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Intersubjetividade: análise do interrelacionamento 

de atletas de handebol em equipes esportivas

Intersubjectivity: analysis of the interrelationship of handball athletes in sports teams

Intersubjetividad: análisis de las interrelaciones de jugadores de balonmano en equipos deportivos

 

*Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo

**Laboratório de Psicossociologia do Esporte

(Brasil)

Prof. Dr. Antonio Carlos Simões* **

Prof. Dr. Antonio Carlos Mansoldo*

Profª Ms. Maria Aparecida da Câmara Nery**

Prof. Ms. Marcos Filipe Guimarães Pinheiro**

mansoldo@usp.br

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo tem por objetivo analisar o estabelecimento de vínculos em equipes esportivas de Handebol tendo como parâmetro norteador a teoria de Pichón Rivière e verificar a eficácia do Instrumento denominado “Inventário de Classificação dos Fatores de Inter-relacionamento Grupal” ICFIG. A primeira etapa da pesquisa constituiu da elaboração e validação do conteúdo do Inventário. Na segunda etapa o instrumento foi aplicado em equipes de três categorias de handebol: Infantil, Cadete e Juvenil, na faixa etária de 12 a 18 anos. O ICFIG consta de 35 perguntas fechadas e uma aberta. A análise dos dados coletados permitiu estabelecer relações entre os vetores denominados: Afiliação e Pertença, Cooperação, Pertinência, Comunicação, Aprendizagem e Tele, entre as categorias Infantil, Cadete e Juvenil. O enfoque de análise foi sociodinâmica partindo-se do princípio de que o grupo esportivo resulta da relação dos aspectos psicossociais, sociodinâmicos e institucionais. Os dados foram analisados em termos quantitativos, através de testes não paramétricos (Friedman e Wilcoxon entre os vetores e Kruskal-Wallis entre as categorias) e qualitativos a fim de verificar contradições internas. Como resultado o ICFIG mostrou ser eficaz para a análise entre os vetores e entre as categorias. Os grupos mostraram tendência a serem grupos de execução de tarefas e a diferenciar-se, tendo em vista as características de cada grupo em relação ao processo interativo e funcional, resultante da intersubjetividade que ocorre no estabelecimento de vínculos grupais.

          Unitermos: Grupo esportivo. Handebol. Intersubjetividade. Operatividade.

 

Abstract

          The purpose of the present study was to analyse in Handball Sport groups the establishment of links having as guiding parameter the theory of Pichon-Riviere and to check the efficacy of the Instrument called “Inventário de Classificação dos Fatores de Interrelacionamento” ICFIG. The first phase consisted on elaborating the Inventory and validating the content. At the second phase the research instrument was applied in three young categories of handball, whose ages ranged from 12 to 18. The ICFIG consist of 35 closed questions and an open question. The data analysis permitted to set up relations among vectors named as: Affiliation and Appurtenance, Co-operation, Pertinence, Communication, Learning and Tele, and among the three categories. The analysis focus was sociodynamics whereas the starting point is the sport group resulting from the relation of the psycho-social, sociodynamics and institutionals aspects. Data were analyzed in qualitative terms through nonparametric’ tests (Friedman and Wilcoxon’s among vectors tests and Kruskall-Wallis’s among categories tests). And qualitative terms in order to check internal contradictions. The being effective for the analysis among the vectors and among the categories. The groups showed a tendency to be task executers and to present a different posture among them, having in view the characteristics of each group related to the interactive and functional process, resulted from the intersubjectivity that occurs in the establishment of group links.

          Keywords: Sport group. Handball. Intersubjectivity. Operatives.

 

Resumen

          El presente estudio tiene por objetivo analizar el establecimiento de vínculos en equipos deportivos de balonmano teniendo como parámetro orientador la teoría de Pichón Rivière y verificar la eficacia del Instrumento denominado "Inventario de Clasificación de los Factores de Interrelación Grupal" (ICFIG). La primera etapa de la investigación constituyó la elaboración y validación del contenido del Inventario. En la segunda etapa el instrumento fue aplicado en equipos de tres categorías de balonmano: Infantil, Cadete y Juvenil, en el grupo de edad de 12 a 18 años. El ICFIG consta de 35 preguntas cerradas y una abierta. El análisis de los datos recolectados permitió establecer relaciones entre los vectores denominados: Afiliación y Pertenencia, Cooperación, Pertinencia, Comunicación, Aprendizaje y Telé, entre las categorías Infantil, Cadete y Juvenil. El enfoque de análisis fue sociodinámico partiendo del principio de que el grupo deportivo resulta de la relación de los aspectos psicosociales, sociodinámicos e institucionales. Los datos fueron analizados en términos cuantitativos, a través de pruebas no paramétricas (Friedman y Wilcoxon entre los vectores y Kruskal-Wallis entre las categorías) y cualitativos a fin de verificar contradicciones internas. Como resultado el ICFIG mostró ser eficaz para el análisis entre los vectores y entre las categorías. Los grupos mostraron tendencia a ser grupos de ejecución de tareas ya diferenciarse, teniendo en vista las características de cada grupo en relación al proceso interactivo y funcional, resultante de la intersubjetividad que ocurre en el establecimiento de vínculos grupales.

