Moda e o consumo dos padrões de beleza feminino Fashion and consumption patterns fem beauty Moda y consumo de los modelos de belleza femeninos |
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*Autora. Bacharel em Moda **Orientadora. Doutora em Comunicação Social (Brasil) |
Renata de Araujo Vidal* Denise Castilhos de Araujo** |
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Resumo Este artigo se propõe a tratar sobre os padrões de beleza vendidos pela moda, e sobre o seu consumo referente ao público feminino. O intuito é fazer uma contextualização sobre moda, consumo e padrão de beleza, mostrando o porquê de estes atingirem as mulheres e como eles estão sendo introduzidos a estas consumidoras. Refletir sobre o motivo desses modelos de beleza sugeridos pelas mídias serem seguidos e refletir sobre os males que eles causam, constituem-se com uma análise, que visa compreender o assunto para assim instigar o pensamento à procura de alternativas ou soluções. Unitermos: Consumo. Feminino. Moda e padrão de beleza.
Abstract This article aims to discuss about the beauty standards sold by fashion, and on their consumption through female audience. The aim is to make a contextualization of fashion, consumption and beauty pattern, showing why they target women and how they are being introduced to these consumers. Reflect on why it beauty models suggested by the media to follow and portray the evils it cause. An analysis of a critical point of view, which aims to understand the subject well to instigate thought looking for alternatives or solutions. Keywords: Consumption. Female. Fashion and beauty pattern.
Resumen Este artículo tiene como objetivo discutir acerca de los estándares de belleza que son vendidos por la moda, y sobre su consumo a través del público femenino. El objetivo es hacer una contextualización de la moda, el consumo y el nivel de belleza, mostrando por qué se dirigen a las mujeres y cómo están siendo introducidos a estos consumidores. Reflexionar sobre por qué estos modelos de belleza sugeridos por los medios de comunicación son seguidos y reflexionar sobre los males que causan, son con un análisis, que tiene como objetivo comprender bien el tema para estimular el pensamiento para buscar alternativas o soluciones. Palabras clave: Consumo. Femenina. La moda y la belleza estándar.
Recepção: 08/09/2016 - Aceitação: 13/03/2017
1ª Revisão: 24/02/2017 - 2ª Revisão: 10/03/2017
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Lecturas: Educación Física y Deportes, Revista Digital. Buenos Aires, Año 21, Nº 226, Marzo de 2017. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Para discutir a respeito do consumo dos padrões de beleza feminino oferecidos pela moda, é pertinente compreender o significado destes conceitos, e como estes fenômenos colaboram um com o outro dentro da sociedade. Primeiramente, deve ser entendido que a moda, atualmente, é vista em diversos setores na atualidade, fazendo parte do hoje, ela está tão intrínseca no cotidiano das pessoas, que é vista como algo “natural” (Svendsen, 2004). Embora na maioria dos casos a “moda” seja remetida ao vestuário, esta contempla um setor muito maior, e mostra sua abrangência já no seu nome, afinal, moda é um vocábulo de origem latina, que vem de modus, que significa modo, maneira, referindo-se a palavra comportamento.
Já o consumo, tem em seu conceito uma definição mais complexa, e é descrito como uma atividade dúbia, que possui um significado ambíguo, por vezes se referindo a algo positivo e por vezes a algo negativo. Isso se deve porque, atualmente, o consumo pode ser classificado em duas categorias, aquelas definidas como necessidades básicas, e aquelas tidas como supérfluas (Barbosa, 2010).
É importante compreender, que o consumo e a moda precisam um do outro para a sua sobrevivência, e que estes dois seguem os mesmos princípios. Faz parte da evolução do consumo sanar as vontades das pessoas, porém após a realização dessa vontade, um outro desejo se desenvolve (Junior; Centa, 2014), e a moda colabora com isso criando em uma velocidade cada vez maior, tornando um objeto supérfluo o mais rápido possível. Afinal, o “objetivo principal da moda é o consumo” (Pezzolo, 2009, p. 33).
No que se refere a padrão, este tende a caracterizar o modelo a ser seguido. Ou seja, os padrões de beleza tendem a instituir um conceito sobre aquilo que deve ser considerado belo, uniformizando assim o que chamamos de boa aparência (Esteves, 2012). Vale salientar que majoritariamente são as mulheres que almejam alcançar os padrões de beleza sugeridos, mesmo que não seja preciso de muito esforço para perceber esta observação. O objetivo deste texto é refletir a respeito dos padrões de beleza que estão presentes em textos de moda, bem como suas consequências ao serem consumidos pelas receptoras desses materiais.
