Recreio escolar e anos iniciais do ensino fundamental: compreensão de equipe diretiva, professores e funcionários de uma escola estadual do Vale do Taquari, RS El recreo escolar y los años iniciales de la enseñanza elemental: comprensión del equipo directivo, profesores y empleados de una escuela estatal de Vale do Taquari, RS School recreation and first years of elementary school: understanding of management team, teachers and employees of a state school of Vale do Taquari, RS |
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*Graduada do Curso de Educação Física – Licenciatura pelo Centro Universitário UNIVATES de Lajeado, RS **Mestre em Ciência do Movimento Humano. Professor do Curso de Educação Física do Centro Universitário UNIVATES de Lajeado, RS (Brasil) |
Dirce Rodrigues dos Santos* Derli Juliano Neuenfeldt** |
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Resumo Este artigo é fruto de uma pesquisa qualitativa e descritiva que analisou a compreensão que equipe diretiva, professores dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental e funcionários de uma escola pública estadual localizada no Vale do Taquari/RS/BRA têm em relação ao recreio no contexto escolar. A coleta de dados foi feita por meio da observação de oito participantes e entrevistas semiestruturadas realizadas com duas pessoas da equipe diretiva, seis professores dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental e três funcionários da escola. Além disso, analisou-se o Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola. Constatou-se que os professores, funcionários e equipe diretiva compreendem o recreio como um momento para os alunos brincarem, extravasarem energia, socializarem, interagirem, darem uma pausa nas atividades didáticas, lancharem e realizarem suas necessidades fisiológicas. O recreio não consta no PPP. Conclui-se que o recreio é de extrema importância, mas requer uma intervenção pedagógica. Unitermos: Recreio. Escola. Anos iniciais do Ensino Fundamental.
Abstract The present article is based on a qualitative and descriptive study that analyzed the understanding that management team, teachers in the First Years of Elementary School and employees of a public school located in Vale do Taquari/ RS/ BRA have in relation to recreation in the school context. The data collection was done through the observations of eight participants and semi-structured interviews with two people of management team, six teachers in the First Years of Elementary School and three school employees. Moreover, was analyzed the (PPP) Political Pedagogical Project. It was found that teachers, employees and management team include the recreation as a time for students to play, overstepping energy, socialize, interact, give a break in didactic activities, have a snack and do their physiological needs. The recreation is not in the PPP. Was concluded that this break is of utmost importance, but requires a pedagogical intervention. Keywords: Recreation. School. First years of Elementary School.
Recepção: 20/03/2016 - Aceitação: 25/04/2016
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 21 - Nº 216 - Mayo de 2016. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Este artigo propõe a reflexão sobre o recreio escolar nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, momento presente na vida de todos os estudantes desde a Educação Infantil até o Ensino Superior.
O interesse por este tema surgiu a partir do contato da autora1 com o contexto escolar durante os Estágios Supervisionados realizou no curso de Licenciatura em Educação Física. A partir dessa aproximação ao campo de estudo despertou-me curiosidade e questionamentos em relação ao recreio no contexto escolar. Outro fator que levou a investigação sobre o recreio nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental foi o fato de que este momento, muitas vezes, é esquecido no ambiente escolar. Estudos como o de Gaelzer (1979), há décadas já ressaltava a importância desse espaço para os alunos, mas que inúmeras vezes não é valorizado como um momento de socialização, recreação e aprendizagem, sendo considerado apenas um período ocioso entre atividades didáticas desenvolvidas em sala de aula. Contudo, Neuenfeldt (2005) considera o recreio escolar um momento que, apesar de curto, é muito importante nas escolas e não deve passar despercebido no contexto escolar. O autor ressalta também, os inúmeros benefícios que o recreio proporciona aos alunos, sendo um momento de interação, recreação, e oportunidade para as crianças se movimentarem, após permanecerem por um longo período sentadas na sala de aula.
