efdeportes.com

O efeito da idade relativa em atletas do basquetebol feminino brasileiro

The relative age effect in in female athletes of brazilian basketball

El efecto de la edad relativa en jugadoras de baloncesto femenino brasileño

 

*Professor de Educação Física, formado pela UNI-BH, pesquisador

na área de Psicologia do Esporte. Trabalha com basquetebol e Treinador Pessoal

**Professor de Educação Física, formado pela UNI-BH, pesquisador na área de Psicologia do Esporte, Pedagogia

do Esporte e Basquetebol. Treinador de Basquetebol de Categoria de Base a mais de 15 anos.

***Possui graduação em Educação Física Licenciatura/Bacharelado pela Universidade Federal de Minas Gerais

Mestrado em Ciências do Esporte pela UFMG, psicologia do esporte (2012)

Doutorando em Ciências do Esporte UFMG. Pesquisador do Laboratório de Psicologia do Esporte da UFMG

****Mestre em Tecnologia de Alimentos pelo Centro Universitário de Belo Horizonte

Especialista em Treinamento Desportivo/Musculação pela Universidade Federal de Minas Gerais

Licenciada e Bacharel em Educação Física pelo Centro Universitário de Belo Horizonte

Atualmente é professora assistente do Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH)

Rafael de Magalhães Cordeiro Coutinho*

Filipe Oliveira Ferreira**

Cleiton Pereira Reis***

Vanessa Baliza Dias Borges****

cleitonpreis@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo do estudo foi verificar se a distribuição das datas de nascimentos de atletas do basquetebol feminino brasileiro indica um Efeito da Idade Relativa na formação destas atletas. Para verificar o Efeito da Idade Relativa foi usado o teste Qui-Quadrado. Os resultados mostraram que apenas as atletas da categoria sub-15 anos sofreram influência do Efeito da Idade Relativa, enquanto nas atletas mais velhas não se verificou tal efeito. Treinadores e profissionais que procuram selecionar atletas novos devem ficar atentos para não excluir jogadores com bom potencial que nasceram nos últimos meses do ano.

          Unitermos: Basquetebol. Efeito da idade relativa. Treinamento esportivo.

 

Abstract

          The objective of this study was to verify if the distribution of dates of birth of the female basketball athletes indicates a Relative Age Effect on the formation of these athletes. To check the Relative Age Effect was used Chi-Square test. The results showed that only the athletes of category under-15 years were influenced by the relative age effect, while in older athletes it wasn’t checked this effect. Coaches and professionals who are looking for select young athletes should be careful not to exclude players with good potential that were born in the last months of the year.

          Keywords: Basketball. Relative age effect. Sport training.

 

Resumen

          El objetivo del estudio fue verificar si la distribución de las fechas de nacimientos de jugadoras de baloncesto femenino brasileño indica un Efecto de la Edad Relativa en la formación de estas jugadoras. Para verificar el efecto de la edad relativa se utilizó la prueba Qui-cuadrado. Los resultados mostraron que sólo los jugadoras de la categoría sub-15 años sufrieron influencia del Efecto de la Edad Relativa, mientras que en las jugadoras de más edad no se verificó tal efecto. Los entrenadores y profesionales que buscan seleccionar atletas nuevos deben estar atentos para no excluir jugadores con buen potencial que nacieron en los últimos meses del año.

          Palabras clave: Baloncesto. Efecto de la edad relativa. Entrenamiento deportivo.

 

Recepção: 21/02/2016 - Aceitação: 19/07/2017

 

1ª Revisão: 17/06/2017 - 2ª Revisão: 15/07/2017

 

 
Lecturas: Educación Física y Deportes, Revista Digital. Buenos Aires - Año 22 - Nº 230 - Julio de 2017. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    De acordo com alguns estudos (Cobley, Baker, Wattie, e Mckenna, 2009; Helsen, Winckel e Williams, 2005; Musch e Grodin, 2001; Penna e Moraes, 2010; Vaeyens, Philippaerts e Malina, 2005) existe uma relação significativa entre a data de nascimento e o êxito esportivo observado em certas modalidades esportivas. Almeida e Palma (2011) comentam que crianças nascidas em um mesmo ano, mas em meses diferentes, poderão ter desempenhos diferenciados em razão da influência do desenvolvimento e crescimento. Vale lembrar que os campeonatos esportivos separam as categorias de acordo com o ano de nascimento. Comparando duas crianças nascidas com onze meses de diferença, a maturação biológica e o desenvolvimento motor daquele indivíduo nascido mais cedo provavelmente será maior do que aquela pessoa que nasceu depois. Dentro deste contexto, a data de nascimento tem sido considerada um fator para a seleção de atletas para compor equipes de categoria de base em diversos esportes.

