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Introdução

    O mercado de trabalho modifica-se de tempos em tempos buscando soluções para melhorar seus equipamentos, seus projetos de ambiente de trabalho ou ainda suas máquinas, tendo o trabalhador que adaptar-se a tais modificações sem prejudicar seu trabalho e a produção da empresa. Sendo assim, a Ergonomia visa solucionar uma grande parte dos problemas posturais e álgicos que surjam no trabalhador com seu novo posto de trabalho, trazendo segurança, comodidade, eficiência no serviço e saúde para o trabalhador. (Abrahão, 2000; Dul, 2012).

    Muitas situações podem contribuir para o aparecimento de problemas posturais devido à ausência ou a forma inadequada de aplicação da Ergonomia. As mais citadas doenças ocupacionais relacionadas ao trabalho são LER/DORT, Lesão por Esforço Repetitivo e Doenças Ocupacionais Relacionadas ao Trabalho. Neste sentido, existem alguns recursos terapêuticos que visam o tratamento, como a ginástica laboral, terapêutica usada para redução da tensão muscular, ocasionando sensação de relaxamento do corpo. (Renner, 2005; De Oliveira, 2010).

    A dor é o sinal clássico de LER/DORT, que aparece aos poucos, e por vezes passa despercebida, ou ainda, o trabalhador não parece dar importância, o que piora com os dias, agravando-se e tornando-se permanente e incapacitante para o trabalhador. (Assunção; Almeida, 2003).

    A adoção da má postura pelos trabalhadores, principalmente durante o trabalho, tende a torná-lo predisposto ao aparecimento de lesões osteomioarticulares, tendo como indício primário, a dor, em seguida podem aparecer alterações posturais que com o tempo tornam-se aparentes, é o caso das hipercifose, hiperlordose e as escolioses. (Bloemer, 2002).

    Acredita-se que para ter uma boa postura ou uma postura equilibrada, as estruturas corporais devem estar balanceadas e/ou equilibradas, mantendo o alinhamento corporal, não deixando acontecer compensações de outras estruturas envolvidas que não sejam aquelas responsáveis pela manutenção da postura, neste caso, a simetria do corpo é fundamental para a obtenção da boa postura (Smith, 1997; Braccialli, 2000).

    O corpo passa a adaptar-se a um posicionamento incorreto após um longo período com posturas inadequadas, assim a coluna adquire um aumento ou diminuição das curvaturas fisiológicas. Se o indivíduo adota uma postura anterior, jogando o corpo para frente, a gravidade atuará na coluna, alterando a postura, ocorrendo um aumento em uma ou mais curvaturas, classificando-se em hiperlordose cervical e/ou lombar, hipercifose torácica e/ou sacrococcígea. Entretanto, se a postura adotada for o inverso, posteriormente, haverá diminuição de curvaturas, sendo classificada como retificação cervical, torácica, lombar e/ou sacrococcígea. (Alexandre, 2001).

    De fato, a adoção de posturas anteriores e posteriores causam alterações nas curvaturas fisiológicas da coluna, entretanto um posicionamento lateral poderá também ocasionar uma alteração. O indivíduo para adaptar-se, deslocará o corpo para o lado oposto para que haja um equilíbrio postural, por conseguinte estabelecendo uma postura escoliotica. (Bassani, 2008).

    Entretanto, autores relatam que a alteração postural não está relacionada somente com o posicionamento errado, mas sim, a somatização de fatores adjuntos ao posicionamento. O ombro é uma articulação complexa no corpo, que realiza uma variável de movimentos permitidos pelo corpo, porém quando realizados de forma repetitiva e/ou com sobrecarga, podem ocasionar a alterações posturais, pelo fato de ocorrer limitação do movimento, quadro álgico e compensação postural. (De Oliveira, 2010; Couto, 2010).

    A semiologia nos mostra que a realização de testes ortopédicos pode mostrar uma alteração da articulação e/ou segmento após a execução de um movimento, indicando quando houver uma modificação do mesmo. Cada teste ortopédico tem um objetivo, ou seja, é utilizado para sancionar apenas da área exclusiva. (Volpon, 1996).

    Segundo Cipriano (2005), para que haja com precisão uma alteração postural, devem-se exigir testes específicos. Para a identificação de complicações na região cervical, como Teste de Compressão em Flexão e Extensão que indicam radiculopatia discal e/ou lesão da articulação apofisária. Para os Membros Superiores são utilizados os Teste de Tendinite do Supraespinhal é um teste em região de ombro para diagnosticar tendinite degenerativa ou laceração do tendão, Dawbarn serve para identificar inflamação da bolsa ou bursite. O Teste de Cozen e de Mill é utilizado para identificar epicondilite lateral de cotovelo, Finkelstein pode indicar tenossinovite estenosante dos tendões do abdutor longo do polegar e do extensor curto do polegar.