O recreio merece atenção uma vez que faz parte do tempo escolar. Todavia quando nos referimos ao recreio, do que estamos a falar? Sem buscar a delimitação do termo, mas entendendo como necessária a análise etimológica da palavra “recreio”, percebe-se que a sua raiz nos leva ao termo recreação: “Período para se recrear, como especialmente, nas escolas, o intervalo entre as aulas” (Ferreira, 1999, p.1721).
Gaelzer (1979) define recreação como “[...] restabelecimento, restauração e recuperação. Operação de escolha voluntária, geralmente buscada nas horas livres, e realizada pelo prazer que sua própria execução oferece”. Neste sentido, segundo a autora, para que a recreação esteja presente no momento do recreio escolar, é necessário que este seja planejado, organizado, realizado e avaliado como qualquer outro plano de ensino da escola. Além disso, toda a comunidade escolar deve estar ciente dos diversos benefícios que um recreio organizado traz aos alunos, fazendo com que este momento seja mais valorizado no contexto escolar.
Sabe-se que o recreio é um momento de intervalo que alunos e professores têm para “descansar” de suas atividades pedagógicas. Mas será que podemos resumir o recreio escolar como um mero intervalo entre as aulas? O que pensam os professores, funcionários e equipe diretiva da escola sobre o recreio? O que acontece nestes instantes em que os alunos estão distantes do contato direto com os professores? Com quais atividades e quais espaços os alunos dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental ocupam-se neste período? Como o recreio é organizado na escola?
A partir destas indagações o presente estudo, analisou a compreensão que equipe diretiva, professores e funcionários de uma escola pública da rede Estadual, localizada no Vale do Taquari/RS/BRA, possuem do recreio para os Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Além disso, se identificou e descreveu a forma de organização do recreio no contexto escolar e se analisou o que acontece no tempo/espaço do recreio escolar dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental.
Conforme aborda Neuenfeldt (2005) o espaço do recreio não deve ser esquecido, ou deixado de lado no ambiente escolar, pois é um momento de extrema importância para os alunos, professores e escola em geral. Este não pode ficar oculto no contexto escolar, pelo contrário, necessita ser pensado em conjunto por toda a escola, refletindo-se e analisando como ele se insere no Projeto Político Pedagógico (PPP).
Espera-se que através da investigação e construção de novos conhecimentos referentes a este tema, a escola do estudo possa ter subsídios para repensar o recreio escolar, podendo, assim, realizar melhorias ou buscar alternativas para este espaço, fazendo com que os professores e funcionários reflitam como podem auxiliar para a articulação do recreio com o PPP.
Metodologia
O presente estudo apresenta-se como pesquisa de natureza qualitativa e descritiva. Conforme Triviños (1987) a pesquisa qualitativa descritiva caracteriza-se por ser coerente, lógica e consistente, tendo como base a descrição da percepção de um determinado fenômeno num contexto. Para Minayo (2008), a pesquisa qualitativa é aquela que responde a questões muito particulares, com dados da realidade que não podem ser quantificados. Nela trabalha-se com o universo dos significados, das atitudes, dos motivos, das crenças, dos valores, enfim todo esse conjunto de fenômenos humanos é entendido, na pesquisa qualitativa, como parte da realidade social, pois os seres humanos se distinguem por agir, por pensar e por interpretar suas ações dentro da realidade em que vivem.
Acrescentando, Negrine (1999, p. 61) diz que: “[...] esse tipo de investigação se centra na descrição, análise e interpretação das informações recolhidas durante o processo investigatório, procurando entendê-las de forma contextualizada”.
Realizou-se uma pesquisa de campo, na qual a coleta de dados deu-se “no local” onde ocorrem os fatos de modo espontâneo. Segundo Minayo (2008) o trabalho de campo permite uma aproximação do pesquisador com a realidade sobre a qual está sendo desenvolvida a pesquisa e também estabelecendo uma relação com os pesquisados.