    De acordo com Glamser e Vicent (2004) essa possível vantagem que os atletas nascidos mais próximos ao início de ano de seleção levam em relação aos seus pares nascidos posteriormente é denominada de efeito da idade relativa. Esta por sua vez, segundo Delorme e Raspaud (2009), esta possível vantagem é considerada como efeito da idade relativa, que pode ser definida como a diferença de envelhecimento ou maturação biológica existente entre dois indivíduos que nasceram em um mesmo ano escolar, no caso do desporto, em uma mesma categoria. De acordo com os autores, altura, peso e força são capacidades que podem ser influenciadas pelo efeito da idade relativa, além é claro, das capacidades motoras, coordenativas e, principalmente, a capacidade cognitiva. A cognição, segundo Ferreira e De Rose Jr. (2003) é um fator que deve ser altamente desenvolvido pelo atleta de basquetebol (esporte objeto de estudo do presente estudo) já que este indivíduo deve tomar várias decisões durante uma partida em um curto espaço de tempo.

    É notório que os clubes de basquetebol no Brasil não apresentam os recursos necessários para formar atletas de alto desempenho (Reis, Moraes, Ferreira, Noce e Costa, 2014b). O basquetebol brasileiro apresenta problemas estruturais de organização (Moreira, de Souza e Oliveira, 2003). Quanto ao basquetebol feminino brasileiro, o mesmo está restrito na formação de atletas, em grande parte ao interior de São Paulo. Além disso, as atletas sofrem com a existência diminuta de equipes profissionais, ou seja, muitas atletas de alto desempenho não encontram equipes para atuar (Moreno, 2006). Somando este cenário, atualmente, as peneiras realizadas por equipes de basquetebol buscam uma elite de atletas que possuem um precoce desempenho esportivo (Oliveira, Pereira e Almeida, 2008; Reis et al, 2014a). Treinadores podem escolher erroneamente um atleta com um desempenho superior precoce, desta forma estariam, em tese, perdendo jogadores que apresentam um bom potencial para se tornarem futuros atletas, e, propiciando uma estrutura de desenvolvimento de atletas apenas para uma parcela dos interessados no esporte (Costa et al., 2009).

    Helsen, Winckel e Williams (2005) ponderam que as diferenças da idade relativa em equipes de futebol feminino não são facilmente observáveis, provavelmente, devido às mulheres terem a maturação mais cedo que os homens. Em um estudo com jovens jogadores de futebol, sendo 514 garotos e 269 garotas, foi verificado que a maioria dos atletas masculinos havia nascido no primeiro semestre, apesar de não ter havido diferença em relação às mulheres (Rogel, Alves, França, Vilarinho e Madureira, 2009. Entretanto, de acordo com Delorme e Raspaud (2009) o efeito da idade relativa (RAE) exerce grande influência nas categorias do basquetebol francês, especialmente na estatura, tanto para homens quanto para mulheres. Entre os homens, O estudo de Reis, Ferreira, Debien e Moraes (2014a) mostrou que o efeito da idade relativa está presente em atletas profissionais brasileiros e da Europa.

    Almeida e Palma (2011) concluem que apesar da maioria das atletas de futebol da categoria sub-17 anos, participantes da Copa do Mundo da FIFA, nascerem nos dois primeiros trimestres do ano, não havia um efeito significativo da idade relativa para a seleção e desempenho das atletas. Penna e Moraes (2010) pesquisando jogadores de futsal da Liga Futsal 2009 apresentam resultados que afirmam os efeitos da idade relativa na seleção de atletas da modalidade. Para Silva, Teixeira e Goldberg (2003), as adolescentes costumam apresentar seu pico de crescimento em média dois anos antes dos adolescentes do sexo masculino, e os fatores genéticos e ambientais exercem influência fundamental sobre o desenvolvimento dos adolescentes. Sendo assim, a maturação biológica pode ser considerada elemento chave e tem sido uma variável importante nas divisões das categorias de modalidades esportivas.

