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Introdução

    A qualidade de vida no trabalho (QVT) tem sido uma temática de grande enfoque na atualidade, sendo que esta pode ser compreendida como algo que visa facilitar e satisfazer às necessidades do trabalhador ao desenvolver suas atividades dentro de sua organização, levando em consideração que as pessoas se tornam mais produtivas quando estão mais satisfeitas e envolvidas com seu trabalho.

    A definição da QVT teve origem a partir da Qualidade de Vida (QV), sendo que a QVT utiliza como base a percepção e reação das pessoas sobre o seu trabalho, resultando com isso em uma vivência pessoal, abrangente e subjetiva, o que posteriormente, passou a ser encarada como uma abordagem ou um método que visa o enriquecimento de tarefas, cargos, grupos de trabalho e outros, e que por consequência levou a QVT a ser considerada como um conceito globalizado que abrange todos os tipos de programas e perspectivas focados a problemas relacionados com a qualidade e insatisfação dos funcionários (Paiva e Couto, 2008).

    Segundo França (1997), a QVT ocorre a partir do momento em que se considera a empresa e as pessoas como um todo, isto é, sob um enfoque biopsicossocial. Complementando, a autora descreve que este aspecto representa o fator diferencial para a realização de diagnósticos, campanhas, criação de serviços e implantação de projetos direcionados à preservação e desenvolvimento dos funcionários em seu ambiente de trabalho.

    Atualmente, a área nutricional destinada à avicultura alcançou expressivos avanços tecnológicos, não apenas no que diz respeito à automação ou mecanização, mas também, na genética e no manejo, tornando a avicultura brasileira algo capaz de romper e expandir as fronteiras do mercado agroindustrial em proporções internacionais (Nazareno et al., 2011). Dependendo do sistema de manejo adotado e dos fatores aos quais os trabalhadores estão expostos, tais situações podem induzir a possíveis comprometimentos na QVT destes funcionários (Miragliotta et al., 2006; Nääs et al., 2007; Menegali et al., 2009; Vigoderis et al., 2010). Complementando, Carvalho et al. (2011) descrevem que durante o manejo interno de frangos e atividades que venham a exigir repetidas e constantes demandas físicas, os trabalhadores estão mais propensos a executarem tais atividades em posturas inadequadas com aumento de esforço físico.

    A partir do contexto apresentado, idealizou-se a presente investigação que pretende responder ao seguinte problema: Qual é a percepção sobre a qualidade de vida relacionada ao trabalho dos funcionários do setor administrativo de uma empresa de avicultura do Estado do RS?

Metodologia

    A presente pesquisa teve como objetivo principal, verificar a percepção dos funcionários do setor administrativo de uma empresa de avicultura do Estado do RS, sobre a sua qualidade de vida relacionada ao trabalho. Pensando na saúde dos trabalhadores e na qualidade de vida do trabalho de um modo geral, justifica-se a intenção de contribuir, no que diz respeito à sensibilização dos gestores e funcionários sobre a importância da qualidade de vida no trabalho, bem como também, no desenvolvimento e qualificação das bases de dados científicas sobre o tema, sensibilizando da importância de se pesquisar cada vez mais sobre o assunto.

    O presente estudo caracterizou-se como uma pesquisa descritiva, de corte transversal. A amostra foi selecionada por conveniência, totalizando 25 funcionários pertencentes ao setor administrativo, disponibilizados pela empresa onde o estudo foi realizado. Foram excluídos os gestores da empresa devido ao potencial conflito de interesse, eliminando-se o possível viés da investigação. Cabe ressaltar que este trabalho foi submetido e aprovado junto ao Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Feevale, sob protocolo no. 117.741 como o Número do Parecer e 25/09/2012 a Data da Relatoria.

    O instrumento utilizado foi o questionário Total Quality of Work Life (Qualidade de Vida no Trabalho Total) – TQWL-42, sendo que tal instrumento foi validado cientificamente e objetivado para este tipo de avaliação quantitativa. Vale ressaltar que o TQWL 42, em sua validação obteve o coeficiente alfa de Cronbach de valor α=0,8568, o que permite afirmar que tal instrumento apresenta elevada consistência interna (Pedroso; Pilatti, 2010). Segundo os autores, o critério utilizado para elaborar as questões do TQWL-42 foram os mesmos usados pelo Grupo WHOQOL no instrumento WHOQOL-100.

