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Moda, corpo e a mulher madura nas campanhas publicitárias

Fashion, body and mature women in advertising campaigns

Moda, cuerpo y mujeres maduras en las campañas publicitarias

 

*Acadêmica do curso de Moda da Universidade Feevale (Novo Hamburgo/RS)

Bolsista de Iniciação Científica da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul

**Doutora em História, professora e pesquisadora do PPG em Processos

e Manifestações Culturais da Universidade Feevale (Novo Hamburgo/RS)

(Brasil)

Suelyn Rosa*

suelynsrosa@gmail.com

Claudia Schemes**

claudias@feevale.br

 

 

 

 

Resumo

          Este artigo procura refletir sobre o envelhecimento feminino e a maneira com a qual a indústria da moda, através da publicidade, está lidando com este novo nicho de mercado formado pelas mulheres com mais de 60 anos. O envelhecimento da população mundial já é um fato comprovado e a inclusão desta parcela da população, que foge dos padrões tradicionais do consumo, vem aparecendo cada vez mais nos últimos anos. O método empregado para a realização desta investigação foi a revisão bibliográfica e a análise de campanhas publicitárias veiculadas em revistas de moda atuais. Concluiu-se que a utilização de modelos idosas na publicidade representa uma mudança de paradigmas e é uma maneira de se diminuir preconceitos arraigados socialmente.

          Unitermos: Corpo. Publicidade. Envelhecimento feminino.

 

Abstract

          This article seeks to reflect on the female aging and the way in which the fashion industry, through advertising, is dealing with this new market niche formed by women over 60 years. The aging of the world population is already a proven fact and the inclusion of this portion of the population, which avoids the traditional consumption patterns, has been appearing more and more in recent years. The method used to carry out this research was a literature review and analysis of advertising campaigns aired in current fashion magazines. It was concluded that the use of older models in advertising is a paradigm shift and is a way to decrease prejudices rooted socially.

          Keywords: Body. Advertising. Female aging.

 

Recepção: 22/07/2016 - Aceitação: 23/10/2016

 

1ª Revisão: 11/10/2016 - 2ª Revisão: 22/10/2016

 

 
Lecturas: Educación Física y Deportes, Revista Digital. Buenos Aires, Año 21, Nº 221, Octubre de 2016. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O envelhecimento da população mundial já é um fato notável devido à diminuição das taxas de natalidade e mortalidade, ou seja, estão ocorrendo menos nascimentos e falecimentos, o que acarreta o melhoramento da qualidade de vida. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que a proporção de pessoas com 60 anos ou mais deve triplicar o número atual, alcançando dois milhões em 2050.

    No Brasil, estima-se que a cada ano sejam incorporados à população 650 mil idosos (Camarano, 1999), sendo que a Política Nacional do Idoso (PNI), Lei nº8. 842, de 4 de janeiro de 1994 e o Estatuto do Idoso, Lei nº 10.741,de 1º de outubro de 2003, define que idosos são todas as pessoas com 60 anos ou mais. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou dados referentes ao envelhecimento da população brasileira e o declínio da parcela jovem do país, alertando a necessidade de traçar novos planos para o consumo e desenvolver políticas públicas relacionadas a esse fator. De acordo com Ballstaedt (2008), o aumento da população idosa pode gerar impacto em diversas áreas como o mercado de trabalho, o consumo, a economia, etc., e o segmento da moda vem observando que o mercado consumidor acima de 60 anos é promissor e merece mais atenção.

    A mesma autora informa que “o consumo de produtos e serviços em geral sofre influência da faixa etária predominante da população, sendo que este processo de envelhecimento populacional é normal, inevitável, irreversível” (Ibidem, p.11), assim levar em conta as necessidades de consumo dos idosas é fundamental.

    O crescimento do número de idosos, então, é visto pela autora citada como positivo para o mercado de moda, pois “é de grande importância desenvolver produtos onde a idoso expresse uma imagem positiva, saudável, agradável e sensual, pois o mundo está se encaminhando para este novo universo” (Ballstaedt, 2008, p.12).

