Epistemologia das Ciências do Movimento Humano: contribuições iniciais para discentes Epistemology of Movement Human Sciences: initial contributions to students and teachers Epistemología de la Ciencias del Movimiento Humano: aportaciones iniciales para estudiantes |
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Professor Mestre em Educação Física Doutorando em Ciências do Movimento Humano – UNIMEP – SP Professor Universitário – USCS, UNINOVE, UNICID |
José Ricardo Auricchio (Brasil) |
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Resumo Ainda hoje muitos alunos dos cursos de pós-graduação têm dúvidas sobre a base epistemológica de suas pesquisas, qual método científico e qual o tipo de pesquisa que está desenvolvendo. Neste trabalho buscamos contribuições de autores clássicos, buscando contribuir com alunos iniciantes em cursos de pós-graduação stricto sensu, apresentando alguns métodos científicos que vem sendo utilizados na área das ciências da saúde. Uma ênfase é colocada sobre a área das ciências do movimento humano, mostrando que as disciplinas divergem em seus métodos científicos e objetos de estudo, não visando um trabalho interdisciplinar que resulte na análise da cultura corporal de movimento, através de múltiplos olhares. Cada qual pensa nas suas publicações que são avaliadas pela CAPES, órgão que regulamenta os programas de pós-graduação no Brasil o que chamamos de “A regra do jogo”. Unitermos: Epistemologia. Ciências do movimento humano. Método científico. CAPES.
Abstract Even today many students of graduate courses have doubts about the epistemological basis of his research, which the scientific method and the kind of research that is developing. In this paper we seek contributions of classic authors, seeking to contribute to beginning students in post- graduate studies courses, with some scientific methods that have been used in the area of health sciences. An emphasis is placed on the area of human movement sciences, showing that disciplines differ in their scientific methods and objects of study, not seeking an interdisciplinary work that results in the analysis of body culture movement through multiple looks. Each thinks in his publications that are evaluated by CAPES, the body that regulates postgraduate programs in Brazil what we call " The rule of the game". Keywords: Epistemology. Human movement science. Scientific method. CAPES.
Resumen Actualmente muchos estudiantes de cursos de postgrado tienen dudas acerca de la base epistemológica de la investigación, qué el método científico y el tipo de investigación que se está desarrollando. En este trabajo estudiamos aportes de autores clásicos, que buscan ayudar a estudiantes principiantes en cursos de postgrado, con algunos métodos científicos que se han utilizado en el área de ciencias de la salud. El énfasis se pone en el área de las ciencias del movimiento humano, mostrando que las disciplinas difieren en sus métodos y objetos de estudio científico, no buscando un trabajo interdisciplinario que se traduce en el análisis de movimiento de la cultura del cuerpo a través de múltiples miradas. Cada quien considera en sus publicaciones que son evaluadas por CAPES, el organismo que regula los programas de postgrado en Brasil lo que llamamos "La regla del juego". Palabras clave: Epistemología.Ciencias del movimiento humano. Método científico. CAPES.
Recepção: 14/12/2015 - Aceitação: 19/04/2017
1ª Revisão: 27/03/2017 - 2ª Revisão: 15/04/2017
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Lecturas: Educación Física y Deportes, Revista Digital. Buenos Aires - Año 22 - Nº 228 - Mayo de 2017. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A ciência como conhecemos hoje, nasceu na modernidade, quando se fez uma crítica ao modelo metafísico, hegemônico na Antiguidade e na Idade Média, fundado na crença de que nós podíamos, com as luzes da nossa razão, chegar a essência das coisas, dos entes e objetos. A partir do Renascimento esse modelo começa a ser questionado, negando a possibilidade do acesso à essência das coisas, apenas podendo conhecer os fenômenos (Severino, 2007).
A concepção sobre o que é ciência e seus métodos é a base das ideias que vamos apresentar neste texto produzido através de pesquisa bibliográfica dentro da disciplina de bases epistemológicas das ciências do movimento humano, fomentando uma discussão sobre o que é ciência e quais métodos científicos devem ser utilizados nas pesquisas nesta área, abordando autores clássicos e contemporâneos.
Colocamos ainda a discussão sobre as regras do jogo da CAPES nos programas de pós-graduação stricto sensu e qual o papel dos docentes de ensino superior dentro desse jogo de produção de conhecimento e publicação de artigos científicos e livros, fonte da sobrevivência dos programas de pós-graduação no Brasil.