O contexto em que a pesquisa foi desenvolvida foi uma escola pública da rede Estadual do Vale do Taquari, RS/BRA. A escola tem funcionamento em três turnos atendendo, aproximadamente 1600 alunos, oferecendo Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio e Modalidade Educação de Jovens e Adultos do Ensino Fundamental e Médio. A Escola conta com 73 professores e 13 funcionários. Na escola, há 10 turmas de Anos Iniciais do Ensino Fundamental, totalizando 227 alunos, sendo que, 4 turmas estudam na parte da manhã, e 6 turmas na parte da tarde.
Em relação aos sujeitos do estudo foram entrevistados duas pessoas da direção da escola, seis professores dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental do turno da tarde e três funcionários que atuam como monitores no momento do recreio no turno da tarde. As entrevistas e observações do recreio foram realizadas no turno da tarde, no período de agosto a outubro totalizando 11 entrevistas e 8 observações. Optou-se pela realização da pesquisa no turno da tarde, pois nesse período haviam mais turmas dos Anos Iniciais na escola e, conseqüentemente, mais alunos no momento do recreio.
Para Minayo (2008) a observação participante pode ser considerada como parte essencial de um trabalho de campo na pesquisa qualitativa, pois é um método que permite ao observador uma aproximação, bem como, uma compreensão maior da realidade.
A análise de documento também foi um dos instrumentos de pesquisa, no qual foi analisado o Projeto Político Pedagógico da escola, verificando se o recreio escolar é abordado em algum momento na proposta pedagógica da Instituição.
O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa (COEP)2. Em relação aos cuidados éticos, foi garantido o sigilo no procedimento da coleta de informações, por meio do anonimato dos participantes da pesquisa, pois nenhum deles foi identificado no decorrer deste estudo. Todos os participantes da pesquisa receberam e assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Para garantir o anonimato dos sujeitos do estudo foram utilizados os seguintes códigos: Membro da Equipe Diretiva 1; Professora 1; Professora 2; Funcionária 1; Funcionária 2, e assim por diante.
A análise e interpretação dos dados coletados foram feitos por meio da leitura e reflexão dos registros das observações, da análise do Projeto Político Pedagógico da Escola e das entrevistas. A partir dos objetivos traçados para a pesquisa, foram organizadas duas categorias de análise: a) a estrutura, organização e rotina do recreio e b) a compreensão de equipe diretiva, professores dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental e funcionários em relação ao recreio.
Estrutura, organização e rotina do Recreio
O recreio é um momento que está diariamente presente nas escolas, e que, apesar de curto, é um período indispensável no âmbito escolar. Mas como será o funcionamento, estrutura e forma de organização do recreio na escola pesquisada?
O tempo destinado ao recreio na escola investigada é de quinze minutos, iniciando às 15hs35min e finalizando às 15hs55min. Essa estrutura é explicada na entrevista destinada à Membro da Equipe Diretiva 2: “A duração do recreio é de 15 minutos. Esses 15 minutos ficam dentro da organização curricular, que se estabeleceu”.
Em relação à rotina, percebe-se que ao chegar o momento do recreio, após tocar o sinal, os alunos dirigem-se imediatamente ao pátio da escola, já que o período do lanche e da higiene acontece, para os alunos dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, antes do recreio. Em relação à essa organização do tempo e dos espaços disponíveis para os alunos dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental o Membro da Equipe Diretiva 1 diz:
O lanche dos alunos dos Anos Iniciais acontece antes do recreio, para que durante o tempo disponível para o recreio eles possam brincar e interagir com os demais colegas. Dividimos os espaços para os alunos dos Anos Iniciais, que é da porta da biblioteca para baixo, e os demais alunos dos Anos Finais e Ensino Médio ficam na parte para cima da biblioteca, para haver uma melhor organização.
