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A cultura circense promovendo linguagens

Circus culture promoting languages

La cultura circense la promoción de lenguajes

 

*Professora no Curso de Educação Física da Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI

Professora integrante da equipe de Gestão Institucional do PIBID

**Professoras no Curso de Educação Física da Universidade do Vale do Itajaí 

UNIVALI Coordenadoras de Área do PIBID. Subprojeto de Educação Física

***Acadêmico no Curso de Educação Física da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI

Licenciando bolsista do PIBID

(Brasil)

Vanderléa Ana Meller*

Lísia Costa Gonçalves de Araújo**

Elaine Cristina Rodrigues Farina**

Robert Eduward Silveira***

vanderlea@univali.br

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo do estudo foi compreender a cultura circense como conteúdo escolar mobilizador das diversas linguagens. A pesquisa da proposta pedagógica foi realizada nas aulas de Educação Física, do subprojeto “Brincriar” do PIBID. Trata-se de uma pesquisa descritiva, de abordagem qualitativa, com base fenomenológica. Foi possível identificar que a cultura circense, evidenciada como manifestação do brincar, é um conteúdo carregado de dinâmicas, técnicas, movimentos e expressões que permitem a linguagem verbal oral/escrita e não verbal, promovendo a competência comunicativa. O diálogo profuso e produtor de significados e sentidos, entrelaçando diferentes modos de linguagens, são elementos transformadores para as novas aprendizagens e contribuem para as diversas ações comunicativas. As diversas estratégias didáticas envolvendo a construção de materiais ampliaram a abrangência dos conteúdos na relação saber/fazer envolvendo a cultura, a história, a estética, as habilidades de movimento que mobilizaram percepções e expressões criativas.

          Unitermos: Educação física. Escola. Cultura circense. Linguagens. PIBID.

 

Abstract

          The objective of the study was to understand the circus culture as a school program that mobilizes multiple languages. The research of the pedagogical proposal was held in physical education classes, at the subproject "Brincriar" in PIBID. It is a descriptive and a qualitative approach with phenomenological basis. It was possible to identify that the circus culture, evidenced as a manifestation of the playing action, is a content full of dynamics, techniques, movements and expressions that allow oral, verbal/written and nonverbal communication, promoting communicative competence. The profuse and meaning producer entwining is sense, different language ways dialog ​​are transforming elements for new learning, and they contribute to the various communicative actions. The various teaching strategies involving building materials expanded the scope of content in relation knowing/doing involving culture, history, aesthetics, movement skills that mobilized perceptions and creative expressions.

          Keywords: Physical education. School. Circus culture. Languages​. PIBID.

 

Resumen

          El objetivo de este estudio fue comprender la cultura circense como contenido escolar movilizador de diversos lenguajes. La investigación de la propuesta pedagógica fue realizada en las clases de Educación Física del proyecto “Brincriar” del PIBID. La investigación se caracteriza como descriptiva de abordaje cualitativa, con base fenomenológica. Fue posible identificar que la cultura circense evidenciada como manifestación del jugar, trae consigo contenido cargado de dinámicas, técnicas, movimientos y expresiones que permiten el lenguaje verbal oral/escrita y no verbal, proporcionando de este modo la capacidad de comunicación. El dialogo profuso y productor de significados entrelazando diferentes modos de lenguaje son elementos transformadores para los nuevos procesos de aprendizaje y contribuyen a las diversas acciones comunicativas. Las diversas estrategias de enseñanza que implican materiales de construcción ampliaron el alcance de los contenidos en la relación saber/hacer que implican percepciones de la cultura, la historia, la estética, las habilidades de movimiento que movilizaron percepciones y expresiones creativas.

          Palabras clave: Educación física. Escuela. Cultura circense. Lenguajes. PIBID.

 

Recepção: 25/05/2016 - Aceitação: 20/11/2016

 

1ª Revisão: 25/10/2016 - 2ª Revisão: 16/11/2016

 

 
Lecturas: Educación Física y Deportes, Revista Digital. Buenos Aires, Año 21, Nº 222, Noviembre de 2016. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    A partir da cultura circense, contemplada como conteúdo da Educação Física escolar, buscamos a valorização da linguagem oral/escrita e da corporeidade que tem como base o movimento humano e a temporalidade. Ao promover por meio da comunicação o entendimento e reflexão é possível mobilizar os processos reflexivos e críticos, num alargamento do conceito de racionalidade em que a linguagem é pensada numa perspectiva de intencionalidade comunicativa. O movimento humano inaugura um diálogo com o mundo e cria uma pragmática universal culminando com o potencial expressivo, na relação teórico/prático. A compreensão sobre o movimento humano no campo da Educação Física vem acompanhada de um elemento que se traduz na linguagem. Do movimento, como contato primordial, que inaugura um sentido que constrói as significações e sentidos, num movimento contínuo de abertura para o mundo.