    Os dados do presente estudo foram tabulados e submetidos à análise através de estatística descritiva e cálculo de frequências, sendo que estes foram submetidos, primeiramente, ao teste de normalidade de Kolmogorov-Smirnov (α = 0,05). Foram utilizados testes paramétricos para realizar os cruzamentos de dados relacionados com as esferas do questionário TQWL-42 em relação ao sexo, estado civil e escolaridade (teste “t” student, p≤0,05 e ANOVA, α=0,05). O teste de distribuição, segundo o teste de Kolmogorov-Smirnov, mostrou que as variáveis apresentam distribuição normal. Não se constatou correlações entre as esferas do instrumento TQWL-42 com a idade e o tempo de serviço dos avaliados. Seguindo o mesmo teste, também foi possível evidenciar que, a distribuição para a autoavaliação mostrou que as variáveis não apresentavam distribuição normal. Os cálculos estatísticos foram gerados através do software Statistical Package for Social Sciences (SPSS) versão 20.0.

Resultados

    Os sujeitos avaliados tinham uma idade média de 29,8 anos e um desvio-padrão de 9,1 anos, com a idade mínima de 16 anos e a máxima de 52 anos. Dentre os avaliados, 52% (n=13) pertenciam ao sexo feminino e 48% (n=12) ao masculino; 48% (n=12) eram casados e 52% (n=13) solteiros. O tempo médio de serviço entre os sujeitos da pesquisa é de 26,2 meses, com um desvio-padrão de 45,7 meses. O valor máximo em tempo de trabalho é igual há 240 meses e o mínimo 1 mês. Quanto à escolaridade dos avaliados, nota-se que 32% dos sujeitos da pesquisa possuíam o ensino superior completo; 16%, incompleto; 20%, o ensino médio completo; 12%, incompleto; 16% cursaram e completaram pós-graduação e 4%, não o concluíram.

Tabela 1. Distribuição das médias dos escores originais (escala 1-5) e transformados (escala 0-100), desvios-padrão e classificação dos sujeitos obtidos nas esferas e na autoavaliação da QVT do TQWL 42 (n=25)

    Conforme os resultados da Tabela 1 observa-se que a esfera que apresentou melhores resultados foi a Psicológica e comportamental, atingindo um escore médio de 3,8 (escala de 1-5) e 70,2 (escala transformada de 0-100), obtendo a classificação de “Satisfatória - tendência para muito satisfatória”. A esfera Ambiental e Organizacional, também, se enquadrou na classificação “Satisfatória - tendência para muito satisfatória”, obtendo um escore médio de 3,7 (escala de 1-5) e 69,5 (escala transformada de 0-100). A classificação “Satisfatória - tendência neutra” mostrou-se predominante entre as esferas, abrangendo as esferas Biológica e Fisiológica, Sociológica e Relacional, Econômica e Política e Autoavaliação da QVT, atingindo respectivamente, os escores médios de 67,5, 65,1, 57,1 e 66,16.

    O resultado Total médio das esferas evidenciou uma classificação “Satisfatória-tendência neutra” com um escore médio de 3,64 (escala de 1-5) e 66,16 (escala transformada de 0-100).

Tabela 2. Distribuição dos escores médios, desvios-padrão e valores de p obtidos pela amostra, nas esferas do TQWL-42, escala transformada, separados por sexo (n=25)

    Analisando-se a Tabela 2, percebe-se que os escores médios obtidos pelos sujeitos do sexo feminino, na maioria das esferas, evidenciaram resultados superiores aos do sexo masculino, com exceção na esfera Biológica/Fisiológica. Nas esferas Psicológica e comportamental e Ambiental e Organizacional, as mulheres atingiram médias equivalentes a 73,3±11,6, indicando que a QVT encontrava-se satisfatória, com tendência a muito satisfatória; na Sociológica e Relacional, 65,8±12,6 e na Econômica e Política, 58,4±11,0, atingiram médias que indicam uma QVT satisfatória com tendência neutra. Os sujeitos do sexo masculino, na esfera Biológica e Fisiológica, obtiveram um escore médio equivalente a 67,9±9,1, superior às mulheres, indicando uma QVT satisfatória com tendência neutra.

    De acordo com o teste paramétrico “t” student, não foram encontradas diferenças estatísticas significativas entre os sexos em cada esfera e na autoavaliação (p≥0,05). Entretanto, existiu uma tendência, neste estudo, que os trabalhadores do sexo feminino apresentaram uma qualidade de vida no trabalho superior aos do masculino nas esferas Psicológica e comportamental, Ambiental e Organizacional, Sociológica e Relacional e Econômica e Política. Já, na esfera Biológica e Fisiológica esta situação é invertida, pois os homens apresentaram resultados superiores.