          Palabras clave: Grupo deportivo. Balonmano. Intersubjetividad. Operatividad.

 

Recepção: 08/03/2017 - Aceitação: 12/09/2017

 

1ª Revisão: 10/08/2017 - 2ª Revisão: 08/09/2017

 

 
Lecturas: Educación Física y Deportes (EFDeportes.com), Revista Digital. Buenos Aires, Año 22, Nº 232, Septiembre de 2017. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Na atualidade, o desenvolvimento dos processos psicossociais, sociodinâmicos e institucionais que envolvem as equipes esportivas corrobora com investigações no campo das relações interindividuais e grupais, com ênfase nas variáveis que intervém nas ações de poder e dependência. Isso reforça a noção de que a esfera organizacional e funcional das equipes esportivas se desenrola impelida por uma grande variedade de interesses, necessidades e desejos por parte dos atletas, técnicos, dirigentes, entre outros agentes envolvidos nos processos das relações sociais.

    Esses processos têm considerável importância para o comportamento individual e coletivo das equipes esportivas. As abordagens são basicamente aquelas que mostram que as equipes esportivas são microssistemas psicossociais e sociodinâmicos que pertencem a um poder institucionalizado maior (Simões, 1990, 2005). É sempre uma minisociedade competitiva, supondo a autoafirmação, autodesenvolvimento, reconhecimento e um vasto de sentimentos próprios das equipes em busca dos seus limites competitivos.

    Nesta perspectiva devemos nos lembrar que as influências e reações individuais se devem à formação que o grupo apresenta, quer se trate de influências externas ou internas, já que seus membros se relacionam mutuamente, de uma forma sistemática em busca da concretização de determinados objetivos. Simões (1990) pontuou que um grupo esportivo não pode ser considerado apenas como um agrupamento de indivíduos em busca da concretização de determinados objetivos, mas como um modelo de análise sociológica e psicológica envolvendo o comportamento e desempenho esportivo.

    A qualidade do projeto coletivo, a natureza das interações e execução de tarefas experimentam uma clara ampliação a partir dos estudos inspirados e desenvolvidos originalmente por Kurt Lewin (1973), tendo como base a sua teoria de campo de forças. Podemos distinguir que o individual e o coletivo conjugam comportamentos e forças que atuam sobre eles.

    O objetivos do estudo foi investigar o estabelecimento de vínculos intersubjetivos em equipes esportivas, relacionado a seis vetores - afiliação e pertença, cooperação, pertinência, comunicação, aprendizagem e tele - que atuam sobre o comportamento de jovens adolescentes e atletas de handebol das categorias infantil, cadete e juvenil.

Material e método

    O método utilizado no presente estudo é de delineamento não experimental, do tipo de pesquisa descritivo-exploratória, visando descrever um conjunto de vínculos que dizem respeito às dimensões comportamentais denominadas de afiliação e pertença, cooperação, pertinência, comunicação, aprendizagem e tele.

Coleta de dados

    Os dados foram obtidos mediante a aplicação do Inventário de Classificação dos Fatores de Inter-relacionamento Grupal (ICFIG) a trinta e nove (39) sujeitos com idade entre 12 e 18 anos. Sendo 15 atletas da categoria infantil; 14 da categoria cadete e 10 da categoria juvenil, pertencentes a equipes de handebol mantidas por uma grande instituição (clube) social da cidade de São Paulo/SP, pelos próprios pesquisadores.

    A coleta de dados foi realizada mediante a autorização dos parentais e dos próprios atletas mediante reuniões para esclarecer os objetivos do estudo e assinatura do termo de esclarecimento livre e consentido e, posteriormente preenchendo o instrumento de pesquisa individualmente e, em horário pré-estabelecido pelos técnicos responsáveis pelas equipes de Handebol pesquisadas.