    A Mobilização das diversas linguagens e da competência comunicativa, nas diferentes manifestações da cultura de movimento, em especial vivenciadas e experimentadas no brincar, configura a valorização das ações e expressões livres das crianças, com finalidades expressivas e não meramente reprodutores de padrões institucionalizados trazidos pelas mídias. O corpo fala constantemente e expressamos nossos sentimentos, intencionalidades, percepções, conhecimentos e desejos.

    A linguagem corporal é carregada de intencionalidades, mobilizadora de expressões, num processo integrado, em diversas dimensões que se fundem e se organizam espontaneamente na subjetividade e intersubjetividade, rumando à objetividade. A dinâmica da linguagem promove o diálogo, a mobilização de experiências, a construção e socialização de conhecimentos e culturas na Educação Física. Para Kunz (2004, p. 37): “[...] a tematização da linguagem, enquanto categoria de ensino, ganha importância maior, pois não só a linguagem verbal ganha expressão, mas todo o ‘ser corporal’ do sujeito se torna linguagem, a linguagem do ‘se-movimentar’ enquanto diálogo com o mundo”.

    A expressão pode ser potencializada por meio da cultura circense nas diferentes modalidades que a compõe, são diversas as movimentações que mobilizam as linguagens ao assumir a figura do palhaço, do trapezista, malabarista, entre outros. São muitos desafios para a superação de habilidades, competências e criatividade. Entre os propósitos de contemplar a cultura circense como conteúdo no currículo da Educação Física Escolar foi a mobilização das diferentes linguagens que gerou a riqueza de saberes e ênfase pedagógico. Os conteúdos foram organizados a fim de reconhecer, valorizar e praticar as diversas manifestações da cultura circense pelas crianças e promover a criação e expressão. A contemplação do circo, como conteúdo escolar, vincula a arte, a história, a cultura e a perspectiva social, possibilitando posturas interdisciplinares e contemplação da interculturalidade.

    A partir das práticas circenses, envolvendo inúmeros recursos e diversidades de linguagens possibilitam a educação do movimento no potencial expressivo, para Bortoleto (2011) as atividades que envolvem o circo emergem a partir das últimas duas décadas do século XX com grande potencial pedagógico. Portanto, atualmente é fundamental buscarmos propostas coerentes com a riqueza desta manifestação cultural.

    As intervenções pedagógicas foram realizadas nas aulas de Educação Física, com crianças do 1º ao 4º ano do Ensino Fundamental, com idades entre 6 e 10 anos, de seis escolas municipais, localizadas em Itapema e Biguaçu (SC), entre os anos 2013 a 2015. As intervenções pedagógicas acorreram às quartas-feiras e quintas-feiras, nas aulas de Educação Física. O processo pedagógico foi integrado ao Subprojeto de Educação Física - “Brincriar”, vinculado ao Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID, 2012). Trata-se de uma pesquisa descritiva de abordagem qualitativa, com base na fenomenologia.

    A proposta do projeto PIBID institucional promoveu a inserção dos licenciandos de Educação Física nas ações pedagógicas das escolas da rede pública de educação, os quais tiveram a oportunidade de interagir com os professores e alunos, apropriando-se dos fundamentos filosóficos e políticos de sua área de atuação, das dinâmicas de ensino e aprendizagem e dos saberes pedagógicos que constituem a prática docente. A cultura circense foi um tema provocador de ações conjuntas, numa perspectiva interdisciplinar.

