A contribuição da neuroaprendizagem na formação de instrutores de artes marciais The contribution of neurolearning in the formation of martial arts instructors La contribución del neuroaprendizaje en la formación de instructores de artes marciales |
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Professor de Educação Física e pós-graduando do Programa de Pós-graduação em Neuroaprendizagem, Universidade Norte do Paraná (UNOPAR) Membro do quadro de instrutores do Traditional Karate-do Institute (TKI), França |
André Traichel (Brasil) |
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Resumo As artes marciais como um sistema físico-moral surgiram cerca de 1.400 anos através do fundador do zen-budismo, Daruma, também conhecido como Bodhidarma. Atualmente existem diversos sistemas de lutas, divididas entre orientais e as consideradas ocidentais. Embora as artes marciais sejam populares e existam diversas organizações nacionais para coordenar a sua prática, não compete ao Conselho Federal de Educação Física sua regulamentação e não há qualquer programa de formação de instrutores nem leis federais sobre o tema, o que pode resultar em lesões físicas psicológicas advindas de orientações equivocadas por parte de professores sem formação formal. A Neurociência da aprendizagem é o estudo de como, durante a aprendizagem, o cérebro estabelece as redes neurais, como os estímulos chegam, são processados e armazenados. Este conhecimento é importante para professores pois ajuda a estabelecer estratégias adequadas em um processo dinâmico, provocando mudanças de qualidade e de quantidade no sistema nervoso central do aluno. Diversos autores como Jean Piaget, Howard Gardner e Dias e Seabra trouxeram significativas contribuições nos campos da Psicologia do Desenvolvimento, Psicologia Cognitiva e Funções Executivas respectivamente e assim conclui-se que estas contribuições, se inseridas em um programa mínimo de formação de instrutores de lutas, pode trazer benefícios tanto para os professores quanto para os alunos, assim como para as artes marciais em si. Unitermos: Artes marciais. Lutas. Neuroaprendizagem. Formação. Ensino.
Abstract Martial arts as a physical-moral system emerged about 1,400 years by the founder of Zen Buddhism, Daruma, also known as Bodhidharma. Currently there are several systems of fighting, divided between Eastern and Western. Although the martial arts are popular and there are several national organizations to coordinate their practice, it is not allowed to Federal Council of Physical Education this regulation and there is no instructor’s training program or federal laws on the subject, which can result in physical injury or psychological arising from wrong guidance by teachers without formal training. The neuroscience of learning is the study of how, during learning, the brain establishes neural networks, as the stimuli arrive, they are processed and stored. This knowledge is important for teachers because it helps to establish appropriate strategies in a dynamic process, causing changes in quality and quantity in the central nervous system of the student. Several authors as Jean Piaget, Howard Gardner and Dias & Seabra brought significant contributions to the fields of developmental psychology, cognitive psychology and Executive Functions respectively and so it is concluded that if these contributions are placed in a minimum program of training fights instructors, can bring benefits to both, teachers and for students, as well as the martial arts itself. Keywords: Martial arts. Learning. Neurolearning.
Resumen Las artes marciales como un sistema físico-moral surgieron hace unos 1.400 años por el fundador del Budismo Zen, Daruma, también conocido como Bodhidharma. Actualmente existen varios sistemas de lucha, dividida entre orientales y las llamadas occidentales. A pesar de que las artes marciales son muy populares y hay varias organizaciones nacionales para coordinar su práctica, en lo que compete al Consejo Federal de Educación Física, en su reglamentación no hay ningún programa de formación de instructores o leyes federales sobre el tema, lo que puede resultar en daños físicos psicológicos derivados de la orientación equivocada de docentes sin capacitación formal. La neurociencia del aprendizaje es el estudio de cómo, durante el aprendizaje, el cerebro establece redes neuronales, como llegan los estímulos, se procesan y se almacenan. Este conocimiento es importante para los profesores, ya que ayuda a establecer estrategias adecuadas en un proceso dinámico, causando cambios en calidad y cantidad en el sistema nervioso central del estudiante. Varios autores como Jean Piaget, Howard Gardner y Días y Seabra realizaron importantes contribuciones a los campos de la Psicología del Desarrollo, la Psicología Cognitiva y las Funciones Ejecutivas, respectivamente, y por lo tanto se concluye que si estas contribuciones son ubicadas en un programa mínimo de formación de instructores de prácticas de combate, pueden traer beneficios tanto a los profesores como a los estudiantes, así como a las mismas artes marciales. Palabras clave: Artes marciales. Luchas. Neuroaprendizaje. Entrenamiento. Educación.
