A visão de professores de Educação Física acerca da capoeira na escola: uma análise de escolas de balneário Camboriú-SC Teacher overview of Physical Education on the capoeira at school: an analysis of Camboriú-SC schools La mirada de los profesores de Educación Física sobre la capoeira en la escuela: una análisis en las escuelas del balneario Camboriú, SC |
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*Doutorando em Ciências Humanas (UFSC). Mestre em Educação (USFC). Professor titular do curso de Educação Física, disciplina de lutas e artes marciais, da Faculdade Avantis **Licenciada em Educação Física Licenciatura da Faculdade Avantis |
Éliton Clayton Rufino Seára* Cynara Barbieri Teodoro** (Brasil) |
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Resumo O presente estudo trata-se de uma pesquisa que buscou investigar as visões de professores de Educação Física acerca do conteúdo Capoeira em alguns centros educacionais do município de Balneário Camboriú, Santa Catarina. Sua efetivação se deu através de um estudo qualitativo de cunho descritivo – argumentativo, utilizando como técnica de coleta de dados, entrevistas semi estruturadas dirigida a uma amostra composta por três professores de Educação Física, atuantes cada qual, em seu ambiente escolar específico. Para fomentar essa abordagem procurou-se fazer uma análise documental, na tentativa de evidenciar alguns dos processos históricos e socioculturais das lutas. Conclui-se, que os docentes pesquisados não corroboram com a ideia de que a capoeira possa potencializar a violência se forem abordadas didático pedagogicamente. No entanto, ficou claro que este conhecimento ainda não é disponibilizado por todos pesquisados por apresentarem alguns argumentos restritivos. Também se argumenta durante todo o trabalho a importância do desenvolvimento dos aspectos cognitivos, motor, afetivo e social dos educandos a respeito da aplicação do conteúdo no ambiente escolar. Unitermos: Capoeira. Educação física escolar. Visão docente.
Abstract This study comes from a research that investigated the views of Physical Education teachers about Capoeira content in some educational centers in the city of Camboriú, Santa Catarina. Its effectuation was through a qualitative study of descriptive nature - argumentative, using as a data collection technique, semi-structured interviews addressed to a sample of three teachers of Physical Education, each one acting in their specific school environment. To foster this approach it was accomplished a documentary analysis in an attempt to highlight some of the historical and sociocultural processes of martial arts. It follows that the teachers surveyed did not corroborate the idea that capoeira enhances violence if it is approached in a pedagogical teaching. However, it became clear that this knowledge is not yet available for all surveyed by presenting some arguments restrictive. It is also discussed throughout the work the importance of the development of cognitive, motor, affective and social development of the students regarding to the application of this kind of content in school environments. Keyword: Capoeira. Teacher views. Physical education.
Resumen Este estudio trata sobre una pesquisa que investigó las opiniones de los profesores de Educación Física sobre el contenido de la capoeira en algunos centros educativos en la ciudad de Camboriú, Santa Catarina. Su ejecución fue a través de un estudio cualitativo de carácter descriptivo - argumentativo, utilizando como técnica de recolección de datos, entrevistas semi-estructuradas sobre una muestra compuesta por tres profesores de Educación Física, actuando cada uno en su entorno escolar en particular. Para fomentar este enfoque hemos tratado de hacer un análisis documental en un intento de poner de relieve algunos de los procesos históricos y socioculturales de las luchas. De ello se desprende que los profesores encuestados no apoyan la idea de que la capoeira pueda potenciar la violencia si se aborda la enseñanza de pedagógicamente. Sin embargo, se hizo evidente que este conocimiento aún no está disponible para todos los encuestados por presentar algunos argumentos restrictivas. También se argumenta a lo largo del trabajo la importancia del desarrollo de habilidades cognitivas, motoras, desarrollo afectivo y social de los estudiantes con respecto a la aplicación de los contenidos en el entorno escolar. Palabras clave: Capoeira. Educación Física escolar. Mirada del docente.