    A presente pesquisa teve como objetivo geral: Compreender a cultura circense como conteúdo escolar mobilizador de diversas linguagens. A metodologia foi de base fenomenológica expressa nas ações e conceitos presentes na trajetória das intervenções e reflexões pedagógicas envolvendo a cultura circense. O planejamento ocorreu com registros no plano de ensino e aula. Foram selecionados os conteúdos e metodologias com diferentes estratégias para as aulas teórico/práticas como: pesquisas sobre a cultura circense; coletânea de fotos e produção de vídeos envolvendo o circo; construção de aparelhos; criação de movimentos envolvendo técnicas específicas; interpretações na arte clown; expressões miméticas; práticas com estimulação de diferentes habilidades pessoais e coletivas; organização de eventos e espetáculos circenses como “Brincando de circo”. A cultura circense foi promovida como conteúdo escolar, com possibilidades de desenvolver as atividades circenses nas aulas de Educação Física a fim de promover a apropriação e expressão de diferentes linguagens. Os professores, licenciandos e alunos tiveram a oportunidade de reconhecer as diversas linguagens presentes na cultura circense, por meio de práticas coerentes estabelecidas nas sequências didáticas, tornando a escola um espaço de expressão e diversidade cultural. O corpo tornou-se comunicabilidade, envolvido num universo de contato no mundo, entre sujeitos e objetos que possibilitaram e dinamizaram o diálogo.

2.     A trajetória percorrida

    O presente estudo foi realizado nas aulas de Educação Física de atuação do PIBID, subprojeto BRINCRIAR - Educação Física da UNIVALI, envolvendo seis escolas municipais Itapema e Biguaçu, SC. Configurou uma pesquisa de abordagem qualitativa, descritiva, com base fenomenológica. Participaram 200 alunos, do ensino fundamental, com idades de 7 a 10 anos. As aulas foram realizadas semanalmente, nas quartas e quintas-feiras, entre os anos de 2013 e 2015.

    Um projeto temático envolvendo a cultura circense delimitou os estudos, a partir dele ocorreu o planejamento de ensino e de aula e efetivação das práticas pedagógicas. Após cada intervenção ocorreram os relatórios com reflexões entre os professores e alunos bolsistas do PIBID, ações pautadas nos processos de ação-reflexão-ação. A abordagem pedagógica que norteou os processos de ensino e aprendizagem reflexivos foi a crítico emancipatória, evidenciada por Kunz (2004).

     As observações e ações foram registradas a partir dos diários de campo e registros com vídeos e fotos.

3.     A cultura circense promovendo as diferentes linguagens

    As diferentes formas de linguagem possibilitam a expressão e comunicação de emoções, intencionalidades, aprendizagens e culturas. Os professores precisam estar atentos às expressões e às formas de linguagem estabelecidas pelas crianças, tanto verbais quanto não verbais, pois poderão reconhecer e identificar saberes e sentimentos inerentes. Num processo educativo para a aprendizagem dos conteúdos “[...] o professor, em vez de se preocupar em passar conhecimentos, precisa estimular a pergunta, a dúvida nas crianças e possibilitar o encantamento delas com o mundo”. (Souza; Kunz, 2015, p. 112). Nesta relação provocadora de questionamentos ocorre o diálogo, o envolvimento comunicativo.

    O corpo é linguagem, pois seus movimentos são carregados de significados e promovem, constantemente, a organização das nossas ações no mundo, estabelecendo sentidos. Muitas ações podem promover as diferentes linguagens, portanto:

    De forma geral entendemos que o papel fundamental da educação física escolar é proporcionar o contato das crianças com as manifestações culturais existente no circo, em um nível de exigência elementar, destacando as potencialidades expressivas e criativas, além dos aspectos lúdicos desta prática. (Duprat, 2007, p. 57).

    Na cultura circense as atividades foram propostas pedagogicamente no contexto da cultura de movimento, que para Kunz (2004), o objetivo pedagógico da Educação Física está centrado no movimento humano, livre para expressar de forma espontânea e prazerosa, carregado de valores sociais, que promovem a cidadania por meio do fortalecimento das competências sociais. A competência comunicativa é ponto chave no processo de transformação dos sujeitos no mundo, pois promove a reflexão que é sustentada pela mais genuína percepção que fazemos do "ser no mundo" e que possibilita a construção de novos significados e identidades socioculturais. “As crianças, especialmente, comunicam-se muito pelo seu se-movimentar, pela linguagem do movimento. Para o desenvolvimento da competência educacional crítico emancipatória [...] o desenvolvimento da competência comunicativa exerce papel decisivo.” (Kunz, 2004, p. 41).

