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Promoção da saúde: espaço interdisciplinar 

para o estudo do estilo de vida

Promoción de la salud: un espacio interdisciplinario para el estudio del estilo de vida

Health promotion: an interdisciplinary space for lifestyle study

 

*Teólogo pelo Seminário Latino Americano de Teologia SALT-IAENE. Discente do Mestrado

Profissional em Promoção da Saúde do Centro Universitário Adventista de São Paulo

**Fisioterapeuta pela Faculdade Adventista da Bahia. Atua no Hospital Adventista de São Paulo

***Profissional de Educação Física, Mestre em EF e Doutor em Educação pela Universidade

Estadual de Campinas, Unicamp. Professor do Centro Universitário Adventista de São Paulo

campus SP para a graduação em Educação Física e Mestrado em Promoção da Saúde

Anselmo Cordeiro de Souza*

Izabel Maria de Oliveira**

Leonardo Tavares Martins***

anselmo.vivamelhor@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A temática da promoção da saúde é inegavelmente uma questão interdisciplinar, bem como a proposição de um determinado estilo de vida. A compreensão de que a discussão sobre esses assuntos está no âmbito acadêmico, presente nas disciplinas e textos a elas relacionados, bem como no âmbito científico, identificado em artigos científicos e demais produções, nos estimulou a estabelecer como objetivo deste texto discutir como essa temática tem sido apresentada, bem como considerar sua evolução no meio acadêmico. Embora esse trabalho não seja uma ampla revisão da literatura, traz dados importantes sobre os novos caminhos ao se propor o estudo acadêmico da promoção da saúde, considerando o que dizem importantes autores dessa área, ao se propor ações interprofissionais na congruência do estilo de vida e promoção da saúde.

          Unitermos: Promoção da saúde. Estilo de vida. Saúde.

 

Abstract

          The health promotion theme is undeniably an interdisciplinary issue as well as the proposal of a certain lifestyle. The understanding that the discussion of these issues are in the academic field present at the classes and texts related to them, as well as in the scientific environment, identified in papers and other productions, encouraged us to establish as the main purpose of this text to discuss how this issue has been submitted, as well as consider its evolution in the academic field. Although this work is not a comprehensive literature review, provides important data on the new paths when proposing the academic study of health promotion, considering what relevant authors say when we propose inter-professional actions at the congruence of lifestyle and health promotion.

          Keywords: Health promotion. Lifestyle. Health.

 

Recepção: 19/11/2015 - Aceitação: 06/07/2016

 

1ª Revisão: 21/06/2016 - 2ª Revisão: 03/07/2016

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 21 - Nº 218 - Julio de 2016. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O estilo de vida tem sido um construto técnico utilizado no meio acadêmico e científico por diversas áreas do conhecimento tomando muitas vezes os mais dispares sentidos. Segundo Finotti (2009) sua primeira utilização recente ocorre nas ciências sociais, migrando para ciências sociais aplicadas e concomitantemente nas ciências econômicas, para então ser utilizada na área da saúde, primeiro na psicologia, e talvez se possa afirmar a partir do relatório de Lalonde também na saúde pública e na recente promoção da saúde (Candeias, 1997; Pereira et al., 2000; Brasil 2002).

    Logo, o objetivo deste ensaio1 é explicitar ainda que brevemente, aspectos do estudo do estilo de vida relacionado à saúde, enquanto uma possibilidade interdisciplinar, a partir da promoção da saúde. Esta é uma contribuição introdutória, limitando-se à descrição de algumas abordagens e produções acadêmicas e cientificas da temática supracitada, utilizando como estratégia a narrativa bibliográfica a partir das palavras chave: estilo de vida, promoção da saúde, interdisciplinaridade.

