Influência do exercício físico na dismenorreia. Revisão da literatura Influence of physical exercise on dysmenorrhea. Review of literature Influencia del ejercicio físico en la dismenorrea. Una revisión de la literatura |
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**Docente do Curso de Fisioterapia e do Curso de Mestrado em Promoção da Saúde do Centro Universitário Adventista de São Paulo, UNASP **Fisioterapeuta graduada pelo Curso de Fisioterapia do Centro Universitário Adventista de São Paulo, UNASP |
Fábio Marcon Alfieri* Karoline Mayara de Aquiles Bernardo** (Brasil) |
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Resumo Introdução: Dismenorreia é considerada dor pélvica crônica que ocorre durante o período menstrual, responsável por interferir nas atividades cotidianas das mulheres, o objetivo desse estudo foi verificar a influência do exercício físico na redução da dismenorreia primaria. Métodos: Foi realizada revisão de literatura na base de dados Pubmed, sem limitação por data, com o descritor “primary dysmenorrhea and exercise”. Resultados: Foram encontrados 91 artigos, dos quais apenas 12 publicações foram avaliadas depois dos critérios de inclusão e exclusão. Conclusão: Os resultados mostraram que o exercício físico reduz a intensidade e o tempo de duração da dismenorreia, favorecendo em outros aspectos, tais como: melhora da funcionalidade, promovendo melhora física e psíquica. Unitermos: Dismenorreia primária. Exercício físico.
Abstract Introduction: Dysmenorrhea is considered chronic pelvic pain that occurs during menstruation, responsible for interfering with the daily activities of women. The aim of this study was to investigate the influence of physical exercise in reducing primary dysmenorrhea. Methods: A literature review was conducted in the Pubmed database, without limitation by date, with the descriptor "primary dysmenorrhea and exercise." Results: We found 91 articles, of which only 12 publications were evaluated after the inclusion and exclusion criteria. Conclusion: The results showed that exercise reduces the intensity and duration of dysmenorrhea, favoring other aspects such as improved functionality, promoting physical and mental improvement. Keywords: Primary dysmenorrhea and exercise.
Resumen Introducción: La dismenorrea es considerada como dolor pélvico crónico que ocurre durante el período menstrual, responsable de interferir en las actividades cotidianas de las mujeres; el objetivo de este estudio fue verificar la influencia del ejercicio físico en la reducción de la dismenorrea primaria. Métodos: Se realizó una revisión de literatura en la base de datos Pubmed, sin limitación por fecha, con el descriptor "primary dysmenorrhea and exercise". Resultados: Se encontraron 91 artículos, de los cuales sólo 12 publicaciones fueron evaluadas después de los criterios de inclusión y exclusión. Conclusión: Los resultados mostraron que el ejercicio físico reduce la intensidad y el tiempo de duración de la dismenorrea, favoreciendo en otros aspectos, tales como: mejora de la funcionalidad, promoviendo una mejora física y psíquica. Palabras clave: Dismenorrea primaria. Ejercicio físico.
Recepção: 14/05/2016 - Aceitação: 10/09/2017
1ª Revisão: 12/08/2017 - 2ª Revisão: 05/09/2017
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Lecturas: Educación Física y Deportes (EFDeportes.com), Revista Digital. Buenos Aires, Año 22, Nº 232, Septiembre de 2017. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A dismenorreia pode ser considerada como a dor pélvica crônica de origem ginecológica que acontece no período menstrual (Osayande & Mehulic, 2014). Chega a atingir cerca de 60% a 80% da população feminina, sendo, portanto, um problema de saúde pública, pois além do grande contingente de pessoas acometidas, interrompe e interfere nas atividades cotidianas das mulheres, pois traz consigo sintomas tais como: náuseas, vômitos, cefaleia, tonturas e desmaios, que muitas vezes leva ao absenteísmo nas diversas atividades destas mulheres (Osayande & Mehulic, 2014; Proctor & Farquhar, 2007).