Recepção: 17/06/2016 - Aceitação: 04/12/2016
1ª Revisão: 22/11/2016 - 2ª Revisão: 01/12/2016
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Lecturas: Educación Física y Deportes, Revista Digital. Buenos Aires, Año 21, Nº 223, Diciembre de 2016. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
É possível observar, atualmente, que a Educação Física escolar ainda passa por um período de muitos conflitos. Um deles está direcionado a perspectiva de uma cultura esportiva homogênea. Ou seja, existe dentro das escolas uma visão de que os esportes coletivos podem ser a única opção de intervenção para os alunos. Nesse sentido, ao observar que alguns conteúdos ainda são negligenciados nas aulas em detrimento de outros, pois, muitos profissionais parecem basear-se somente no contexto dos desportos, o que a reflexão de Seára (2014) traz à tona uma perspectiva de novos olhares, ao dizer que:
É comum notar que esta área de saber tenha como aporte maior de pensamento em tempos hodiernos as práticas do BOL: Futebol, basquetebol, handebol e voleibol. É claro que não se está aqui de forma alguma negligenciando estas práticas como conhecimento produzido culturalmente pela sociedade. No entanto, é necessário esboçar e ampliar o vocabulário corporal valorizando as questões cognitivo-motor e afetiva através de outras práticas (2014, p.1).
Com isso, percebe-se que o educando tem a necessidade de conhecer o novo, desenvolver habilidades dentro do seu próprio corpo e, ao mencionar estas outras práticas observamos que a capoeira está inserida nesse âmbito. Nesse sentido, tal prática [a capoeira] tem como papel não somente vivência corporal por si só, mas engloba ainda o lúdico, a historização, aspectos culturais de sua prática, seus diferentes movimentos e ritmos, dentre outras possíveis inserções.
Dessa forma, ao compreender a riqueza e importância da capoeira, é preciso elucidar para sua inserção na escola a partir dos professores e, neste estudo mais especificamente dos professores de Educação Física. Assim, depende do próprio professor proporcionar esta vivência dentro da escola como cultura corporal do movimento, como história de um povo que lutou por sua liberdade, por isso, podemos trazer com tanta força a capoeira para nossas reflexões cotidianas.
A partir dessas considerações sobre a inserção da capoeira como conteúdo nas aulas de Educação Física, esse artigo visa expor através de pesquisa de campo qual a visão de professores de Educação Física sobre a capoeira no âmbito escolar. Para tanto, como objetivo geral deste estudo buscou-se investigar a visão de professores de Educação física acerca da capoeira em alguns centros educacionais do município de Balneário Camboriú. Além disso, outros objetivos subsequentes foram pensados, tais como: verificar se a capoeira é tematizada pelos professores; identificar se/e como são abordadas as atividades relacionadas à capoeira na escola; observar e problematizar a relação preconcebida desta luta (capoeira) com a violência.
O desenvolvimento do trabalho seguiu procedimentos metodológicos da pesquisa qualitativa, de cunho descritivo – argumentativo, para tanto, utilizou-se dois instrumentos básicos para essa investigação: Inicialmente buscou-se realizar análises documentais acerca do tema e posteriormente entrevistas semi-estruturadas.
Para alcançar o objetivo principal esta investigação norteou-se a partir da seguinte questão problema: Qual a visão da temática capoeira na Educação Física escolar por parte dos professores que ministram aulas no Ensino fundamental de escolas (municipais e estaduais) da cidade de Balneário Camboriú, Santa Catarina?
A capoeira no âmbito escolar
A capoeira dentro da escola tem sua contribuição não com o objetivo de formar atletas de rendimento, mas fazer conhecida sua história e cultura pode-se assim, utilizar a capoeira para trabalhar em todas as disciplinas, inclusive na Educação Física.
Segundo Campos "a capoeira é um caminho lúcido para sobrevivência da nossa cultura, oferecendo um braço forte para resistir a nossa alienação de nós mesmos." (Campos, 2006).
Para Reis, "a capoeira talvez seja um dos caminhos para efetiva democratização da escola" (Reis, 2001).
Seára (2009, p.4) expressa que a capoeira é uma manifestação de grande representação da cultura brasileira, imprimi relações histórico-culturais, estas por sua vez tratam de ações que se direciona na busca de valores da construção do cidadão, juntamente buscando o poder de reflexão e criticidade da realidade que se habita.
Nesse âmbito, a capoeira dentro da escola e, aqui direcionada para a Educação Física, deve ser direcionada à vivência da cultura corporal do movimento, no qual visa o bem estar e conhecimento de si, por isso, pode ser trabalhada não somente por um Mestre ou Professor de capoeira, em que os objetivos destes são as aulas extracurriculares, mas sim que o próprio Professor de EFE possa proporcionar o conteúdo dentro dessa disciplina.
Envolto a essa discussão de inserção, em 2003 a Lei 10.639 traz esta contribuição da obrigatoriedade de tematização da história e as práticas culturais da comunidade negra e africana e afro-brasileira. Nesse contexto, a capoeira como um dos possíveis temas afro e afro-brasileiro tem então uma fundamentação legal dentro da escola.