Nosso objetivo com este trabalho é contribuir para que discentes de cursos stricto sensu entendam como encontrar a base epistemológica de seus trabalhos já alertando-os para as “regras do jogo”.
Desenvolvimento
No século XVII Francis Bacon formou os princípios da indução científica, onde proposições eram elaboradas á partir da observação dos fatos.Esse modelo sofreu adaptações, porém é utilizado até os dias atuais (Dias e Silva, 2009; Chalmers, 1993).
A partir do século XIX os estudos em relação as ciências avançam e obtêm êxito nas ciências naturais, que passa a ser objeto de estudo privilegiado da filosofia (Carvalho, 2012).
Já no século XX em meados da década de 1920 nasce em Viena na Áustria um movimento filosófico denominado “Círculo de Viena” onde através de encontros de filósofos e cientistas acaba-se criando a corrente epistemológica do empirismo lógico ou positivismo lógico. Tiveram como principais influências as ideias positivistas de Mach e Comte, a lógica de Russell, Whitehead, Peano e Frege, e os novos paradigmas da física contemporânea de Einstein. O objetivo do Círculo era desenvolver uma nova filosofia da ciência dentro de um espírito rigoroso, por intermédio de uma linguagem lógica, e fundamentar na lógica uma ciência empírico-formal da natureza empregando procedimentos lógicos e rigor científico (Carvalho, 2012; Oliva, 1990).
No início da década de 1930 com a morte de alguns membros e o afastamento de outros, chega ao fim o círculo de Viena, mas sua corrente epistemológica influenciou pensadores como Popper, Kuhn, Lakatos e Feyerabend (Oliva, 1990).
Karl Popper era classificado como empirista lógico ou neopositivista, divergindo do Círculo de Viena em alguns pontos. Estudou a teoria da relatividade de Einstein e as teorias de Max, Freud e Adler. Criticou o método indutivista e a ciência empírica, pois através do método que propôs as teorias deveriam ser testadas com hipóteses e a partir dai poderiam ser refutadas ou falseadas. Para ele, a ciência consiste num conhecimento conjectural, evoluindo a partir de hipóteses que para serem úteis à ciência deverão ser falsificáveis, é o falsificacionismo popperiano (Carvalho, 2012; Dias e Silva, 2009).
Kuhn (1975) nos traz críticas ao método de Popper e apresenta uma ciência revolucionária, com base nas dimensões históricas, sociais e psicológicas da pesquisa científica. Sua teoria gravita em torno de quatro categorias: ciência normal, paradigma, crise e revolução.
Sobre paradigmas:
“Considero ‘paradigmas’ as realizações científicas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma ciência“ (Kuhn, 1975 p.13).
Sobre ciência normal:
A ciência normal, atividade na qual a maioria dos cientistas emprega inevitavelmente todo o seu tempo, é baseada no pressuposto de que a comunidade científica sabe como é o mundo. Grande parte do sucesso do empreendimento deriva da disposição da comunidade para defender esse pressuposto - com custos consideráveis, se necessário. Por exemplo, a ciência normal freqüentemente suprime novidades fundamentais, porque estas subvertem necessariamente seus compromissos básicos (Kuhn, 1975 p.24).
Sobre as revoluções científicas:
(...) nos ocuparemos repetidamente com os momentos decisivos essenciais do desenvolvimento científico associado aos nomes de Copérnico, Newton, Lavoisier e Einstein. Mais claramente que muitos outros, esses episódios exibem aquilo que constitui todas as revoluções científicas, pelo menos no que concerne à história das ciências físicas. Cada um deles forçou a comunidade a rejeitar a teoria científica anteriormente aceita em favor de uma outra incompatível com aquela (Kuhn, 1975 p.25).
Morin (2002) trata da complexidade que surge entre as teorias da ciência, mas que não foi tratada epistemologicamente por Popper, Kuhn, Feyrabend ou Lakatos em seus estudos. Segundo o autor, apenas Bacharelad se preocupou com essa questão, que reapareceu nos anos 50 na teoria da informação de Warrer Weaver.
O mesmo autor ainda coloca que hoje o problema da complexidade nas ciências é colocado devido enorme transformação que está a operar-se nas ciências da natureza e dos homens.
Em relação aos estudos com base no empirismo, podemos colocar que a primeira atividade da ciência é a observação dos fatos, porém, estes não se explicam por si só, é preciso problematizar em cima dessa observação de forma lógica, onde se criam as hipóteses. Assim, o método científico é caracterizado por duas fases: indutiva (experimental) e dedutiva (matemática) (Severino, 2007; Chalmers, 1993).