Para Würdig (2014) mesmo que o recreio seja determinado pela estrutura escolar, a duração, definição e manutenção dos locais é supervisionado pelos adultos responsáveis, muitas vezes destinando-se monitores que orientam, acompanham e controlam as crianças. É perceptível, nesse espaço de tempo, que os alunos interagem uns com os outros, compartilhando amizades, estabelecendo trocas, brincadeiras e transformando a rotina escolar.
Em relação à supervisão do recreio, a escola disponibiliza de três pessoas que atuam como monitores durante o período do recreio, sendo que eles caminham pela escola, observando as crianças, suas brincadeiras e movimentos, e, quando necessário, intervêm em comportamentos inadequados, conforme foi constatado na entrevista com o Membro da Equipe Diretiva 2:
O recreio é monitorado por três monitoras que se dividem entre os dias da semana, tendo uma monitora em cada turno. A função delas é estar no pátio vendo se está tudo certo, como também de acompanhar o recreio, caminhar pelo pátio, orientar as crianças caso haja algum problema, ou alguma dificuldade.
Na entrevista com a Funcionária 1, que atua como monitora do recreio, ela relata sua função no momento do recreio na escola:
Nós como monitoras precisamos “cuidar” de todos os espaços da escola, por isso não conseguimos ficar brincando com alguns alunos, pois precisamos ficar dando voltas no pátio, porque não temos a visão de todos os espaços da escola. Por isso precisamos ficar nos deslocando para enxergar todos os espaços e os alunos.
Cislaghi e Carlos Neto (2002) afirmam que, em relação à supervisão do recreio, apesar da falta de pessoal, as escolas dispõem de alguém que supervisione o recreio, porém em número insuficiente, para que possa ser garantida a segurança que a escola deseja, e para que as crianças possam aproveitar esse momento sem que haja nenhum problema.
Em relação à estrutura física da escola investigada constatou-se que:
Para o momento do recreio, a escola conta com os seguintes espaços: duas quadras ao ar livre, sendo que numa delas há tabela de basquete, linhas de vôlei, e goleiras de futsal. Há também uma quadra coberta, que fica mais no centro do pátio da escola. A pracinha que a escola possui fica num terreno ao lado da escola, por esse motivo ela permanece sem acesso, ou seja, trancada durante o momento do recreio. Na escola há também uma grande quantidade de escadaria, que dá acesso às quadras ao ar livre e as salas de aula dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental (Observação nº 5).
Cislaghi e Carlos Neto (2002) destacam a questão da exigência para que a escola tenha espaços físicos adequados, nos quais as crianças possam movimentar-se de maneira saudável, interagir umas com as outras e desenvolver a criatividade e aspectos motores, suprindo assim a carência de vivências tanto corporais como sociais.
Durante o momento do recreio, a escola não disponibiliza nenhum tipo de material para as crianças brincarem, conforme registro de observação:
A escola não disponibiliza nenhum tipo de material para as crianças brincarem durante o recreio, em conseqüência, os alunos brincam de atividades em que não são utilizados materiais, como por exemplo, pega-pega, esconde-esconde, etc. (Observação nº 1).
Essa questão foi abordada também na entrevista realizada com o Membro da Equipe Diretiva 1 que diz: “Por enquanto não disponibilizamos materiais, pois sempre acabava em briga. Então acabamos proibindo o uso de materiais durante o recreio”.
Como não são disponibilizados materiais pela escola, os alunos acabam trazendo de casa brinquedos que aproveitam com seus amigos no momento do recreio, como por exemplo, bolas, bonecas, carrinhos, cartas de personagens, entre outros. Foi possível constatar diariamente essa questão:
Algumas crianças jogavam futsal na quadra ao ar livre com uma bola que uma das crianças trouxe de casa, pois a escola não disponibiliza esses materiais durante o recreio. Não vi nenhum problema das crianças jogarem futsal durante o recreio, pelo contrário, eles brincaram do que gostam, sem haver nenhuma briga ou discussão. (Observação nº 4).