    A cultura circense poderia ser descrita como sinônimo da cultura de movimento, pois seus fundamentos são concretizados pela organização dos arranjos corporais. É o gesto que carregado de sentido promove um novo sentido, sensibiliza, desafia e promove a superação de limites. Portanto, emancipação e autonomia das crianças são estabelecidas a partir do movimento, envolvidas no diálogo, onde estabelecem práticas criativas e prazerosas. Este é um processo envolvido na dinâmica do brincar “A brincadeira como é a principal - eu dia a única – maneira de a criança relacionar-se consigo mesmo, com os outros e o meio ambiente, além de ultrapassar a aquisição de habilidades motoras, ela consegue ampliar as funções mais elevadas do cérebro, como a imaginação, a inteligência, a percepção e a memória. (Santin, 2001, p 30).

    Para Duarte Jr (2001) nas vivências diárias o que é acessível ao ser humano e captado sensivelmente pelo corpo é envolvido em significados e sentidos, portanto na construção do conhecimento ocorre a abertura para o ser sensível inerente que dinamizam o conhecimento em diversos âmbitos. Entre os diversos contatos e estímulos provocados pelas cores, sabores, tato, odores que provocamos o ser sensível e o potencial expressivo que revela nossas sensações e percepções. É necessário contemplar no desenvolvimento dos conteúdos que “A educação do sensível nada mais significa do que dirigir nossa atenção de educadores para aquele saber primeiro que veio sendo sistematicamente preterido em favor do conhecimento intelectivo, não apenas no interior das escolas, mas ainda e principalmente no âmbito familiar de nossa vida cotidiana”. (Duarte Jr, 2001, p.15). Portanto, por meio da cultura circense é fundamental aproveitar seus recursos e potencializar o ser sensível envolvido na dinâmica do saber e fazer, considerando que,

    Nossa humana medida do mundo, por conseguinte, toma o nosso corpo como unidade e princípio orientador, estando a linguagem básica que empregamos cotidianamente eivada de referências ao nosso organismo e a seus processos perceptivos, mesmo que a tradição moderna nos tenha afastado de seus sentidos originais. (Duarte Jr, 2001, p.134).

    Para Soares (2002), os movimentos que fazem parte da cultura circense partiram de gestos naturais de um corpo livre que aos poucos foram disciplinados, estruturados por técnica e cientificamente na busca da perfeição, gerando a superação para além dos próprios limites humanos, os quais são possíveis ver nos espetáculos dos circos atuais. Portanto, evidenciamos que a promoção do corpo expressivo deve ser valorizada, recuperada e dinamizada, constantemente, a fim de recuperar o sujeito livre e comunicativo. A cultura circense contempla nas raízes históricas a liberdade de expressão, a diversidade, a criação e inúmeras manifestações práticas. Neste contexto as crianças “[...] ao experimentar situações, sejam elas brincadeiras, manuseio de objetos ou mesmo quando se comunica com outras crianças; apresenta suas percepções sobre o real” (Castro; Kunz, 2015, p.122). Também o imaginário é ampliado na dinâmica do ser que se envolve no mundo.

    Para Bortoleto (2011, p. 46) “[...] os desafios e as espetaculares possibilidades gestuais que nos presenteiam as atividades circenses devem ser protagonistas em nossas intervenções pedagógicas”. Portanto, os gestos são linguagens expressivas que necessitam ser estimuladas e valorizadas no universo educativo, inclusive na escola, pois a cultura circense possibilita inúmeros elementos que potencializam o corpo comunicativo.

    A partir das possibilidades de expressão, da criação de movimentos e construção dos aparelhos de malabares “[...] a mais antiga técnica de manipulação de objetos sem lançamentos, usando predominantemente movimentos circulatórios e ondulações mantendo sempre o objeto em contato com o corpo, ficou conhecida no mundo dos malabares e swing” (Bortoleto, 2010, p. 110). Também nos desafios de equilíbrio ocorreram ricos momentos de expressão, de mobilização de linguagens verbais e não verbais, instigando a criatividade. Também favoreceu a integração entre as crianças, a fruição, o ser sensível e a satisfação pelas aulas de Educação Física. Ocorreu a liberdade criativa, onde o prazer estava vinculado. Entre as atividades realizadas para a mobilização comunicativa e expressiva, verbal e não verbal, podemos citar:

    Duprat (2007) destaca que as manifestações do circo ressurgem em diferentes ambientes, festas, parques e em muitos países tem sido desenvolvidas nas escolas, como uma aliada da Educação Física, com movimentos que não se limitam ao controle do corpo, mas que favorecem o processo ensino-aprendizagem interligado ao ser social, histórico, cultural, psicológico e físico, onde os alunos desenvolvem inúmeros aspectos da corporeidade como a sensibilidade, expressão corporal, criatividade, auto superação e autoestima. Torna-se um veículo da Educação Física mais artística e mais dedicada às atividades de expressão corporal.