Espaço aberto: no meio cientifico

    Na área da saúde o termo estilo de vida tem sido analisado por variadas correntes, ganhando contornos individuais e sociais. No PubMed um dos maiores bancos de dados da base empírica da literatura cientifica, em seu Medical Subject Headings – MeSH Terms 2 se segue a classificação do termo na seguinte ordem: Lifestyle (estilo de vida) in Psychology, Social (psicologia social) in Behavior and Behavior Mechanisms (comportamento e mecanismos do comportamento) in Psychiatry and Psychology Category (categoria psicológica e psiquiátrica), apresentando qualificadores epidemiológicos, históricos, estatísticos, entre outros. O estilo de vida ainda tem sido relacionado a descritores tais como hábitos e ou comportamentos saudáveis em vários artigos e nos Descritores de Ciências da Saúde – DeCS da Biblioteca Virtual em saúde – BVS, relaciona-se o termo ao descritor qualidade de vida. Integra, recentemente, o campo médico, conhecido como medicina do estilo de vida, ou mesmo estilo de vida (saudável) baseado em evidências, sendo no brasil a temática ainda comedida, por sua vez a medicina do estilo de vida se fundamenta em estudos epidemiológicos com ênfase quantitativa objetivando a verificação de relações causais. (Kushner, 2013; Ripoll, 2012; Egger 2009; Brandau et al 2005; Pellizzon 2004; Lowe, Barnett 1994).

    Tendência que é evidenciada por Turato (2005) ao abordar a respeito dos métodos qualitativos e quantitativos na área da saúde. Esse autor pontua que o estilo de vida é um assunto valorizado correntemente nas pesquisas com delineamento quantitativo.

    Destacamos que parecer haver poucos estudos na área da saúde que analisem de modo apropriado, ou seja, utilizando–se de metodologias adequadas, o termo estilo de vida a partir de sua etimologia uma vez que este conceito se faz como referencia técnica de diversos sentidos. Uma contextualização etimológica e epistemológica traria um rigor desejável para construção de possibilidades teóricas e metodológicas mais confiáveis a respeito da temática. (Rajabnejad et al 2013; Bezas, Verneck 2012; Viaro 2011). De modo semelhante Lira e colaboradores (2009) indicam em sua revisão da literatura a repercussão negativa pela utilização impropria do termo nas referências teóricas e metodológicas, alertando para a confusão terminológica sobre o conceito de promoção da saúde, evidenciando-o como um crasso equívoco.

    Numa revisão sistemática sobre como tem sido avaliado o estilo de vida, Porto et al (2015) revela que esta área é repleta de lacunas, tanto no que diz respeito ao entendimento de avaliação do estilo de vida e seus componentes quanto no aperfeiçoamento de instrumentos de medida confiáveis. Esse autor conclui propondo novos estudos com maior rigor metodológico, para melhor compreensão do fenômeno. Inferimos assim a existência de um campo aberto e em construção a respeito da temática estilo de vida relacionada a saúde, incluindo suas bases teóricas, avaliação e mensuração.

    Ao discutir aspectos epistemológicos da promoção da saúde, Silva-Arioli e colaboradores (2013) indicam a promoção da saúde como espaço ainda em construção, e traz o estilo de vida saudável como uma das principais áreas exploradas dentro deste espaço, dito interdisciplinar, ainda que o estudo faça várias críticas à tendência dessa abordagem de subestimar o contexto e determinantes sociais da saúde, bem como da necessidade de uma abordagem mais coerente com os princípios do Sistema Único de Saúde – SUS. Ainda na introdução das cartas em promoção da saúde publicadas no brasil, se destaca o estilo de vida como um dos componentes do campo da Saúde, reafirmados na Carta de Otawa (Brasil 2002).

