Estudo sobre lombalgias atendidas em um hospital público da cidade de Porteirinha, Minas Gerais Study on lumbago attended in a public hospital of city Porteirinha, Minas Gerais Estudio sobre lumbalgias atendidas en un hospital público en la ciudad de Porteirinha, Minas Gerais |
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*Médico especialista em ortopedia. Pós-graduando em Medicina do Trabalho pelas Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros. Médico na Santa Casa de Misericórdia e Hospital São Vicente de Paulo **Enfermeiro mestrando do Programa de Inovação e Tecnologia em Enfermagem da EERP-USP. Especialista em Enfermagem do Trabalho e em Docência na Saúde Docente na Faculdade Presidente Antônio Carlos de Porteirinha |
Zilton Nunes de Aguiar* Ernandes Gonçalves Dias** (Brasil) |
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Resumo O estudo teve como objetivo realizar um estudo sobre as lombalgias laborais através do prontuário de pacientes atendidos na Santa Casa de Misericórdia e Hospital São Vicente de Paulo em Porteirinha. Trata-se de um estudo descritivo de análise documental e abordagem quantitativa, realizado com 54 prontuários de pacientes atendidos no período de março a maio de 2015 no referido hospital. Os resultados indicaram que nos prontuários pesquisados, as lombalgias acontecem em maior parte às mulheres (61,11%), com idade entre 45 a 55 anos (25,93%). Tinham baixa escolaridade, 38,89% possuíam o ensino fundamental incompleto, e 29,63% eram domésticas. Convivem com o diagnóstico entre 2 e 4 anos (27,77%), em 79,63% a lombalgia é crônica. As queixas mais frequentes foram dor latejante (21,08%), dor em forma de pontadas (20,41%), formigamento (17,69%), sensação de aperto (12,93%) e queimação (12,93%). As causas mais frequentes registradas nos prontuários foram postura incorreta (28,99%), bico de papagaio (14,20%), osteoartrose (13,61%), condicionamento físico inadequado (10,06%), hérnia de disco (6,51%) e trauma físico (5,92%). Conclui-se que o trabalhador, independente de seu vínculo de trabalho necessita de ações de educação em saúde e participar de programas de prevenção de lombalgias. Unitermos: Dor lombar. Dor. Ortopedia.
Abstract The study aimed to conduct a study on industrial back pain from the hospital records of patients treated at the Santa Casa de Misericordia Hospital and St. Vincent de Paul in Porteirinha. This is a descriptive study of document analysis and quantitative approach, performed with 54 medical records of patients seen in the period from March to May 2015 in that hospital. The results indicated that in the researched records, low back pain occur in most women (61.11%), aged 45-55 years (25.93%). Had low education, 38.89% had not finished elementary school, and 29.63% were domestic. Living with diagnosed between 2 and 4 years (27.77%), 79.63% for low back pain is chronic. The most frequent complaints were throbbing pain (21.08%), pain in the form of twinges (20.41%), tingling (17.69%), tightness (12.93%) and burning (12.93%). The most frequent causes registered in the records were incorrect posture (28.99%), parrot's beak (14.20%), osteoarthritis (13.61%), inadequate physical conditioning (10.06%), disc herniation (6.51%) and physical trauma (5.92%). We conclude that the employee, regardless of their employment relationship needs education actions in health and participate in back pain prevention programs. Keywords: Low Back Pain. Pain. Orthopedics.
Resumen El presente artículo tuvo como objetivo realizar un estudio sobre las lumbalgias laborales a través de la historia clínica de pacientes atendidos en la Santa Casa de Misericordia y Hospital São Vicente de Paulo en Porteirinha. Se trata de un estudio descriptivo de análisis documental y abordaje cuantitativo, realizado con 54 historias clínicas de pacientes atendidos en el período de marzo a mayo de 2015 en el referido hospital. Los resultados indicaron que en las historias clínicas investigadas, las lumbalgias ocurren en mayor medida a las mujeres (61,11%), con edad entre 45 a 55 años (25,93%). Tenían baja escolaridad: el 38,89% poseía la escuela primaria incompleta, y el 29,63% eran empleadas domésticas. Conviven con el diagnóstico entre 2 y 4 años (27,77%), en 79,63% la lumbalgia es crónica. Las quejas más frecuentes fueron dolor de pulso (21,08%), dolor en forma de puntadas (20,41%), hormigueo (17,69%), sensación de apriete (12,93%) y quemazón (12,93%). Las causas más frecuentes registradas en las historias clínicas fueron una postura incorrecta (28,99%), pico de loro (14,20%), osteoartrosis (13,61%), acondicionamiento físico inadecuado (10,06%), hernia de disco (6,51%) y trauma físico (5,92%). Se concluye que el trabajador, independiente de su vínculo de trabajo precisa intervenciones de educación en salud y participar en programas de prevención de lumbalgias. Palabras clave: Dolor lumbar. Dolor. Ortopedia.