Como os padrões de beleza são introduzidos às mulheres
Durante grande parte da história da humanidade, o sexo masculino era aquele associado à beleza, porém no Renascimento, entre os séculos XV e XVI, essa relação se modifica (Lipovetsky, 2000). O feminino passa a ser o belo e desde que a moda incidiu com um papel mais importante na sociedade, as mulheres se tornaram o público alvo preferencial de um setor que cria novas formas, silhuetas e padrões, constantemente. Assim se deduz que está é uma área que tem uma grande parcela de responsabilidade em relação a mercantilização do corpo feminino.
Essa é a primeira vez na história que as regras do modelo de beleza a ser almejado atingem grande parte da população, pois anteriormente está era uma preocupação da elite, principalmente. Mas “desde há um século para cá, o culto do belo sexo ganhou uma dimensão social inédita – entrou na era das massas” (Lipovetsky, 2000, p. 126), tornando-se algo de fácil acesso. Afinal, no século XX todas as classes passaram a ter a possibilidade de consumir pelo menos algumas das práticas do embelezamento, como produtos de maquiagem e cremes de beleza, por exemplo.
Estes produtos são publicitados em conjunto com o padrão estético, ambos tendo em sua função o objetivo de serem consumidos. Aqui a moda cumpre o seu papel, e dita um modelo almejado através das passarelas, dos veículos de comunicação, dos concursos de beleza que concentram as mulheres como alvo prioritário e das fotografias de moda. Este último, a fotografia de moda, é estimada como um importante supridor de imagens e uma mídia poderosa no que se trata de criar e comunicar (Barnard, 2003).
Ao expor estas questões, torna-se mais fácil a visualização e o compreendimento da relação entre a moda e o consumo, encontrando ainda um de seus pontos em comum, os padrões de beleza. Está ligação se faz tão presente que o autor Eco (2004) intitula o fenômeno atual de “beleza de consumo”, Wolf (1992) compara que a beleza com um sistema monetário semelhante ao padrão ouro, e Esteves (2012) afirma que o padrão de beleza é formatado para ser consumido.
Como comentado, a moda costuma inventar e reinventar novas formas e silhuetas, enquanto o consumo procurar criar “o novo” em um ritmo constante, pois este processo faz parte de sua evolução. Então, desde o Renascimento, o padrão de beleza já variou de diversos modos. No período presente, uma peculiaridade foi demandada refere aos cuidados com a beleza, e é visto um deslocamento de prioridades, pois “o padrão de beleza da atualidade, coloca essencialmente o corpo em evidência” (Esteves, 2012, p. 208). Esta mudança tirou o foco da face, parte do corpo que por muito tempo ganhou destaque.
Suas efemeridades, e porque são seguidas
O corpo é vendido de tal forma que parece que este pode ser moldado de diversos jeitos, conforme o modelo propagado, sendo que é claro que a evolução de um corpo não consegue acompanhar as efemeridades da moda. Para compreender a rapidez com que as prioridades são modificadas, se pode citar algumas mudanças que decorreram a partir de meados do século XX.
Mesmo após os anos 1960, período em que algumas barreiras da moda foram quebradas com a diversificação de estilos para se referenciar, deixando para trás o conceito de moda unívoca (Joaquim; Mesquita, 2011), um padrão continua sendo identificado e modificado. Na década de 1960 uma silhueta magra e esguia substituiu o padrão de beleza anterior, que ressaltava uma mulher curvilínea. Nos anos 1970 o movimento hippie se destaca e uma moda unissex é apresentada, e logo é substituída por um corpo malhado e torneado, que foi o padrão difundido nos anos 1980. E na década de 1990, além da ginástica, vale também tornear o corpo com simulações por meio de próteses, nos seios e no bumbum, principalmente. Estes ideais se mantem na atualidade (Braga, 2006).
Então, é identificado que o novo padrão de beleza é dominado pelo antipeso e pelo antienvelhecimento (Lipovetsky, 2000 p. 130). Ou seja, o modelo a ser seguido é manter-se sempre magra e sempre jovem, fazendo deste o novo mercado das massas. E se esse padrão está sendo consumido é porque as mulheres estão sendo orientadas a faze-los e estão sendo convencidas de que este é o modo ideal a reagir perante as diretrizes propagadas.
É importante destacar que os padrões não são colocados de forma impositiva, “uma vez que o próprio sujeito participa ativamente do processo que constitui sua identidade” (Butler, 2007, p. 34 e 198 apud Cyfer, 2010, p. 683). Mas o estimulo ao consumo da beleza está sendo divulgado de forma tão eficiente que não se pode denominar as decisões das mulheres de livre-arbítrio. Embora ninguém seja literalmente forçado e obrigado a seguir as imagens publicizadas pelas mídias, há uma força externa que persuadis as consumidoras, que é vista em forma de imagens tentadoras e seduzentes e que contribui para a que o sujeito siga esses modelos (Mathiesen, 1997 apud Sant’anna, 2009, p. 58).