    Devido à grande variedade e possibilidades, a arte circense exerce um fascínio no público e fundamentalmente nos praticantes. Toda uma aventura que jamais se esgotará. Para uma educação física que tenha como pressuposto básico a diversidade, proporcionando a maior variedade de movimentos e ações corporais e enriquecendo assim o repertório motor e cultural, é extremamente importante fazer aqui algumas ressalvas para se trabalhar a arte circense no âmbito educacional. (Duprat, 2007, p.56).

    Entre os elementos circenses, os conteúdos envolvidos na arte clown possibilitaram mobilização de diferentes linguagens, por meio do artista palhaço as crianças interpretaram diversos personagens e com diferentes funções promotoras de comunicação e expressão. Surgiu o palhaço malabarista, contorcionista, equilibrista, trapezista, entre outros. A criação dos enredos das peças teatrais ocorreu coletivamente entre os bolsistas do PIBID e crianças da escola. Foram criados espaços que remetiam ao ambiente do circo e do palhaço, com estrutura de palco, maquiagem facial, figurinos e expressões miméticas. As apresentações das produções foram realizadas nas tendas construídas com tecidos coloridos em diversos espaços da escola, e também da comunidade.

    As crianças identificaram que o palhaço é o único que mantém, intrinsecamente, características de corpo e movimentos grotescos existentes no princípio da história do circo. Sabemos que a figura do palhaço sempre foi importante no circo, um dos principais personagens, “o transgressor da norma”, foi criado para realizar o cômico em dramatizações, gestos, falas engraçadas onde a liberdade de expressão amplia o potencial da linguagem e comunicativo. O palhaço é um personagem que mescla todos os demais existentes no circo, porém com objetivos e intenções diferentes, ou seja, a perfeição dos gestos e ações não é exigida, mas sim, a criatividade, sem performances estereotipadas e disciplinadas. Foi a ressignificação da arte, do potencial lúdico, criativo de realizar as atividades da cultura circense que buscamos promover. Para Libâneo (2008) os conteúdos são meios para promover a interdependência de pensamento e de crítica, também meios culturais na procura de respostas criativas perante os problemas postos perante a realidade. Portanto, a problematização é uma das ações que possibilitam desafiar os educandos na busca da identificação da realidade, solução e superação na construção dos conhecimentos envolvidos na dinâmica teórico prática, com a busca do sucesso pessoal e coletivo. Destacamos que os saberes presentes no circo são potenciais para explorar conteúdos ricos no contexto cultural, histórico, social e principalmente do corpo em movimento que criar e recria livremente a partir de muitas manifestações.

    Por meio das experiências e vivências foi possível ressignificar a cultura de movimento circense, com inúmeros saberes e habilidades presentes, a fim de integrá-la às atividades realizadas nas aulas de Educação Física, tornando-a promotora de espaço e ações livres e criativas, desvinculadas dos princípios de treinamento. Para Bortoleto (2011) são as relações das atividades circenses envolvidas na cultura popular, com possibilidades de transformação em linguagem artística e conhecimentos sobre o corpo e sua potencialidade expressiva que incentivou muitos professores a valorizar esta manifestação como tema de pesquisa e pedagógico.

    A fim de fortalecer coerentemente a cultura circense como conteúdo foi estruturado no planejamento unidades didático pedagógicas envolvendo os aspectos históricos, culturais, os aparelhos e as técnicas específicas. As manipulações com diversos recursos como bolinhas, as claves adaptadas e tecidos possibilitaram a criação de movimento e estimulação de outras habilidades como equilíbrio e locomoção. Para Duprat (2007) as atividades manipulativas possuem movimentos e gestos corporais com estrutura motora e controles corporais similares, que permitem uma maior transferência de movimento. A linguagem foi estabelecida pelas relações do corpo com o objeto para conquista do ritmo, do controle, das expressões que remetiam ao sucesso, superação e conquista.

    Promovemos a livre experimentação e expressão, para Kunz (2004) trata-se da transcendência de limites para a experiência dispõe de espaço e tempo para descobertas e possibilidades de movimento, cada um deve descobrir por meio da liberdade, do “se-movimentar”. São desafios constantemente envolvidos que promovem a recriação de movimentos e recursos.