Instrumento de pesquisa

    O ICFIG (Inventário de Classificação de Fatores de Interrelacionamento Grupal) foi criado e desenvolvido por Câmara Nery (2003) com o objetivo de obter dados a respeito dos fatores que norteiam a dinâmica dos relacionamentos humanos no interior dos grupos operativos esportivos.

    O referido inventário foi criado e desenvolvido baseado na Escala de Avaliação do Processo de Interação Grupal de Pichón-Rivière (2000, p.170) e na sua teoria sobre grupos operativos, como parâmetro norteador para a elaboração das questões a respeito de cada um dos vetores denominados de Afiliação e Pertença, Cooperação, Pertinência, Comunicação, Aprendizagem e Tele.

    O referido inventário é constituído por 35 questões objetivas e descritivas perguntas fechadas e uma aberta que é respondida por escrito após as respostas dadas às questões fechadas. Cada questão proporciona cinco alternativas de múltipla escolha: sempre (valor 5), frequentemente (valor 4), ocasionalmente (valor 3), raramente (valor 2) e nunca (valor 1). Em função da característica do material utilizado (Inventário) com perguntas fechadas e abertas, a metodologia utilizada envolveu uma análise quantitativa e qualitativa.

    O processo de mensuração usado no ICFIG é de Escala Likert (Gunther, 1999). que consiste numa avaliação em escala de cinco alternativas sendo a mais utilizada nas Ciências Sociais, especialmente em levantamentos de atitudes, opiniões e avaliações (Gunther, 1999).

Desenvolvimento do instrumento

    Para a elaboração do instrumento, seguiu o processo de três etapas descritas abaixo.

Primeira etapa

    A primeira etapa consistiu na elaboração propriamente dita das perguntas, a partir do parâmetro norteador da teoria de Pichón-Rivière. Inicialmente o Inventário foi criado com 33 questões, sendo nove correspondentes ao vetor Afiliação e Pertença, sete para Cooperação, cindo para Pertinência, seis para Comunicação, três para Aprendizagem e três para Tele.

    As perguntas elaboradas procuraram abranger aspectos importantes de cada vetor, conferindo a cada um dos vetores números diferenciados de questões. Para a orientação deste estudo as questões são apresentadas na sequência em que foram elaboradas e com a numeração ao acaso, que aparecem no Inventário.

Segunda etapa

    Nessa etapa, o Inventário foi submetido a três avaliadores especialistas nas concepções norteadoras do estudo. Esta análise é chamada de constructo, pois procura verificar a adequação da representação comportamental dos atributos latentes, cujos juízes devem ser peritos na área do construto (Pasquali, 1999).

    Os juízes avaliaram as questões referentes à: 1) quanto a estética do Inventário, 2) quanto ao conteúdo dos itens do Inventário e 3) observações e sugestões finais. Eles pontuaram os itens em uma escala de 1 a 4 pontos: 1= discordo plenamente, 2=discordo, 3=concordo e 4=concordo plenamente.

Terceira etapa

    Consistiu nos reajustes finais o Inventário. De acordo com as sugestões da comissão julgadora ocorreram às alterações a respeito: formatação para melhor visualização, troca do termo “sente que” por “percebe”, elaboração de duas questões adicionais no vetor Cooperação e elaboração de uma pergunta aberta. O Inventário final é apresentado na Figura 2 no qual para o vetor Afiliação e Pertença é delineado pelas questões 2, 5, 10, 13, 16, 20, 22, 27 e 31; a Cooperação (4, 6, 11, 18, 21, 24, 28, 33 e 35); Pertinência (1, 12, 19, 23 e 30); Comunicação (3, 8, 17, 26, 32 e 34); Aprendizagem (9, 15 e 25) e: Tele (7, 14 e 29).

    A questão aberta: explique a relação existente entre sua participação no grupo e o conceito que tem dentro dele - como você se vê membro do grupo” - utilizada para obter dados que pudessem revelar possíveis diferenças e contradições na percepção entre o que estava sendo quantificado e o que estava sendo descrito pelos próprios sujeitos da pesquisa. Na análise das respostas, foram selecionadas palavras, frases e sentimentos que estivessem estreitamento relacionado com os vetores pesquisados.

Confiabilidade do instrumento

    No processo de elaboração do ICFIG foi realizado um projeto piloto com amostra similar aos sujeitos pesquisados, cujos dados assemelham-se em todas as etapas presente pesquisa.