Recepção: 26/03/2016 - Aceitação: 07/06/2017
1ª Revisão: 20/04/2017 - 2ª Revisão: 03/06/2017
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Lecturas: Educación Física y Deportes, Revista Digital. Buenos Aires - Año 22 - Nº 229 - Junio de 2017. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A coluna vertebral constitui o eixo central do corpo humano e para o funcionamento correto é necessário o equilíbrio das peças que o constitui. Porém a coluna está constantemente submetida a mudanças posturais e ao suporte de diferentes cargas, o desalinhamento dessas peças ocorre com frequência, o que caracteriza a incidência de dor lombar (Reis et al., 2005).
Segundo Cipriano, Almeida e Vall (2011) as dores lombares são as alterações musculoesqueléticas mais comuns nas sociedades industrializadas, acometendo em torno de 75% da população de ambos os sexos. No Brasil sua epidemiologia ainda é pouco descrita, porém em nível mundial afeta aproximadamente 30% da população.
Pires e Dumas (2008) explicam que as dores são decorrentes ao esforço requerido para atividades do trabalho e da vida diária. Sendo evidenciadas como sinais clínicos, a imobilidade e a deformidade antálgica para as quais, as tentativas de movimento podem produzir dor.
Na visão de Araújo, Olivira e Liberatori (2012) a lombalgia é um importante fator que leva à diminuição da capacidade funcional do ser humano. Provoca redução na qualidade de vida, produtividade e incapacidade funcional e representa impacto social e econômico.
Conforme Ribeiro (2010) as lombalgias são passíveis de prevenção através da utilização de recursos simples como a educação em saúde, em função dessa característica acredita-se que os investimentos em prevenção devam ser mais concentrados no nível primário de atenção.
A etiologia da lombalgia é objeto de estudo e a terapêutica contemporânea baseia-se essencialmente no controle dos seus sintomas (Araújo; Oliveira; Liberatori, 2012).
Ribeiro (2010) reforça que é preciso lembrar que as lombalgias não levam à morte e geralmente não causam grandes números de internações, por esse motivo, existe uma tendência de menosprezar seus efeitos. No entanto deve-se considerar que a consequência mais importante a ser lembrada é a incapacidade funcional que afeta o indivíduo pelo resto da vida, comprometendo o trabalho, o lazer e as inter-relações pessoais e sociais.
Nesse sentido Barros, Ângelo e Uchôa (2011) afirmam que essa morbidade é frequente na população economicamente ativa e dentre outras fatores pode esta associada à determinadas condições de trabalho, especialmente em atividades ocupacionais em que o trabalhador permanece sentado em condições antiergonômicas por tempo prolongado.
Nas lombalgias relacionadas ao trabalho recomenda-se a instituição da prática da Ginástica Laboral por se mostrar eficaz na diminuição da intensidade e frequência da dor, e na correção dos hábitos posturais durante o trabalho, assim, a Ginástica Laboral pode ser uma ferramenta capaz de produzir efeitos positivos sobre a dor lombar nos trabalhadores (Candotti; Stroschein; Noll, 2011).
De acordo Abreu e Ribeiro (2010) é grande a quantidade de recursos e tempo gastos com as vítimas desta morbidade, sendo mais oneroso aos cofres públicos e privados manter o afastamento da produtividade profissional, do que investir em um tratamento de reabilitação adequado, o que justifica as ações de prevenção.
Os resultados obtidos por Pereira N., Ferreira e Pereira W. (2010) em um estudo com o objetivo de avaliar a efetividade de exercícios de estabilização segmentar sobre a dor e a capacidade funcional em indivíduos com lombalgia, demonstram que um programa de seis semanas de exercícios de estabilização com frequência de duas vezes semanais é efetivo na redução da dor e na incapacidade funcional.
Considerando a importância do estudo das lombalgias, este estudo objetiva-se realizar, por meio dos prontuários dos pacientes atendidos na Santa Casa de Misericórdia e Hospital São Vicente de Paulo com diagnóstico de lombalgia, um estudo da incidência desse agravo.
Metodologia
O desenvolvimento do estudo deu-se a partir de uma pesquisa descritiva de análise documental e abordagem quantitativa, realizada na Santa Casa de Misericórdia e Hospital São vidente de Paulo, município de Porterinha-MG.
