorim et al., 2013).

    A contaminação da água de consumo humano com cianobactérias tem se tornado, também, um fator de risco para o câncer hepático. Assim, quando verificado o consumo de água pelos entrevistados no município em estudo, 100% (04 casos) consomem a água da cidade e 75% (03 casos) utilizam desta água para consumo por mais de 10 anos, enquanto que 25% (01 caso) consome a água por cerca de 03 anos. Ao indagar sobre a presença de água encanada no domicílio, 100% (04 casos) possuem e todos sempre utilizaram água encanada. 100% dos participantes (04 casos) afirmaram que a água que consome sempre foi legada à rede pública e que esta água sempre foi tratada.

    Na opinião dos participantes da pesquisa sobre a qualidade da água proveniente das Represas de Esmeralda e Diamante, constatou-se que 75% dos participantes (03 casos) consideraram razoável a qualidade da água proveniente de Esmeralda e 25% (01 caso) considerou péssima. No que concerne à água de Diamante, 75% (03 casos) relataram ser péssima e 25% (01 caso) razoável.

    No tocante ao surgimento de algum sinal ou sintoma relacionado ao uso da água, 50% (02 casos) referiram que nunca tiveram e, em contrapartida, o mesmo percentual referiu que tiveram algum sintoma como diarreia e algia abdominal. O participante 01 destacou que o cônjuge apresentou fortes crises de êmese, diarreia e dores abdominais decorrentes do consumo da água. Em relação as alterações organolépticas da água, todos os participantes referiram alteração no gosto (04 casos); 25% (01 caso) alteração da cor e o mesmo percentual apontou alteração no odor da água.

    Desta forma, percebe-se que a água é vital para todos os seres vivos e a qualidade desta tornou-se uma questão de interesse em saúde pública. A contaminação deste recurso hídrico representa um dos principais riscos à saúde pública, sendo conhecida a forte relação existente entre qualidade da água e as patologias que acometem as populações (Sanches et al., 2012, Cao et al., 2015 e Mosteo et al., 2015). Na região semiárida brasileira a situação torna-se preocupante, visto que vários açudes que são destinados ao abastecimento de comunidades apresentam frequentes florações de algas tóxicas, havendo relatos da ocorrência de florações de cianobactérias, sendo a Microcystisaeruginosa a mais comum (Dias et al., 2015).

    As microcistinas são as toxinas produzidas por cianobactérias, em especial Microcystisaeruginosa, assim como também Anabela, Nodularia, Oscillatoria, Nostoce Cylindropermopsis. As microcistinas, que são consideradas o tipo mais comum de cianotoxinas, são promotoras potentes de tumores e o consumo contínuo de pequenas doses dessas hepatotoxinas pode ocasionar em uma maior incidência de câncer de fígado na população exposta (Leal e Soares, 2004).

    As toxinas são responsáveis por mudanças nas propriedades organolépticas da água (Deberdt, 2003). Florações de cianobactérias superficiais podem formar natas e alterar a coloração da água, no entanto algumas espécies não formam natas e nem tornam a água esverdeada. Dessa forma, a água que apresenta aspecto claro, não significa que não tenha presença de cianobactérias. Tais organismos podem conferir gosto e odor desagradáveis à água, limitando assim a utilização do recurso como áreas de recreação e abastecimento (Mantovani, Moser, Favero, 2011).

    No que tange à densidade de cianobactérias, a concessionária de distribuição de águas forneceu as análises realizadas pela empresa durante o período de 2004 a 2012 da Represa Esmeralda e de 2007 a 2011 da Represa Diamante. Ao verificar as informações constantes nos impressos, pode-se afirmar que durante toda a série temporal de 09 anos, apenas 18 análises foram realizadas na Represa Esmeralda e o maior valor de densidade encontrado foi no mês de abril de 2005, apresentando aproximadamente 1,5x106cel/mL. Os resultados de hidrobiologia da mesma represa são realizados semestralmente ou quando ocorre alguma irregularidade, como em 2005, ou ainda diante de alguma solicitação do setor operacional da empresa (Lima et al., 2013).

    Referente à Represa Diamante foram realizadas 05 análises durante o período de 2007 a 2011 e o valor máximo verificado foi em novembro de 2010, apresentando densidade de cianobactérias de 81723,04 cel/ml. É importante destacar que na coleta realizada em 16/11/2010, devido a grande quantidade de cianobactérias presentes na amostra analisada, não foi possível quantificá-las. A Barragem Diamante por não ter sido utilizada pela concessionária em anos anteriores, esta não recebeu o monitoramento conforme a portaria e pode ser que a amostra de determinado período seja resultante da mistura das águas das duas barragens (Sant’Anna et al., 2006 e Lima et al., 2013).

    Diante de todos os dados apresentados, nas análises dos laudos fornecidos pela concessionária foi verificado que existiu a presença da Microcystis (cianobactéria produtora da microcistina) nas Represas Esmeralda e Diamante e a empresa responsável pela distribuição das águas não realiza o monitoramento da densidade de cianobactérias.

    Dessa forma, pode-se afirmar que além dos fatores de risco mais conhecidos para a neoplasia hepática, que são a cirrose, hepatites B e C, esquistossomose, tabagismo, álcool, merece atenção especial a água contaminada por cianotoxinas do tipo hepatoxina, visto que a Microcystis é uma das cianobactérias presentes nos dois ambientes aquáticos em estudo e a empresa responsável pela distribuição de águas não realiza o monitoramento conforme preconiza a legislação vigente.

Conclusão

    Os fatores de risco para o câncer hepático, em sua maioria, são modificáveis. A falta de monitoramento, a presença de Microcystis nas represas e o consumo da água contaminada torna essa população vulnerável ao câncer. É imperativo a fiscalização das empresas responsáveis e a necessidade de pesquisas que estabeleçam a causalidade entre a água e o câncer hepático.

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 22 · N° 234 | Buenos Aires, Noviembre de 2017
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