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Perfil profissional do treinador de natação 

brasileiro das categorias infantil e juvenil

Professional profile of Brazilian swimming coach of children and youth categories

Perfil profesional del entrenador de natación brasileño de las categorías infantil y juvenil

 

*Pós graduado em natação e atividades aquáticas – Universidade Gama Filho

**Pós graduado em Treinamento Desportivo – Faculdades Sogipa

***Pós gradudada em natação e atividades aquáticas – Universidade Gama Filho

(Brasil)

Fábio Souza De Oliveira*

João Paulo Brum Rodrigues**

Luciana Andrade Falcão***

fabiopatchanka@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          A profissão treinador é recente no Brasil e no mundo e atende às demandas do esporte competitivo. Deste modo, compreender o perfil deste profissional é condição para a elaboração das políticas públicas voltadas a este segmento, além da melhoria deste setor profissional. Neste sentido, este foi um estudo descritivo de corte transversal, com abordagem quantitativa, tendo como ferramenta de coleta de dados o questionário fechado. A pesquisa foi realizada com treinadores inscritos nos campeonatos brasileiros de inverno das categorias infantil e juvenil, em Recife e Aracaju respectivamente. Verificou-se que a maioria dos treinadores brasileiros é do sexo masculino e tem em média 39 anos de idade. A maior concentração de treinadores está no sudeste (51,8%) e, apesar do elevado grau de instrução da população, o treinador brasileiro é mal remunerado. A maioria dos treinadores de natação é ex-atleta da modalidade e a quase totalidade dos empregos são oriundos da iniciativa privada. Dados os baixos salários, a maioria dos treinadores tem pelo menos mais um vínculo empregatício. Os resultados apontam para a necessidade de implementação de políticas públicas e atuação dos órgãos de classe no sentido de regulamentar condições mínimas de trabalho e remuneração para a profissão do treinador.

          Unitermos: Treinador. Natação Competitiva. Profissão.

 

Abstract

          The coaching career is recent in Brazil and in the world and attend the demands of competitive sports. Thus, understanding the profile of this professional is a prerequisite for the development of targeted public policies in this segment, in addition to improving this professional sector. In this sense, this was a descriptive study of cross-sectional with a quantitative approach, that had as a tool of data collection the closed questionnaire. The survey was conducted with coaches enrolled in the national winter championships of child and youth categories, performed in Recife and Aracaju respectively. It was found that most Brazilian coaches are male and have an average of 39. The largest concentration of coaches is in Southeast (51.8%) and, despite the high level of education of the population, the Brazilian coach is underpaid. Most swimming coaches are former athletes and almost all the jobs come from the private sector. Given the low wages, most coaches have at least one more employment. The results point to the need for implementation of public policies and action of the organs of class in order to regulate minimum working conditions and remuneration for the profession of coaching.

          Keywords: Coach. Competitive swimming. Career.

 

Resumen

          La profesión de entrenador es reciente en Brasil y en el mundo y responde a las demandas de los deportes de competición. Por lo tanto, entender el perfil de este profesional es una condición para el desarrollo de políticas públicas dirigidas a este segmento, además de la mejora del sector profesional. Por lo tanto, este fue un estudio descriptivo de corte transversal con un enfoque cuantitativo, utilizando el cuestionario cerrado como herramienta de recolección de datos. La encuesta se llevó a cabo con los entrenadores registrados en los campeonatos de invierno de Brasil en categorías niños y jóvenes, en Recife y Aracaju, respectivamente. Se encontró que la mayoría de los entrenadores brasileños son hombres y tienen en promedio 39 años de edad. La concentración más alta de los entrenadores están en el Sudeste (51,8%) y, a pesar del alto nivel de educación de la población, el entrenador brasileño es mal pagado. La mayoría de los entrenadores de natación son ex atletas de la misma modalidad y casi todos los puestos de trabajo provienen del sector privado. Dados los bajos salarios, la mayoría de los entrenadores tienen al menos otro empleo. Los resultados apuntan a la necesidad de implementar políticas y actividades de los organismos profesionales públicos con el fin de regular las condiciones mínimas de trabajo y la remuneración para el entrenador de profesión.

          Palabras clave: Entrenador. Natación competitiva. Profesión.