Diversos fatores são associados com a dismenorreia primária, ou seja, aquela que ocorre após os primeiros ciclos menstruais ovulatórios normais e que não está associada a qualquer doença do trato genital (Proctor & Farquhar, 2007; Proctor & Farquhar, 2006). Exemplos destes fatores são: fumo, depressão, fluxo menstrual intenso, idade, paridade e índice de massa corporal. E também a questão da prática/nível de atividade física que pode reduzir a frequência e ou severidade da dismenorreia (Quintana et al., 2010; Blakey et al., 2010). O estudo de Quintana et al. (2010) apontou que o nível de atividade física interfere favoravelmente no nível percebido da dor, sendo que quanto maior o nível de atividade física, menor a dismenorreia. No entanto, ainda não é bem estabelecido na literatura sobre os benefícios dos exercícios físicos sobre a dismenorreia como aponta Blakey et al. (2010) que verificaram em seu estudo que não há associação benéfica da prática de exercício físico sobre a dismenorreia. Como ainda há carência de estudos que confirmem esta hipótese sobre os benefícios dos exercícios físicos sobre a dismenorreia (Brown & Brown 2017), o objetivo deste estudo foi o de revisar na literatura os trabalhos sobre exercícios físicos como meios de intervenção na dismenorreia primária.
Método
Este estudo revisou artigos indexados na base de dados PubMed, sem limitação por data de publicação. Como descritores foram utilizados os termos "Dysmenorrhea" AND "Exercise" resultando em 91 artigos. Os artigos passaram por análise de resumo e foram excluídos aqueles cujos sujeitos apresentassem dismenorreia secundária, aqueles que não tivessem intervenções por meio de exercícios e aqueles que fossem de revisão da literatura. Os autores fizeram a análise dos artigos selecionados e as eventuais discordâncias foram resolvidas de forma consensual. Apenas estudos clínicos randomizados foram incluídos nesta revisão.
Resultados
Dos 91 estudos, 12 permaneceram após a análise dos resumos, pois foram excluídos 79 estudos, dos quais: 40 não apresentarem intervenção por meio de exercícios físicos, 6 por serem revisões, 19 por não tratarem do tema específico de dismenorreia e 14 por não possuírem o resumo disponível.
Os dados referentes à autoria, características da amostra, intervenção, avaliações utilizadas e resultados de cada um dos 12 estudos estão demonstradas no quadro 1.
Quadro 1. Dados referentes ao ano de publicação, amostra, tipo de intervenção, avaliação e resultados
Autor |
Amostra |
Intervenção |
Avaliação |
Resultados |
Vaziri et al. (2015) |
98 estudantes (média de 20,7±0,2 anos) |
GI: Exercícios Aeróbios - 20 min. velocidade gradual, 3x/semana, durante 2 meses GII: Exercícios de alongamentos - 10 exercícios 10 segundos/5x 3x/semana durante 2 meses |
Questionário Menstrual Symptom Questionnaire (MSQ) |
Exercícios aeróbios e exercícios de alongamentos foram eficazes na redução dos sintomas da dismenorreia |
Kannan et al. (2015-a) |
10 mulheres entre 18 a 45 anos |
G1: Exercício Aeróbio, alongamentos e fortalecimento abdominal - Duração de 3 a 4 semanas. |
Questionário de dor McGill |
Houve redução da dor |
Ortiz et al. (2015) |
160 mulheres (média GI: 20,2 ± 1,8 anos e GII: 20,4 ± 1,2 anos) |
GI: Grupo controle GII: Alongamentos, exercícios de Kegel, corrida e exercícios de relaxamento. - 50 Minutos, 3x/semana, durante 3 meses |
Escala Visual Analógica – EVA |
As técnicas utilizadas, quando realizadas regularmente, promovem redução da dor. |
Chaudhur et al. (2013) |
128 jovens (média de 14,0 anos para ambos os grupos) |
GI: Exercícios de fortalecimento - 2x/dia de 15 a 20 minutos. Durante 1 mês GII: Bolsa de água quente - Durante 15 a 20 minutos. |
Escala Visual Analógica – EVA Menstrual Distress Questionnaire (DQ) |
Ambos proporcionaram alivio da dor e desconforto da dismenorreia |
Rezvani et al. (2013) |
40 meninas entre 18 a 25 anos (G1: 20,25±2,02) G2: 20,50 ±1,79) |
G1: Exercícios aquáticos - 60 minutos, 3x/semana, Durante 12 Semanas. G2: grupo Controle |
Questionário de dor McGill Escala Visual Analógica - EVA Intensidade da dor (PPI) |
Exercícios aquáticos foram eficazes na redução da dismenorreia |
Sakuma et al. (2012) |