    Apesar do efeito da idade relativa ter sido amplamente estudados por vários autores (Albuquerque et al., 2014, Edgar e O´Donghue, 2006; Folgado, Caixinha, Sampaio e Maçãs, 2006; Gil et al., 2014; Jiménez e Pain, 2008; Penna e Moraes, 2010) há na literatura científica esportiva poucos estudos com a modalidade basquetebol (Delorme, Chalabaev e Raspaud, 2011; Delorme e Raspaud, 2009; Esteva et al., 2006; Reis et al., 2014a). Não foi encontrado especificamente, pesquisa com a população feminina do basquetebol brasileiro. Esta informação poderá ser muito útil para avaliar se os critérios da seleção de talentos no basquetebol feminino devem ser revistos. Portando, o objetivo do estudo é verificar se a distribuição das datas de nascimentos de atletas do basquetebol feminino brasileiro, tanto profissionais quanto atletas de categoria de base, indica um efeito da idade relativa na formação destas atletas.

Método

Amostra

    A amostra foi composta pela data de nascimento de atletas que disputaram os seguintes campeonatos: 119 indivíduos que participaram da Liga de Basquete Feminino (LBF), da temporada 2011-2012; 289 e 310 atletas que disputaram respectivamente os campeonatos sub-15 anos e sub-17 anos brasileiros entre estados, nas divisões 1, 2 e 3, na temporada 2011.

Procedimentos

    Os dados foram coletados diretamente do site da Liga de Basquete Feminino (2013) e da Confederação Brasileira de Basketball (2013) e estão disponíveis ao público em geral. Coletar dados de sites oficiais de federações esportivas foi também utilizado em estudos anteriores (Costa et al. 2009, Penna; Moraes, 2010). As datas de nascimentos foram divididas em quartis: 1° quartil: atletas nascidos em janeiro, fevereiro e março; 2° quartil: abril, maio, junho; 3°quartil: julho, agosto e setembro e 4° quartil: jogadores que nasceram em outubro, novembro e dezembro. Também foram divididas as datas de nascimento dos atletas por semestres.

Análise estatística

    Para verificar o efeito da idade relativa nos atletas de basquetebol, foi utilizado o teste de Qui-Quadrado, através do programa estatístico SPSS for Windows, versão 17.0, com um nível de significância de 5%.

Resultados

    De acordo com a Tabela 1, apenas no campeonato sub-15 anos houve diferença significativa na distribuição das datas de nascimento pelos quartis, o que pode indicar um possível efeito da idade relativa. Para os outros campeonatos, não houve diferença estatística.

Tabela 1. Efeito da Idade Relativa nos Campeonatos Femininos Brasileiros de Basquetebol

*p<0,05

    A Tabela 2 mostra que apenas no campeonato sub-15 anos a maior parte das atletas nasceram no primeiro semestre. Para os outros campeonatos, não houve diferença estatisticamente significante.

Tabela 2. Comparação da Idade Relativa por Semestre nos Campeonatos Femininos Brasileiros de Basquetebol

*p<0,05

    Já que para as atletas profissionais e para as atletas que disputaram o campeonato sub-19 anos não houve diferença significativa na comparação entre os quartis e entre os semestres de nascimento, não foi necessário para estes grupos realizar a comparação direta entre quartis. Como mostra a Tabela 3, para as atletas do campeonato brasileiro sub-15 anos, o quarto quartil foi sub-representado em comparação aos outros, o que indica que as atletas nasceram num período mais próximo ao início do ano.

Tabela 3. Comparação entre Quartis de Nascimento para os Campeonatos Femininos Brasileiros de Basquetebol

*p<0,05

Discussão

    O objetivo do estudo é verificar se a distribuição das datas de nascimentos de atletas do basquetebol feminino brasileiro, tanto profissionais quanto atletas de categoria de base, indica um efeito da idade relativa na formação destas atletas. Como mostrou os resultados, as atletas da categoria sub-15 anos nasceram mais próximo ao início do ano. As atletas do campeonato profissional (LNB, temporada 2011-2012) e do campeonato brasileiro sub-17 anos entre seleções estaduais de 2011, não houve prevalência de um período de nascimento sobre os outros. Tais dados demonstram que há uma tendência de que, à medida que as atletas foram atingindo a maturidade física, o efeito da idade relativa se dilui. Um aspecto que explica a diluição do efeito da idade relativa é o tempo de treinamento das atletas. Ericsson e Lehmann (1996) explicam que ao passo que os atletas se dedicam ao treinamento, diminui-se a diferença de desempenho em comparação aos pares ditos excepcionais no início da prática.

    Tais achados corroboram com Almeida e Palma (2011) que estudaram atletas de futebol feminino nos Campeonatos Mundiais Sub-17 e Profissional e relataram que o efeito da idade relativa parece não fazer efeito significativo para essas categorias. Em um estudo realizado por Delorme, Boiché e Raspud (2010), em que os autores analisaram jogadoras federadas francesas de futebol na temporada 2006-2007, e, distribuídas desde a categoria de base até adulta, encontraram diferenças estatísticas significativas para todas as categorias de base, já na categoria adulta não ocorreu o efeito da idade relativa.