Tabela 3. Distribuição dos escores médios, desvios-padrão e valores de p obtidos pela amostra, nas esferas do TQWL-42, escala transformada, separados por estado civil (n=25)

    Segundos os resultados obtidos na Tabela 3, pode-se observar que os sujeitos casados apresentaram resultados superiores na maioria das esferas: Psicológica e comportamental (71,6±11,4); Ambiental e Organizacional (70,8±10,9); Sociológica e Relacional (68,2±13,0) e na Econômica e Política (58,0±11,8). Tais escores apontam para uma QVT classificada com Satisfatória com tendência neutra e para muito satisfatória. Na esfera Biológica e Fisiológica (67,7±9,4), a diferença entre os escores médios foi minimamente superior nos indivíduos solteiros, apontando para uma QVT, também, classificada como Satisfatória com tendência neutra.

    Ressalta-se que, de acordo com o teste paramétrico “t” student, não houve diferença estatística significativa entre casados e solteiros em cada esfera e na autoavaliação da QVT (p≥0,05).

Tabela 4. Distribuição das frequências, médias, desvios-padrão e valores de p dos resultados das esferas do TQWL-42 segundo a escolaridade dos sujeitos (n=25)

    Analisando-se a Tabela 4, percebeu-se que a amostra, na esfera Psicológica e comportamental, de uma forma geral, apresentou uma QVT classificada como satisfatória, com tendência a muito satisfatório, obtendo um escore geral de (70,2±12,8). Constatou-se que os trabalhadores, independente de escolaridade, nesta esfera, apresentam-se satisfeitos com tendência a muito satisfeitos em seus trabalhos. Em todas as esferas foram constatados escores médios gerais que, de certa forma, atribuem aos sujeitos uma classificação satisfatória em relação à QVT.

    Para se verificar a existência de diferença estatística entre os escores médios entre as esferas, utilizou-se o teste paramétrico ANOVA, que não constatou diferença estatística significativa entre elas (p≥0,05).

Discussão

    O ser humano despende aproximadamente 9 a 10 horas diárias dedicadas ao trabalho, mesmo sabendo que seu expediente diário para tal seja de 8 horas, somando a estas o tempo dos deslocamentos, isto pode acarretar em um envolvimento com o trabalho na maioria das vezes mais tempo do que realmente se deveria (Rugiski e Pilatti, 2007). A necessidade de se obter uma produção cada vez maior para juntamente se obter realização pessoal, pode em alguns momentos ser algo divergente, pois as demandas tendem a impulsionar um aumento da produção em um menor espaço de tempo, necessitando também em uma diminuição dos custos gerados, buscando-se ao mesmo tempo, maiores padrões de qualidade, exigindo com isso, uma qualificação e especialização mais elevada dos funcionários que ali trabalham (Pilatti, 2007). Pode-se dizer que tais informações não se assemelham aos resultados encontrados na tabela 1, pois se pode observar que as esferas, de um modo geral, atingiram o resultado Satisfatório - tendência neutra, sendo que, as esferas Psicológica/Comportamental e Ambiental/Organizacional obtiveram o resultado Satisfatório - tendência para muito satisfatório. Cabe ressaltar que tais diferenças possam ter ocorrido devido às características divergentes dos estudos acima citados.

    Segundo as informações descritas na pesquisa de Timossi et al., (2010) sobre análise da QVT de colaboradores com diferentes níveis de instrução, existe a possibilidade de que determinados fatores que representam maiores níveis de QVT possam sofrer alterações de acordo com os níveis de escolaridade dos avaliados, porém, esta mesma pesquisa concluiu que os trabalhadores independente da sua escolaridade, podem apresentar uma satisfatória QVT. Pode-se observar que as informações descritas se assemelham aos resultados encontrados em todas as esferas pertencentes à tabela 4, estes que atingiram classificação satisfatória entre as diferentes escolaridades, porém, a esfera Psicológica/Comportamental, obteve a classificação Satisfatório - tendência para muito satisfatório, independente da escolaridade.