    O envelhecimento afeta toda a população, mas as mulheres sentem suas consequências de forma mais intensa, vide o direcionamento ao público feminino da grande maioria dos tratamentos médicos estéticos, que prometem continuar com um processo de embelezamento e rejuvenescimento que é iniciado desde a juventude (Barros, 2011).

    As intervenções estéticas, como as cirurgias plásticas, e os inúmeros produtos de beleza, como os cremes e cosméticos, são instrumentos que servem para as mulheres apagarem as marcas do tempo na tentativa de parecerem mais jovens, indo de encontro ao envelhecimento natural e, consequentemente, impedindo a criação de uma estética da velhice. (Debert, 2011).

    Esta imposição da juventude e da beleza eterna, segundo Silva et al (2012, p.20) “passa a ser um passaporte intergeracional importante em termos de engajamento social e percepção de si, demonstrando uma estratégia de sobrevivência social perversa na velhice”.

    O corpo é, para sociedade contemporânea, objeto de exposição, desejo e interferências sendo o principal suporte da publicidade, ele tornou-se um “corpo-produto” o qual deverá atender exigências do mercado em relação ao desejo do consumidor (Mattos; Soihet 2003).

    Segundo Beleli (2007, p.202) “os corpos femininos – ‘figurinhas carimbadas’, algumas vezes literalmente, na publicidade – são expostos como um ‘patrimônio’, um capital cultural que suplanta a inteligência, a competência, atributos tidos como constituidores de masculinidade”.

    Já Swain (2001, p.227), em pesquisa realizada em revistas femininas brasileiras, conclui que o corpo é central em suas publicações, pois “é a partir de sua capacidade de sedução que os demais elementos da rede discursiva se integram”. A autora informa que “os transplantes, as plásticas no abdome, os cosméticos rejuvenescedores e os implantes de silicone aparecem como recursos imprescindíveis na luta contra o tempo e as imperfeições”. Conclui dizendo que o corpo ideal estaria, segundo estas publicações, ao alcance de qualquer mulher e que a beleza é condição essencial para a felicidade.

    Juntamente ao culto ao corpo e ao estigma da beleza jovial, as mídias negam a velhice, vendo-a como sinônimo de perda (Priori, 2000). A esse respeito, Borges (2012) diz que a mídia apresenta modelos de corpos ideais, principalmente, para o público feminino. Para a autora

    A mídia funciona como um espelho, e, sendo assim, as atrizes, apresentadoras e manequins servem de exemplo para uma “imitação prestigiosa” de corpos magros, tonificados e jovens. [...] O espelho é, de fato, o novo opressor feminino, justamente porque o espelho é que vai mostrar às mulheres se elas estarão cumprindo de forma eficiente o dever moral de ser bela. O espelho, juntamente com o olhar vigilante da sociedade, serão os juízes dessa batalha feminina travada contra um corpo naturalmente seu” (Borges, 2012, p. 158).

    Dessa forma, podemos afirmar que os discursos midiáticos impõem um padrão de corpo ideal, entretanto, como afirma Borges (2012, p.161) “os corpos femininos em envelhecimento são vigiados, controlados e construídos sobre várias esferas e discursos”, entre eles o discurso midiático. Assim como o próprio olhar vigilante das próprias mulheres, que se vigiam e vigiam umas às outras”.

    A partir destas considerações iniciais realizaremos algumas reflexões sobre moda, corpo e mulher madura nas campanhas publicitárias.

    A metodologia desta pesquisa foi a revisão bibliográfica na qual elencamos as palavras chave: mulher, envelhecimento, corpo e moda e utilizamos pesquisas acadêmicas decorrentes destes conceitos, além de campanhas publicitárias de revistas de moda.