O PCN-EF (Brasil, 2001) procura também enfatizar a construção de valores que busquem a cidadania, a integração, a inclusão, o respeito e a criticidade e apreciação a diversidade cultural de nossa sociedade. Sendo assim, é tarefa da Educação Física Escolar garantir o acesso dos educandos às práticas da cultura corporal, oferecendo-as inclusive, como instrumentos de teor crítico (Brasil, 2001, p.130).
Encontramos ainda nos PCN’S de Educação Física (1998, p.27) que a capoeira é entendida como um dos conteúdos dessa disciplina:
A Educação Física é entendida como uma área que trata de um tipo de conhecimento, denominado cultura corporal de movimento, que tem como temas o jogo, a ginástica, o esporte, a dança, a capoeira e outras temáticas que apresentarem relações com principais problemas dessa cultura corporal de movimento e contexto histórico-social dos alunos (Brasil, 1998, p. 28).
Nessa dimensão, entendemos citando Freitas (2008, p.19) que o movimento na/da capoeira na EFE tem poder de ação no ser humano, pois, age no meio ambiente para alcançar objetivos desejados ou satisfazer suas necessidades, como a da comunicação, a expressão da criatividade e dos sentimentos. É através do movimento que o ser humano aprende sobre si mesmo.
Ainda, acompanhando as percepções do autor, observamos que esta vivência corporal do educando deve estar sempre engajada num comportamento de exploração e de prazer na descoberta, fazendo com que o seu corpo descubra e desafie seus próprios limites, que ouse em situações problemas, que raciocine se tornando cada vez mais criativo e espontâneo, impressões que podemos observar nessa manifestação cultural [a capoeira] (Freitas, 2008).
Diante destas análises podemos perceber que a criança não precisa necessariamente de um professor de lutas para aprender sobre esta arte, mas sim ter a vivência através do Professor de Educação Física.
Nesse sentido, Betti (2011) entende que a luta corporal (nesse caso a Capoeira) como uma manifestação cultural de movimento que deve também ser abordada na escola, portanto, sua prática nas instituições escolares não necessita de um professor/treinador ou professor de artes marciais, visto que não é objetivo da atividade física escolar formar um atleta/lutador, mas sim, dar condições aos alunos de se apropriarem dos elementos das lutas como manifestações dessa mesma cultura de movimento.
Procedimentos metodológicos
Como anteriormente mencionado, este trabalho teve como objetivo investigar qual a visão dos professores de Educação física sobre a prática da capoeira nas escolas da Rede Municipal e estadual de Balneário Camboriú/SC. Por se tratar de uma pesquisa qualitativa, visou-se observar a partir de uma concepção interpretativa as ideias/concepções dos sujeitos pesquisados.
Sobre esse método, segundo Triviños, ao se tratar deste tipo de pesquisa, algumas características se apresentam como fundamentais:
(1ª) A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como fonte direta dos dados e o pesquisador como instrumento-chave; 2ª) A pesquisa qualitativa é descritiva; 3ª) Os pesquisadores qualitativos estão preocupados com o processo e não simplesmente com os resultados e o produto; 4ª) Os pesquisadores qualitativos tendem a analisar seus dados indutivamente; 5ª) O significado é a preocupação essencial na abordagem qualitativa (Triviños, 1987, p. 128-30).
E, a partir deste conceito de pesquisa, que tem em seu caráter a descrição e análise das falas dos sujeitos, remete-se a importância do trabalho descritivo, pois é por meio dele que os dados são coletados (Maanen 1979, apud Neves 1996, p.1).
Nesse sentido, como instrumento de coleta de dados utilizou-se a entrevista semiestruturada que foi dirigida a uma amostra composta por quatro professores de Educação física do Ensino Fundamental (1º ao 9º ano) que estão dentro de sua realidade escolar, pois conforme Minayo:
O que torna a entrevista instrumento privilegiado de coleta de informações para as ciências sociais é a possibilidade de a fala ser reveladora de condições estruturais, de sistemas de valores, normas e símbolos (sendo ela mesmo um deles) e ao mesmo tempo ter a magia de transmitir, através de um porta-voz, as representações de grupos determinados, em condições históricas, socioeconômicas e culturas específicas (Minayo, 1999 p.109).