    As acrobacias de solo/equilíbrios acrobáticos são para Duprat (2007), mobilizadoras da cooperação, da confiança mútua, do trabalho coletivo e compreensão que devemos trabalhar em equipe. Neste contexto, as expressões foram mobilizadas para a criação de imagens com o corpo, e surgiram diversas pirâmides humanas. Também ocorreu a comunicação não verbal ao produzirem expressões utilizando apenas o corpo físico. Esta atividade promoveu a comunicação e interação no grupo.

    A tábua de equilíbrio foi um dos aparelhos mais aceitos e desejados pelas crianças. Muitos desafios envolvendo o equilíbrio ocorreram. Também foi estimulada a consciência corporal necessária para a mobilização das forças. As atividades promoveram cooperação e muita ação comunicativa para resolução dos problemas.

    Todo movimento humano não só busca uma premiação fora de si, mas ele mesmo, uma vez executado, pode constituir-se na premiação de si mesmo. O movimento mais facilmente assumido por nós é aquele que traz em si mesmo o prazer de ser feito, pelo simples fato de ter sido feito. Ele nunca será frustrante. Não se trata, portanto, de uma premiação externa ao movimento, mas ele mesmo. (Santin, 2003, p.48).

    Foi possível dinamizar a proposta metodológica de Kunz (2004), para transcendência de limites, envolvidas na experiência, aprendizagem e recriação, numa sequência que evidencia a construção de conhecimentos e exige percepção corporal. Portanto, o potencial individual e coletivo foi amplamente evidenciado, onde os alunos foram protagonistas nas dinâmicas de criação e expressão.

    O universo circense promoveu a aproximação com a cultura própria da Educação Física com experiências lotadas de criatividade, desafios, superações, envolvimento simbólico e mobilização estética. A apropriação da Linguagem do circo, com seus movimentos, histórias e significados sociais, pelos alunos da escola, foi realizada paulatinamente na medida em que oportunizamos diversas experiências, entre elas de malabarismos com bolinhas e outros materiais que abriram um leque de movimentos que eram desconhecidos ou descontextualizados com a cultura circense. Para Castro e Kunz (2015, p. 122) “[...] a criança ao experimentar situações, sejam elas brincadeiras, manuseio de objetos ou mesmo quando se comunica com as outras crianças; apresenta suas percepções sobre o real. Essas percepções estão em constante construção subjetiva a partir da descoberta que sucede a experiência”.

    Esta cultura faz parte do universo de Santa Catarina, porém ainda se encontra marginalizada e pouco inserida nos ambientes educacionais. Compreender uma linguagem não é somente saber os signos referentes a ela, nem apenas saber a história, mas sim incorporá-la ao nosso repertório comunicativo, percebendo no corpo os significados criados e sentidos por nós. A diversidade de linguagens permite a compreensão pelo movimento, por meio dos personagens a apropriação dos sentidos, ocorre pela repetição contextualizada que conecta a nossa linguagem com a linguagem do circo “eu e o mundo”, envolvido na percepção que somos um turbilhão que jamais coincidimos, mas abertos um ao outro para, desta forma, transformarmos aquilo que antes era apenas um objeto do conhecimento para ser incorporado ao nosso repertório de linguagem. Neste contexto, “[...] as atividades circenses são entendidas como a manifestação das expressões dos sujeitos, a partir de uma linguagem corporal, voltada para a expressão, experiência e a vivência, já o circo é a institucionalização dessas práticas, a fim de proporcionar um espaço para o entretenimento”. (Meller, Araújo E Silveira, 2015, p. 9).

    Aprender a ser um artista palhaço envolve muitas competências que nos leva a sentirmos palhaços e a aprender como fazer, da mesma forma no malabares ao aprender o ritmo, o movimento alternado das mãos, a postura do corpo, a coragem de errar e deixar cair, de tentar as técnicas, a representatividade social, a percepção e o sentido pessoal e coletivo, para o mundo. Aprender uma linguagem é de tamanha complexidade, pois envolve diversos aspectos e muitos sequer conseguimos objetivar. A Educação Física trabalha com linguagens e cada um de nós se conecta com esta linguagem de formas diferentes e encontramos um lugar de expressão, podendo nos comunicar com o mundo, nos experimentando constantemente no movimento, nos apropriando e nos transformando a cada momento. Para Castro e Kunz (2015, p. 126) “A atribuição de sentido ao vivido, à experiência, à descoberta do novo, pode contemplar o fenômeno do autoconhecimento. Desse modo, o ser-criança que se movimenta e estabelece relação de diálogo com o mundo apresenta percepções sobre as coisas e ao mesmo tempo tem a possibilidade de se conhecer melhor”.

