A inclusão curricular da cultura corporal nas aulas de Educação Física da escola Bosque do Amapá The curriculum inclusion of body culture in lessons of Physical Education school Bosque do Amapá La inclusión curricular de la cultura corporal en las clases de Educación Física de la escuela Bosque de Amapá |
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*Licenciado em Educação Física Professor de Educação Física da Secretaria de Estado da Educação do Amapá ** Orientador. Professor Doutor Docente do curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP) |
Franciney Rocha Barbosa* Álvaro Adolfo Duarte Alberto** (Brasil) |
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Resumo O objetivo deste estudo foi verificar as diferentes possibilidades da Educação Física na Escola Bosque do Amapá, quanto à inclusão das expressões da cultura de movimentos dos alunos no currículo dessa disciplina. Os dados foram coletados através de uma entrevista estruturada em uma amostra constituída por professores de Educação Física e alunos do ensino fundamental e médio. Os resultados indicaram que os professores de Educação Física valorizam em suas aulas conhecimento voltados apenas para a performance esportiva. Conclui-se que a prática docente não se traduz numa Educação Física que incorpore a diversidade da cultura corporal local. Unitermos: Cultura corporal. Educação Física. Escola.
Abstract The aim of this study was to investigate the different possibilities of Physical Education in Amapá Grove School, as the inclusion of expressions of student movements of culture in the curriculum of the discipline. Data were collected through a structured interview in a sample of teachers of Physical Education and elementary and high school students. The results indicated that the Physical Education teachers value in their classes knowledge geared only for sport performance. It was concluded that the teaching practice does not result in Physical Education that incorporates the diversity of the local body culture. Keywords: Body culture. Curriculum. Physical Education. School.
Resumen El objetivo de este estudio fue investigar las diferentes posibilidades de la Educación Física en la escuela Bosque de Amapá, en relación a la inclusión de la cultura de movimiento de los alumnos en el plan de estudios de la disciplina. Los datos fueron recolectados a través de una entrevista estructurada en una muestra de profesores de Educación Física y estudiantes de la escuela primaria y secundaria. Los resultados indicaron que los profesores de Educación Física valorizan en sus clases conocimiento orientados sólo por el rendimiento deportivo. Se llega a la conclusión de que la práctica de la enseñanza no se traduce en la Educación Física que incorpora la diversidad de la cultura corporal local. Palabras clave: Cultura corporal. Educación Física. Escuela.
Recepção: 11/05/2016 - Aceitação: 13/04/2017
1ª Revisão: 28/03/2017 - 2ª Revisão: 10/04/2017
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Lecturas: Educación Física y Deportes, Revista Digital. Buenos Aires, Año 22, Nº 227, Abril de 2017. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A Educação Física pode ser considerada como um componente curricular para a formação e a inclusão social do educando. Suas intervenções educacionais promovem não só o desenvolvimento de habilidades físicas, mas também habilidades cognitivas, afetivas e sociais que podem resultar em comportamentos mais conscientes e positivos em relação à saúde e qualidade de vida. Segundo Betti (2008, p. 208), o objeto da Educação Física seria, então, o saber específico de que trata essa prática, qual seja, a cultura corporal de movimento, perspectiva na qual “o movimentar-se é entendido como forma de comunicação com o mundo que é constituinte e construtora de cultura, mas também possibilitada por ela.
Desta forma, é possível então afirmar que cultura se constitui pelo conjunto de textos produzidos pelo ser humano, indo além da construções da linguagem verbal, mas também por mitos, rituais, gestos, ritmos, jogos, entre outros que podem ser considerados sistemas comunicativos que cumprem regras e normas recomendadas pela cultura vigente (Mendes & Nóbrega, 2009). Neira, Lima & Nunes (2012), sugerem que através dos estudos culturais e do multiculturalismo crítico, a Educação Física no âmbito escolar possa ser enfatizada por meio de experiências pedagógicas planejadas coletivamente e postas em prática de forma crítica. Estes autores também enfatizam que os alunos devem participar diretamente quanto a elaboração das aulas, no sentido da compreensão dada a cada atividade proposta. A tematização dessas práticas corporais deve enfatizar para os alunos:
os marcadores sociais presentes como as condições de classe, etnia, gênero, níveis de habilidade, histórias pessoais, religião, entre outros. Então a política da diferença incide sobre o reconhecimento das linguagens corporais daqueles grupos socialmente silenciados. (Janowski, 2016, p. 59).
