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Jornalismo e representações sociais: 

Proposta de estudo sobre práticas de lazer e questões de 

gênero a partir da análise dos obituários do jornal Pracia

Periodismo y representaciones sociales: Estudio propuesto sobre las actividades de ocio 

y las cuestiones de género a partir del análisis de los obituarios de lo periódico Pracia

Journalism and social representations: Proposed study about recreation activities 

and gender issues from the analysis of newspaper obituaries Pracia

 

*Jornalista graduada pela Universidade Estadual de Ponta Grossa e Mestranda

do Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais Aplicadas – Bolsista Capes

**Professor adjunto da Universidade Estadual de Ponta Grossa e docente do Mestrado

Interdisciplinar em Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Estadual

de Ponta Grossa. Universidade Estadual de Ponta Grossa/Paraná

Angélica Szeremeta*

angelicaszeremeta@gmail.com

Alfredo Cesar Antunes**

alfredo.cesar@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Este artigo é uma síntese de uma pesquisa em andamento, que ainda passa por processo de construção, com a pretensão de ser finalizado neste ano de 2016. Neste presente trabalho, pretende-se apresentar, alguns apontamentos sobre os obituários como gênero jornalístico, assim como pontuar a possibilidade de se realizar estudos que envolvem temáticas relacionadas ao lazer e gênero. O estudo em andamento pretende avançar no sentido de compreender, comparativamente, como o conteúdo dos obituários remontam um conjunto de sentidos simbólicos e culturais referentes à representação das práticas lúdicas realizadas por homens e mulheres, descendente de imigrantes ucranianos(as) a partir dos próprios relatos construídos e partilhados pela referida comunidade através do obituário.

          Unitermos: Obituários. Lazer. Representação social. Gênero.

 

Abstract

          This paper is a synthesis of research in progress, which is still in construction process, that claiming to be finalized this year (2016). In this article, we intend to present some notes on the obituaries as journalistic genre, as well as scoring the possibility of conducting studies involving issues related to recreation and gender. The study in progress aims to move towards understanding, comparatively, as the content of obituaries shows a set of symbolic and cultural meanings regarding the representation of playful practices carried out by men and women, descendant of Ukrainian immigrants, from own reports which are built and shared by that community through the obituary.

          Keywords: Obituaries. Recreation. Social representation. Gender.

 

Recepção: 25/05/2016 - Aceitação: 06/07/2016

 

1ª Revisão: 24/06/2016 - 2ª Revisão: 02/07/2016

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 21 - Nº 218 - Julio de 2016. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Para compreendermos a relação dos estudos de Representações Sociais aliados a textos de obituários, primeiramente, faremos breves considerações a cerca da elaboração e divulgação de simbólicas mensagens póstumas, que originaram este gênero textual.

    A memória mortuária, segundo López Hidalgo (1999), já existia antes das publicações em periódicos, e acontecia nas orações fúnebres nas igrejas, nas lápides de túmulos (epitáfios) que remontam à primeira ideia de imortalidade através da linguagem, falada ou escrita. Há também a contemplação de homenagem através da arquitetura, como a construção de criptas, como as pirâmides, tumbas, entre outras. A primeira diferença que encontramos no gênero obituário das demais homenagens, de acordo o referido autor, é que estas publicações aparecem nas páginas dos jornais não só como mera homenagem póstuma, mas se diferencia das demais formas de ‘homenagem’ pelo caráter noticioso.

    Para Miguel Rodrigo Alsina, a notícia se configura como uma “representación social de la realidad cotidiana que se manifiesta en la construcción de un mundo posible”, e o jornalismo como uma “atividad especializada em la construcción de la realidad social” (1989, p. 162). Portanto, esta pesquisa pressupõe que, além de propagar informações, os obituários carregam simbolismos e práticas culturais em sua linguagem.

    De acordo com as impressões já coletadas, e que serão explanadas posteriormente, há como identificar, nos relatos fúnebres, retratações particulares do universo social da comunidade ucraniana que se tornam públicas a partir dos obituários.