Uma nova percepção do envelhecer

    A antropóloga Mirian Goldenberg (2013), em seus estudos, utiliza o termo a “bela velhice” para definir essa nova geração de idosos que rejeitam estereótipos a eles atribuídos, criando outros significados para o envelhecimento. A autora se refere a esse grupo como ‘‘sexadolescentes”, “ageless” ou “sem idade”, pessoas que vêem a velhice de forma mais feliz e positiva. São os sujeitos que na última fase de suas vidas decidiram criar um projeto de vida, seja para aprender alguma atividade nova ou exercer uma profissão das quais sempre sonharam ter, pois suas necessidades não são mais materiais e financeiras, mas sim de realização pessoal. Para a autora os “novos velhos” “Não se sentem mais obrigados a corresponder às demandas dos familiares ou da sociedade, como fizeram quando mais jovens” (Goldenberg, 2013, p. 17)

    Pedro e Pinsky (2012), assim como Goldenberg (2013), afirmam que com mais idade, em especial as mulheres, se sentem mais livres para serem elas mesmas, se sentem mais seguras pelas conquistas que tiveram ao longo da vida como a independência, o respeito, o sucesso e o reconhecimento. Sendo assim, não se sentem pressionadas a responder as expectativas dos outros e se sentem cada vez mais seguras para sair, passear, cuidar da beleza, saúde e ter qualidade de vida se preocupando menos com as rugas, a balança e as celulites.

    Motta (1999) concorda que haja novos signos para o envelhecimento que, para ele, podem ser chamados de “nova juventude” ou “idade do lazer”, e ele cita a aposentadoria a modo de exemplificar que se antes a mesma era sinônimo de descanso, hoje é sinônimo de lazer, dinamismo e realização pessoal.

    Não mais vinculados à imagem de inválidos, esses indivíduos que ultrapassaram os 60 anos têm atividades como o retorno à faculdade, viagens, estudo de outros idiomas, idas ao cinema, teatro além do cuidado da saúde e aparência (Ballstaedt, 2008).

A representação dos ageless pela publicidade

    Essa nova percepção da velhice traz com ela novas necessidades de marketing visando o consumo. O mercado vem inserindo novos produtos que surgem com o intuito de suprir os desejos de consumo desse novo público. Com isso, a publicidade tem a missão de vincular os interesses físicos e psicológicos desse grupo através de campanhas onde a representação dos mesmos é atrativa. Por tratar-se de um novo nicho de mercado com crescimento populacional notável e por serem indivíduos com grande potencial de consumo, as marcas e empresas vem dando mais atenção a representação dos mesmos em suas mídias.

    De acordo com Novais (2005), à medida que envelhece, esse grupo vem apontando novas necessidades e desejos por bens materiais. E uma das novas visões tradicionais a respeito do envelhecimento é de que o bem-estar é sinônimo de boa aparência que deve ser conquistada com dietas e exercícios físicos (Debert, 1999). Essa associação entre beleza, saúde e juventude juntamente com práticas de aperfeiçoamento corporal são introduzidas pelas indústrias através da publicidade. Para Junior e Freitas (2012), a pretensão de discutir a velhice é advinda de instâncias midiáticas, e esses discursos contribuem para construções de novas identidades através da grande propagação e veiculação das mídias.

    Nas campanhas publicitárias de moda, grandes marcas estão apostando na representação dos idosos para divulgar seus produtos em revistas de moda. Um dos primeiros estilistas a trazer esse público para anunciar suas peças foi Tom Ford, que justificou sua escolha dizendo estar cansado do culto à juventude. "Estou cansado da rejeição cultural à velhice e do estigma das rugas e cabelos brancos”, afirma ele (http://gnt.globo.com/moda/materias/tom-ford-protesta-contra-culto-a-juventude-e-coloca-idosos-em-cenas-quentes-na-vogue-paris.htm).