De forma geral, durante o período do recreio, nos registros das observações realizadas, as brincadeiras que tiveram maior destaque foram: pega-pega, esconde-esconde, futsal, polícia e ladrão. Em raros momentos um grupo de meninas brincava de casinha e alguns meninos com brinquedos que traziam de casa. São realizadas as mais diversas atividades, sendo que isto foi constatado na Observação nº 5:
As atividades desenvolvidas durante o recreio são as mais variadas, pois os alunos permanecem em pequenos grupos, com os amiguinhos que eles possuem mais afinidade. As atividades que eles mais brincam são: pega-pega, esconde-esconde, e jogam futsal quando algum aluno traz uma bola de casa.
De acordo com Neuenfeldt (2005) o recreio escolar é um momento muito esperado pelas crianças, pois essas podem brincar, correr, jogar, saltar, enfim, movimentar-se e realizar práticas corporais diversas. Também para Würdig (2014, p. 187): “Brincar, brincar e brincar é, sem dúvida a coisa que as crianças mais gostam de fazer no recreio”.
Percebeu-se que na maior parte do tempo, as crianças realizavam atividades nas quais o ato de correr estava presente e a brincadeira mais realizada pelos alunos durante o momento do recreio foi o pega-pega, conforme observação: “Na observação de hoje, vi que os alunos brincavam, como nos demais dias, de pega-pega pelos corredores, escadas, quadras e arredores das salas de aula” (Observação nº 6).
É perceptível que a brincadeira de pega-pega é uma das preferidas das crianças, conforme relato em entrevista realizada com a Professora 3: “Eles brincam muito de pega-pega e, muitas vezes, eles correm durante todo o recreio, de tanta energia que possuem.”.
Para Cislaghi e Carlos Neto (2002) o fato das brincadeiras de “piques”, também conhecidas como pega-pega, serem predominantes durante os recreios escolares pode estar relacionado ao fato das escolas não disponibilizarem materiais para os alunos brincarem. Se fossem disponibilizados, pela escola, materiais a serem explorados pelos alunos durante o recreio, oportunizaria a criação de outras brincadeiras e o recreio não ficaria restrito apenas às brincadeiras de correr e pegar. Para Costa (2010), no período do recreio, as crianças preferem brincar de atividades que envolvam o pegar, ou o se esconder, ou seja, brincadeiras mais simples, em que não existem muitas regras.
Através das observações e entrevistas realizadas na escola pesquisada, ficou perceptível que o momento do recreio é muito esperado pelos alunos, pois ao tocar o sinal, todos se dirigem imediatamente ao pátio, para realizar as mais diversas brincadeiras descritas no decorrer deste artigo. Além de investigar a estrutura, organização e rotina do recreio, foi pesquisado também, como equipe diretiva, professores e funcionários compreendem e o que pensam sobre o recreio na escola.
Compreensão de equipe diretiva, professores dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental e funcionários em relação ao recreio
Todas as pessoas entrevistadas, tanto professores, como direção e funcionários, vêem o recreio no contexto escolar de forma positiva, ou seja, consideram um momento indispensável na escola, deixando isso claro através de suas falas. Para eles, o momento do recreio é muito importante para as crianças e para eles mesmos.
Em relação à importância do recreio no contexto escolar, Neuenfeldt (2005) ressalta que apesar do curto espaço de tempo que é destinado ao recreio, a permanência deste é indiscutível, pois é neste momento que as crianças além de se movimentarem, interagem umas com as outras. Também para Costa (2010), no período do recreio devem ser oportunizados aos alunos momentos de ludicidade e criatividade, pois é um momento rico em vivências e aprendizagens.