 

Recepção: 15/05/2016 - Aceitação: 03/12/2016

 

1ª Revisão: 12/11/2016 - 2ª Revisão: 28/11/2016

 

 
Lecturas: Educación Física y Deportes, Revista Digital. Buenos Aires, Año 21, Nº 223, Diciembre de 2016. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Treinadores desportivos, possivelmente existem desde os primeiros relatos de envolvimentos de pessoas com o desporto competitivo, mais acertadamente desde os jogos olímpicos da antiguidade (Woodman, 1993). A profissão de treinador, no entanto é recente, e surge das demandas do esporte competitivo mundial (Cavalcanti; Dantas & Santos, 2009). Neste sentido, a profissão avança à medida que o esporte competitivo continua crescendo e são criados cursos para treinadores pelo mundo (Woodman, 1993). Um dos exemplos é o Reino Unido, onde um esforço crescente no sentido de profissionalizar o treinador esportivo tem sido notado, dadas as necessidades advindas da própria dinâmica atual do esporte (Nash & Sproule, 2009). Portanto, a profissão de treinador esportivo é uma realidade crescente e com procura significativa, considerando-se todas as possibilidades de modalidades esportivas, suas categorias e os vários eventos possíveis onde a figura deste profissional é requerida. Somente na natação são seis diferentes categorias, com eventos distintos e preparação esportiva específica que precisam da presença do treinador de natação na condução da condição física, técnica, tática e psicológica dos atletas.

    No Brasil, os atletas da modalidade natação de modo geral iniciam a carreira esportiva com um treinador de base que o conduz aos seus primeiros resultados relevantes em torneios estaduais, regionais e até mesmo nacionais, definindo seu estilo principal e conquistando seus primeiros índices para eventos maiores. A maior parte dos clubes, entretanto, não dispõe de estrutura para proporcionar a estes atletas a continuidade deste crescimento desportivo, e deste modo, eles migram para clubes maiores, onde iniciarão a busca por resultados ainda melhores, com estrutura física e profissional adequadas. Esta realidade nacional de clubes segmenta a natação competitiva em dois grandes grupos: um inicial, que geralmente relaciona-se com as categorias mirim a juvenil, e que contempla a primeira etapa da carreira desportiva de nadadores, conduzindo-os aos primeiros resultados expressivos, principalmente na esfera nacional, e outro grupo mais seleto, composto por nadadores que se destacam em suas provas e categorias, conduzindo-os ao alto rendimento e à participação em campeonatos mundiais e aos jogos olímpicos.

    Para compreender esta relativamente nova área de atuação, cabe antes definir profissão. Segundo Dubar (2005, p. 170 apud Santos, 2011) “dizemos que uma profissão emerge quando uma quantidade definida de pessoas começa a praticar uma técnica definida fundamentada em uma formação especializada”. Para Parsons (1977, apud Barbosa, 1993), são portadores de treinamento técnico formal, com validação institucional da adequação deste treinamento e da competência do indivíduo treinado. São indivíduos que possuem um domínio sobre a racionalidade cognitiva, tomada em sentido mais amplo, quase uma “cultura geral” aplicável a um campo específico. Neste sentido, a profissão treinador é exercida por profissionais que atuam com o esporte competitivo, requerendo portanto, o conhecimento da modalidade e das técnicas necessárias para o desenvolvimento do atleta ou equipe esportiva.

    A movimentação em busca da profissionalização do treinador, é impulsionada pelo crescimento do esporte mundial, particularmente o desporto de alta performance, aumento das pesquisas relacionadas a este segmento, além do aumento do número de organizações que defendem esta profissão, a exemplo dos órgãos de classe (Woodman, 1993). Nos Estados Unidos, por exemplo, a ASCA – Associação Americana de Treinadores de Natação, dentre outras funções, é responsável por licenciar os treinadores credenciados, além de criar princípios de inclusão e exclusão. Esta certificação define quem é um treinador, a estrutura profissional desta carreira e como avançar nesta estrutura (Hastings, 1987).

    Apesar dos poucos estudos sobre a temática, sabe-se que a profissão do treinador é um fenômeno maioritariamente masculino, com poucos treinadores que sobrevivem exclusivamente deste ofício, sendo a maioria dos treinadores voluntários ou de tempo parcial, possuindo outras atividades remuneratórias (Woodman, 1993). Este mesmo autor acredita que, a chave para o desenvolvimento da profissão está nos programas de treinamento e na qualidade da formação dos treinadores.

    A modalidade natação, especificamente, requer o conhecimento das técnicas dos nados, regras, fisiologia humana em repouso e em exercício, além de outras competências que possam promover a melhoria do desempenho desportivo do nadador, incluindo conhecimentos advindos da Psicologia, Sociologia, Antropologia, Nutrição e outros (Woodman, 1993).

