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Predição da velocidade da marcha de crianças obesas

e eutróficas a partir de parâmetros espaço temporais

Gait velocity prediction of obese and eutrophic children from of spatiotemporal parameters

Predicción de la velocidad de la marcha de niños obesos y eutróficos a partir de parámetros espacio temporales

 

*Centro de Educação Física e Desportos

Universidade Federal de Santa Maria

**Departamento de Educação Física

Universidade Federal do Paraná

(Brasil)

Franciele Marques Pivetta*

Carlos Bolli Mota*

Mateus Corrêa Silveira**

fran87.mp@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Introdução e objetivo: A obesidade infantil pode resultar em mudanças no comportamento da marcha, o que pode alterar a velocidade da caminhada. Porém, essas mudanças também podem ocorrer em crianças eutróficas. Portanto, o objetivo desse estudo foi verificar a dependência da velocidade no andar de crianças obesas e eutróficas a partir dos parâmetros espaço temporais. Materiais e métodos: Nove crianças participaram do estudo e foram divididas em dois grupos: obesas e eutróficas de acordo com o índice de massa corporal (IMC). Os participantes caminharam em três condições de velocidade: preferida, 30% mais lenta e 30% mais rápida monitoradas por fotocélulas com uma margem de erro de ± 10%. Para obter as informações da caminhada, foi utilizado o sistema de cinemetria tridimensional (VICON Motion System, UK) com sete câmeras de infravermelho e duas plataformas de força (AMTI OR6-6 2000, USA) para registrar os eventos da marcha. As variáveis observadas foram: passada, cadência e velocidade. Resultados: A velocidade pôde ser predita a partir da cadência e do comprimento de passada. Conclusão: O modelo proposto permitiu grandes valores de predição de velocidade da caminhada a partir das variáveis espaço temporais das crianças do presente estudo.

          Unitermos: Obesidade. Marcha. Biomecânica.

 

Abstract

          Introduction and objective: Childhood obesity can change gait behavior, which can modify walking speed. However, these changes can also occur in eutrophic children. Therefore, the objective of this study was to determine the dependence of velocity on the walk of obese and eutrophic children from the spatiotemporal parameters. Methods: Nine children participated in the study and were divided into two groups: obese and eutrophic according to their body mass index (BMI). All participants walked in three velocity conditions: self-selected velocity and 30% slower and faster. The speed was monitored by photocells with a margin of error of ± 10%. To obtain all walking parameters, a three-dimensional kinematics system (VICON Motion System, UK), with seven infrared cameras, and two force plates (AMTIOR6-6 2000, USA), to record the gait of events, were used. The variables analyzed were: stride, cadence and velocity. Results: Gait velocity could be predicted from the cadence and stride length. Conclusion: The proposed model allowed strong prediction of walking velocity values from the spatiotemporal parameters for the children in this study.

          Keywords: Obesity. Gait. Biomechanics.

 

Resumen

          Introducción y objetivo: La obesidad infantil puede resultar en cambios en el comportamiento de la marcha, lo que puede alterar la velocidad de la caminata. Sin embargo, estos cambios también pueden ocurrir en niños eutróficos. Por lo tanto, el objetivo de este estudio fue verificar la dependencia de la velocidad en el piso de niños obesos y eutróficos a partir de los parámetros temporales. Materiales y métodos: Nueve niños participaron del estudio y se dividieron en dos grupos: obesos y eutróficos de acuerdo con el índice de masa corporal (IMC). Los participantes caminaron en tres condiciones de velocidad: preferida, un 30% más lenta y un 30% más rápido monitoreadas por fotocélulas con un margen de error de ± 10%. Para obtener la información de la caminata, se utilizó el sistema de cinemetría tridimensional (VICON Motion System, UK) con siete cámaras de infrarrojos y dos plataformas de fuerza (AMTI OR6-6 2000, USA) para registrar los eventos de la marcha. Las variables observadas fueron: pasada, cadencia y velocidad. Resultados: La velocidad se pudo predecir a partir de la cadencia y la longitud de la pasada. Conclusión: El modelo propuesto permitió grandes valores de predicción de velocidad de la caminata a partir de las variables espacio temporales de los niños del presente estudio.