O questionário utilizado foi composto de perguntas abertas, onde na primeira parte da entrevista foram realizadas perguntas sobre a formação dos Professores e o tempo em que atuam na área. Na segunda parte da entrevista foram abordadas questões no que diz respeito à visão o professor em relação à capoeira, procurando assim entender seus conhecimentos e se a prática desta modalidade é conhecida.
Inicialmente contatou-se a gestora de cada Centro Educacional, escolhido como ambiente da pesquisa, bem como os profissionais de Educação Física no sentido de apresentar o objetivo do trabalho. A partir da autorização da gestora e convite aos professores, um de cada centro educacional, houve a entrega da declaração de responsabilidade e do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido aos professores que atenderam ao convite de participar do estudo. Após a coleta de dados, foi realizada a transcrição de cada conteúdo para sua posterior análise.
Contextualização do estudo
As exposições seguintes apresentam os dados coletados, bem como a sua análise e argumentações pautadas em referenciais teóricos. No primeiro tópico da contextualização será abordado o perfil dos professores.
Perfil dos sujeitos da pesquisa
A pesquisa foi realizada com quatro Professores de Educação Física atuantes na rede municipal e estadual de Balneário Camboriú acerca de sua formação tivemos professores bem distintos que agregaram valor à pesquisa.
O primeiro Professor é formado em Educação Física plena, formou-se no ano de 1994, trabalha na área há 20 anos, não costuma participar de formação continuada, além de trabalhar atuante dentro da escola, ele também trabalha na fundação Municipal de esportes de Balneário Camboriú, sua carga horaria é de 40 horas, trabalha com o Ensino fundamental.
Já o segundo Professor entrevistado é formado em Educação Física Licenciatura, formou-se em 2014, não tem especialização, seu tempo de experiência é de quatro meses, participa de formação continuada, não trabalha em outro lugar que não seja o âmbito escolar, trabalha 40 horas, com alunos do Ensino fundamental-anos iniciais.
O terceiro Professor entrevistado é formado em Educação Física Plena, formou-se em 1987, tem mestrado em Educação, seu tempo de experiência é de 30 anos, participa de formação continuada, ele atua em uma escola estadual e também em Universidades, sua carga horaria é de 60 horas semanais sendo que, na escola, trabalha com Ensino Fundamental, Ensino médio.
Por fim, o quarto Professor é formado em Educação Física Plena, se formou no ano de 2001, seu tempo de experiência na área é de 13 anos, não tem especialização e não participa de formação continuada. Sua carga horária é de 30 horas semanais, atua como Professor na Educação Infantil.
Visão dos professores acerca do tema/conteúdo capoeira nas aulas de educação física
No que diz respeito às visões dos professores acerca da capoeira como possível tema na escola alguns questionamentos pertinentes foram feitos.
Em resposta ao questionamento, sobre o conhecimento Histórico da Capoeira, Chegamos as seguintes explanações: Os Professores I, II e III, responderam que conhecem a capoeira como manifestação Cultural Artística, oriunda do período escravocrata, inspirada na cultura Afro. Já o Professor IV, apresentou pouco conhecimento sobre o tema, reconhecendo apenas como uma Dança. As respostas revelam que todos os professores conhecem a História da Capoeira, mesmo que superficialmente. Sendo assim, não encontraríamos justificativas para não aplicação em virtude do desconhecimento da temática.
Questionando-os sobre os instrumentos usados para a elaboração do seu Plano de Ensino, e de aula e a utilização do Projeto Político Pedagógico, PCN'S (Brasil, 1998) e Proposta Pedagógica do Município todos os professores utilizam como norte para seus planejamentos os documentos referidos sendo que, um deles cita ainda a Proposta Curricular do Estado de Santa Catarina. Mediante essas respostas podemos observar que eles têm conhecimentos acerca de tais documentos, entre eles os PCN'S. No entanto, questionando-os sobre sua visão acerca das sugestões apresentadas pela proposta Curricular do município e pelos PCN'S para o ensino da capoeira e se são bons o suficientes, os professores II e IV declaram que não conhecem estas proposições para a capoeira que os PCN'S e/ou a proposta Curricular trazem e afirmam não terem informações suficientes para aplicar a capoeira nas aulas. Já o Professor I conhece e acredita ser suficientes para usar a ferramenta na elaboração de seus planos de aula. E, o professor III confirma conhecer, mas acredita que ainda tenha muito que se melhorar para se tornar interessante na construção de seus planos de aula abordando a capoeira.