    Para o diagnostico através de Testes Ortopédicos em coluna vertebral utilizamos os testes de Adam para identificar alterações em escoliose, cifose o cifoescoliose e o teste de Lasègue verifica Radiculopatia do nervo isquiático. E para Membros Inferiores, testes como de Trendelenburg possibilita indicar fraqueza do músculo glúteo médio para o lado oposto do quadril flexionado; Gaveta Anterior e Gaveta Posterior se positivo, deve-se suspeitar de lesão ou laceração do Ligamento Cruzado Anterior ou Posterior, respectivamente; Teste de Bragard, se houver dor na amplitude de 0º a 35º, suspeitar de irritação extradural do nervo isquiático ou se a dor ocorrer de 35º a 70º suspeitar de irritação das raízes do nervo isquiático por lesão do disco intervertebral; Appley do Joelho se houver dor ou crepitação em qualquer lado do joelho pode indicar lesão meniscal e Raspagem da Patela pode-se identificar condromalacia, artrite retropatelar ou fratura condral. (Cipriano, 2005).

    A função do eletricista busca realizar a manutenção de postes decorrentes de falhas elétricas, a verificação para melhor e correto funcionamento. Sendo assim, torna-se intensa jornada de trabalho devido à múltipla tarefa, postura, algia e sobrecarga ao fim do turno. Os eletricistas possuem uma atividade que exige resistência e força. (Topanotti, 2006).

    O objetivo deste estudo foi analisar as alterações posturais em trabalhadores de campo de uma empresa de distribuição de energia do Amazonas.

Metodologia

    Esta pesquisa é do tipo observacional qualitativa e quantitativa, onde foram analisados 24 sujeitos do sexo masculino, conforme os critérios estabelecidos. Demonstrou-se em idade com a média de 41,59 anos. Em observação aos aspectos da ética na pesquisa envolvendo seres humanos (Resolução CNS 196/96) foi feito uso do TCLE (Termo de Consentimento Livre Esclarecido) e esta pesquisa foi submetida ao CEP (Comitê de Ética em pesquisa) no dia 06.10.2016, no qual está em andamento, sobre Parecer do relator emitido, com CAAE 60873516.6.0000.5015.

    O presente projeto teve duração de 1 mês na empresa dividido em três etapas.

1. Preencheram o Questionário de Hábito Postural Modificado, contendo 14 perguntas fechadas e 06 abertas, questões sobre idade, tempo de trabalho, sua repetitividade, localização de dores/desconfortos e o voluntário respondeu de acordo com suas manifestações de dores a hábitos de trabalho.

2. Foram realizados testes de acordo com as respostas dos questionários de forma individual. Sendo os testes aplicados para a região Cervical como Teste de Compressão em Extensão e Flexão. Para Membros Superiores como: Tendinite do Supraespinhal, Dawbarn, Cozen, Mill, Finkelstein. Para a coluna vertebral os testes aplicados foram de Adam e Lasègue. E para Membros Inferiores, testes como de Trendelenburg, Gaveta Anterior e Gaveta Posterior, Bragard, Appley do Joelho e Raspagem da Patela.

3. Foram realizados registros fotográficos através de uma câmera digital Panasonic modelo Lumix DMC-LZ220 a uma distância de 3 metros do posicionamento do voluntário e a 1,3 metros de altura, foi disponibilizado uma sala na própria empresa de paredes na cor branca, não reflexa, devidamente iluminada e permitindo a privacidade do voluntário. Foram registradas imagens de todo o corpo na vista anterior, lateral direita e esquerda, com os participantes trajando calção ou sunga de banho.

    Os dados foram analisados através da estatística descritiva (média desvio padrão e frequência relativa e absoluta) em Software Excel 2013, e os resultados foram apresentados em forma de gráficos e tabelas.

Resultados e discussão

    Nesta pesquisa foram selecionados 40 eletricistas, e de acordo com os critérios estabelecidos pela pesquisa, forma analisados 24 funcionários, com média de idade de 41,59 anos. Em relação ao tempo de atividade os funcionários demonstraram 07 horas 49 minutos, com a média de peso de 85,9 kg (Tabela 1).

Tabela 1. Média de Idade, Peso e Tempo de Atividade

    Segundo o IBGE (2016), a população Brasileira no ano de 2016 é representada por 49,36% de homens e 50,64% de mulheres. E no estado do Amazonas o percentual é de 50,49% de homens e 49,51% de mulheres. No que se refere a média de homens com a faixa etária de 40-44 anos, é representada por 3,41% no Brasil, e no estado do Amazonas esta população chega a 3,05% de homens. A Pesquisa Nacional de Saúde afirma que o Brasil apresenta 2,4% de indivíduos afastados por diagnóstico médico de DORT, com maior proporção em grupos de indivíduos com idade de 30-64 anos.

    Os Testes Ortopédicos fazem parte da semiologia técnica e auxiliam para um diagnóstico cinesiológico funcional (DCF) de uma determinada patologia ou disfunção, no qual o profissional baseia-se para um tratamento preciso e adequado para tal acometimento. Ao realizar o teste o profissional deve estar ciente de como executá-lo e a forma correta sem influenciar no seu resultado (Volpon, 1996).