Obituário como gênero textual jornalístico

    É difícil conceituar, precisamente, que tipo de publicação se caracteriza como texto de obituário. Esta dificuldade é apresentada por autores como López Hidalgo (1999) e Silva (2009). A partir dos apontamentos dos referidos autores, encontram-se definições que variam desde o conceito editorial do veículo (jornal) à intenção particular de quem o escreve. Com isso, López Hidalgo (1999) utiliza-se, de um compilado de vários autores para compreender este gênero.

    Baseado em autores como Julio Casares, José Fernandez Beamount, Antonio López de Zuazo, Angel S. Harguindey, o autor López Hidalgo elenca alguns pontos a partir dos pensamentos dos pesquisadores citados, dos quais podemos selecionar algumas características da seguinte maneira: uma biografia póstuma ou uma lista de falecidos (Casares, 1973, apud López Hidalgo, 1999), notícia de falecimento de uma pessoa que pode se encontrar na página de informações gerais ou de serviço de um determinado jornal (Fernandez Beaumont, 1987 apud López Hidalgo, 1999); o artigo necrológico e o obituário se diferenciam, pois o artigo volta-se para o caráter de enaltecer os valores do falecido, como uma pessoa ilustre (López De Zuazo, 1978 apud López Hidalgo, 1999); o obituário (ou o artigo necrológico) é um dos mais contraditórios e intensos gêneros, pois para quem o escreve, na maioria das vezes, escreve no calor da comoção, principalmente se essa pessoa for um familiar próximo, o que acaba enaltecendo grande parte da vida do falecido (Harguindey, 1997 apud López Hidalgo, 1999)

    Com estas definições elencadas, López Hidalgo (1999) aponta que no meio de comunicação ‘jornal’, onde são veiculados os obituários, cada veículo define como pode ser caracterizado um obituário, como podemos visualizar no exemplo do jornal El Mundo, que dedica um capítulo de sua publicação aos “gêneros fúnebres”, sessão que abriga os obituários no jornal.

    Outro exemplo de caracterização do obituário se dá no periódico El Mundo, onde o texto fúnebre é visto como algo que demonstra a particularidade humana de cada indivíduo, sendo esta pessoa conhecida ou não do grande público de leitores do periódico.

    “Según el libro de estilo de 'El Mundo', en el obituario, el periodista ejerce sus dotes de recopilación y síntesis de datos exactamente igual que en cualquier otro género. No obstante, y a ser posible, el redactor debe añadir a estos datos documentales testimonios personales. En otros casos, se puede recurrir al especialista para que éste ofrezca su testimonio valorativo e incluirlo de manera destacada en un texto elaborado por un redactor” (López Hidalgo, 1999)

    Outra característica presente no obituário, que se dá além do texto é a presença da fotografia. A foto, geralmente, é um retrato básico do falecido, e tem como finalidade, além de identificar aquele se foi, atribuir um sentido simbólico de proximidade, que apela ao subjetivo de quem consome o texto do obituário.

    “Enquanto o texto representa e reporta a vida do indivíduo, as fotografias aproximam ainda mais os indivíduos da realidade. Quem lê o texto pode conhecer aquele que não está mais vivo. Na estrutura é importante a presença fotográfica junto ao texto para representar o indivíduo de que fazem a leitura. Isso faz com que as pessoas se aproximem com “intimidade” na vida dos mortos, tornando-os mais reais e tão comuns quanto os que lêem” (Silva, 2009. p.15).

    O fator financeiro também deve ser levado em conta na definição do obituário a partir das suas características. Os artigos necrológicos (ou somente chamados ‘necrológios’), apontados anteriormente, possuem um tom de enaltecimento do falecido, e segundo Silva (2009), não podem ser caracterizados como obituários, pois são conteúdos pagos e tendem ao viés mais publicitário do que jornalístico,

Os obituários a partir do The New York Times à apropriação brasileira do gênero

    Para compreender a presença deste gênero no Brasil, e posteriormente, em específico no Pracia, para fins de contexto, elencaremos de forma sintética a trajetória do gênero obituário no cenário global às manifestações nacionais, de acordo com os apontamentos de Silva (2009). As primeiras manifestações do gênero, em seu formato textual datam do século XVII, na Inglaterra, com a coleção de minibiografias póstumas publicadas por John Aubrey, em sua obra Vidas Breves. Mas, foi só em 1731 que os primeiros obituários foram publicados em material noticioso, no caso, a revista Gentleman, em Londres. As primeiras publicações de obituários até então eram biografias curtas, ou listas que continham informações básicas sobre a morte do falecido.