Figura 1. Ensaio Tom Ford na Vogue Paris

Fonte: http://gnt.globo.com/moda/materias/tom-ford-protesta-contra-culto-a-juventude-e-coloca-idosos-em-cenas-quentes-na-vogue-paris.htm

Acessado em 06 de julho de 2016

    A campanha publicitária da revista Vogue (Figura 1) não só é protagonizada pelos idosos, como procura desmistificar a ideia de que eles não têm vida sexual ativa, ou que a sexualidade tem idade para ser explicitada, o que podemos considerar um avanço do ponto de vista publicitário.

    Em 2015 outra grife a apostar em modelos idosas foi a Dolce & Gabbana que recebeu muitos elogios por escolher, dentre todas as possibilidades de modelos jovens, mulheres maduras para estrelar sua campanha.

Figura 2. Campanha Dolce & Gabbana, 2015

Fonte: http://virgula.uol.com.br/comportamento/fofura-do-dia-idosas-estrelam-nova-campanha-da-dolce-gabbana/

Acessado em 06 de julho de 2016

    A imagem das três mulheres apresentadas pela marca D&G (Figura 2) também são impactantes, pois não são jovens, magras e maquiadas, mas conseguem passar para o público a ideia de que a beleza pode estar em mulheres de qualquer idade.

    Outra marca que se utilizou de uma mulher na faixa dos 80 anos foi a francesa Céline, como podemos observar a seguir.

Figura 3. Mulher de 80 anos estrela campanha da marca Céline

Fonte: http://www.theguardian.com/fashion/2015/jan/12/celine-joan-didion-literary-hero-fashion-advertisement

Acessado em 6 de julho de 2016

    A marca Céline (Figura 3) apresentou como garota propaganda uma famosa escritora norte americana que é conhecida como um ícone de elegância, mas uma elegância ligada à naturalidade à aceitação do envelhecimento sem retoques. É o reconhecimento da mulher madura e sua trajetória profissional que pode dar credibilidade ao produto apresentado.

    Várias outras marcas, acostumadas a trazer modelos recém descobertas no mercado de moda em seus anúncios publicitários, vem incorporando à sua seleção de modelos mulheres acima dos 60 anos, derrubando aos poucos o culto à juventude nos editoriais e campanhas de moda.

    Este movimento vem ao encontro dos dados apresentados que afirmam que a população idosa é um mercado bastante importante na atualidade e os meios de comunicação não podem ignorar este fato.

Considerações finais

    A ideia de “marca pessoa” trazida por Lipovetsky (2009) diz respeito a um mecanismo da publicidade que, através da representação do público-alvo das marcas, busca evidenciar a essência das mesmas em seus veículos de mídia.

    Esse mecanismo é muito importante quando se trata de representação imagética de uma marca, pois as mesmas tendem a assimilar seu público-alvo e consumidores às modelos que estrelam seus anúncios publicitários, editoriais de moda e desfiles. Sendo assim, optando por celebridades e modelos em idade avançada, as marcas de moda começam a se direcionar a esse público dando a eles maior atenção e visibilidade.

    A utilização de modelos mais velhas, além de representar uma mudança de paradigmas, é uma maneira de se diminuir preconceitos tão arraigados em uma sociedade na qual, segundo Goldenberg (2007), o corpo é considerado um capital, onde as mulheres são compelidas a serem escravas de um corpo magro, sem rugas e sinais de envelhecimento. Mulheres velhas protagonizando anúncios publicitários representam a celebração de um novo ideal de beleza, de uma beleza sem retoques, sem sofrimentos, mais real.

    Os estudos relacionados ao envelhecimento e seus aspectos socioculturais ainda estão em fase incipiente no Brasil, visto que este sempre foi o “país da juventude” que pouco se preocupou com o envelhecimento da população. A partir dos dados demográficos amplamente divulgados, os profissionais ligados à moda, publicidade, comunicação, entretenimento, entre outros, observaram a urgência na inclusão deste público em suas campanhas. Assim, este campo de investigação ainda é bastante fértil e deficitário, em especial no segmento moda para idosos, que carece de pesquisas mais amplas e aprofundadas.

Bibliografia

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 21 · N° 221 | Buenos Aires, Octubre de 2016
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