Para coleta de dados foi formulado pelo pesquisador um instrumento estruturado em 4 dimensões, a saber: perfil do paciente, tempo de convívio com a lombalgia, características das queixas dos pacientes e causa da lombalgia.
A coleta de dados ocorreu no período de 26 de março de 2015 a 15 de maio de 2015 no período matutino. O método de coleta de dados foi censitário, com consulta direta no prontuário do paciente com diagnóstico médico de lombalgia atendido no serviço de ortopedia da Santa Casa de Misericórdia e Hospital São Vicente de Paulo. O serviço de ortopedia realizava notificação direta aos pesquisadores dos casos de lombalgias atendidos e por sua vez os pesquisadores levantavam as informações consideradas relevantes a este estudo.
Dessa forma, foram consultados 54 prontuários de pacientes com diagnóstico de lombalgia, atendidos no serviço supracitado. Vale deixar claro que o paciente que retornou para consulta ainda no período de coleta de dados, seu prontuário não foi reavaliado, por considerar que as informações coletadas em primeira análise já seriam suficientes para este estudo.
Mediante abordagem quantitativa os dados foram organizados e tabulados submetidos ao programa de computador da Microsoft, o Excel, versão 2010 para formatar os dados em tabelas para facilitar o entendimento dos dados. Seguindo o rigor metodológico todos os dados levantados foram confrontados com dados da literatura atual, a fim de comparar estes resultados com os trabalhos de outros autores.
Resultados e discussões
Para caracterização do perfil dos portadores de lombalgias foi considerado as variáveis sexo, idade e escolaridade.
Os dados da Tabela 1 mostram que entre os prontuários pesquisados 33 (61,11%) são de mulheres e 21 (38,89%) de homens. Observou-se uma prevalência de lombalgias no sexo feminino. Estes dados corroboram com os resultados encontrados por Barros, Ângelo e Uchôa (2011), ao realizar um estudo em uma instituição de ensino superior da cidade de Recife, com 239 funcionários com o objetivo de investigar a provável relação existente entre lombalgia e atividades laborais executadas, onde verificaram que 64,2% das mulheres e 56,9% dos homens apresentam dor lombar.
A idade dos sujeitos conforme informações dos prontuários variou de 11 à 83 anos, sendo 14 (25,93%) na faixa etária de 45 a 55 anos, 10 (18,52%) de 55 a 65, 9 (16,67%) de 35 a 45, 7 (12,96%) de 11 a 25, outros 7 (12,96%) de 25 a 35, 4 (7,41%) de 65 a 75, 2 (3,70%) de 75 a 83 e em 1 (1,85%) prontuário a idade do sujeito foi ignorada. Percebe-se nos dados coletados que a lombalgia ocorre em faixa etárias variadas, com prevalência aumentada a medida que a pessoa envelhece. Neste estudo a prevalência de lombalgia ocorreu de 45 a 55 anos.
Esses dados são condizentes com os encontrados por Cipriano, Almeida e Vall (2011), em um estudo realizado com 111 pacientes atendidos no ambulatório de dor do Instituto de Neurologia de Curitiba com o objetivo de traçar o perfil desses pacientes, observaram que a ocorrência de lombalgia foi prevalente na faixa etária de 40 a 49 anos, 32,4% da população estudada.
Conforme Rosito (2012) com o envelhecimento do indivíduo pode desenvolver distúrbios osteomusculares e articulares, sendo que as lombalgias estão entre as mais prevalentes e sintomáticas com o avançar da idade.
Quanto à escolaridade registrada nos prontuários observou-se que 21 (38,89%) possuíam o ensino fundamental incompleto, 10 (18,52%) eram analfabetos, outros 10 (18,52%) tinham o Ensino Médio completo, 8 (14,81%) o ensino fundamental completo, 3 (5,56%) o ensino superior incompleto, 1 (1,85%) o ensino médio completo e em 1 (1,85%) outro prontuário registrou-se a escolaridade como superior completo.
No estudo de Almeida et al. (2008) realizado em Salvador-BA com 2.297 a fim de estimar a prevalência de lombalgia na população, observaram que a prevalência de dor lombar crônica no total da população foi de 14,7%, com diferenças estatisticamente significantes entre os maiores de 60 anos (18,3%) e marcante associação com baixo nível de escolaridade (42,6%).