Recepção: 27/03/2016 - Aceitação: 12/04/2017
1ª Revisão: 27/03/2017 - 2ª Revisão: 08/04/2017
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Lecturas: Educación Física y Deportes, Revista Digital. Buenos Aires, Año 22, Nº 227, Abril de 2017. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
As artes marciais sempre impulsionaram a imaginação de muitos jovens ocidentais, principalmente através do cinema e televisão, onde grandes lutadores e feitos extraordinários davam às lutas uma aura de invencibilidade ou de superação dos limites humanos. Atualmente, com a grande cobertura dada pela mídia aos torneios de Mixed Martial Arts e a proliferação de academias de lutas, muitas crianças, jovens e adultos começaram a praticar diferentes tipos de artes marciais em busca de melhora corporal ou manutenção da saúde.
No entanto, apesar deste crescimento no número de locais de treino e praticantes, o ensino das lutas não é regulamentado. A graduação universitária em Educação Física, que seria o curso indicado para este tipo de atuação e que possui toda uma regulamentação federal através do Conselho Federal de Educação Física (CONFEF), não é pré-requisito para o ensino e não há leis que regulem a formação, atuação e responsabilidades específicas dos instrutores. Com isso, em muitos casos a única formação recebida se dá dentro das próprias academias de lutas e exclusivamente na sua questão técnica ou, em algumas artes, filosóficas próprias da arte marcial.
É neste ponto que o estudo da Neuroaprendizagem pode ser importante na formação de instrutores qualificados, uma vez que esta é uma ciência que se aprofunda não apenas nos aspectos fisiológicos da aprendizagem mas também nas implicações psicológicas do processo em si, principalmente no ensino de crianças. Conhecer as etapas e processos que formam a identidade do indivíduo-aluno é um requisito básico na formação atual de professores em qualquer curso universitário de Licenciatura e neste trabalho de revisão de literatura será apontado como poderia ser inserido em cursos de formação de instrutores de artes marciais, qualificando-os de maneira a entender e respeitar as fases de desenvolvimento humano.
As artes marciais
As artes marciais como um sistema físico-moral surgiram cerca de 1.400 anos através do fundador do zen-budismo, Daruma, também conhecido como Bodhidarma (Funakoshi, 2014). Conta-se que deixando o oeste da Índia, chegou ao templo Shao-lin na província de Hunan e lá, vendo as condições físicas dos monges, estabeleceu um método de treinamento para que pudessem “desenvolver suficientemente a força física e consigam atingir a essência do caminho de Buda” (Funakoshi, 2014). As lutas sempre existiram mas foi a partir do programa proposto por Bodhidarma que estes sistemas passaram a contar com elementos mentais e filosóficos.
Antonio et al (2008) comenta que atualmente existem diversos sistemas de lutas, divididas entre orientais como Kung Fu, Karate-do, Judo, Aikido, Taekwondo, Kendo e Jet Kune Do e as consideradas ocidentais, como o Boxe, Esgrima e o Kick-Boxe. O autor também comenta que representando as artes marciais orientais nas Olimpíadas estão o Judo e o Taekwondo, mas o Karate-do embora já participe dos Jogos Panamericanos ainda concorre para ser efetivado nos jogos.
A prática das artes marciais podem contribuir, através dos seus valores intrínsecos, para o desenvolvimento pleno do cidadão devido ao seu rico acervo cultural, além dos seus movimentos e expressão corporal na promoção da saúde (CONFEF, 2002).
No Brasil existem diversas organizações que agregam as artes marciais de acordo com a sua origem e finalidade. Segundo o site do Ministério do Esporte (Brasil, 2015), são vinte e quatro confederações de artes marciais homologadas junto ao Ministério, sendo que somente de Karate-do são sete, o que pode dificultar por exemplo um estudo da sua atuação nacional devido à essa profusão de organizações (Nagamine, 2005).
Interessante destacar a relação que ocorre entre professor e aluno quando se trata de artes marciais, onde diferentemente de outros esportes o relacionamento muitas vezes supera o simples vínculo comercial:
“Os praticantes de artes marciais constroem uma afinidade muito grande entre professor e aluno, na qual forma uma linha de respeito e reciprocidade. Esse respeito profundo dá-se pelo mestre e discípulo nas situações colocadas pelo professor em suas aulas, promovendo a socialização com o adolescente com problemas comportamentais e os demais alunos, tornando este adolescente um indivíduo mais sociável” (Antonio et al, 2008)
Desta forma, podemos aferir que ser um instrutor de artes marciais pode se tornar mais do que um simples transmissor de conhecimento, mas um formador de cidadãos, o que torna ainda mais importante sua formação.