A próxima atividade da ciência então é a verificação experimental dessa hipótese (proposição explicativa provisória de relações entre fenômenos, a ser comprovada ou infirmada pela experimentação), isolando-se em condições laboratoriais as variáveis que se supõem em relação e observando-se o seu comportamento. Se confirmada a hipótese tem-se então uma lei, que por sua vez em conjunto, formam uma teoria (Severino, 2007).
A produção do conhecimento através da aplicação do método experimental matemático possibilitou a constituição das ciências naturais, formando assim o sistema das ciências da natureza, utilizando-se de técnicas operacionais, aprimorando as técnicas de observação, experimentação e mensuração, sem influências da nossa subjetividade.
Esse paradigma teórico-metodológico das ciências naturais é representado pelo positivismo de Augusto Comte, sendo esse uma expressão da filosofia moderna entendendo que o sujeito põe o conhecimento a respeito do mundo, mas o faz a partir da experiência que tem da manifestação dos fenômenos (Severino, 2007).
O estudo metodológico e reflexivo do saber, de sua organização, de sua formação, de seu desenvolvimento, de seu funcionamento e de seus produtos intelectuais podemos considerar por epistemologia (Japiassu, 1975).
“O conhecimento é o referencial diferenciador do agir humano em relação ao agir de outras espécies” (Severino, 2007, p.27).
De acordo com a frase acima, o conhecimento é então de vital importância para o futuro da humanidade e fundamental na construção de seu destino. Porém, como se dá a construção desse conhecimento na atualidade?
O conhecimento está intimamente ligado à educação, pois essa se legitima através deste, podendo mesmo ser conceituada como “(...) o processo mediante o qual o conhecimento se produz, se reproduz, se conserva, se sistematiza, se organiza, se transmite e se universaliza”. Sendo caracterizada de modo radicalizado pela educação universitária (Severino, 2007 p.28).
Uma das funções da universidade é a pesquisa, formando o tripé junto com ensino e extensão. A tradição na pesquisa universitária é realizada através dos cursos de pós-graduação stricto sensu, programas de iniciação científica e ainda pela exigência curricular dos trabalhos de conclusão de curso na graduação.
Para Severino (2007) a pesquisa faz parte da vida acadêmica e da docência universitária, onde para se lidar com o conhecimento é preciso construí-lo efetivamente mediante uma atitude sistemática de pesquisa, através de procedimentos apoiados na competência técnico-científica.
Com isso, a carreira de docente universitário em nosso país está intimamente ligada a pesquisa, ou podemos dizer ainda que para ser um pesquisador é necessário também exercer a docência na universidade.
O aprimoramento profissional na área da docência no ensino superior, nos leva a busca constante pelo conhecimento, onde em determinado momento se faz necessário o aprofundamento nesse campo através dos programas stricto sensu e a produção do conhecimento através da pesquisa dentro dos cursos de mestrado e doutorado. Não diferente de muitos, assim formou-se nossa trajetória acadêmica através do programa de mestrado em educação física e hoje no programa de doutorado em ciências do movimento humano, ambos na Universidade Metodista de Piracicaba.
A pratica da pesquisa dentro desses programas se dá através de métodos científicos constituídos ao longo da história. No mestrado utilizamos uma metodologia fenomenológica, dentro da área das ciências humanas. Já o doutorado segue outro caminho metodológico na pesquisa, o qual pretendemos elucidar mais a frente.
Mas para se fazer ciência as pesquisas devem seguir métodos científicos de acordo com o tipo de estudo e da área que o pesquisador atua.
Para Severino (2007 p.100), “A ciência se faz quando o pesquisador aborda os fenômenos aplicando recursos técnicos, seguindo um método e apoiando-se em fundamentos epistemológicos”.
Já Lakatos e Marconi (2003) relatam a existência de dois tipos de conhecimento, sendo o primeiro popular ou senso comum e o segundo científico, que não se distinguem pela veracidade, nem pela natureza do objeto conhecido, mas sim pela forma, o modo, o método e os instrumentos do conhecer, o segundo então é o que utilizamos nas pesquisas acadêmicas.