Este pode ser, então, o processo de reconhecimento da identidade do indivíduo garantindo a este a posse de características que o diferenciam dos outros, bem como representa a possibilidade de ser reconhecido como membro de uma determinada comunidade.
Logo, a prática da Educação Física na escola poderá favorecer a autonomia dos alunos através das relações que estes estabelecem entre essas vivências e com outros saberes que adquirem, tornando-os capazes de apropriar-se da diversidade da cultura corporal de movimento a ser desenvolvida na prática pedagógica escolar. Pois, quando o sujeito entra em contato com as práticas corporais de outros indivíduos ou grupos, vivencia uma relação interpretativa movida pela busca de compreensão de seu significado.
No entanto, para Daolio (2010), a Educação Física distanciou-se dos aspectos estéticos, subjetivos, simbólicos. Considerou o corpo máquina biológica passível de intervenção técnica e perdeu a possibilidade de vê-lo como produtor e expressão da dinâmica cultural.
Estudo de Simão (2012) constatou que as escolas ribeirinhas amazônicas não estão dando ênfase às abordagens específicas das expressões corporais cotidianas de suas realidades, uma vez que estas vivências em espaços de rios e florestas exigem do corpo ações próprias bastante diversas de relação a outros espaços. Não se pode pensar numa Educação Física no âmbito escolar que negue a dinâmica cultural, inerente à condição humana, em detrimento às influências curriculares administradas pela cultura dominante correrá o risco de ignorar as implicações sociais da disseminação da cultura aos indivíduos com trajetórias e formações distintas
Em consequência da negação, por parte das escolas, das manifestações culturais dos alunos, compreender a cultura de movimento a partir do entrelaçamento entre corpo, natureza e cultura também pode contribuir para que os alunos tenham acesso às manifestações de outros contextos sociais. Essas possibilidades podem estabelecer reflexões sobre as diversidades culturais, sobre as aproximações e as diferenças com suas realidades bem como as trocas culturais, contribuindo com a comunicação entre pessoas de várias localidades do mundo.
Desta forma, evidencia-se a necessidade de investigar as manifestações da cultura corporal de movimento em espaços próprios amazônicos no sentido de contribuir para um debate específico da inclusão de conteúdos que façam uma discussão da multiculturalidade curricular onde a escola deve incorporar a complexidade de sua realidade principalmente das questões ambientais. Logo, o objetivo fundamental deste estudo foi verificar as diferentes possibilidades da Educação Física na Escola Bosque do Amapá – Módulo Regional do Bailique, quanto à inclusão das expressões da cultura de movimentos dos alunos no currículo dessa disciplina.
Portanto, os resultados deste estudo pretendem contribuir com o processo de mudança da Educação Física escolar, provocando a discussão de suas práticas pedagógicas manifestadas pelos docentes no ensino da Educação Física frente a sociedade e frente à realidade local de sua área de atuação.
Metodologia
Este estudo assume, essencialmente, um caráter descritivo e comparativo, baseado numa pesquisa bibliográfica que se deu a partir de leitura de livros e textos diversos sobre o tema “cultura corporal” uma identificação com a prática escolar, com a escola e as atividades lúdicas do povo amazônico considerado como ribeirinho, buscando compreender a realidade da prática da Educação Física na Escola Bosque do Amapá, ampliando assim os olhares para a complexidade cultural do tema, estudando-o dentro de um emaranhado de maior amplitude, de forma discutida e participativa com os atores envolvidos no estudo neste caso, os alunos e professores de Educação Física.
Os dados foram coletados em amostra constituída por professores de Educação Física e alunos do ensino fundamental e médio regulamente matriculados do ano de 2014 na Escola Bosque do Bailique, situada na Vila Progresso distrito de Macapá, Amapá. Todos os alunos das séries citadas e professores foram convidados a participarem do estudo, porém apenas 17 alunas das turmas de 5ª, 6ª e 7ª do ensino fundamental, 11 alunas do 1º, 2º e 3º ano do ensino médio respectivamente concordaram em participar do estudo. Já do sexo masculino foram entrevistados 22 alunos das turmas de 5ª, 6ª e 7ª do ensino fundamental e 20 alunos do 1º, 2º e 3º ano do ensino médio. Totalizando assim, 70 discentes entrevistados e 04 professores de Educação Física. Todos os alunos e professores que concordaram em participar do estudo apresentaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), assinado.