A formação dos instrutores de artes marciais
Segundo Nagamine (2005), embora as artes marciais sejam populares e existam diversas organizações nacionais para orientar e coordenar a sua prática, não há qualquer programa de formação de instrutores o que é preocupante pois pode ocasionar lesões psicológicas devido a orientações equivocadas.
Esta posição é reforçado pelo Conselho Federal de Educação Física quando o mesmo cita o aumento incontrolável no número de academias e consequentemente de professores não qualificados instruindo a lutas, embora que os mesmos possam ter alguma qualidade técnica do gesto motor específico, mas carecem de outros fatores como pedagogia, ética ou científica (CONFEF, 2002).
Sousa & Ramos (2013) apontam que a experiência esportiva pode ter influência importante na atuações dos instrutores, pois permite ao mesmo criar suas próprias crenças de como ensinar a partir de suas próprias aprendizagens, além de observar como outros instrutores agem e resolvem situações dilemáticas no seu cotidiano. Em seus estudos, os autores apontam o modo informal de aprendizagem profissional nas artes marciais, muitas vezes autodirigida em contextos não estruturados de formação.
Esta formação informal vai contra outros estudos que destacam que para que as lutas tenham um resultado na sua prática esportiva, é exigido um instrutor com pelo menos conhecimentos de fisiologia humana e do exercício além dos aspectos técnicos da arte marcial em si, fora uma formação também na área pedagógica e filosófica relativa ao crescimento e desenvolvimento (Fett & Fett, 2009).
A não-regulamentação da formação dos instrutores de maneira geral pode ser notada também ao analisar os estatutos das confederações que organizam o esporte. Podemos ter como exemplos os estatutos da Confederação Brasileira de Taekwondo, da Confederação Brasileira de Judo, e da Confederação Brasileira de Karate, todas homologadas pelo Ministério do Esporte e filiadas ao Comitê Olímpico Brasileiro. Na primeira e na segunda, não há qualquer menção sobre como devem ser os instrutores (Taekwondo, 2014, Judo, 2014). Na terceira, existe um capítulo específico para instrutores, no entanto a exigência é apenas do conhecimento técnico da arte marcial em si (Karate, 2014).
Esta falta de regras mínimas de formação de instrutores vai de encontro à regulamentação do profissional de Educação Física no Brasil, regulamentada desde 1998.
A regulamentação da Educação Física e as lutas
A profissão de Educação Física foi regulamentada no Brasil através da Lei Federal 9.696/98, tendo no seu artigo terceiro a definição da competência deste profissional formado em ensino superior.
Esta lei veio para normatizar a prática da Educação Física em academias e escolas, que no caso das artes marciais tentou-se que os instrutores se submetessem ao registro no Conselho Federal, embora muitos instrutores tenham uma grande vivência esportiva e de treinamento informal, pois Segundo Junior & Drigo “por outro lado é frágil o conhecimento dos mesmos acerca do desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem” (Junior & Drigo, 2001).
Outro ponto defendido por aqueles que buscam um regularização das artes marciais e de seus instrutores é o uso de uma alegada tradição para infringir aos alunos lesões físicas e psicológicas através de abusos autoritários por falsos instrutores (CONFEF, 2002).
Apesar da Lei regulamentar o ensino de práticas esportivas, o Superior Tribunal de Justiça, decidiu através do julgamento do Recurso Especial Nº 1.012.692-RS (2007/0294222-7) que as artes marciais não são responsabilidade do CONFEF, uma vez que elas vão além do simples movimento corporal e não o tem como finalidade, mas sim a transmissão de transmitir conceitos, técnicas e posturas da arte (Brasil, 2011, p.3)
Atualmente está em tramitação na Câmara dos Deputados um substitutivo do Projeto de Lei Nº 7.890/2010, propondo a regulamentação das artes marciais no Brasil (Brasil, 2010).
Com isto posto, embora já exista um projeto em andamento, a lei brasileira não exige nenhum requisito legal para a registro e formação de instrutores de artes marciais, não havendo desta forma qualquer matéria mínima comum para endossar a didática ou processo de ensino-aprendizagem daqueles que são responsáveis pelo ensino nas academias, clubes e dojos.
A neurociência e a formação de professores
Segundo Mietto (2009), a Neurociência da aprendizagem é “o estudo de como o cérebro aprende”, ou seja, é o entendimento de como durante a aprendizagem o cérebro estabelece as redes neurais, como os estímulos chegam, são processados e armazenados. Ainda segundo a autora, é importante este conhecimento para o professor para que o mesmo possa estabelecer estratégias adequadas em um processo dinâmico, prazeroso, que provocará mudanças de qualidade e de quantidade nos processos sinápticos do aluno, resultando em um aprendizado melhor e mais duradouro.