Para as autoras, todas as ciências caracterizam-se pela utilização de métodos científicos; porém, nem todos os ramos de estudo que utilizam estes métodos são ciências. Com afirmações como essa, as autoras concluem:
(...) que a utilização de métodos científicos não é da alçada exclusiva da ciência, mas não há ciência sem o emprego de métodos científicos. Assim, o método é o conjunto das atividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar o objetivo - conhecimentos válidos e verdadeiros -, traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do cientista (Lakatos e Marconi, 2003 p.83).
Segundo Severino (2007) a ciência utiliza um método próprio, o método científico, que é fundamental no processo do conhecimento realizado pela ciência, diferenciando-a do senso comum e das demais modalidades de expressão da subjetividade humana, como a filosofia, a arte, a religião. Trata-se de um conjunto de procedimentos lógicos e de técnicas operacionais que permitem o acesso a relações causais entre os fenômenos.
Podemos citar alguns dos métodos que fornecem as bases lógicas ao conhecimento científico: método indutivo, método dedutivo, método hipotético-dedutivo, método dialético, método fenomenológico, etc.
Outros métodos estão surgindo em pesquisas relacionadas a área 21. Jones, Edward e Filho (2016), apresentam um método empírico que aliado a Teoria da Atividade (AT) torna-se uma epistemologia construtivista de aterramento do AT como um potencial caminho a seguir para pesquisas em treinamento esportivo.
Gomes e de Oliveira Caminha (2014), publicaram um guia para revisão sistemática - uma das metodologias mais utilizadas nas pesquisas – que tem base nas sugestões do Instituto Cochrane que estabelece sete passos para a realização da revisão sistemática e também a descrição detalhada da trajetória para uma revisão sistemática proposta pelo CDR Report (NHS), que pode dividir-se em nove etapas, ou três estágios. Uma outra proposta apresentada pelas autoras, une as duas anteriores e está destinada á area das Ciências do Movimento Humano.
Ciências do Movimento Humano
Para Sergio (1987) a Ciência do Movimento Humano vem preconizada pela ciência da motricidade humana, como parte das ciências do homem. Sendo o movimento humano o objeto de estudo da educação física, considera o princípio que o homem é o ser em busca da transcendência através da motricidade, baseando-se na ascensão do Homem para o mais humano, tanto do ponto de vista biológico quanto psicológico, ideológico, cultural e espiritual.
Onde se encaixa um programa de pós-graduação em Ciências do Movimento Humano com a proposta de trabalhar a interdisciplinaridade citada pelo autor acima, entre as ciências da área 21 denominada pela CAPES?Iniciamos as respostas com a seguinte frase:
“Portanto, as ciências do movimento humano constituem um campo de saber científico que exige um trajeto que parte do multidisciplinar, atravessa o interdisciplinar e persegue o conhecimento transdisciplinar” (Gaya, 2008 p.48,49).
Job e Freitas (2010) nos fazem imaginar essas áreas do conhecimento como grandes redes conectadas e na medida em que criam laços fortes e fracos, os nós entre os sujeitos vão se fortalecendo e se impondo diante das demais áreas.
De acordo com Gaya (2008) a distinção entre as várias disciplinas das ciências do movimento humano, devem provir delas mesmas, sem ter outro significado a não ser o de cada uma delas encarar, abordar e analisar da sua própria forma a realidade expressa no âmbito das práticas corporais e seus fenômenos. Essas diversas áreas diferem entre si, pois encaram, abordam e analisam de maneiras diferentes os fenômenos emergentes de um mesmo espaço, ou seja, as práticas corporais.
Para Carvalho e Manoel (2007) educação física, fonoaudiologia e terapia ocupacional apresentam linhas de investigação orientadas pelas ciências sociais e humanas, com a educação física mais particularmente investigando a estreita proximidade com a área da educação, com sociologia, com filosofia e com a história. Na fonoaudiologia e na terapia ocupacional as pesquisas têm maior enfoque qualitativo no acompanhamento de casos clínicos, sendo esses estudos no campo da linguagem, comunicação e deficiência com base na psicologia, psicanálise, antropologia, sociologia e educação.
Segundo Gaya (2008) o debate no âmbito do método de investigação nas ciências do movimento humano nem sempre tem ocorrido com a devida clareza teórica, levando seus intervenientes a assumir posições que tornam inviável qualquer possível superação de incompreensões entre pesquisadores de áreas tão diferenciadas quanto a natureza dos seus objetos de estudo.