Segundo Abreu e Ribeiro (2010) o nível de escolaridade é inversamente associado à prevalência de dor lombar, ou seja, os trabalhadores com baixa escolaridade ocupam funções menos especializadas e fica sujeito a condições mais prováveis de desencadear lombalgias. Ressaltam que o efeito da baixa escolaridade sobre o desfecho da atividade profissional é mediado pela maior exposição às cargas ergonômicas, tanto no domicílio quanto no trabalho.
Tabela 1. Perfil dos pacientes acometidos por lombalgia atendidos na Santa Casa de Misericórdia
e Hospital São Vicente de Paulo, segundo a idade registrada no prontuário do paciente. Porteirinha-MG, 2015
Fonte: Prontuários, Santa Casa de Misericórdia e Hospital São Vicente de Paulo, 2015
Conforme os dados referentes à profissão mostrados na Tabela 1, colhidos nos prontuários pesquisados, 16 (29,63%) são domésticas, 13 (24,07%) são lavradores, 12 (22,22%) são aposentados, 05 (9,26%) são pedreiros, 04 (7,41%) são atendentes comerciais, 03 (5,56%) são carroceiros e 01 (1,85%) é professor.
No estudo de Cipriano, Almeida e Vall (2011) quanto à profissão, os pesquisados eram autônomos (17,1%), trabalhadores da área administrativa (15,3%), área de produção (12,6%), profissional da saúde (10,8%), domésticas (10,8%), bancários (4,5%) e outras funções (28,8%).
A Tabela 2 trata do tempo em o que paciente convive com a lombalgia conforme informações registradas nos prontuários. Dessa forma nota-se que em 15 (27,77%) prontuários o tempo de convívio com a dor lombar foi registrada que como iniciada entre 2 e 4 anos, 13 (24,07%) entre 5 e 7 anos, 9 (16,66%) a 8 anos ou mais, 5 (9,26%) tiveram a lombalgia iniciada subitamente, 3 (5,56%) entre 1 semana e 1 mês, 3 (5,56%) entre 1 e 3 meses, 3 (5,56%) entre 3 e 6 meses e outros 3 (5,56%) convivem com a lombalgia entre 6 meses e 1 ano. Observa-se que conforme os dados registrados nos prontuários a maioria dos pacientes atendidos convivem com a lombalgia por um longo período de tempo.
Tabela 2. Tempo de convívio com a lombalgia e classificação dos pacientes atendidos na Santa Casa
de Misericórdia e Hospital São Vicente de Paulo, segundo registro no prontuário do paciente. Porteirinha-MG, 2015
Fonte: Prontuários, Santa Casa de Misericórdia e Hospital São Vicente de Paulo, 2015
No estudo realizado por Pataro (2011) com 624 trabalhadores da limpeza urbana em Salvador-BA foi verificado que a maioria dos participantes apresentava e convivia com sintomas de lombalgia entre 3 e 6 anos (53,7%). Esses dados são semelhantes ao encontrados nesta pesquisa.
Os dados da Tabela 2 ainda permitiram classificar a lombalgia no cursar do tempo, conforme registro no prontuário e que se observa na Tabela 2, 43 (79,63%) pacientes têm lombalgia crônica e 11 (20,37%) têm lombalgia aguda.
No estudo realizado por Silva, Fassa e Valle (2002) com 3182 indivíduos na população geral, acima de 20 anos, em Pelotas/RS a fim de determinar a prevalência de dor lombar crônica verificaram que 4,12% tinham lombalgia crônica.
A lombalgia aguda pode ser desencadeada por algum movimento inesperado, pelo levantamento de peso ou por mudanças climáticas, apesar do surgimento súbito da dor, relacionado com o movimento, ela aumenta gradualmente alcançando seu auge após algumas horas. Geralmente tem uma resolução espontânea, porém pode representar o início de um processo degenerativo do disco intervertebral, que se traduzirá na dor lombar crônica. Esta, persiste após 3 meses, no caso, do segmento lombossacral e ocorre devido à perda da elasticidade e do volume do disco intervertebral, como consequência do envolvimento das articulações intervertebrais e dos músculos (Pires; Dumas, 2008).
Os dados da Tabela 3 mostram as características das queixas registradas nos prontuários dos pacientes com lombalgia. Em 31 (21,08%) casos houve queixa de dor latejante, em 30 (20,41%) dor em forma de pontadas, 26 (17,69%) presença de formigamento, 19 (12,93%) sensação de aperto, 19 (12,93%) presença de queimação, 09 (6,12%) queixas de fisgadas, 06 (4,08%) dor fina, 05 (3,40%) dor em forma de agulhadas e em 2 (1,36) prontuários percebeu-se queixas de dor radiante. Com base nessas informações é possível compreender que os pacientes com lombalgia apresentam queixas com características diversas e associadas.