          Unitermos: Obesidad. Marcha. Biomecánica.

 

Recepção: 05/03/2016 - Aceitação: 23/07/2017

 

1ª Revisão: 01/07/2017 - 2ª Revisão: 20/07/2017

 

 
Lecturas: Educación Física y Deportes, Revista Digital. Buenos Aires - Año 22 - Nº 230 - Julio de 2017. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A marcha é a forma mais comum de locomoção. É durante o andar que desafiamos mais o nosso sistema locomotor, ao início e término da marcha, com alterações de variáveis como o comprimento do passo (Winter, 1995). A velocidade da caminhada, outra variável importante da marcha, pode ser descrita a partir do produto entre o comprimento da passada e a cadência (Hamill e Knutzen, 2012).

    A obesidade infantil, entretanto, pode alterar algumas das variáveis da marcha (Mcgraw et al., 2000). A passada de crianças eutróficas, por exemplo, pode ser maior do que a de crianças obesas (Dixon et al., 2014, Hills e Parker, 1991, Lai et al., 2008). Isto pode ser uma consequência de fatores que contribuem para tal, como o comprometimento motor que caracteriza a marcha de obesos (Wrotniak et al., 2006). Crianças obesas apresentam maior instabilidade na marcha em virtude de apresentarem maior tempo em apoio simples e menor tempo em apoio duplo do que crianças não obesas, adotando uma base de suporte menor na sua locomoção (Morrison et al., 2008). Além disso, em apoio unipodal crianças obesas apresentam maior pressão plantar e menor sensibilidade do pé, o que pode ser um indicativo de efeitos negativos na função sensório motora do pé, além de ser um fator de risco para desenvolvimento de lesões no pé de crianças obesas (Da Rocha et al., 2014).

    Com isso, apesar de a velocidade da caminhada apresentar relações com os demais parâmetros espaço temporais (Dufek et al., 2012), é possível observar em alguns estudos que as velocidades de ambas sejam diferentes (D’Hondt et al., 2011, Nantel et al., 2006) mesmo com evidências de similaridade nos parâmetros espaço temporais.

    Sendo assim, é possível que a obesidade seja um fator que altere a possibilidade de predição da velocidade da marcha a partir de variáveis espaço temporais, como a cadência e o comprimento de passada. Portanto, este estudo teve por objetivo verificar a dependência da velocidade do andar de crianças obesas e eutróficas em relação aos parâmetros espaço temporais da marcha: cadência e comprimento da passada.

Métodos

    Nove crianças (entre oito e dez anos) participaram do estudo e foram divididas, de acordo com o índice de massa corporal (IMC) proposto por Cole (Cole et al., 2000), em dois grupos: crianças obesas (CO: n = 4; IMC: 23,6 ± 1,9 kg/m2) e crianças eutróficas (CE: n = 5; IMC: 15,9 ± 1,4 kg/m2). Os responsáveis pelos participantes assinaram um termo aprovado pelo comitê de ética que esclarecia os procedimentos adotados na pesquisa, assim como os riscos e benefícios. Todos foram orientados a caminhar descalços e passar por uma plataforma de força em uma distância de 5 metros. Cada participante realizou nove tentativas de caminhada em três velocidades: preferida (três tentativas), 30% mais lenta (três tentativas) e 30% mais rápida (três tentativas), monitoradas a partir de fotocélulas dispostas no trajeto e com uma margem de erro de ± 10%.