Entender epistemologicamente as ciências do movimento humano e o papel de cada área dentro desta nova área em comum não é uma tarefa fácil, mas somente após nos aprofundarmos é que conseguiremos desenvolver melhor nossas pesquisas dentro deste programa multidisciplinar que não visa o mesmo objeto de estudo científico entre as diversas áreas.
Gaya (2008) ainda nos traz uma relação muito interessante entre a cultura corporal do movimento humano e as ciências do movimento humano, relacionando intrinsecamente cultura e ciência. Sendo a primeira um espaço amplo de cognição que abrange saberes complexos articulados com conhecimentos diversos, que podem ser provenientes do senso comum, da ciência, da filosofia, da religião, das artes, etc. Um conhecimento lato, plural sobre a corporalidade. A segunda é um olhar restrito, um recorte dentro da cultura corporal do movimento humano, limitado as regras do conhecimento científico. Um conhecimento estrito, normatizado por uma abordagem hipotético-dedutiva.
Porém, ainda para o autor dentro das ciências do movimento humano existem três concepções metodológicas. As concepções predominantemente nomotéticas que procuram enunciar leis, recorrendo a procedimentos de verificação que sujeitam os esquemas teóricos aos controles dos fatos da experiência, sendo as disciplinas predominantes neste método a fisiologia, cineantropometria e biomecânica. Nas concepções predominantemente ideográficas ou interpretativas é a alternativa quando o objeto de investigação centra-se na compreensão e na valoração das interpretações do indivíduo sobre a realidade, as disciplinas predominantes neste método a psicologia, antropologia e sociologia Por último e não menos importante as concepções predominantemente de intervenção social que se caracteriza pela execução de investigações realizadas para o levantamento e informações e tomada de decisão em nível político.
Jogando conforme as regras da CAPES
Um dos objetivos dentro de um programa de pós-graduação stricto sensu com mestrado e doutorado é a formação de pesquisadores que para defenderem suas dissertações ou teses devem ter produção publicada em periódicos que servem para além de divulgar o conhecimento produzido, avaliar a produção científica do curso através de sua produção intelectual. De acordo com Carvalho e Manoel (2007), essa avaliação é realizada pela CAPES em triênios e a partir de 1998 com o Sistema Qualis, passando a produção intelectual a ser classificada com base em indicadores de qualidade (A, B ou C) nacionais ou internacionais para periódicos científicos.
De acordo com Kokubun (2003, 2006), Tani (2000 apud Tani, 2014), vale lembrar que há cerca de quinze anos, a grande maioria dos orientadores de pós-graduação “stricto sensu” nas áreas de Educação Física e Ciências do Esporte não publicava sequer um artigo no biênio. Com isso gerou-se muitas críticas à política e aos procedimentos de avaliação da CAPES, que não levam em consideração essa constrangedora realidade presente naquela época. “Como justificar programas de pós-graduação na ausência de orientadores minimamente produtivos em pesquisa, se a pós-graduação é essencialmente pesquisa? ” (p.720,721).
Um dos embates muito grandes na formação de um curso interdisciplinar vai de frente a avaliação dos cursos pela CAPES ser feita através de produção intelectual, pois na área da educação física e esportes, há cerca de 30 revistas, sendo nenhuma nacional com extrato A1, sendo a maioria com extratos B e algumas com extrato C. Com isso nossos pesquisadores preferem a publicação em revistas internacionais, em sua maioria na língua inglesa, o que acaba dificultando a disseminação do conhecimento produzido pelos programas de pesquisa em ambiente nacional (Job e Freitas, 2010).
Estando a avaliação dos cursos pela CAPES relacionada a quantidade de artigos publicados, as universidades passam essa pressão aos orientadores que por sua vez, acabam pressionando os alunos que muitas vezes fazem a pesquisa pensando na publicação e não na construção do conhecimento científico. Isso acaba ainda afastando as áreas dentro de um programa interdisciplinar, pois na área biológica as revistas têm extratos de classificação mais elevados.
Carvalho e Manoel (2007) e Job e Freitas (2010) corroboram sobre o funcionamento do sistema qualis da CAPES e os tipos de extratos atribuídos as revistas e como essas publicações são avaliadas.