    De modo geral, um treinador de natação é um ex-atleta e inicia sua carreira como voluntário ou estagiário, passando por técnico assistente e finalmente técnico principal (Hastings, 1987, Cavalcanti; Dantas & Santos, 2009). No dia a dia da profissão, aprendem com outros treinadores como eles se comportam, valores esperados, habilidades esperadas, retórica apropriada da modalidade. Estas aprendizagens funcionam como uma credencial para serem contratados ou indicados como treinadores.

    No Brasil, para ser treinador é necessário estar inscrito no Conselho de Classe (CREF/CONFEF), sem o qual é configurado ato ilícito, nos termos da legislação específica.

    Existem no Brasil hoje, aproximadamente 13,5 mil nadadores competitivos ativos, vinculados à Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), e portanto, uma demanda significativa por este profissional no país: o treinador. Os nadadores podem competir em categorias por faixa etária, a partir dos 12 anos de idade ou em eventos abertos, sem limitação da faixa etária, e neste caso, o treinador também deve conhecer as peculiaridades de cada grupo etário. Estima-se que hoje existam no Brasil aproximadamente 800 treinadores de natação atuantes.

    Outra segmentação possível dentro desta mesma área é a que diz respeito ao nível de desempenho dos nadadores de uma dada equipe: se municipal, estadual, regional, nacional ou até internacional. Esta separação requer outras tantas competências e incide diretamente no trabalho do treinador.

    Este estudo, mostrará os treinadores em duas amplas categorias: o treinador de Desenvolvimento Esportivo na natação, que atua junto a nadadores de categorias petiz a juvenil e que ainda não disputa os eventos mais importantes da natação mundial, a exemplo das etapas da Copa do Mundo e das Olimpíadas. E o treinador do sênior ou adulto, que disputa as principais provas em mundiais e Olimpíadas, aqui chamados de treinadores de Aperfeiçoamento Desportivo.

    O treinador da categoria aqui denominada Desenvolvimento Esportivo, deve proporcionar aos nadadores iniciantes o domínio das habilidades básicas dos nados, bem como a iniciação aos treinamentos, vivências competitivas e prazer em nadar competitivamente (Woodman, 1993). É indispensável, portanto, que quem trabalha com crianças e adolescentes tenha boa formação pedagógica, conhecimento sobre Fisiologia, Psicologia, Sociologia e outros (Cavalcanti; Dantas & Santos, 2009). Os treinadores da categoria Aperfeiçoamento Desportivo, por sua vez, são responsáveis por desenvolver os talentos desportivos em nível de performance internacional, o que pode exigir equipe multidisciplinar incluindo treinadores assistentes (Woodman, 1993). Esta divisão, perceptível de forma prática no campo de atuação, é também adotada pelo Comitê Olímpico Brasileiro para fins de formação do treinador. Este artigo debruçará sobre perfil do treinador que atua nas categorias infantil e juvenil, pertencente, portanto, ao Desenvolvimento Esportivo.

    Neste sentido, identificar o perfil profissional do treinador de natação brasileiro é ferramenta basilar para a compreensão da realidade atual desta profissão e as possibilidades de avanço desta área. Este artigo tem por objetivo identificar o perfil profissional do treinador de natação brasileiro das categorias infantil a juvenil, discutindo possíveis diferenças relacionadas à localização geográfica, e possibilidades de implementação de políticas públicas para este setor.

Materiais e métodos

    Os dados foram coletados por meio de questionário fechado, contendo 20 questões, construído para esse fim. As coletas foram realizadas nos campeonatos nacionais das categorias infantil e juvenil, em Recife e Aracaju respectivamente, durante o mês de maio de 2014. Antes das coletas de dados desta pesquisa, o questionário foi validado por três especialistas da área do treinamento desportivo, e foi realizado um estudo piloto do questionário com treinadores de natação com perfil idêntico ao da pesquisa, visando identificar possíveis falhas e a necessidade de ajustes do instrumento. Os questionários foram entregues aos treinadores, durante o evento, e coletados ao final do preenchimento, no mesmo dia ou no dia seguinte. Ao devolver os questionários, os treinadores receberam duas cópias do Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE), guardando uma via assinada e deixando outra com o entrevistador.

    Este procedimento foi repetido durante as três tardes de cada competição, considerando-se que alguns treinadores só estão no local da competição quando seus nadadores estão em disputa.