    Estudos comprovam que a presença de Tendinite do Supraespinhoso aparece em situações que exigem a combinação de força somada à elevação de membros superiores e repetições e, consequentemente uma compressão resultando em uma possível diminuição do fluxo sanguíneo, ocorrendo anatomicamente uma ruptura parcial ou total do tendão do músculo, levando a sintomatologias a exemplo disto a dor. (Frost e Andersen, 1999; Mendonça, 2000; De Almeida, 2008).

Gráfico 1. Testes Ortopédicos apresentados pela população avaliada

    Quanto aos testes para a diagnose funcional, demonstrado no Gráfico 1, chama a atenção dos pesquisadores o percentil de 54,1% presente na avaliação após a aplicação do teste de Tendinite do Supraespinhal onde toda a população se manteve com positividade para a patologia de Tendinite da Musculatura do Manguito Rotador, composto pelos seguintes músculos: Supra e Infra Espinhal, Subescapular e Redondo Menor. (Cipriano, 2005)

    Deste modo, conforme imagem abaixo, a postura adotada durante a atividade laboral, conota movimentos lesivos para ombro, coluna cervical, torácica e lombar. O que pode afetar na saúde do eletricista, interferindo na qualidade de vida profissional. Na imagem nota-se: tronco rotacionado, membros superiores em constante isometria, além da não adaptação no setor de trabalho por fatores ambientais uma vez que o trabalho é realizado em ambiente externo, devido às ferramentas e fatores climáticos como o vento e temperatura. (Moriguchi, 2009).

Fonte: acervo das pesquisadoras (2016)

    O fator de grande relevância foram 2 sujeitos que não apresentaram nenhum tipo de disfunção. Vale ressaltar que a empresa muito embora tenha um índice de acometimentos, ainda assim preconiza a ergonomia, que é um fator muito importante para a saúde ocupacional do eletricista, podendo o profissional fisioterapeuta especialista em Ergonomia atuar nas três dimensões: Prevenção, Diagnose e Reabilitação, objetivando a saúde do trabalhador no ambiente profissional e possivelmente reduzindo acidentes, doenças ocupacionais e melhorando a qualidade de vida do profissional (De Oliveira, 2007).

Tabela 2. Média e Desvio-Padrão das variáveis analisadas na vista anterior

    De acordo com a tabela 2, chama a atenção o ângulo frontal do membro inferior direito e esquerdo, apresentando alteração na média de -0.544 e -0,46 respectivamente, pode-se considerar que muitas alterações provocadas no ambiente de trabalho advêm de uma postura adotada que por vezes é compensatória, seja ela provocada pelo inadequado e excessivo uso de estruturas do corpo, neste caso cita-se a rotação de tronco como principal fator para alteração dos membros inferiores, visto que uso de algumas estruturas lombares como corpo vertebral e músculos estão sob intensa e constante rotação o que propositalmente mantém alongadas e encurtadas causando o desequilíbrio de tais estruturas (Cardoso, 2013; Marques, 1996).

Tabela 3. Média e Desvio-Padrão das variáveis analisadas na vista lateral direita

    Diante do exposto na tabela 3, nota-se alteração no alinhamento horizontal da pelve gerando uma média de -3,032 o que possivelmente mostra que a rotação é gerada por diversos fatores. Isto muitas vezes é resultante de fraqueza muscular ou assimetria de membros inferiores, sendo estes o mais citado pela literatura e o mais associado à inclinação lateral pélvica (Faria, 2006).

Tabela 4. Média e Desvio-Padrão das variáveis analisadas na vista lateral esquerda

    Na tabela 4, nota-se que os desvios laterais continuam alterados e o alinhamento horizontal da pelve apresenta-se como média -10,828 provocando desvio maior e consequente sobrecarga nos membros inferiores. A pelve influencia-se no trabalho muscular, onde observa-se o aumento da sobrecarga na coluna vertebral durante a postura ortostática, alterando o centro de gravidade do tronco, influenciando na distribuição da carga estática e dos músculos posturais, acarretando no agravamento da assimetria pélvica. (Chaffin; Andersson e Martin, 2001).

Conclusão

    O eletricista de campo atua realizando a construção, manutenção preventiva e corretiva da rede de distribuição de energia, prevendo uma possível sobrecarga psicomotora intensa e desgastante. Na maioria das vezes o trabalho é repetitivo, tendo como principal consequência o comprometimento da estrutura osteomioarticular que deixam o eletricista susceptível a alterações posturais.

    A partir dos resultados encontrados no presente estudo pode-se concluir que mais de 50% dos indivíduos analisados apresentaram: desalinhamento horizontal da pelve, tendo como principal sintomatologia a dor na região do Supraespinhal, especificamente nos músculos que compõe o manguito rotador.

    Diante do exposto acredita-se haver correlação entre a postural corporal e o desalinhamento da pelve, ocasionando um esforço maior em algumas estruturas, resultando em sintomas como a dor. Propõe-se a implementação do fisioterapeuta com medida preventiva, no que se refere às algias e posturas inadequadas durante a atuação no campo de trabalho, introduzindo a cinesioterapia laboral, bem como a educação postural durante as atividades dos trabalhadores de campo.

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