Embora à primeira vista este pareça um processo inocente e até mesmo natural e sem grandes malefícios, o consumo dos padrões estéticos vem sendo prejudiciais as mulheres. Isso decorre porque aquilo que é considerado padrão é classificado na categoria de normal ou saudável, e o que está fora do padrão é visto como anormal ou patológico. Porém o modelo de beleza da sociedade contemporânea se apresenta como algo patológico, porque o que foi padronizado não está sendo algo saudável (Esteves, 2012). A patologia da valorização dos padrões surge porque as imagens apresentadas pelas mídias geralmente exibem modelos de beleza irreais, ao qual as fotos foram editadas para se mostrarem mais encantadoras. E assim o público fica dividido entre a imagem real e a imagem ideal que pertence somente ao imaginário e assim a imagem real não atende a expectativas das consumidoras e não as satisfaz. Ou seja, a estratégia da indústria da beleza funcionou de modo que muitas mulheres se encontram insatisfeitas com seus corpos e sua autoimagem (Caron, 2006).
Os malefícios do modelo de beleza
Não existe nenhuma justificativa de natureza biológica para o definir que as mulheres devem se manter belas, por esse motivo Esteves (2012, p. 209) chama este fenômeno de “ditadura da beleza” e Wolf (1992, p. 12), denomina estes padrões de “mito da beleza” e ainda afirma que o que o objetivo deste mito é unicamente criar uma contraofensiva contra as mulheres, correspondendo com à necessidade cultural. Tanto isto é verdade que a pesquisadora Ingrid Cyfer (2010), explica que as mulheres sabem identificar os padrões que elas consideram opressores, mas há dificuldade em se rebelar contra eles, devido há uma força que se afirmou no interior do ser humano em relação ao poder.
Assim fica entendido que além do padrão atual ser considerado patológico, as mulheres estão seguindo algo doentio e que as faz mal. No âmbito da moda, o “sentir-se bem” e o “sentir-se mal” é atribuído pelas consumidoras primeiramente ao “sentir-se bonita” e “sentir-se feia”, observa Miranda (2014, p. 95). Porém “muitas sentem vergonha de admitir que essas preocupações triviais – que se relacionam a aparência física, ao corpo, ao rosto, ao cabelo, às roupas – têm tanta importância” (Wolf, 1992, p. 11), já que esses modelos de beleza mostram padrões alternativos, mas exagerados, que podem fazer com que as mulheres se sintam rebaixadas, ou até mesmo às serem ofensivos (Barnard, 2003, p. 167).
É por esta razão que a valorização da aparência gerou um problema que afetou drasticamente a saudade das mulheres estas “descrevem o processo de moda como ditador, autoritário, em que regras são estabelecidas pelo sistema e todos devem obedecer e seguir para não cumprir a pena da exclusão social”, alega Miranda (2014, p. 80).
Os recursos lançados pelas indústrias da moda e do consumo apresentam produtos estéticos, dietas alimentares, técnicas de rejuvenescimento e intervenções cirúrgicas como soluções para que todas possam estar dentro do modelo de beleza, mas estas nem sempre são as técnicas e as atitudes mais indicadas a se seguir para manter uma boa saúde, tanto física quanto psicológica. O desejo, o ato de consumir para a satisfação, o estar sempre atrás do inalcançável, só causam frustrações devido à lógica da evolução do consumo, comentada inicialmente.
Outros males que podem ser citados ao falar sobre os padrões de beleza são as sensações de insegurança que fazem com que as mulheres raramente se sintam plenamente bem consigo mesmas, pois a autoestima é elevada ou rebaixada conforme a proximidade da aparência da consumidora com a imagem exposta e reiterada pela mídia. E a partir desta análise feita pela consumidora referente à diferença entre a sua aparência e aquela imagem que lhe foi vendida, podem decorrer “frustrações, insatisfação com o corpo e sentimentos de inferioridade” (Esteves, 2012, p. 210).
Rabine (2002, p. 83) traz em questão que, conscientemente ou não, o fato de existir um modelo que define a boa aparência, faz com que muitas mulheres queiram ser o “objeto de desejo” do olhar masculino. A semiótica pós-moderna da moda tem uma relação com o fetichismo da interpretação da aparência da mulher. Este fato, entre outros, pode desencadear o transtorno de identidade, afinal os padrões de beleza fomentam o afastamento do ser humano com a sua interioridade, alerta (Esteves, 2012).