    Os treinadores que responderam ao questionário por ocasião do campeonato brasileiro infantil, que ocorre em data anterior, não responderam o questionário durante o campeonato brasileiro juvenil, realizado uma semana após. Os questionários foram reunidos e codificados com numeração para as análises.

Tipo de estudo

    Este foi um estudo do tipo descritivo-exploratório transversal, em que os dados relativos a cada indivíduo expressam aquela população no momento da coleta, com abordagem quantitativa. Para Thomas, Nelson & Silverman (2012), a pesquisa descritiva é um estudo do status, tendo como base a premissa de que os problemas podem ser resolvidos e as práticas melhoradas por meio de descrição objetiva e completa.

Local e período

    Esta pesquisa foi realizada entre outubro de 2013 e setembro de 2014, com coleta de dados realizada no mês de maio de 2014 por ocasião dos campeonatos brasileiros das categorias infantil e juvenil.

População e amostra

    Os sujeitos deste estudo foram os treinadores de natação das categorias infantil e juvenil, categorias da natação que se enquadram nos critérios de técnicos de Desenvolvimento Esportivo, que estiveram inscritos nos campeonatos brasileiros infantil e juvenil de inverno de 2014. Foram entrevistados 114 treinadores com idade entre 20 e 66 anos (M=39, DP=10,6), sendo 100 do sexo masculino e 14 do sexo feminino.

Aspectos éticos

    O projeto, bem como a sua metodologia, foram submetidos à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Faculdade Estácio de Sá do Rio de Janeiro com parecer favorável n. 657.603 de 15/05/2014.

Análise e obtenção dos resultados

    Os dados coletados foram codificados e transcritos utilizando-se a planilha eletrônica da Microsoft Office Excel 2010. Os resultados foram compilados por meio de distribuição de frequência e expressos por média (M) e desvio padrão (DP), e analisados de forma descritiva.

Resultados e discussão

    Durante os campeonatos brasileiros das categorias infantil e juvenil de inverno, foram coletados 114 questionários de treinadores das cinco regiões do Brasil. A maioria dos treinadores entrevistados é do sexo masculino (87,7%), sendo somente 12,3% do sexo feminino, tendo em média 39 anos de idade (10,6~= DP). De acordo com Ferreira (2012), as mulheres representam somente 7% dos técnicos no Brasil, considerando-se diferentes modalidades. Para a autora os principais motivos são a aceitação de pais e atletas, o reflexo da vida de treinador na vida pessoal da mulher a exemplo do tempo despendido com viagens, o estereótipo de homossexualidade, baixa remuneração ou simplesmente por preconceito.

    Grande parte destes profissionais, 51,8%, está localizada no Sudeste do país, 20,2% no Nordeste, 14% na região Sul, 9,6% na região Centro-Oeste e 4,4% na região Norte. As altas concentrações de treinadores no Sudeste podem ter relação com o IDH da região que figura entre os mais altos do país, uma vez que este índice considera questões como renda e educação (Organização das Nações Unidas no Brasil [ONUBR], 2013), fatores que podem contribuir para a adesão à prática da natação competitiva e consequente, formação de demanda de treinadores. Dos treinadores entrevistados, 45,6% tem pós graduação, 38,6% tem somente a graduação, 14% tem formação em nível de mestrado e 1,8% em nível de doutorado. Com relação à renda, 5,3% dos entrevistados ganham até um salário mínimo, 22,8% entre 1 e 3 salários, 44,7% recebe de 4 a 7 salários, 15,8% entre 7 e 9 salários e 10,5% ganha 10 ou mais salários mínimos. As maiores remunerações, acima de 7 salários mínimos exclusivamente como treinadores, estão na região Sudeste, provavelmente devido também a questões de IDH, sobretudo no quesito renda. Na região Sul, apenas 13% dos treinadores entrevistados recebem mais de 7 salários mínimos como treinador, na região Norte 20%, na região Nordeste 22% e na região Centro-Oeste, 18% dos treinadores ganham 7 ou mais salários mínimos.

    Os entrevistados têm em média 16 anos de profissão (10 ~=DP) e a maioria (79,8%) foi ex-atleta da natação.