O Membro da Equipe Diretiva 2 compreende o recreio como um momento muito importante para as crianças dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, em que é possível desenvolver a recreação, socialização e interação, deixando isso claro através de sua fala:
O recreio é muito importante, principalmente para os alunos dos Anos Iniciais, porque é aquele intervalo entre os períodos de aula, para que eles possam lanchar, descansar, brincar, e para distrair a cabeça. Acho que o recreio vem ao encontro das crianças esquecerem um pouco do conteúdo da sala de aula e brincarem. Penso que o recreio é bom também em função da socialização, da interação com as outras crianças. Acredito que é fundamental as crianças terem esse tempo para o brincar, pois brincando as crianças se desenvolvem de forma integral, envolvendo o cognitivo, o social, o corporal, a coordenação motora, a parte física, enfim, desenvolvem as mais diversas habilidades.
Lopes et al. (2012) salienta que o recreio desempenha um papel muito importante na aprendizagem, no desenvolvimento integral, como também na saúde dos alunos inseridos no contexto escolar. Ainda, segundo os autores, durante o recreio, as crianças têm a possibilidade de, além de extravasar energia, desenvolver alguns aspectos, podendo ser: sociais (no sentido de cooperação, partilha, interação, resolução de problemas), emocionais (desenvolvimento da autoestima, caráter e relacionamentos) e cognitivos (vocabulário, troca de idéias e criatividade). Os autores destaca também a importância do recreio para o contexto escolar, salientando que este espaço tem potencial para desenvolver e enriquecer os aprendizados infantis, tais como, a socialização, o aprimoramento das habilidades motoras e cognitivas e a interação com os demais alunos, professores e funcionários da escola.
Já a Professora 2 compreende o momento do recreio como um espaço para as crianças desenvolverem o brincar, o lúdico e a socialização, comentando o seguinte:
É muito importante esse tempo, assim, no sentido do lúdico, do brincar, da socialização entre eles. É um momento que eles precisam extravasar as energias, pois eles possuem muita energia, eles brincam com alunos de outras turmas, é um momento de amizade, acho importante por causa da parte da socialização.
Em relação ao lúdico e ao brincar Moyles (2006) acredita que é no ato de brincar que a criança torna-se capaz de desenvolver sua criatividade e imaginação, pois nestes momentos elas ficam livres para expressar-se e experimentar novas idéias da sua própria maneira.
Würdig (2014) reforça a importância do recreio e comenta que a interatividade entre as crianças está presente nesse momento, sendo possível compartilhar e criar brincadeiras com os amigos, dividir seus espaços e criar suas próprias regras nas atividades.
O Membro da Equipe Diretiva 1 acredita que o recreio é importante para que os alunos possam extravasar a energia que possuem, após ficarem por um longo tempo sentados na sala de aula:
A hora do recreio para os alunos dos Anos Iniciais é fundamental, pois eles não conseguem ficar sentadinhos nas cadeiras, prestando atenção na aula por quatro horas seguidas, e por isso o recreio é importante, pois é o momento que eles extravasam suas energias.
Em relação à questão das crianças extravasarem as energias durante o recreio, Neuenfeldt (2005) aborda que a necessidade da existência do recreio é indiscutível, pois nos dias em que não há Educação Física, o recreio tornou-se um dos poucos momentos que as crianças possuem para movimentar-se. O autor destaca também que, os alunos após ficarem sentados na sala de aula por horas, ao saírem para o recreio “explodem” em movimento.
Também, a Funcionária 2 coloca que o recreio “é um momento onde as crianças se soltam, principalmente os alunos dos Anos Iniciais, eles correm, pulam, brincam, eles conseguem relaxar um pouco, pra voltar mais dispostos e concentrados para a aula”.
Durante as entrevistas, foi possível perceber que a importância do brincar, para as crianças durante o recreio escolar, foi citada várias vezes pelas pessoas entrevistadas. Em relação à essa questão, Roncuni (2011) enfatiza que o recreio é um ambiente propício para brincar, sendo também um espaço para divertimento e prazer. Sendo assim, segundo a autora, é fácil entender o porquê deste momento ser tão apreciado pelos alunos, independente da fase de desenvolvimento ou da faixa etária.