Assencio-Ferreira (2005), define o papel da neurociência no processo de ensino-aprendizagem como uma importante ferramenta para o professor assim como em qualquer ação pedagógica, pois traz para a sala de aula como o conhecimento é incorporado.
Portanto, saber como o aluno aprende e estabelecer estratégias de ensino para o melhor aproveitamento da aprendizagem do aluno é algo imprescindível para quem ensina e a Neurociência da aprendizagem oferece os subsídios para este entendimento.
A contribuição da Neuroaprendizagem no ensino das artes marciais
O professor ou instrutor de artes marciais possui uma grande responsabilidade perante seus alunos, uma vez que conforme não é apenas a graduação maior que faz de um atleta um mestre, mas sim o seu comportamento associado à excelência técnica combinado com um aperfeiçoamento espiritual. No entanto, para evitar treinamentos distorcidos e prejudiciais aos alunos, o professor de artes marciais deveria ter sua formação auxiliada com as contribuições científicas e estudos pedagógicos atuais (Fett & Fett, 2009).
É neste ponto que o estudo da Neuroaprendizagem podem contribuir para o melhoramento do processo de ensino-aprendizagem, oferecendo uma base teórica do desenvolvimento do aluno/aprendiz e todo o seu processo para a aquisição de novos conhecimentos através de pesquisas de diversos autores, como por exemplo Jean Piaget na Psicologia do Desenvolvimento, Howard Gardner e a Psicologia Cognitiva e as pesquisadoras Natália Dias e Alessandra Seabra e seus estudos sobre Funções Executivas.
Jean Piaget e a Epistemologia Genética
Jean Piaget foi um biólogo suíço nascido em 1896 e falecido em 1980. Embora seus estudos tenham grande impacto na pedagogia, Piaget jamais atuou como pedagogo e não fundou um método, mas sua teoria denominada de Epistemologia Genética é centrada no desenvolvimento natural da criança e na organização de Esquemas através da Acomodação e Assimilação (Ferrari, 2008a).
Para Piaget, existem quatro estágios básicos do desenvolvimento cognitivo que acontecem de forma sucessiva, conforme nos mostra Santos et al (2009):
Quadro 1. Estágios de desenvolvimento
Estágio |
Características do estágio |
Principais mudanças |
Sensório-Motor |
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Pré-Operacional (2-7 anos) |
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Operações Concretas (7-11 anos) |
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Operações Formais (11-15 anos) |
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Fonte: Adaptado de Santos et al (2009)
Este conhecimento mínimo das fases de desenvolvimento se mostra extremamente importante para o professor de artes marciais, visto que muitas vezes o mesmo ministra aulas em turmas muito precoces (a partir dos 5 anos), o que pode levar a exigência de resultados e comportamentos que não condizem com o estágio maturacional que se encontra o aluno, pois o mesmo não deve seguir dentro da academia um modelo em miniatura do proposto aos adultos (Fett & Fett, 2009). Respeitar o ritmo de desenvolvimento do aluno auxilia no alcance dos objetivos de formação de caráter e personalidade pregada dentro do ensino da arte marcial.
Howard Gardner e a Teoria das Inteligências Múltiplas
Howard Gardner, psicólogo e neurologista norte-americano, construiu no início da década de 1980 a Teoria das Inteligências Múltiplas, trazendo nova luz dentro da educação onde contrapõe o já estabelecido conceito de Quoeficiente de Inteligência (QI) com a possibilidade do indivíduo apresentar mais de uma inteligência e suas características (Diederichs, 2013).
Para Gardner “o desenvolvimento de cada Inteligência está baseado num potencial biológico e nos resultados da interação dos fatores genéticos com o meio” (Rosas et al, 2009), sendo assim há em todos a possibilidade de aprendizado em mais de uma área, mas o ambiente é um fator influenciador.