    Foi no século XIX, como descreve Silva (2009), que o registro das vidas foram mais aprofundadas e receberam caráter de aprofundamento noticioso, no The Times. Músicos, artistas, lordes, pessoas ligadas ao mundo jurídico, militares entre outras pessoas da elite ganhavam espaço nas memórias póstumas. Já em 1879, as pessoas ditas ‘comuns’ já se encontravam nas páginas de jornais americanos, onde suas vidas eram relatadas por seus próprios amigos e familiares.

    O ‘boom’ dos obituários aconteceu no a partir da metade do século XX, quando os textos do The New York Times, em 1963, recebem formatos literários em sua descrição. No ano seguinte o Times constrói sua marca na confecção deste gênero textual, como relata Silva (2009), na elaboração de técnicas de apuração que tornam o obituário objeto de caráter noticioso, o qual se torna modelo para o mundo em sua confecção.

    Como aponta Suzuki (2008), escrever obituários no Times é função cobiçada e disputada ‘a tapas’ pelos jornalistas. Retratar a vida de pessoas para estes obituaristas é seguir a máxima de que “Deus é meu pauteiro”. O prestígio póstumo de ser retratado pelo Times se tornou tão cobiçado que, na década de 1960, alguns obituários foram elaborados antes mesmo da morte do sujeito, para que o relato fosse mais rico e exclusivo. Nos anos de 1980, vários jornais norte-americanos incorporaram o gênero em suas publicações como Philadelfia Daily News (1980), Independent (1986) e o Daily Telegraph (1986).

    No Brasil, Silva (2009) explica que o gênero chegou tardiamente, devido a fatores culturais no tratamento da morte. A Folha de São Paulo foi o precursor que incorporou o obituário no jornalismo brasileiro, no dia 24 de outubro de 2007, influenciada pelas tendências e modelos do The New York Times.

    De acordo com estudos de Marocco (2009), os jornais nacionais mais representativos que possuem publicações diárias são “A Folha de São Paulo”, no caderno Cotidiano, e o “Zero Hora”, onde todo tipo de falecimento é enquadrado como obituários. Vale dizer que, de acordo com Marocco (2009), o jornalismo brasileiro não possui um ‘tipo’ ou ‘padrão’ de se fazer obituários. O que acontece são apropriações do estilo internacional de se fazer obituário, que variam de periódico para periódico.

Características que constituem o obituário no jornal Pracia1

    Diferente dos demais jornais da mídia internacional, o obituário no Pracia não é construído a partir de manuais de redação, regras pré-definidas e muito menos por jornalistas graduados. Os moldes desta produção remete aos primórdios da confecção do obituário nos Estados Unidos do século XIX, onde são produzidos pelos familiares e pessoas próximas ao falecido. Também difere-se dos necrológicos, pois não são pagos para entrarem no jornal, tendo como função primordial registrar a vida do falecido. Entende-se essa produção como textos de obituários pelo seu caráter noticioso, por não possuir vínculo publicitário na publicação, além de ser a própria denominação do jornal feita para caracterizar os referidos textos .

    A comunidade ucraniana de Prudentópolis encontrou no Pracia uma forma de estreitar os laços comunicacionais: escrever sobre falecimentos de conterrâneos em terras brasileiras. O objetivo dessa iniciativa era informar os familiares que se encontravam em outras localidades migrantes, e até mesmo, parentes que ficaram no país de origem, sobre o falecimento de entes queridos. Nas primeiras edições do jornal, as publicações fúnebres possuíam apenas informações essenciais sobre o falecido, como a data de nascimento e data da morte, a localidade onde se encontra e a causa do óbito. A trajetória dos sujeitos só foi incorporada ao texto na década de 1990.