No estudo realizado por Siqueira, Cahú e Vieira (2008) em Recife-PE com 56 sujeitos, observaram a presença de lombalgia em 78,58% da amostra, quanto às características da dor lombar observaram dor localizada em 59,02%, dor irradiada para os membros inferiores em 24,59%, dor em queimação em 13,11% e dor latejante em 3,28% dos sujeitos com lombalgia.
Tabela 3. Características das queixas dos pacientes acometidos por lombalgia atendidos na Santa Casa
de Misericórdia e Hospital São Vicente de Paulo, segundo registro no prontuário do paciente. Porteirinha-MG, 2015
Fonte: Prontuários, Santa Casa de Misericórdia e Hospital São Vicente de Paulo, 2015
A Tabela 4 registra as causas das lombalgias conforme registro nos prontuários dos pacientes. Em 49 (28,99%) casos a lombalgia esteve relacionada à postura, em 24 (14,20%) ao bico de papagaio, em 23 (13,61%) à osteoartrose, em 17 (10,06%) ao condicionamento físico inadequado, em 11 (6,51%) à hérnia de disco, em 10 (5,92%) a trauma físico, em outros 10 (592%) ao abaulamento discal, em 7 (4,14%) devido à compressão da raiz nervosa, em outros 7 (4,14%) pela protusão discal, em 6 (3,55%) por fatores emocionais, em 4 (2,37%) por degeneração discal e em 1 (0,59%) a causa foi associada à estenose de canal. Pela análise dessas informações é possível compreender que a lombalgia se manifesta de forma multicausal, sendo prevalente neste estudo ao comportamento relacionado à postura.
Tabela 4. Causas da lombalgia dos pacientes atendidos na Santa Casa de Misericórdia e Hospital
São Vicente de Paulo, segundo registro no prontuário do paciente. Porteirinha-MG, 2015
Fonte: Prontuários, Santa Casa de Misericórdia e Hospital São Vicente de Paulo, 2015
De acordo Macedo e Blank (2006) por ser na maioria das vezes de etiologia multifatorial, a busca de uma única causa ou mesmo da principal causa geradora da lombalgia é uma tarefa extremamente difícil.
Conforme Helfenstein Júnior, Goldenfum e Siena (2010) na gênese da lombalgia estão envolvidos fatores de risco individuais e profissionais. Os mais frequentes fatores de risco individuais são: a idade, o sexo, o desequilíbrio muscular, a capacidade de força muscular, as condições socioeconômicas e a presença de outras enfermidades. Os fatores de risco profissionais mais identificados envolvem as movimentações e as posturas incorretas decorrentes das inadequações do ambiente de trabalho, das condições de funcionamento dos equipamentos disponíveis, bem como das formas de organização e de execução do trabalho.
Os fatores causais mais diretamente relacionados com as lombalgias ocupacionais são os mecânicos, os posturais, os traumáticos e os psicossociais (Brigano; Macedo, 2005).
Conclusões
De maneira geral percebeu-se que as lombalgias são multicausais, incidente em ambos os sexo, com prevalência no sexo feminino, com baixa escolaridade e se intensifica com o avançar da idade. Isso pode está relacionado à própria constituição do arcabouço físico da mulher e alterações fisiológicas que ocorrem com o envelhecimento, além de está relacionado às condições do trabalho, que às vezes é penoso ao trabalhador, que em função da baixa escolaridade exerce funções não muito especializadas.
Esse agravo merece atenção dos gestores, empregadores e trabalhadores da saúde, pois pode deixar marcas no estilo de vida da pessoa, causando abalos na estrutura familiar, laboral e financeira da família, além de comprometer a saúde física e psíquica.
Conclui-se que o trabalhador, independente de seu vínculo de trabalho necessita de ações de educação em saúde e participar de programas, como por exemplo, de ginástica laboral ou realizar ações individuais de fortalecimento da musculatura. As educações em saúde devem abordar temas como a pratica de atividade física regular, ergonomia, estilo de vida saudável, entre outros.
Dessa forma, espera-se que este trabalho contribua para melhoria das condições de trabalho e reflexão dos trabalhadores, gestores e profissionais de saúde quanto às condições de trabalho, e como elas influenciam na produtividade e qualidade de vida das pessoas. Sugere-se que novas pesquisas sejam desenvolvidas sobre a temática para que traga novas perspectivas para desenvolvimento de ações voltadas a educação, conscientização e prevenção das lombalgias.
Bibliografia
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