Entre as conseqüências mais graves, estão alguns sentimentos patológicos ao qual a angústia, pode vir a causar depressão. Os distúrbios alimentares e as dietas exageradas podem resultar em doenças como bulimia e anorexia. E quando o excesso de práticas físicas não soluciona o “problema” ou a obsessão pela aparência perfeita só tende a aumentar, há aquelas que recorrem a intervenções cirúrgicas desnecessárias, com procedimentos invasivos, que tem unicamente a finalidade estética como objetivo.
Conclusões
Conclui-se então, que evidentemente, os padrões de beleza colocados para as mulheres na atualidade estão disseminados na sociedade e que estes trazem mais malefícios do que benefício ao indivíduo. Então é preciso de uma nova forma de agir e pensar. Wolf (1992, p. 24) declara que “se quisermos nos livrar do peso morto em que mais uma vez transformaram nossa feminilidade, não é de eleições, grupos de pressão, ou cartazes que vamos precisar primeiro, mas, sim, de uma nova forma de ver”.
Porém atos visando mostrar novas estimas não é uma tarefa simples a se elaborar, é preciso propagar estes ideais e estes conceitos para a grande massa. Caron (2006, p. 2) acredita no conceito denominado beleza sustentável que se refere ao trocar o “ser belo” para o “sentir-se belo”, em que os valores buscados são a saúde e o bem-estar, ao qual o ser busca o autoconhecimento, tanto referente ao seu corpo quanto a sua personalidade. É preciso fazer uma inversão sobre os conceitos estéticos, pois devia-se estar correndo atrás da liberdade, do direito a livre expressão e da autoconfiança.
O que está em jogo é a libertação da mulher, relembra Wolf (1992), assim incentivando a quebra das barreiras criadas pela moda e pelo consumo através dos padrões. E embora possa haver receios ao se abandonar estas ideais, a quebra desses paradigmas fará uma grande abertura para novas formas do ser humano se relacionar com o si, com o seu corpo e com o outro. Uma abertura de diversas possibilidades.
Bibliografia
Barbosa, L. (2010). Sociedade de consumo (3ª Ed). Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar.
Barnard, M. (2003). Moda e comunicação. Rio de Janeiro, RJ: Rocco.
Braga, J. (2006). Reflexões sobre moda. (2. Ed). São Paulo, SP: Anhembi Morumbi.
Caron, C. (2006). A influência da moda na ditadura da beleza feminina. Disponível em: http://www.coloquiomoda.com.br/anais/anais/2-Coloquio-de-Moda_2006/artigos/27.pdf. Acessado em: 30 de agosto de 2016.
Cyfer, I. (2010). Mulher, sociedade e direitos humanos. In: P. Bertolin e A. Andreucci. Mulher, Sociedade e Direitos Humanos. São Paulo, SP: Riddel.
Eco, U. (2004). História da beleza (1ª Ed). Rio de Janeiro, RJ: Record.
Esteves, R. (2012). Moda, sustentabilidade e emergências. In: A. Carli e B. Venzon (Coord.) Moda, Sustentabilidade e Emergências (1ª Ed.) Caxias do Sul, RS: EDUCS (Editora da UCS).
Joaquim, J.; Teixeira, C. (2011). Rupturas do vestir: articulações entre moda e feminismo. Disponível em: http://docplayer.com.br/9922933-Rupturas-do-vestir-articulacoes-entre-moda-e-feminismo-ruptures-of-dressing-articulation-between-fashion-and-feminist.html. Acessado em: 30 de agosto de 2016.
Junior, A.; Centa,S. (2014). Surpervarejo: uma abordagem prática sobre os mercados de consumo. Curitiba, PR: Intersaberes.
Lipovetsky, G. (2000). A terceira mulher: permanência e revolução do feminino. São Paulo, SP: Companhia de Letras.
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Pezzolo, D. (2009). Por dentro da moda: definições e experiências. São Paulo, SP: Senac.
Rabine, L. W. (2002). Por dentro da moda. In: S. Benstock e S. Ferris (2002). Por dentro da Moda. Rio de Janeiro, RJ: Rocco.
Sant’anna, M. R. (2009). Teoria de moda: sociedade, imagem e consumo (2ª Ed.). Barueri, SP: Estação das Letras e Cores.
Svendsen, L. (2004). Moda: uma filosofia. Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar.
Wolf, N. (1992). O Mito da beleza: como as imagens de beleza são usadas contra as mulheres. Rio de Janeiro, RJ: Rocco.
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