Espaço aberto: no meio academico

    No meio acadêmico brasileiro o estudo e pesquisa especifica formal da temática promoção da saúde se inaugura a partir da autorização e recomendação de cursos de pós–graduação estrito sensu em promoção da saúde, sendo em 2010 homologado pelo Conselho Nacional em Educação – CNE o Mestrado acadêmico em promoção da saúde3 pela Universidade de Santa Cruz do Sul - UNISC, seguido em 2012 pela oferta do mestrado acadêmico4 do Centro Universitário de Maringá – UNICESUMAR, e ainda em 2012 do mestrado5 e o primeiro doutorado6 em promoção de saúde pela Universidade de Franca – UNIFRAN, e em 2013 o primeiro mestrado profissional7 em promoção da saúde oferecido pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo. Vale ressaltar que esses cursos estão inseridos dentro da grande área multidisciplinar de avaliação interdisciplinar incluídos na área básica da saúde e biológicas. O que sugere e reflete a essência da promoção da saúde como campo interdisciplinar, quer seja para a pesquisa, o ensino ou a extensão.

    Lira et al. (2009) em seu estudo sobre a produção acadêmica em cursos de mestrado acadêmico e profissional e doutorado no período do ano 2000 a 2004, já aponta para uma tendência e crescimento de estudos a respeito da promoção da saúde e outros relacionados a ela. Por meio da análise do resumo, foram levantados e selecionado um total de 678 dissertações e teses que incluíam os termos promoção da saúde. A frequência de ocorrências das dissertações/teses foi avaliada por áreas do conhecimento, alavancados primeiro pela área da saúde coletiva (137), enfermagem (122), saúde pública (85) e educação (73), sendo essas áreas pontuadas como de mais expressiva ocorrência. Não foi pontuada a área multidisciplinar e/ou interdisciplinar, áreas nas quais hoje está amparada o Programa de Pós-graduação em Promoção da Saúde. O estudo conclui, diante das limitações da revisão, sobre a necessidade de pesquisas mais aprofundadas sobre a produção acadêmica e científica nas questões teóricas e metodológicas. Há em comum, com outros estudos (Pombo 2004; Luz 2009; Sicoli, Nascimento 2003; Barata 2000), uma convergência para a reflexão e compreensão da promoção da saúde enquanto prática interdisciplinar, superando uma aparente contradição sobre a temporalidade dessa temática, presente no passado e tão vívida atualmente no meio acadêmico.

Conclusão

    A superação dos agigantados desafios na área da saúde pública e promoção da saúde, exigem um esforço contínuo, constante e de natureza interdisciplinar, considerando a eminência e urgência dessas realidades. Neste sentido as contribuições acadêmicas, cientificas e profissionais, a partir do diálogo Interprofissional, podem proporcionar uma instrumentalização que suporte o empreendimento e desafio da complexa área da saúde humana e suas relações. Um entendimento e valorização de todas as determinações e áreas de estudo, pesquisa e pratica refletida. E a partir daí, por que não, ESPERANÇA!

Notas

  1. Ensaio aqui entendido como indicado por Jorge Larrosa em O ensaio e a escrita acadêmica (Educação & Realidade 28.2; 2003) e Isidoro M. Alves em A ensaística e o trabalho científico (Logos 7.2, 14-17; 2000).

  2. MeSH Terms” estão organizados hierarquicamente, com níveis superiores de ramificação representando conceitos ou tópicos mais genéricos. As subdivisões inferiores comportam assuntos mais específicos. Bibliotecários na National Library of Medicine escolhem 10 a 12 palavras que representam o conteúdo ou o assunto do artigo. Estas palavras (chamadas MeSH Terms) provém de uma lista, criada anteriormente, contendo palavras-chave ou tópicos que se aplicam a quaisquer conceitos médicos ou biomédicos.

  3. Port. MEC 1045, de 18/08/2010, DOU 19/08/2010.

  4. Port. MEC 978, de 26/7/2012, DOU 27/7/2012.

  5. Port. MEC 1077, de 31/08/2012, DOU 13/09/2012.

  6. Port. MEC 978, de 26/7/2012, DOU 27/7/2012.

  7. Port. MEC 601, de 9/7/2013, D.O.U de 10/7/2013.

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