    Destacamos que, a nossa transformação, como sujeitos no mundo, também transforma as linguagens existentes, pois estamos constantemente nos modificando, o tempo não para. Ressaltamos que o tempo que nos referimos é o tempo do sujeito, que os gregos chamaram de “Kairós”, por isto entendemos que o tempo é o sujeito e estamos no mundo sem outra opção a não ser a certeza da transformação. Como ressalta Hannah Arendt (1972) a cultura é um conceito que tem relação direta com uma sociedade e, portanto, não se constituem somente pelas práticas culturais, mas também pela forma que os sujeitos sociais a interpretam. A construção de significados acontece a partir de linguagens, entre elas a linguagem das práticas corporais que nem sempre estão esclarecidas, contudo produzimos significados que nos conduzem a novas aprendizagens.

    Na Educação Física muitos conteúdos que envolvem a cultura circense podem contemplar a diversidade na construção do conhecimento, envolvidos no contexto teórico/prático, ampliando possibilidades de criação e reconhecimento cultural. Para Meller, Araújo e Silveira (2015, p. 3) “A valorização do circo, como conteúdo escolar, agrega conhecimentos presentes em diversas áreas e contextos, como histórico, social, artístico, a musical, entre outros, portanto torna-se um campo de saberes com aspectos interdisciplinares, onde as relações e interferências da interculturalidade estão muito presentes”. As atividades ultrapassam os movimentos técnicos e estabelecem ações comunicativas numa relação consciente do ser, da dinâmica criativa.

    A expressividade é muito presente na cultura circense e permite conteúdos que vão além do saber conceitual, pois “A arte circense age de modo singular em nossas emoções, vagando da apreensão, do medo e da angústia, nos números de risco, ao alívio e à satisfação geral” (Duprat, 2014, p. 1). O envolvimento é sensorial de abertura para o conhecimento, onde consideramos que “[...] as artes do entretenimento se modificaram, e a arte circense, como qualquer outra linguagem, buscou ampliar suas expressões, chegando aos dias atuais com uma infinidade de possibilidades de representação, estilos, técnicas e estéticas”. (Duprat, 2014, p. 24). A construção do conhecimento é envolvida nas diferentes linguagens.

Considerações finais

    As atividades da cultura circense proporcionaram inúmeras possibilidades de estimulação e valorização da linguagem humana, em diversos aspectos, envolvendo a percepção, a sensibilidade e a expressão corporal nas aulas de Educação Física. Também destacamos a mobilização de habilidades básicas e desafios envolvendo o equilíbrio, o ritmo, a expressão verbal e não verbal. O corpo foi dinamizado para o potencial comunicativo na relação sensível do ser que se abre para a experiência e percepção, ampliando o entendimento e compreensão dos saberes.

    Na figura do artista palhaço evidenciamos a valorização do ser criativo, alegre e expressivo, o qual busca prazer nas ações, sem preocupação com os padrões estéticos de beleza ou princípios de treinamento, que envolvem inúmeras culturas do movimento e até mesmo o novo movimento circense de modo geral. A cultura circense mobilizou saberes artísticos, diferentes linguagens e aprendizagens a partir do movimento. As linguagens das práticas corporais remeteram à interpretação e produção de significados e sentidos que possibilitaram compreender a dimensão estética e assim valorizar o circo como espaço cultural da arte. A Educação Física, cada vez mais, vem trazendo os elementos do circo para a escola possibilitando reflexão e apropriação desta cultura que ainda permanece marginalizada e pouco conhecida em muitos lugares do Brasil.

    Na proposta pedagógica as diversas estratégias didáticas envolvendo a construção de materiais ampliaram a abrangência dos conteúdos na relação saber/fazer envolvendo a cultura, a história, a estética, habilidades de movimento que mobilizaram percepções e expressões criativas. Ao possibilitar as experiências sensíveis ocorreu a ampliação de conhecimentos envolvidos na dinâmica da educação estética e proporcionou às crianças a apreciação e valorização da cultura circense como conteúdo escolar, muito rico ao promover aprendizagens por meio do movimento.

Bibliografia

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