68 mulheres (GI:32,6±11,5 anos GII:35,8±13,0) |
GI: Programa de yoga simples GII: Grupo Controle - Durante 4 semanas |
General Health Questionnaire (GHQ30) |
Melhora dos sintomas físicos e mentais, tais como a redução da dismenorreia. |
Rakhshaee (2011) |
92 mulheres (média 20,86±20,45 anos) |
GI: Yoga GII: Grupo controle - Duração 14 dias, 20 minutos. Durante 2 meses |
Escala Visual Analógica - EVA |
Redução da intensidade e duração da dismenorreia |
Kannan et al. (2015-b) |
70 mulheres entre 18 a 43 anos (28,96± 29,26 anos) |
GI: Grupo controle GII: Exercício aeróbio, alongamentos de membros inferiores e fortalecimento de glúteos, região pélvica e abdominal. - Exercícios diários durante 29 semanas. |
Questionário de Atividade Física Readiness (PAR-Q) Questionário de dor de McGill SF-12 BIP-SF WHIIRS PGIC |
Redução da dor menstrual, melhora na qualidade de vida, melhora qualidade do sono, aumento na funcionalidade. |
Shirvani et al. (2017) |
61 mulheres: GI: 21,60 ± 2,14 anos GII: 21,32 ± 1,96 |
GI: Grupo ingestão de cápsulas de gengibre GII: 5 minutos de aquecimento, seguido de 6 exercícios de alongamento para o abdômen e pelve por 10 min. Este programa Foi realizado por 15 minutos, 3 vezes por 8 semanas |
Escala Visual Analógica - EVA Duração da menstruação |
O grupo de exercícios foi significativamente mais eficaz do que o gengibre para o alívio da dor, gravidade da dismenorreia e duração da mesma no segundo ciclo |
Motahari-Tabari et al. (2017) |
122 mulheres G1: 21,6±2,0 anos e GII: 21,3±2,0 anos |
GI: ácido mefenâmico GII: exercícios realizados por 15 minutos, três vezes por semana e incluiu um aquecimento de cinco minutos e seis exercícios de alongamento para a região abdominal e pélvica por 10 minutos durante 8 semanas |
Escala Visual Analógica - EVA |
Os exercícios de alongamento foram tão efetivos quanto o ácido mefenâmico no tratamento da dismenorreia primária. Os resultados sugerem que o efeito do exercício sobre aliviar a dor da menstruação aumenta ao longo do tempo |
Tsai (2016) |
64 mulheres 34 ± 5,5 anos |
Programa de exercícios de yoga de 12 semanas. Cada sessão de 50 minutos compreendia um exercício de respiração de 5 minutos, uma prática de posição de yoga de 35 minutos e uma meditação / relaxamento de 10 minutos. |
Estado menstrual, pontuação basal da dor menstrual, sintomas pré-menstrual e qualidade de vida relacionada à saúde (SF-36) |
As participantes relataram menos sintomas pré-menstruais físicos associados a um menor risco de dor menstrual e melhora do status saúde da qualidade de vida |
Yang & Kim (2016) |
40 mulheres GI- grupo de yoga e GII- grupo controle |
Os participantes do GII participaram de um programa de yoga por 60 minutos, uma vez por semana durante 12 semanas. O programa consistiu em exercícios físicos combinados com relaxamento e meditação. |
O distúrbio menstrual foi medido usando o Menstrual Distress Questionnaire (DQ) e a Escala Visual Analógica - EVA
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Intensidade da dor e incômodo menstrual diminuíram signicativamente no grupo experimental em comparação com o grupo controle. |
Discussão
A dismenorreia é uma queixa frequente entre as mulheres merece atenção em relação às opções de tratamento (Lacovides et al., 2015). Embora a dismenorreia seja multifatorial, há o fato de que os exercícios físicos possam interferir na dismenorreia, visto que a prática regular de atividade física tem sido mostrada como fator que contribui para a diminuição deste sintoma (Quintana et al., 2010). Nesta revisão, foi visto que em todos os artigos pesquisados os exercícios foram eficazes para redução dos sintomas da dismenorreia.
Nesta revisão, foi visto que apenas o estudo de Vaziri et al. (2015) comparou dois tipos de exercícios. Os autores verificaram em 98 mulheres que utilizaram exercícios aeróbios ou exercícios de alongamentos e relataram resultados positivos não havendo diferença entre a efetividade das duas técnicas. Há também os estudos de Ortiz et al. (2015), Rezvani et al. (2013), Sakuma et al. (2012), Rakhshaee (2011) e Kannan et al. (2015-b) e Yang & Kim (2016) que compararam dois grupos, porém com grupos sem intervenção.