    De acordo com o recorte da pesquisa de Szeremeta (2014), a partir de 2001 os obituários começaram a ser publicados na língua portuguesa e ucraniana. Atualmente, os obituários chegam de três formas ao jornal: escritos a mão (na língua portuguesa ou na língua ucraniana), via internet ou os próprios familiares dos falecidos vão até a Gráfica Prudentópolis, e pedem para a secretária, dona Nadir, escrever a biografia do morto. Através dos relatos das pessoas, dona Nadir reconstrói a trajetória do sujeito. A família confere o relato e autoriza para a publicação.

    Na maioria das vezes, os obituários registrados em ucraniano pertencem às famílias que habitam o interior de Prudentópolis e que ainda possuem fluência na língua. É nas colônias de Prudentópolis que se encontra o maior número de pessoas que preservam a tradição de falar a língua materna. Segundo o Pe. Tarcísio, as crianças e os jovens, mesmo os que habitam essas localidades, não possuem o mesmo domínio linguístico que as pessoas mais velhas.

    Não há um número mínimo, nem máximo, de caracteres para o texto. A variação dependerá da trajetória do falecido. Dentro do recorte do estudo de Szeremeta (2014), o maior obituário encontrado é referente ao óbito do padre Volodomer Burko, presente na edição de Natal de 2002. O texto ocupou, na página 7, 1 e 1/2 colunas, das duas colunas presentes da página. Na maioria das vezes, o editorial ocupa ¼ da página, ou seja, metade de uma coluna. O menor obituário, no recorte estudado, é de йосиф квасніцький (Iosef Kvacnitchey, em tradução livre), que contém informações sobre seu nascimento, sua profissão como metalúrgico, e o nome de seus familiares, além de uma breve despedida (no tamanho de uma linha) dos filhos e esposa. Informações relacionadas à vida familiar, profissional e religiosa são incorporadas, de acordo com a vontade de quem o escreve.

    Se um indivíduo possuía uma vida com grandes contribuições à comunidade ucraniana, o obituário tende a destacar essa participação ao longo do texto. Também não existe edição por parte da redação do Pracia nos textos dos obituários, e todo conteúdo é responsabilidade de quem o escreve, ou do solicitante, no caso do texto ser escrito nas dependências da gráfica. A única modificação no obituário se dá, em alguns casos, na correção gramatical, feita pelo redator.

Representações sociais e questões de gênero

    Entendemos o conceito de gênero nesta pesquisa a partir das considerações da obra “Gênero e diversidade na escola”, que define que a construção do que entendemos por práticas ‘masculinas e femininas’ são elaboradas a partir da cultura e não de diferenças biológicas, a partir das relações de poder na sociedade, de forma hierarquizada nos contextos sociais. “A ideia de ‘inferioridade’ feminina foi e é socialmente construída pelos próprios homens e pelas mulheres ao longo da história”. (Barreto, A.; Araújo, L.; Pereira, M. E, 2009, p.39).

    Dessa forma, compreende-se que:

    “O modo como homens e mulheres se comportam em sociedade corresponde a um intenso aprendizado sociocultural que nos ensina a agir conforme as prescrições de cada gênero. Há uma expectativa social em relação à maneira como homens e mulheres devem andar, falar, sentar, mostrar seu corpo, brincar, dançar, namorar, cuidar do outro, amar etc. Conforme o gênero, também há modos específicos de trabalhar, gerenciar outras pessoas, ensinar, dirigir o carro, gastar o dinheiro, ingerir bebidas, dentre outras atividades”(Barreto, A.; Araújo, L.; Pereira, M. E, 2009, p.41).

    A partir destas considerações, esta pesquisa leva pressupõe que estas expectativas referentes ao perfil ‘padrão’ da mulher sejam materializadas nos relatos dos obituários do jornal Pracia, construindo representações de gênero visíveis no periódico. Para que este processo histórico construtivista das representações seja contemplado na pesquisa, o presente estudo encaminha-se para a abordagem teórica de Moscovici (2010).