Sobre estas proposições acerca da capoeira pelo PCN-EF que, por ventura, apresentam as lutas como conteúdo dentro da Educação Física Escolar, entre elas a capoeira sendo vista como importante elemento cultural não podendo ser negligenciada, pois:
Num país em que pulsam a capoeira, o samba, entre outras manifestações, é inconcebível o fato da educação física, ter desconsiderado essas produções de cultura popular como objeto de ensino e aprendizagem (Brasil,1998, p.71 e 72).
No questionamento sobre os professores abordarem ou não o conteúdo Capoeira em suas aulas e de que maneira este poderia acontecer os Professores III e IV dizem costumeiramente utilizar o ritmo da capoeira como musicalização. Os professores I e II, não abordam o conteúdo sendo que, o professor I justificou que não aborda porque trabalha com anos iniciais acreditando que os alunos ainda são muito novos para uma aplicação prática da Capoeira. A partir dessa declaração, podemos perceber que contrapondo esta justificativa apresentada pelo professor, alguns esclarecimentos e conhecimentos específicos de ressignificação para estas faixas-etárias no que diz respeito aos conteúdos da Educação Física, inclusive a Capoeira (como conteúdo das lutas) são apresentados por Garanhani (2010) ao dizer que:
Estes elementos poderão ser abordados em jogos e/ou brincadeiras adequadas ao desenvolvimento do conteúdo, como por exemplo: alguns elementos dos esportes poderão ser tratados por meio de jogos pré-desportivos adequados às características de cada idade da infância e alguns elementos das lutas por meio de jogos de oposição. Em síntese elementos dos esportes e das lutas serão abordados nos conteúdos jogos e brincadeiras para que as crianças conheçam se apropriem e ressignifiquem, de uma maneira recreativa, os elementos que configuram estas práticas (Garanhani, 2010, p.76).
Confluindo com o que diz a autora, acredita-se que a partir dessa metodologia de inserção de conteúdos por meio dos jogos e brincadeiras seja uma das melhores formas de se trabalhar o referido tema nos anos iniciais, pois, não só auxilia no desenvolvimento dos fatores físicos como também intercede no desenvolvimento cognitivo e afetivo dos alunos. Assim, tal como enuncia o PCN – Educação Física: “Podem ser citados exemplos de lutas, as brincadeiras de cabo de guerra e braço de ferro até as práticas mais complexas da capoeira, do judô e do karatê” (Brasil, 1998, p. 70).
Buscando compreender o entendimento dos professores acerca da Capoeira e agressividade questionamos se o mesmos concordam com os pensamentos que os alunos poderiam se tornar mais agressivos ao praticarem Capoeira, e Por quê?.
Todos os Professores não concordam que a Capoeira pode tornar os alunos mais agressivos. Os Professores I, II e III justificam suas respostas que a aula bem elaborada e orientada cria a impossibilidade de uma leitura agressiva da Capoeira. Ainda nesse ponto, ao se pensar neste aspecto no que concerne a atos agressivos (negativos) e de violência pode-se perceber em pesquisa de Nascimento e Almeida (2007) que tais condutas realmente não podem apresentar-se como elemento justificatório para o não trato da temática lutas corporais na escola, tendo em vista que é a ação docente que vai direcionar o trabalho seja qual for o conteúdo na esfera de valores éticos, do respeito e das interações. Assim, em pesquisa realizada, os mesmos constatam que:
No campo empírico, que se deu através da prática cotidiana, foi de que o “jogar futebol” condensa sim uma série de atitudes que poderíamos considerar violentas e perigosas. Violência essa que se manifesta tanto nas jogadas ríspidas e mal intencionadas, como no aspecto verbal (Nascimento Almeida, 2007, p. 102).
Tendo em vista essa argumentação e reflexão perante este contexto podemos afirmar que a capoeira pode ser utilizada como um instrumento de socialização, pois ela tem o poder dentro de sua prática de fazer desaparecer todas as diferenças, inclusive, no que diz respeito as possíveis conflitos entre os alunos antecedentes a sua prática já que, se tratando de uma luta onde não há um contato físico com a outra pessoa cria-se um cenário de Alegria e Prazer entrelaçando-se com os Sons dos Instrumentos:
O Grupo tocando instrumentos musicais e cantando, promovem alegria nessa atitude social. Cantando musicas tradicionais folclóricas e improvisando palmas, os participantes realçam a atmosfera energética e envolvente nesse jogo (Reis, 1997, p. 57).