Estatística do instrumento

    Em razão do nível de mensuração das variáveis analisadas pelo ICFIG constituírem uma escala ordinal, e como o número de sujeitos pesquisados é pequeno, deram-se preferência à utilização de provas não-paramétricas, sendo essas medidas as mais adequadas para esse tipo de estudo. Os escores correspondentes aos vetores são apresentados em mediana através da estatística descritiva. Para análise dos vetores em cada categoria foram usados os testes de Friedman e de Wilcoxon para identificar possíveis diferenças entre os pares de vetores (Siegel, 1975). Para verificar as diferenças entre as categorias infantis foi utilizado o teste de Kruskal-Wallis (Siegel, 1975).

    Para verificar a consistência interna das respostas do ICFIG foi calculado o coeficiente α de Cronbach (The SAS, 1999-2001) Valores de α acima de 0,80 indicam uma alta consistência interna, enquanto valores acima de 0,60 indicam consistência intermediaria. Os dados foram computados no programa SAS for Windows, versão 8.02. SPSS versão 10.0.5 e para todas as análises foram levadas em considerações uma significância de 5%

Apresentação dos resultados

    O resultado da avaliação da comissão julgadora apresenta-se na Tabela 1. Esses responderam a questões relacionadas: 1) quanto à estética do inventário e 2) quanto ao conteúdo dos itens do inventário.

Tabela 1. Resultados da avaliação da Comissão Julgadora

    Verificou-se discordância entre as respostas dos juízes. No entanto, tal discordância é apenas significante para os juízes 2 e 3 pois ambos responderam valores fixos para todos os 33 itens, sem variabilidade de respostas. As diferenças na linguagem interpretativas entre os três juízes, no que diz respeito aos valores analisados, referem-se às sugestões dos juízes devidamente retificadas na terceira etapa.

    A Tabela 2 apresenta o coeficiente α de Cronbach (Siegel, 1975) para medir a consistência interna do instrumento aplicado nesta amostra. Nota-se que o instrumento como um todo tem alta consistência interna (0,89), garantindo sua utilização como instrumento de medida dos fatores de inter-relacionamento grupal nesta população.

Tabela 2. Consistência interna do ICFIG

    Os valores descritivos de cada categoria em relação aos vetores afiliação e pertença, cooperação, pertinência, comunicação, aprendizagem e tele são representados na Figura 1.

Figura 1. Desenhos esquemáticos correspondentes a cada categoria em relação aos vetores Afiliação/Pertença, Cooperação, Pertinência, Comunicação, Aprendizagem e Tele

    Como podemos constatar as categorias apresentam características de comportamento similares, e ocupam a parte superior aproximando-se dos valores máximos do gráfico. Na categoria Infantil houve maior variabilidade dos valores nos vetores Comunicação (DQ 1,00), Aprendizagem (DQ 1,00) e Tele (DQ 1,00). Na categoria Cadete, a variabilidade maior está em Afiliação e Pertença (DQ 0,89), Pertinência (DQ 0,60) e Aprendizagem (DQ 0,67). Na categoria Juvenil destaca-se mais Comunicação e Tele (DQ 0,67).

    Foram encontradas diferenças entre os vetores em cada categoria – portanto, existindo diferenças significativas entre os valores entre todos os vetores nas três categorias (Tabela 3). As categorias apresentaram-se heterogêneas em relação aos vetores correspondentes a pertinência e aprendizagem apresentando diferença significativa no qual a categoria juvenil apresenta maior pontuação em relação às categorias cadete e infantil, em ambos os vetores.

Tabela 3. Comparação entre as categorias Infantil, Cadete e Juvenil em relação aos vetores

Afiliação e Pertença, Cooperação, Pertinência, Comunicação, Aprendizagem e Tele

Conclusão

    Em consonância com os objetivos propostos neste trabalho, pode-se concluir que o ICFIG se tornou um instrumento eficaz para avaliar o estilo de relacionamento humano e de execução de tarefas entre os vetores denominados por Pichón Rivière: Afiliação e Pertença, Cooperação, Pertinência, Comunicação, Aprendizagem e Tele.

    Os grupos esportivos não seguiram um padrão de comportamento coletivo único - diferenciam-se em estilos de relacionamentos e de execução de tarefas tendo em vista a intersubjetividade que se processa nas formações grupais e no processo interativo funcional.

    As diferenças que ocorrem entre os vetores definem a operacionalidade do grupo em todas as categorias.

    Novos estudos são incentivados a serem realizados com outras modalidades esportivas, permitindo comparações entre equipes masculinas e femininas, especialmente com o intuito de padronizar o instrumento de pesquisa criado e desenvolvido pela pesquisadora.

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