A coleta de dados foi realizada nos dias 08,10,11,15 e 17/09/2014 pelos autores do estudo. No presente estudo, o instrumento de coleta utilizado foi um questionário elaborado pelos autores do estudo composto de perguntas objetivas sobre o assunto objetivando principalmente detectar o desenvolvimento das aulas de Educação Física na Escola Bosque do Amapá – Módulo Regional do Bailique, através da inclusão por parte dos professores de Educação Física, das práticas da cultural corporal dos (as) alunos (as) no currículo de Educação Física; o favorecimento do ambiente escolar na inclusão da cultural corporal dos alunos nas aulas de Educação Física; e a concepção de valorização da cultura corporal dos (as) alunos (as) e professores (as) nas aulas de Educação Física.
Este estudo foi autorizado pela direção da Escola Bosque do Amapá – Módulo Regional do Bailique em março de 2012.
Resultados e discussões
Considerando o que Daolio (2010, p.7) propõe como sendo a cultura “a principal categoria para se compreender e discutir a Educação Física escolar”, e que os professores têm conhecimento da cultura corporal dos alunos e, em sua maioria, a realidade apontada pela pesquisa mostra uma prática que desconsidera a cultura corporal de movimento local mantendo a aplicação de conteúdos descomprometidos com um ensino que contemple os conhecimentos e práticas corporais da comunidade.
Os resultados do presente estudo constataram que os professores de Educação Física valorizam em suas aulas conhecimentos voltados apenas para a performance esportiva. É possível afirmar, então, que existem duas vertentes que justificam a prática esportiva no interior da escola.
A primeira diz respeito à questão da hegemonia esportiva pela ascensão do esporte, entre as décadas de 1970 a 1990, como prática na escola e assume a centralidade dos conteúdos da Educação Física. Segundo Bracht (2010, p. 01):
a referência à aptidão física não é abandonada, mas é relativizada em função da importância política e econômica que o esporte assume em nossa sociedade. Esse processo de ascendência do esporte ficou conhecido como a “esportivização” da Educação Física.
Neste sentido, não nos posicionamos contra o esporte, no entanto consideramos as possibilidades de tratá-lo pedagogicamente na Educação Física, para além de uma cultura meramente futebolística de esporte, mas considerá-lo como um dos temas da Educação Física escolar, mas não apenas o único (Almeida & Fensterseifer, 2014). E a segunda vertente diz respeito ao esporte como um fenômeno social. A mídia apresenta essa prática de uma maneira muito forte na sociedade. Conforme Campos, Ramos & Santos (2015, p.10):
a atuação da mídia no campo da cultura corporal de movimento é crescente, além de decisiva na construção de novos significados e novas modalidades de entretenimento e consumo. O investimento do público em relação a determinado esporte vem decorrente do quanto ele está envolvido e apaixonado.
A influência decisiva da mídia sobre o interesse esportivo recai na formação universitária dos cursos de Educação Física que ainda enfatizam a prática esportiva em seus currículos pela instrumentalização da escola, da Educação Física e, sobretudo, das políticas de esporte educacional. Este processo supõe a pseudovalorização da Educação Física e, por consequência, de seus profissionais, além da massificação esportiva, da submissão do esporte educacional aos códigos, valores e regras do alto rendimento, o que faz daquele uma paródia deste (Reis, Nascimento & Mascarenhas, 2015).
Sendo assim, a Educação Física escolar sofre influências da mídia e da tradição centrada nos esportes competitivos. Ou seja, mantém-se a exclusão dos saberes advindos dos alunos e preservam-se as práticas impostas apenas por saberes sistematizados pela escola sem refletir a realidade local.
Em contraposição a esta concepção, autores como Mota & Lelis (2007), e Neira (2008) consideram que a escola não pode desprezar os saberes locais como elemento para organizar o currículo de Educação Física. Neste sentido González & Fraga (2012, p.46) pensam que:
a Educação Física é um componente curricular responsável pela tematização da cultura corporal de movimento, que tem por finalidade potencializar o aluno para intervir de forma autônoma, crítica e criativa nessa dimensão social.