Posteriormente, falou-se sobre o Projeto Político Pedagógico (documento que as escolas têm e que regem o trabalho docente junto aos alunos e comunidade). Sabemos que o Projeto Político Pedagógico define a identidade da escola para ensinar com qualidade e desenvolver estratégias para que este ensino seja aplicado dentro das aulas. Com isso, questionando os professores sobre qual sua visão do Projeto Político Pedagógico incluir o ensino da capoeira nas aulas de Educação Física Escolar, os professores I, II, e III responderam que acham importante, interessante, pois faz parte da nossa cultura e assim os alunos teriam maior vivência deste tema, já o professor IV explanou que é bom, mas deveriam ser envolvidas mais lutas também.
Compreendemos desta forma que diante da visão dos professores entrevistados, as aulas com o tema capoeira na Educação física escolar é limitada sobre a ótica dos professores por falta de curiosidade de buscar maior conhecimento sobre a capoeira e sobre como desenvolver nas suas aulas buscando alternativas que auxiliem, pois, acreditamos que seja uma responsabilidade do professor proporcionar a vivência.
Ao final deste questionário fizemos uma pergunta que revelará o principal motivo de não se aplicar na maioria das vezes a capoeira como conteúdo dentro das aulas de educação física. Questionou-se sobre quais dificuldades para aplicar a capoeira dentro das aulas de Educação física e eles responderam de diferentes formas. Os professores I e III afirmam uma rejeição e preconceito por parte dos pais dos alunos, já os professores I afirmam que a principal dificuldade em trabalhar a capoeira na escola está sendo a falta de formação e conhecimento na aérea.
Percebemos que na visão dos professores que a capoeira ainda está muito associada à pré-conceitos sobre sua prática, mencionamos os preconceitos por acreditar ser uma luta que evidencie questões religiosas, por isso, defendemos, a partir de mestre Bimba, que esta questão mística de religiões não deve ser o único objetivo a ser abordado já que, mestre Bimba criou a possibilidade da capoeira pedagógica em que não visa à questão religião em si, mas sim a capoeira em seus outros possíveis elementos, pois a escola deve ser um campo educacional que proporcione esta vivência como citado e para isso é necessário estuda-la, conhecer suas maneiras de trazer para dentro da escola. Capoeira não é simplesmente luta, ou um jogo, ela é arte potente e estimulante que agrega valores importantes dentro de sua prática.
Conclusões
O intuito de realizar este trabalho foi investigar a visão dos professores de Educação física acerca da capoeira em alguns centros educacionais do município de Balneário Camboriú/SC.
As investigações feitas nos referenciais literários mostram uma série de valores e possibilidades pedagógicas fundamentais à formação holística de cada aluno sendo proporcionadas através da tematização da capoeira nas aulas de Educação Física. Muitos autores a consideram de grande ajuda na formação de cidadãos íntegros e conscientes dos valores humanos.
Diante das informações obtidas com os autores e, após a análise das entrevistas com professores podemos afirmar que a Capoeira tem uma contribuição na questão social, e por se tratar de uma luta, sem objetivo de contado físico sua prática não promove a violência, mais sim, a socialização e interação. Em relação às dificuldades de aceitar na escola uma prática que antes era dos marginalizados, ainda estão acesos no comportamento dos pais e de alguns professores, sendo assim possível visualizar nessas respostas uma insegurança cultural em desenvolver essa prática, mais uma vez, a opinião individualizada do professor influência nas suas características em ministrar suas aulas. Ainda temos muito que promover e discutir, a nossa cultura escolar como um todo, e os professores de Educação física tem papel primordial no desenvolvimento social e cultural do aluno, pois nas praticas lúdicas e expressivas de maneira corporal, traz um conhecimento vivenciado intensamente, através de todos os sentidos. A importância de identificar, as questões raciais e afro é primordial nos tempos de Hoje.
A capoeira esta em nossa cultura e precisamos resgatar suas origens, pois todo povo precisa saber um pouco sobre sua história. Não podemos deixar de mencionar que existiram escravos lutando por sua vida, que foram mortos nos navios negreiros e que a capoeira foi uma ponte para sua liberdade. Isso faz parte de nossa história, queremos fazer entender que não é preciso ser um praticante de capoeira para proporcionar este conhecimento aos alunos, mas sim ser um conhecedor da nossa própria historia e transformar esta história em cultura de movimento.
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EFDeportes.com, Revista
Digital · Año 21 · N° 223 | Buenos Aires,
Diciembre de 2016 |