Conforme a Professora 5 o recreio “é um momento em que as crianças podem brincar livremente, de acordo com sua fala: É um momento para as crianças relaxarem, brincarem, sem que haja alguém os controlando, enfim, momento para elas brincarem livres”.
Conforme Cislaghi e Carlos Neto (2002), para muitas crianças o momento do recreio é único, sob o aspecto de estarem livres para escolher os colegas e as atividades que desejam realizar, sem que haja interferência direta de um adulto. O recreio permite, à criança, seu desenvolvimento social e cognitivo, através da interação com os outros e com o meio.
A Professora 4 e o Membro da Equipe Diretiva 1, quando questionados sobre sua compreensão em relação ao recreio escolar, colocaram que além de ser um momento importante para as crianças, é um espaço indispensável para os professores, no qual é possível descansar e dar uma pausa no trabalho por alguns minutos. É dito o seguinte:
É o momento em que os professores podem descansar alguns minutos, sair da sala de aula, podendo ficar sem o contato com os alunos. Acho que os professores precisam desse tempo para tomar um chimarrão e conversar sobre algumas questões importantes com os colegas. (Entrevista, Professora nº 4).
Para os professores, o recreio é importante também, pois eles precisam daqueles 15 minutos, para sentar, poder ir ao banheiro, comer sua merenda, trocar alguma idéia com os colegas, enfim, aliviar um pouco a cabeça. (Entrevista, Membro da Equipe Diretiva 1).
Segundo Neuenfeldt (2005) durante o recreio escolar, os professores dão uma pausa em seu trabalho, para descansar, conversar e tomar um cafezinho na sala dos professores. Porém, o recreio deve ser percebido em seu sentido mais amplo, isto é, espaço de imenso valor à escola em geral, no qual acontecem as mais variadas aprendizagens e troca de vivencias, tanto sociais, como corporais entre toda a comunidade escolar.
O Membro da Equipe Diretiva 2 diz que o momento do recreio é considerado como aula, conforme fala na entrevista realizada: “Os alunos têm 4 horas no espaço escolar, ou seja, na sala de aula, e o recreio como é monitorado, ele vale como aula. Então se optou por 15 minutos, pois acreditamos que é tempo suficiente”.
Essa colocação nos leva a refletir: como o recreio pode ser considerado como aula, ou um espaço pedagógico, se não há proposta didática para este momento? Pois, o recreio na escola pesquisada é apenas monitorado por três funcionárias que caminham pelo pátio durante o recreio, porém não existe nenhum trabalho pedagógico sendo realizado, para que este momento seja considerado como aula. Outro fator que é necessário ressaltar é que o recreio escolar não é abordado, em nenhuma ocasião, no Projeto Político Pedagógico da escola.
Essa questão, se o recreio pode ou não ser computado na carga horária da escola, é um fato que gera polêmica. De acordo com o Conselho Nacional de Educação, no Parecer 002/2003, os órgãos gestores dos sistemas de ensino são orientados que o tempo do recreio não poderá ser computado na carga horária, do Ensino Fundamental e Médio, se não houver controle de freqüência, pois esta é de responsabilidade do corpo docente. Além disso, o recreio deve estar organizado de forma coerente com a proposta pedagógica da escola (Brasil, 2003).
Ainda, Neuenfeldt (2005) salienta a importância da escola incluir o recreio em seu planejamento. É indispensável que ele seja discutido na proposta pedagógica e pensado a longo prazo, pois não basta uma imposição legal para que o recreio se torne educativo, mas é essencial que os profissionais se envolvam e participem deste momento, elaborando e desenvolvendo uma proposta pedagógica que englobe as necessidades da comunidade escolar.
Portanto, cabe à escola refletir e analisar sobre esse aspecto, buscando tornar o recreio um ambiente pedagógico, no qual hajam propostas didáticas, havendo melhorias para esse momento, que, segundo foi verificado na pesquisa realizada, é um espaço indispensável no contexto escolar.