    Para o autor, as diversas realidades são compostas por diferentes signos e significantes, correspondentes a estrutura cognitiva de cada qual. As representações são “tudo o que nós temos, aquilo a que nossos sistemas perceptivos, como cognitivos, estão ajustados” (Moscovici, 2010, p.32).

    Portanto, a realidade (ou as realidades) são compostas por convenções, que nos permitem “conhecer o que representa o quê” (Moscovici, 2010, p. 34). Dessa forma, também entendemos as representações em seu aspecto construtivista cultural, a partir das relações socioculturais de determinadas sociedades ou comunidades específicas. Portanto, entendemos as representações sociais como ‘tipos de realidade’ (Moscovci, 2010).

    Dessa forma, classificamos imagens, discursos e símbolos de acordo com sucessivas sequências de elaborações cognitivas, construídas a partir do tempo. Como aponta Moscovici (2010), essa é a explicação do porquê de algumas pessoas se comportarem de uma maneira ou de outra, da maneira particular de cada um julgar estes mesmos indivíduos. Definimos, dessa maneira, a nossa posição na hierarquia social, assim como nossos valores.

Praticas de lazer

    Trabalhamos com autores que abordam este conceito a partir de uma perspectiva cultural, levando em consideração as práticas de lazer atreladas a cultura e o tempo livre de determinado grupo. No âmbito social do conceito, entende-se por lazer como momentos de lazer experiências lúdicas. Atividades de pertencimento, encontros, repetições criativas (Pinto, 2004).

    De acordo com Menoia (2000) o lazer é visto, de forma geral, como atividades realizadas pelo homem para além do trabalho, possuindo relações ligadas a atividades lúdicas. Para a autora, “observaram-se mudanças no comportamento social e, consequentemente, na cultura, alterando as condições de vida da sociedade em relação ao lazer” (Menoia, 2000, p.10).

    Para Murdock (1966 apud Menoia, 2000) o lazer ligado aos hábitos culturais.“Entre esses hábitos culturais persistiria a utilização do tempo livre, o reconhecimento do lazer como elemento central da cultura vivida e reconhecida por diversas gerações” (Menoia, 2000, p.10) De acordo com Menoia (2000) autores como Dumazedier, Gaelzer, Requixa, Dieckert e Marcellino trabalham com o conceito de lazer ligado as atividades realizadas no ‘tempo livre’

    Portanto, podemos sintetizar os apontamentos acima da seguinte maneira: há diversas formas de se entender o conceito de lazer, dependendo da finalidade e dos elementos de determinada atividade realizada. O fator principal, de acordo com os autores utilizados neste artigo, é que o lazer está diretamente ligado ao descanso, ao que é elaborado fora do expediente laboral, como forma de se restabelecer do cansaço provocado pelos trabalho. Só há atividade de lazer se existe trabalho.

Considerações finais

    A partir do que foi apresentado, podemos dizer que é possível realizar estudos que envolvem representações sociais a partir de instrumentos jornalísticos. A interdisciplinaridade é contemplada de forma a expandir horizontes de pesquisa a serem perseguidos. É um desafio aventurar-se pelo diálogo das diferentes áreas, sejam mais específicas e próximas à formação da pesquisadora, ou as referências teóricas mais distantes ainda a serem aprofundadas.

    O próprio universo dos obituários, enquanto produto do jornalismo vê se ainda aberto várias possibilidades de pesquisa, sendo que os estudos voltados às representações são apenas uma pequena parte desta grande seara. As próprias referências teóricas brasileiras sobre a temática ainda são ralas e generalizantes.

    Aqui, abre-se a oportunidade para os estudos de objetos particulares, de casos concretos em diferentes jornais. Pesquisas sobre a área podem nos ajudar a elaborar conceitos teóricos, e também, a entender processos produtivos de periódicos que adotam a prática dos obituários, em suas variadas dimensões.