    Muitas vezes, as mulheres acabam por se sujeitar a realizar a chamada dupla jornada de trabalho, pois, além de realizarem todos os tipos de atividades domésticas, ainda trabalham um turno fora de casa, momento este que deveria ser destinado ao descanso ou lazer, evidenciando com isso, que tais mulheres não conseguem atingir um nível de repouso satisfatório, acarretando posteriormente, em um aumentando do grau de estresse (Rossato e Farias, 2010). A dupla jornada de trabalho diário pode favorecer a sobrecarga das mulheres que a realizam, permitindo se pensar com isso em um tipo de superexplotação deste gênero (Elias e Navarro, 2006). No mesmo estudo de Elias e Navarro (2006), sobre profissionais de enfermagem, pode-se perceber que a dedicação, devoção e abnegação são fortes características recorrentes encontradas em mulheres que exercem a profissão de enfermagem, sendo que, para as avaliadas, o prazer no trabalho está diretamente relacionado com o comprimento de tarefas, mostrando também que, as duras realidades da sobrecarga de trabalho estão longe de serem as ideais. Segundo a pesquisa de Rossato e Farias (2010) envolvendo professores de Educação Física, levou-se a crer que pessoas do sexo feminino poderiam ter uma pior percepção de sua QVT em comparação ao sexo masculino, porém, tais diferenças não foram encontradas no presente estudo. Pode-se dizer que as informações descritas são diferentes dos resultados encontrados nas esferas: Psicológica/Comportamental, Sociológica/Relacional, Econômica/Política e Ambiental/Organizacional, mostrando com isso que, o sexo feminino obteve resultados superiores ao sexo masculino na maioria das esferas pertencentes à tabela 2.

    Conforme os dados encontrados na pesquisa de Vargas e Rafael (2010) sobre QVT, estresse profissional e a influência da variável sexo, as médias no sexo masculino mantiveram-se mais satisfatórias na maioria das vezes, com exceção do que diz respeito ao Equilíbrio trabalho/família, sendo que, o sexo feminino evidenciou perceber menos a sua QVT em relação a sua carreira, promoção, reconhecimento e componente econômico. Neste mesmo estudo, no que diz respeito à escala de estresse profissional e a frequência, e também, na análise das diferenças entre os sexos e a percepção de ocorrência da QVT, verificaram-se não existirem diferenças estatisticamente significativas entre os sexos. Pode-se observar que as informações descritas são diferentes dos resultados obtidos nas esferas: Psicológica/Comportamental, Ambiental/Organizacional, Sociológica/Relacional e Econômica/Política, da presente investigação, descritas na tabela 2, pois estas evidenciam existir uma tendência do sexo feminino apresentar uma QVT superior ao sexo masculino.

    De acordo com os resultados obtidos na pesquisa de Timossi et al. (2010), pessoas pertencentes ao estado civil solteiro apresentaram baixo grau de motivação, sendo que, as pessoas pertencentes ao estado civil casado descreveram sua motivação como sendo mediana, porém, o estado civil desquitados/divorciados atingiu alto grau de motivação. No estudo de Fernandes et al. (2010) sobre QV de enfermeiros das equipes de saúde da família, os resultados dos escores de QV dos avaliados pertencentes ao estado civil casados/amasiados foram mais expressivos do que os das pessoas de estado civil solteiro, sendo estes superados, nos domínios ambiente, independência, relações sociais e psicológico. Pode-se observar que as informações descritas são semelhantes aos resultados obtidos nas esferas: Psicológica/Comportamental, Ambiental/Organizacional, Sociológica/ Relacional e Econômica/Política da presente investigação, descritas na tabela 3, já que evidenciam que os sujeitos casados apresentam resultados superiores quando comparados aos dos solteiros. Cabe ressaltar que o presente estudo não possui pessoas enquadradas no estado civil desquitados/divorciados para realizar possíveis comparações.

Conclusões

    Concluiu-se, ao final desta pesquisa, que as pessoas avaliadas encontram-se com nível satisfatório de qualidade de vida no trabalho. Estes sujeitos, de uma forma geral enquadraram-se dentro da classificação satisfatória nas esferas do instrumento, sendo que, a relação com a esfera que engloba a parte psicológica e comportamental manteve-se mais significativa, com tendência para muito satisfatória.

    Concluiu-se, também, que as comparações realizadas entre os dados sócio demográficos e as informações pertencentes às esferas do instrumento utilizado, não evidenciaram diferenças significativas, levando a crer que, na amostra investigada por ter sido um grupo de pequeno porte numérico, tais dados mostraram-se bastante dispersados, o que aumentaria a probabilidade de não ocorrer este acontecimento em grupos numericamente superiores, possibilitando assim, maiores correlações nestes tipos de cruzamentos de dados. Sugere-se que sejam realizadas futuras pesquisas nesta temática, acrescentando diferentes tipos de metodologias e um número maior de sujeitos, visando com isso, resultados estatísticos mais expressivos.

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 22 · N° 233 | Buenos Aires, Octubre de 2017 Lecturas: Educación Física y Deportes - ISSN 1514-3465 - © 1997-2017 Derechos reservados