    Para obter as informações da caminhada, foi utilizado um sistema de cinemetria tridimensional (VICON Motion System, UK) com sete câmeras de infravermelho capturando o movimento dos marcadores a uma frequência de 100 Hz, reconhecendo a posição de 16 marcadores reflexivos que foram colocados de acordo com o modelo PlugInGait na pelve e membros inferiores de cada criança. Os dados cinemáticos passaram por um filtro passa baixas Butterworth de 4ª ordem, com frequência de corte de 8 Hz. Duas plataformas de força (AMTI OR6-6 2000, USA) registraram os eventos da marcha (toque do calcanhar e saída do pé) com uma frequência de aquisição de 1000 Hz, adotando um limiar de força de 5N. Os instrumentos foram sincronizados durante a coleta de dados utilizando o conversor AD do sistema VICON, no qual os sistemas estavam conectados. As variáveis analisadas foram: a velocidade média da marcha (medida a partir de um marcador do quadril), o comprimento da passada (distância entre o marcador do calcanhar em dois toques do pé ipsilateral) e a cadência (nº de passos por unidade de tempo).

    Os dados foram apresentados em estatística descritiva, com média e desvio-padrão de cada variável. Uma regressão múltipla foi realizada entre a velocidade da caminhada com o comprimento de passo e cadência em cada grupo (α = 0,05), para verificar a predição da velocidade a partir das variáveis da marcha.

Resultados

    A estatística descritiva dos dados está apresentada na Tabela 1.

Tabela 1. Dados de velocidade, passada e cadência das crianças obesas e eutróficas

    Para ambos os grupos, o modelo foi significativo (p < 0,05), ou seja, a velocidade pôde ser predita a partir da cadência e do comprimento de passada. No entanto, o modelo permitiu uma predição da velocidade de 99% para as CO (Equação 1), enquanto as CE (Equação 2) apresentaram menores valores de predição da velocidade (93%).

Discussão

    Os resultados apontam que foi possível predizer a velocidade da caminhada a partir dos parâmetros espaço temporais das crianças do presente estudo. Contudo, essa predição foi mais forte no grupo de crianças obesas. Esse resultado sugere que o IMC e a massa destas crianças são fatores intervenientes nos parâmetros espaço temporais da marcha deste grupo de crianças.

    A normalização pelo comprimento do membro inferior é prática comum em estudos biomecânicos (Hof, 1996), aparentemente é uma alternativa utilizada para diminuir as diferenças no comprimento de passada e cadência entre diferentes grupos de crianças (Dixon et al., 2014). Autores têm seguido o caminho inverso, sugerindo que os aspectos da caminhada são dependentes da velocidade (Dufek et al., 2012, Schwartz et al., 2008, Van Der Linden et al., 2002). Entretanto, é importante destacar que os resultados encontrados no presente estudo não diferem dos demais, reforçando a ideia de que existe forte relação entre velocidade, comprimento da passada e cadência.

    Alguns trabalhos já demonstraram a relação entre a massa/IMC com os padrões de caminhada (Dufek et al., 2012, Stansfield et al., 2006). Sendo assim, é possível prever que a obesidade infantil pode modificar os parâmetros espaço temporais e a relação dos mesmos com a velocidade. A maior força de predição do modelo para as crianças obesas possivelmente é fruto destas relações anteriormente evidenciadas.

    O trabalho reforça que o comprimento de passada e a cadência são determinantes no cálculo da velocidade da marcha de crianças. Com isso, exercícios simples que estimulem a coordenação e o controle dos movimentos pode auxiliar no aumento da velocidade de crianças deste grupo. A importância destes resultados para o profissional de Educação Física reside no fato de salientar a observação de questões simples do andar, como a velocidade. Isso porque a observação da marcha e de variáveis cinemáticas podem fornecer informações do padrão de movimento de crianças obesas e reconhecimento do seu desempenho motor (D’Hondt et al., 2009).

Conclusão

    Concluímos que o modelo proposto permitiu altos valores de predição da velocidade da caminhada das crianças do presente estudo a partir da cadência e do comprimento da passada. A maior predição observada nas crianças obesas aponta que a velocidade de caminhada está fortemente relacionada com as variáveis espaço temporais destas crianças.

Bibliografia

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 22 · N° 230 | Buenos Aires, Julio de 2017  
Lecturas: Educación Física y Deportes - ISSN 1514-3465 - © 1997-2017 Derechos reservados