    A representação da morte em alguns jornais, enquanto exaltação do falecido e lugar gráfico para arrecadação de capital, como apontado anteriormente, parece que, neste caso em estudo, transforma em outra ‘finalidade’: Aponta uma forma de feedback das ações da (o) falecida (o) para com a comunidade e familiares. É dessas particularidades e movimentos específicos que esta pesquisa pretende compreender, a partir do meio jornal, de que forma se dão as representações de gênero e lazer a partir dos obituários.

    Podemos dizer que as práticas de lazer, a partir de uma perspectiva cultural, são possíveis de ser identificadas nos obituários, levando em consideração a tradição ucraniana. Os costumes, principalmente religiosos, pautam grande parte da vida dos imigrantes ucranianos. O que se propõe apontar, na pesquisa em andamento, é de que forma estas práticas são relatadas de acordo com a construção de gênero (homem e mulher) na comunidade ucraniana.

    É interessante ressaltar, que a partir do referencial teórico levantando até agora, aponta-se uma importante função da igreja nas atividades de lazer dessa comunidade. Para tal, a pesquisa buscará se aprofundar, a partir desta constatação, em autores que sustentam o conceito de lazer ligado a religião, tais como Gabriel e Marcelino (2007) e Carmo e Salomão (2009).

    Portanto, este estudo não pretende esgotar todas as informações sobre a temática, mas, fornecer informações para novas pesquisas que se debrucem aos estudos sobre lazer. Dessa forma, é possível ter uma primeira fonte de pesquisa sobre as praticas de lazer específicas dessa comunidade, contribuindo tanto para os estudos relacionados ao campo da educação física, quanto do jornalismo e aos estudos de gênero, demonstrando assim, vasta riqueza de informações numa proposta de pesquisa interdisciplinar.

Nota

  1. Neste subtópico as informações são parte da monografia de Szeremeta (2014), presentes no capítulo 5.1 Obituários: memória do imigrante ucraniano publicada nas páginas do Pracia, p. 57-58, referenciada ao fim deste trabalho.

Bibliografia

  • Bardin, L. (1976). Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70.

  • Barreto, A., Araújo, L., Pereira, M. E. (comp.) (2009). Gênero e diversidade na escola: formação de professoras/es em Gênero, Orientação Sexual e Relações Étnico-Raciais. Livro de conteúdo. Rio de Janeiro: CEPESC; Brasília: SPM.

  • Carmo. G. C. M. D., Salomão, A. F. (2009) Lazer e religião: algumas aproximações. In: IX Simpósio Nacional do Processo Civilizador. Ponta Grossa, Paraná.

  • Gabriel, O.P.B., Marcellino, N.C. (2007) Algumas aproximações possíveis entre lazer e religião. In: Licere, Belo Horizonte, v.10, n.3.

  • López Hidalgo, A. (2009) La necrológica, como género periodístico. In: Revista Latina de Comunicación Social, nº 15.

  • Marocco, B. (2001) Fragmentos de vidas exemplares. In: Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo, 9, Rio de Janeiro. Anais eletrônicos SBPjor, UFRJ.

  • Menoia, T. R. M. (2000). Lazer: história, conceitos e definições. Campinas: Unicamp, www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?down=000325119

  • Moscovici, S. (2010). Representações sociais: Investigações em psicologia social. Petrópolis, RJ: VOZES. 7ª edição.

  • Pinto, L.M.S.M. (2004) Sentidos e significados de tempo de lazer na atualidade: estudo com jovens belo-horizontinos. Belo Horizonte: Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas. http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/handle/1843/FAEC85NPTE/2000000075.pdf?sequence=1

  • Rodrigo Alsina, M. (1989). La construcción de la noticia. Barcelona: Paidós.

  • Silva, A.K.S. (2009). Obituário contemporâneo: vulgarização ou celebração da vida? 51f. (Monografia em Jornalismo). Faculdade de Tecnologia e Ciências Sociais Aplicadas, Brasília.

  • Suzuki Jr. M. (2008). O livro das Vidas: Obituários do New York Times. São Paulo: Companhia das Letras.

  • Szeremeta, A. (2014). Imprensa imigrante e jornalismo: apropriação de elementos jornalísticos na produção do jornal centenário ucraniano Pracia. Ponta Grossa: Universidade Estadual de Ponta Grossa.

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