Tudo isso possibilita a ampliação dos currículos escolares nas escolas ribeirinhas para a inclusão da cultura corporal de movimento local advinda das vivências e práticas cotidianas acumuladas ao longo das histórias de vidas dos alunos e professores.
Quando os professores foram questionados sobre a utilização de outros ambientes além do campo de futebol, quadras esportivas e também vivencias de manifestações da cultura corporal local em suas aulas como canoagem, natação, queimada, arremesso de varas, entre outras, os mesmos responderam que não privilegiam tais atividades. No entanto, dois professores responderam que tentaram colocar em prática algumas atividades da cultura corporal local, mas não obtiveram êxito pela grande evasão por parte dos alunos. E apenas um professor respondeu que ainda não havia sequer tentado modificar sua prática pedagógica, pois segundo este os alunos valorizam apenas as atividades relacionadas ao futebol e ao voleibol.
Esses resultados indicam uma prática docente que não propicia a todos os alunos as mesmas oportunidades de acesso à cultura de movimento, mas a inclusão apenas daqueles biologicamente bem dotados, a fim de que estes tenham oportunidades de chegar às equipes esportivas representativas da escola ou mesmo fora dela (Daolio, 2010).
Por outro lado, essa tradição cultural tem se mostrado perversa para grande parte dos alunos, que estão sendo alijados da Educação Física escolar ou sendo subjugados nas aulas, em nome de uma excelência motora que só alguns são capazes, negando a estes a autonomia para usufruir das manifestações da cultura corporal local.
Frente a este quadro, parece necessário compreender a cultura de movimento a partir do entrelaçamento entre corpo, natureza e cultura. Assim os professores de Educação Física escolar poderão contribuir no oferecimento de conteúdos escolares relacionados à realidade dos educandos, com o propósito de favorecer uma leitura crítica do mundo (Mendes & Nóbrega, 2009).
Quando os alunos foram questionados sobre as práticas corporais que mais são enfatizadas nas aulas de Educação Física os mesmos responderam que são o futebol e o voleibol. Esta resposta se justifica pelo fato, segundo eles, dos professores e a escola só valorizarem essas atividades esportivas em função da participação da escola em competições esportivas dentro e fora do Distrito de Bailique.
É possível perceber através dessas respostas que a própria escola e os professores valorizam manifestações corporais com o intuito da performance esportiva. Esta prática pedagógica estabelece uma contradição, pois a linha filosófica do Projeto Político Pedagógico (PPP, 2001, p.14-15) enuncia que:
A filosofia e a metodologia adotadas pela Escola Bosque do Amapá-Módulo Regional do Bailique propõem a construção de um saber, com identidade própria, fundamentada em ciência e tecnologia de raízes amazônidas, sistematizando o conhecimento – estudo, pesquisa, ensino de forma regular e não fracionada. Pode-se afirmar ainda que nesta unidade de ensino, a metodologia adotada proporciona o entendimento do Homem e da natureza como elementos dialógicos e complementares de um mesmo universo biodiversificado.
Através do Método Socioambiental, todas as disciplinas têm obrigação em abordar em seus currículos conteúdos da cultura local. Essa metodologia, baseada na preservação do meio ambiente e na valorização da cultura local, é problematizada à medida que os alunos discutem, propõe sugestões e participam da escolha dos conteúdos curriculares, que passam a ser trabalhados de forma contextualizada, crítica e criativa, com ênfase nos problemas locais. As aulas e/ou projetos não se limitam às salas de aula, podendo ocorrer em espaços alternativos existentes na escola, em seu entorno e nas comunidades vizinhas.
No entanto, esses espaços alternativos em que o Método Socioambiental exige que todas as disciplinas façam uso deles, não são utilizados pela Educação Física como aponta este estudo. Apenas em alguns momentos como gincanas acontecem atividades de subidas em açaizeiros, natação, lançamentos de varas, cabo de guerra, entre outras. A valorização da cultura corporal local dentro de uma comunidade ribeirinha possibilitará ao aluno que vier a conviver em outros espaços urbanos ou grandes centros, sua inclusão e afirmação no dia de amanhã sem sentir menor ou diminuído em relação a outras culturas corporais. Desta forma, O processo educativo terá razão de existir quando conseguir afetar o saber ser, suscitar a mudança, a compreensão de valores, ressignificar o conhecimento culturalmente presente no contexto social (Janowski, 2016).