Considerações finais
O estudo teve como problema de pesquisa, analisar a compreensão que equipe diretiva, professores dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental e funcionários de uma escola têm em relação ao recreio no contexto escolar. Conforme verificado nas análises, nas falas dos profissionais entrevistados, o recreio é, para as crianças, um momento de descanso, recreação, descontração, ludicidade, socialização e diversão; momento de extravasar as energias acumuladas, de brincar, de conversar, de relaxar, de encontrar e interagir com os amigos, de se alimentar e fazer as necessidades fisiológicas, de dar uma pausa nas atividades didáticas e de troca de conhecimentos entre as crianças. Além disso, foi destacada a questão da importância do recreio para os professores, pois este é um momento em que é possível dar uma pausa nas atividades didáticas, conversar com os colegas, fazer um lanche e tomar um chimarrão.
Através da pesquisa, das análises e reflexões realizadas acerca do tema abordado neste estudo, passou-se a entender e presenciar como o momento do recreio é um espaço de extrema importância para a escola. Pôde-se verificar, por meio das observações realizadas, que os alunos desenvolvem os mais variados conhecimentos e habilidades durante o recreio no contexto escolar, estando entre eles, os aspectos cognitivos, emocionais, sociais e motores.
Foi possível perceber que os profissionais que atuam na escola pesquisada dizem ter ciência e acreditam na importância do recreio na instituição, porém, cabe a seguinte reflexão: porque o recreio não é citado, em nenhum momento, no Projeto Político Pedagógico, ou porque não existe uma proposta, ou intervenção pedagógica para enriquecer ainda mais o momento do recreio nesta escola? Percebeu-se que a escola pesquisada preocupa-se em proporcionar aos estudantes um recreio bem organizado, com monitores que auxiliam quando necessário, entretanto, é necessário refletir além destas questões estruturais. É imprescindível que os profissionais desta escola, dediquem um tempo para refletir e reorganizar o recreio, tornando-o um momento mais rico e proveitoso aos alunos e à escola em geral.
Pretendo compartilhar com a escola os resultados obtidos a partir do estudo realizado, podendo assim refletir sobre o que está bom, e o que pode ser aperfeiçoado, pensando em sugestões que possam melhorar o período do recreio na instituição. Após a realização deste estudo, uma sugestão para a escola, seria a elaboração e desenvolvimento de um projeto em que haja uma intervenção pedagógica no momento do recreio, proporcionando aos alunos as mais diversas atividades recreativas e lúdicas, disponibilizando materiais diversificados, com orientação e acompanhamento de alguns profissionais. Acredita-se que, desta forma, o recreio se tornaria um ambiente mais agradável e proveitoso aos alunos.
O recreio deve ser tema de discussão no projeto pedagógico de todas as instituições de ensino, pois apesar deste existir por apenas alguns minutos, é em cada um desses minutos que as crianças realizam e vivenciam as mais variadas experiências, desenvolvendo-se nos mais diversos aspectos.
Enfim, a partir deste estudo, das reflexões e análises realizadas em relação ao recreio no contexto escolar, ficou clara a importância deste espaço, tanto para os alunos, quanto para os professores. Sabe-se que este momento está presente no dia a dia das escolas, sendo indispensável para o desenvolvimento integral dos alunos, no entanto, é necessário que as escolas reflitam, se é preciso acontecer uma intervenção pedagógica para que o recreio seja um período agradável à todos os estudantes, no qual se torne possível vivenciar novas práticas e experiências pedagógicas.
Notas
Este trabalho é originário de pesquisa realizada no Trabalho de Conclusão de Curso do Curso de Educação Física – Licenciatura. Por essa razão, as inquietações surgem a partir da experiência docente da autora, justificando-se, dessa forma, em determinados momentos do texto o uso da primeira pessoa do singular.
Número do Parecer de Aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa: 791.887
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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 21 · N° 216 | Buenos Aires,
Mayo de 2016 |