    Trabalham em instituição privada 94,7% dos entrevistados, sendo que destes, 20% não possuem registro em carteira. Dos 80% que possuem registro em carteira, 36% tem registro como professor e 36,6% como treinador. Este dado aponta para a necessidade de delimitação de espaços entre a profissão do professor e a do treinador, com consequente caracterização de atuação e renda. Somente 12,3% trabalham como funcionários públicos, e 3,5% são proprietários de empresa que atua com natação competitiva. A natação competitiva no Brasil é uma iniciativa quase exclusiva da iniciativa privada. É possível que políticas públicas de implementação deste segmento no setor público possam impulsionar o crescimento da modalidade no país.

    Dentre os treinadores entrevistados, 71,9% têm pelo menos mais um vínculo empregatício. A impossibilidade de dedicação exclusiva à natação competitiva, sobretudo por conta dos baixos salários, certamente incide nos resultados conquistados por treinadores que possuem dois ou mais vínculos. Uma política salarial melhor definida, sobretudo através de sindicatos ou órgãos de classe, podem modificar o perfil do treinador sob este aspecto, possivelmente modificando os resultados nas piscinas.

    Afirmaram participar frequentemente de curso de atualização, 69% dos entrevistados. Os que raramente frequentam cursos de atualização totalizaram 43% e 2% mencionaram não participar de cursos de atualização.

    Em média, um treinador trabalha 25 horas (@11DP) semanais com natação competitiva e 36 horas semanais (@15,9DP) somando-se todos os vínculos. Verificou-se neste estudo que a quantidade de horas dedicadas à natação competitiva, 25 horas em média, é significativamente baixa considerando-se que são treinadores que já atuam na esfera nacional. Os resultados mais expressivos nas categorias finais do Desenvolvimento Esportivo são fruto das horas dedicadas às equipes e ao trabalho de pesquisa e planejamento do treinador.

    Dos treinadores que atuam nas categorias infantil e juvenil, 38,6% não possuem equipe multidisciplinar. Possuem médico 36,8%, 52,6% possuem nutricionista, 43% possuem psicólogo, 19,3% fisiologista e 14% possuem algum outro profissional de apoio (auxiliar técnico, biomecânico, etc.). O desenvolvimento dos talentos esportivos na natação infantil e juvenil podem ser melhor explorados através do acompanhamento multidisciplinar, o que não foi verificado na população estudada.

    Durante as viagens competitivas, 61,4% tem as despesas custeadas pela própria instituição, 33,3% pelos atletas e 5,3% dos treinadores, pagam suas próprias despesas em viagens de competição.

    Não recebem hora extra 85,1% dos treinadores e 79,8% também não tem banco de horas. Embora os treinadores tenham as despesas de viagens custeadas, verifica-se que, o trabalho do treinador nas viagens não é remunerado com hora extra em grande parte dos casos e nem mesmo é feito banco de horas que o compense por essa jornada de trabalho. Esta questão, bem como as questões salariais ou de definição da profissão do treinador, também merecem atenção especial dos órgãos de classe, tornando-a mais atrativa para futuros treinadores.

    Dentre os treinadores que possuem mais de um vínculo empregatício, 35,8% pagam um substituto quando viajam, 28,4% viajam sem precisar pagar profissional substituto, 30,9% precisará negociar reposição de horas, 3,7% dos atletas deverão viajar sozinhos e somente 1,2% dos treinadores que precisam viajar com seus nadadores, tem auxiliar que os substituam durante as viagens. Do total de treinadores entrevistados, mais de 65% terá que pagar ou repor aulas após as viagens competitivas, reforçando a necessidade de atuação de órgãos de classe que possam regulamentar este aspecto.

Conclusão

    Verificou-se neste estudo que a maioria dos treinadores brasileiros é do sexo masculino e tem em média 39 anos de idade. Estão geograficamente distribuídos de forma irregular com maior concentração no Sudeste do país (51,8%). O treinador de natação brasileiro é mal remunerado, mais de 70% dos entrevistados recebe menos de seis salários mínimos, apesar do elevado grau de instrução da população (mais de 60% tem titulação de especialista, mestrado ou doutorado).

    A maior parte dos treinadores de natação é ex-atleta da modalidade, apontando esta como importante via de acesso à profissão, e a quase totalidade dos empregos são oriundos da iniciativa privada.

    Em sua grande maioria, os treinadores de natação do Brasil não conseguem viver exclusivamente do treinamento de natação, não recebem hora extra ou compensação de horas por trabalhar em viagens competitivas.

    Os resultados apontam para a necessidade de implementação de políticas públicas e atuação dos órgãos de classe no sentido de regulamentar condições mínimas de trabalho e remuneração para a profissão do treinador.

Bibliografia

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