Embora atualmente novas já foram incorporadas, são sete as inteligências inicialmente propostas por Gardner:
Quadro 2. Inteligências múltiplas
Inteligência |
Aptidão |
Lógico-matemática |
Capacidade para realizar operações numéricas e de fazer deduções. |
Lingüística |
Habilidade de aprender idiomas e de usar a fala e a escrita para atingir objetivos. |
Espacial |
Disposição para reconhecer e manipular situações que envolvam apreensões visuais. |
Físico-cinestésica |
Potencial para usar o corpo com o fim de resolver problemas ou fabricar produtos. |
Interpessoal |
Capacidade de entender as intenções e os desejos dos outros e conseqüentemente de se relacionar bem em sociedade. |
Intrapessoal |
Inclinação para se conhecer e usar o entendimento de si mesmo para alcançar certos fins. |
Musical |
Aptidão para tocar, apreciar e compor padrões musicais. |
Fonte: Adaptado de Ferrari (2008b)
É importante salientar que com esta teoria, segundo Ferrari (2008b), “a primeira implicação da teoria das múltiplas inteligências é que existem talentos diferenciados para atividades específicas.” Esta provavelmente seja a grande contribuição da teoria de Gardner para a formação de professores de artes marciais, pois evidencia que uma turma não será homogênea, ou seja, existe a possibilidade de diferenças entre os alunos devendo o professor estar atento à habilidades naturais demonstradas e a forma de cada um reagir ao treinamento, visto que vários aspectos podem ser trabalhados nas artes marciais, como coordenação motora, treinamento espacial contra vários adversários, idiomas ou ainda relacionamentos interpessoais no caso de equipes competitivas.
As Funções Executivas de acordo com Dias e Seabra
Segundo Dias e Seabra (2013), para que um indivíduo possa executar com sucesso tarefas e comportamentos mais complexos, existem funções que coordenam outras funções cognitivas assim como nossas emoções e comportamentos. Estas funções são chamadas de Funções Executivas (FE):
“Ou seja, atuam como um maestro que coordena o trabalho conjunto dos nossos diversos sistemas cognitivos/comportamentais/emocionais, conforme a demanda do ambiente ou da tarefa.” (2013, p.9)
Para as autoras, são seis as principais Funções Executivas e que possuem impacto no processo de ensino aprendizagem:
Quadro 3. Funções executivas
Função |
Objetivo |
Planejamento |
A habilidade de elaborar e executar um plano de ação, de pensar antes e de estipular os passos necessários para atingir um objetivo |
Flexibilidade cognitiva |
A capacidade de mudar de foco e de considerar diferentes alternativas; permite que possamos nos adaptar a diferentes contextos e demandas |
Memória de trabalho |
A capacidade de manter a informação em mente e também de transformá-la ou integrá-la com outras informações |
Atenção seletiva |
A habilidade de selecionar apenas o que será importante para determinada tarefa em dado momento, de focar a atenção e não distrair-se com diversos estímulos do ambiente |
Controle inibitório |
A capacidade de controlar o comportamento quando ele é inadequado, assim como inibir a atenção a estímulos que não são relevantes no momento |
Monitoramento |
Uma habilidade metacognitiva que se refere à capacidade de monitorar os próprios processos mentais ou a própria realização para ver se tudo saiu ou está saindo conforme previsto |
Fonte: Adaptado de Dias e Seabra (2013)
Estas funções tem grande relevância uma vez que interferem diretamente no processo de ensino-aprendizagem. Por exemplo, a atenção seletiva é responsável de manter o foco do aluno no objeto de estudo, trabalhando em conjunto com memória de trabalho, que manterá as informações o tempo necessário para a execução da tarefa e posterior aprendizado, tarefas rotineiras dentro do ensino em geral e das artes marciais.
Segundo Dias et al (2010) conhecer as Funções Executivas também é importante no caso de problemas de aprendizagem, como por exemplo, saber que déficits nas FE ou lesões no córtex pré-frontal estão frequentemente associados ao diagnóstico do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), o que pode incorrer em comprometimento em diversas atividades do dia-a-dia em crianças, inclusive na escola.
Conclusão
A neuroaprendizagem como estudo do processo biológico da aprendizagem pode auxiliar a formação dos professores de artes marciais dando a eles o suporte científico necessário - tanto na área de psicologia quanto neurobiológico - para melhor compreender seus alunos, seus estágios de maturação, talentos específicos ou ainda as consequências de lesões cerebrais. Com isso, pode-se elaborar estratégias de ensino mais eficazes afim de promover uma melhor construção do aluno-indivíduo.
A contribuição de autores como Jean Piaget, Howard Gardner e o estudo das Funções Executivas podem fornecer alguns dos subsídios para suprir a carência de formação acadêmica ou formal dos professores destes processos internos de desenvolvimento da aprendizagem, visto que os mesmos - conforme citado por diversos autores neste trabalho - não são exigidos por lei de terem curso superior ou registro em órgão de classe, sendo portanto um incentivo para que as entidades esportivas representantes incluam estes estudos em seus programas de formação de instrutores, qualificando assim toda a cadeia de ensino e a arte marcial em si.
Bibliografia
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