E por fim, quando os alunos foram questionados sobre a inclusão de atividades consideradas parte integrante da cultura corporal local nas aulas de Educação Física mais da metade dos alunos entrevistados gostariam que atividade como natação, lutas, canoagem, lançamento de varas, jogos com Buçu1 subida em açaizeiro, dança do Coatá2 e queimada, fizessem parte como conteúdos das aulas de Educação Física escolar.
Logo, estes resultados contradizem o que os professores haviam respondido nas entrevistas do porque de suas aulas serem somente o futebol ou voleibol. Segundo estes os alunos e a escola valorizam apenas essas duas modalidades, mas o resultado mostra que os alunos participariam das atividades citadas acima.
Essa resistência por parte dos professores em mudarem sua prática pedagógica em relação ao ensino da Educação Física evidencia que suas aulas não contemplam todas as expressões corporais dos alunos distanciando-se assim de uma realidade específica principalmente naquelas em que a reflexão deveria ser mais indicada como, por exemplo, nadar e remar – atividades essenciais para sobrevivência dos ribeirinhos.
Como a maioria dos entrevistados eram moradores de vilas do arquipélago do Bailique, os dados apontaram participação abaixo da média nas atividades de canoagem, natação e subidas em açaizeiros, isso talvez explique o fato desses entrevistados já possuírem hábitos urbanos, pois remar em canoas, nadar e subir em açaizeiros são atividades mais realizadas pelos moradores que residem em comunidades distantes das vilas e os poucos alunos que participariam dessas atividades nas aulas de Educação Física, eram de localidades distantes.
Já essa tradição educacional urbanista não ganha muito espaço no currículo de ensino das disciplinas da Escola Bosque, uma vez que a escola tem como proposta pedagógica o Método Socioambiental que é uma educação voltada para a preservação do meio ambiente e dos saberes da cultura local.
Diante das evidências constatadas é possível afirmar que em apenas um dos elementos a Educação Física escolar reflete a cultura corporal dos alunos, pois jogar futebol é de fato uma expressão unânime onde todos e todas jogam.
Ressalta-se que todas as comunidades ribeirinhas têm um campo de futebol, sendo comum disputa de jogos em todos e quaisquer festejos nas comunidades. O futebol mais uma vez é confirmado neste estudo como sendo a atividade mais praticada além de ser unânime entre homens e mulheres, confirmando esta forte expressão cultural dos alunos da escola Bosque, corroborando com achados de Marchini & Armbrust (2012).
Conclusão
Os resultados apontaram que as aulas de Educação Física estão concentradas em apenas duas atividades de jogos coletivos: futebol e voleibol. Estes dados revelam que a cultura corporal de movimento local não é abordada no currículo das aulas de Educação Física, respondendo assim os questionamentos do estudo.
Verificou-se que embora os professores tenham conhecimento dos objetivos da Educação Física escolar e sobre a diversidade da cultura corporal local a prática pedagógica não se traduz numa Educação Física Escolar que incorpora os saberes locais em suas aulas.
Constatou-se que as demais disciplinas do currículo escolar procuram seguir as propostas pedagógicas de cada projeto da escola, e apenas a disciplina de Educação Física excluía de seu currículo essa proposta pedagógica que consiste no Método Socioambiental, pelo desconhecimento dos os professores de Educação Física do referido método.
Portanto há uma necessidade de inclusão da cultura corporal local incluindo as expressões das comunidades de zona rural, área ribeirinha, povos indígenas, quilombolas e outras. E cabe aos professores de Educação Física conhecerem e valorizarem o Método Socioambiental, onde o objetivo de cada disciplina é a valorização da preservação do meio ambiente e da cultura local. Deste modo tendo como eixo norteador a significação “Humana e Ambiental”.
Notas
Buçu é uma semente arredondada de uma palmeira que fornece a palha para cobertura de casas.
Coatá é uma dança folclórica local.
Bibliografia
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