Alguns autores (Ortiz et al. 2015; Kannan et al. 2015-a; Kannan et al. 2015-b; Yang & Kim 2016; Tsai 2016; Motahari-Tabari et al. 2017) realizaram exercícios de alongamentos, fortalecimento, yoga, exercícios aquáticos, método Kegel, exercícios aeróbios e relaxamento. E encontraram que quando realizadas regularmente as técnicas aliviam os sintomas da dismenorreia primária.
Sakuma et al. (2012) compararam duas técnicas: exercícios versus bolsas de água quente e foram encontradas que ambas as técnicas são eficazes para a redução dos sintomas da dismenorreia. Motahari-Tabari et al. (2017) também compararam duas modalidades de intervenção, uma por meio de exercícios de aquecimento e alongamento para a região abdominal e pélvica e outra apenas com o uso de ácido mefenâmico e contataram que ambos foram efetivos para o tratamento da dismenorreia, no entanto, os autores relatam que os resultados sugerem que o efeito do exercício sobre aliviar a dor da menstruação aumenta ao longo do tempo. No entanto, Shirvani et al. (2017) ao compararem duas técnicas: ingestão de cápsulas de gengibre versus exercícios e encontraram que o grupo de exercícios foi significativamente mais eficaz do que o gengibre para o alívio da dor, gravidade da dismenorreia e duração da mesma no segundo ciclo
Melhora da qualidade de vida, redução da ansiedade e melhora na qualidade do sono foram itens considerados nos estudos levantados. Os instrumentos usados nos estudos para verificar os benefícios das intervenções foram: escala visual analógica (EVA), SF-12, questionário de atividade física readiness, questionário de dor de McGill, Menstrual Distress Questionnaire (MDQ) BIP-SF, WHIIRS, PGIC , SF-36 e intensidade da dor (PPI).
Um fator que merece consideração nesta revisão é a questão de que os estudos são recentes. O mais antigo é da data de 2011, mostrando assim a recente preocupação e o despertar da prática de exercício físico sobre a dismenorreia. Porém cabe ressaltar ainda, que outros estudos poderiam participar desta revisão, no entanto não apresentavam disponibilidade sequer do resumo, talvez devido ao tempo (década de 1960 e 1950).
Apenas 2 estudo fizeram série de casos. E os outros 10 compararam com grupo controle ou outro tipo de intervenção. No entanto como afirmam, Blakey et al. (2010) estudos prospectivos são necessários a fim de estabelecer uma relação mais confiável sobre o exato poder dos exercícios físicos e a dismenorreia.
Algumas prováveis explicações para os benefícios são apontadas na literatura, como a promoção da maturação dos órgãos pélvicos e extra pélvicos melhorando o funcionamento metabólico, equilíbrio hidroelétrico e aumentando o aporte sanguíneo, além disso, por meio das atividades físicas ocorre ativação dos mecanismos endógenos, que liberam opióides aumentando o limiar de dor, esse evento é chamado de analgesia pelo exercício físico (Champman & Syrjala, 1990).
Estes prováveis benefícios provavelmente trazem não somente alívio da dor, mas também melhora das condições de realização das atividades de vida diária como, por exemplo, a diminuição da ansiedade, melhora na qualidade do sono, aumento da funcionalidade.
Nesta revisão, cabe ressaltar que existem limitações. A primeira dela é a falta de acesso aos artigos antigos que abordam a questão do exercício físico e a dismenorreia, no entanto acredita-se que este fator não interfira na discussão e perspectivas de resultados que o tema traz. A melhora deste sintoma foi vista por 100% estudos, mostrando que embora ainda haja poucos estudos, os exercícios físicos parecem ser promissores na melhora ou controle da dismenorreia. Por isto, são necessários estudos randomizados controlados com diferentes modalidades de exercícios, a fim de que haja melhores evidências sobre o tema.
Conclusão
Conclui-se, portanto, que em todos os estudos usados nesta revisão, houve relato e verificação da melhora da dismenorreia após a participação de programas diversos de exercícios que se utilizam, mostrando ser essa uma opção para o tratamento da mesma.
Bibliografia
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