    Em esportes em que a altura, peso, força e velocidade são fatores determinantes, tal como o basquetebol, a influência da idade relativa nos primeiros anos de competição é mais acentuado (Delorme et al. 2010). Os achados de Delorme e Raspaud (2009) concordam com esta visão uma vez que encontraram efeito da idade relativa em garotos e garotas francesas, praticantes de basquete com idades entre 7 a 18 anos. Porém, o efeito parece ser maior na fase da puberdade. A categoria sub-15 anos está próxima à fase de iniciação, já que de acordo com Greco e Benda (1998), Cotê (1999) e Paes e Balbino (2005) geralmente os atletas de basquetebol iniciam a prática esportiva formal em equipes até os 13 anos de idade. Ou seja, nesta categoria o efeito da idade relativa tende a ser mais acentuado.

    No contexto do basquetebol feminino brasileiro, mesmo que nas categorias sub-17 anos e profissionais não houve diferenças entre os períodos de nascimentos dos atletas, não significa que estas atletas não sofram de certa forma com os efeitos da idade relativa, já que, teoricamente, muitos indivíduos com um bom potencial para serem atletas de alto nível foram, em tese, preteridas na seleção dos clubes por apresentaram um menor desempenho atlético devido ao efeito da idade relativa na fase de iniciação do esporte.

    A competitividade para se formar equipes e seleções é um fator que realça o efeito da idade relativa (Cobley, Baker, Wattie e Mckenna, 2009). Treinadores buscam descobrir atletas com alto desempenho em idades precoces, e muitas vezes a seleção dos atletas é influenciada pelo efeito da idade relativa. Os treinadores esportivos, frequentemente, erram em predizer qual jogador irá se tornar profissional no processo de formação (Moraes e Medeiros Filho, 2006). O estudo de Esteva et al. (2006), ao pesquisar a realidade do basquetebol espanhol, verificou o efeito da idade relativa em jogadores dos principais clubes do país, sendo as categorias de base as mais afetadas pelo efeito. No mesmo estudo, não houve efeito da idade relativa para atletas da NBA. Nos Estados Unidos, o jogador de basquetebol é selecionado para as equipes de categoria de base ao longo do ano. A cultura é outro fator importante. O basquetebol é jogado nas ruas, os jogadores praticam diariamente criando e seguindo suas próprias metas. Esta característica permite a adaptação dos atletas ao jogo e à aplicação de recursos individuais durante o período de desenvolvimento psicofísico do atleta. Confirmando esta tendência, o estudo de Reis et al. (2014a), mostrou que o efeito da idade relativa está presente em atletas profissionais brasileiros que disputam o Novo Basquete Brasil e a Euroliga.

    Ao passar das categorias, muitos atletas abandonam o esporte influenciados pelo o efeito da idade relativa. Segundo Delorme, Chalabaev e Raspaud (2011) houve uma representação grande de indivíduos nascidos nos últimos meses do ano entre a população que abandonou o esporte precocemente (drop out esportivo) em um estudo com mais de 70.000 jogadores franceses de basquetebol, homens e mulheres e com idades entre 9 e 16 anos. Atletas com maturação biológica mais avançada em tese têm desempenhos melhores que os seus pares menos privilegiados. E de acordo com os autores, atletas que percebem que o desempenho não é o adequado tendem a abandonar o esporte precocemente.

Conclusão

    Apenas no campeonato sub-15 anos houve uma diferença significativa na distribuição das datas de nascimento pelos quartis, o que indica o efeito da idade relativa. Para os outros campeonatos o efeito da idade relativa foi amenizado. Tal situação indica que o efeito da idade relativa é mais proeminente enquanto as atletas são mais jovens, ainda nos anos iniciais da categoria de base. Esta situação deve ser analisada por treinadores e militantes do esporte para se estabelecer ferramentas e sistemas adequados de seleção, formação e treinamento dos atletas, o que ajudaria formar atletas do basquetebol feminino com desempenho de excelência. Outros estudos devem ser realizados para verificar a presença do efeito da idade relativa em outras atletas do basquetebol feminino.

Bibliografia

Outros artigos em Portugués

www.efdeportes.com/

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 22 · N° 230 | Buenos Aires, Julio de 2017  
Lecturas: Educación Física y Deportes - ISSN 1514-3465 - © 1997-2017 Derechos reservados