Em relação a isso, Tani (2014, p.718), nos traz que:
Um fato concreto que acontece na Pós-graduação ilustra o problema. Temos atualmente na área de Educação Física/Ciências do Esporte pouquíssimos periódicos no extrato Qualis A-1 (internacional) da CAPES. Porém cresce cada vez mais o número de pesquisadores que publicam seus artigos em periódicos A-1 de áreas correlatas e mesmo de áreas não relacionadas. Essa tendência provoca um efeito circular bem conhecido que é a elevação da mediana do fator impacto do conjunto dos periódicos em que os orientadores publicam, o que faz com que os específicos da área se distanciem cada vez mais do extrato A-1.
Carvalho e Manoel (2007) relatam ainda a importância do livro em relação aos artigos científicos, sendo que 90% da base bibliográfica dos cursos de pós-graduação são livros e não artigos. Porém, por mais de uma década desde a criação do sistema qualis o conhecimento produzido por meio de livros foi questionado e não entrava na avaliação intelectual dos cursos. Segundo Job e Freitas (2010) foi somente a partir de 2009 que houve a validação para produção de livros, pois em várias áreas do conhecimento eles constituem a principal modalidade de veiculação e divulgação da produção científica.
Conclusões
Entender a epistemologia da área de atuação enquanto pesquisador é o primeiro passo para o sucesso nas pesquisas, pois sem uma metodologia adequada todo o esforço e o tempo investido em um estudo podem não resultar em produção de conhecimento e a divulgação através de uma publicação seja em forma de artigo ou livro, estará comprometida.
As ciências do movimento humano, o trabalho interdisciplinar e as diversas disciplinas inseridas nessa área são de suma importância para o entendimento científico sobre a cultura corporal do movimento, estando as publicações de pesquisas interdisciplinares avançando e ocupando espaço no sistema QUALIS CAPES em extratos A e B predominantemente conforme pesquisa apresentada por Job e Freitas (2010) sobre o triênio (2007-2009) do programa de pós graduação em ciências do movimento humano da UFRGS e demonstrando a rede formada entre as disciplinas da área e a cooperação entre os grupos com diferentes metodologias.
Deve-se também rever alguns conceitos relacionados as publicações, pois em muitos programas há poucos orientadores que publicam muito e muitos orientadores que publicam pouco e em revistas de outras áreas conforme vimos. Lembrando ainda que atualmente as revistas demoram cerca de 12 a 18 meses para responder e publicar um artigo, onde muitas vezes as informações já estarão desatualizadas.
Bibliografia
Carvalho, Y.M., Manoel, E.J. (2007). O livro como indicador da produção intelectual na grande área da saúde. Rev. Bras. Cienc. Esporte, Campinas, v.29, n.1, p.61-73, set.
Chalmers, A.F. (1993). O que é ciência afinal? São Paulo: Brasiliense.
Dias, A.S., Silva, A.P.B. (2009). O indutivismo no ensino das ciências e a inconsistência do argumento indutivista. Anais do Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências. Florianópolis.
Gaya, A. (2008). Ciências do Movimento Humano: introdução a metodologia da pesquisa. Porto Alegre: Artmed.
Gomes, I.S., de Oliveira Caminha, I. (2014). Guia para estudos de revisão sistemática: uma opção metodológica para as Ciências do Movimento Humano. Movimento, 20(1), 395.
Japiassu, H.F. (1975). Epistemologia: O mito da neutralidade científica. Rio de Janeiro: Imago.
Job, I., Freitas, K.R. (2010). A colaboração na Produção de artigos dos professores do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano da ESEF, da UFRGS, entre 2007 e 2009: análise de rede social. Movimento, Porto Alegre, v.16, n. esp., p.155-188.
Jones, R.L., Edwards, C., & Viotto Filho, I.T. (2016). Activity theory, complexity and sports coaching: An epistemology for a discipline. Sport, education and society, 21(2), 200-216.
Kuhn, T.S. (1975). A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva.
Lakatos, E.M., Marconi, M.A. (2003). Fundamentos de metodologia científica (5ª ed.). São Paulo: Atlas.
Morin, E. (2002). O problema epistemológico da complexidade. Mem Martins, Portugal: Publicações Euro América.
Oliva, A. (1990). Epistemologia: a cientificidade em questão. Campinas: Papirus.
Sergio, M. (1987). Motricidade humana: uma nova ciência do homem. Lisboa: ME-Direção Geral dos Desportos.
Severino, A.J. (2007). Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Cortez.
Tani, G. (2014). Editoração de periódicos em Educação Física/Ciências do Esporte: dificuldades e desafios. Rev Bras Ciênc Esporte. 36(4):715-722.
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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 22 · N° 228 | Buenos Aires,
Mayo de 2017 |