Proposta de momentos do jogo no futsal Propuesta de momentos del juego en futsal |
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IEFES/UFC (Brasil) |
Otávio Nogueira Balzano |
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Resumo O modelo de jogo de uma equipe é basicamente constituído pelos momentos do jogo e seus princípios, subprincípios e sub do sub princípios servindo como “norte” para o trabalho dos treinadores de futsal. A dificuldade de encontrar referências para o processo de treinamento no futsal, que trabalhe os aspectos táticos de maneira organizada e pedagógica e, principalmente, os momentos do jogo, foram os agentes que nos levaram a realizar este trabalho. Este estudo apresenta uma proposta de treinamento no futsal, baseado nos momentos do jogo, abordando a dimensão tática correlacionando com as faixas etárias, respectivas. A construção deste artigo foi através de uma revisão de literatura e a experiência do autor no futsal. Pretendo com este estudo capacitar os técnicos e professores do futsal, sobre um processo de treinamento com ênfase nos momentos de jogo. Unitermos: Futsal. Dimensão tática. Momentos do jogo.
Resumen El modelo de juego de un equipo se compone básicamente de los momentos del juego y sus principios, subprincipios y sub subprincipios y sirven como "norte" a la labor de los entrenadores de futsal. La dificultad de encontrar referencias sobre el proceso de formación en el futsal, trabajando los aspectos tácticos de forma organizada y pedagógica, y sobre todo los momentos del juego, fueron los agentes que nos llevaron a realizar este trabajo. Este estudio presenta una propuesta de formación en el futsal, con base en los momentos de juego y aborda la dimensión táctica correlacionado con los grupos de edades respectivas. La construcción de este artículo fue a través de una revisión de la literatura y la experiencia de los autores en el fútbol sala. Tenemos la intención que este estudio capacite a técnicos y profesores de futsal en un proceso de preparación con énfasis en los momentos del juego. Palabras clave: Futsal. Dimensión táctica. Momentos del juego.
Recepção: 13/02/2016 - Aceitação: 22/04/2016
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 21 - Nº 216 - Mayo de 2016. http://www.efdeportes.com/ |
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1. Introdução
Entendemos o modelo de jogo como uma idéia, constituída de princípios, subprincípios e sub do sub princípios, que estão engajados dentro dos momentos do jogo (ataque/defesa/transições), as idéias do treinador, as capacidades e características dos jogadores, as organizações estruturais da equipe e a cultura, condições e objetivos do clube, que se articulam entre si, ocasionando uma organização funcional para a equipe. O modelo de jogo é o referencial que deve regular o trabalho desde o início da temporada até o final, sendo irracional planejar e organizar uma equipe sem pensar e/ou criar essa referência fundamental para atingir os objetivos propostos (Casarin & Esteves, 2010 apud Faria, 1999). A maneira como o treinador pensa o desporto é um aspecto determinante na organização de uma equipe de futsal. Se o treinador souber claramente como quer que a equipe jogue e quais os comportamentos que deseja dos seus jogadores, tanto no plano individual como no coletivo, o processo de treino e de jogo será mais facilmente estruturado, organizado, realizado e controlado. (Oliveira, 2006). O futsal é um jogo de natureza essencialmente tática (Garganta & Pinto, 1994). Então, nesta forma de ver o jogo, a dimensão tática é que deve assumir a coordenação de todo o processo de operacionalização do treino. A dimensão tática é complexa, e se manifesta na interação entre as tomadas de decisão, dimensão física, dimensão psicológica e dimensão técnica. O processo para treinar a equipe com ênfase na tática é centrado na aquisição de determinadas regularidades no “jogar” da equipe, através da operacionalização dos princípios estabelecidos dentro dos momentos do jogo. (Oliveira, 2006). Segundo Garganta (2002), torna-se cada vez mais efetiva a tendência de compreender a "consciência tática do jogo", ficando claro que a metodologia eficaz para abordar o ensino-aprendizagem é a que reduz a complexidade do fenômeno (jogo) sem descuidar da especificidade do confronto. A abordagem pelo ensino da compreensão, sustentada pela tática do jogo e no entendimento crítico do contexto, nos parece ser a mais pertinente para o treinamento dos momentos do jogo no futsal.
2. Momentos do Jogo
Consideramos a existência de quatro grandes temas/momentos do jogo (organização ofensiva, organização defensiva, transição ataque/defesa e transição defesa/ataque). E todos estes momentos estão relacionados entre si. A separação é feita para facilitar o processo metodológico. Quando dos treinos e dos jogos esta separação não se apresenta.
2.1. O momento da Organização Defensiva
Quando a equipe esta no processo defensivo, e neste momento condiciona, direciona e pressiona a equipe a adversária com objetivo de cometer o erro e ganhar a posse de bola.
2.1.1. As linhas de marcação
São os locais para pressionar o adversário, são estabelecidos por pontos da quadra: linha 1 (marcação sob pressão na quadra do adversário), linha 2 (ainda na quadra adversária, mas sem pressionar na saída de bola), linha 3 (marcação em meia quadra defensiva) e linha 4 (marcação na quadra defensiva, a frente da área de meta).
2.1.2. Tipos de marcação
: jogadores marcam o adversário nominalmente.Marcação Individual
Marcação por Zona: jogadores se preocupam com o setor, e marcam os adversários que estiverem no seu setor.
Marcação Mista: Variação das duas marcações anteriores, durante o transcorrer das ações de ataque do adversário.
2.2. O momento da Transição Ataque/Defesa
Quando a equipe está no ataque perde a posse de bola, e tenta se estruturar defensivamente, retornando em bloco para defesa ou pressionando a equipe adversária no momento da perda da posse de bola.
2.3. O momento da Organização Ofensiva
Quando a equipe está com a posse de bola e organiza as suas ações ofensivas de acordo coma defesa adversária.
2.3.1. Jogo direto – equipe joga através de ações rápidas da defesa para o ataque.
2.3.2. Jogo indireto – equipe ataca através de passes e movimentações dos jogadores, fazendo a bola circular por todos os setores da quadra.
2.3.3. Ações individuais – alguns jogadores especiais tentam as jogadas individuais.
2.3.4. Ações coletivas – jogadas de bolas paradas, circulação planejada da bola pelos setores da quadra.
2.3.5. Ações de grupo – triangulações pelos lados da quadra, parede dos pivôs, ultrapassagens pelos lados da quadra, tabelas pelo centro da quadra.
2.4. O momento da Transição Defesa/Ataque
Quando a equipe recupera a posse de bola e organiza as suas primeiras ações ofensivas, com a defesa adversária desorganizada.
2.4.1. Contra ataque direto - equipe recupera a posse de bola e em lançamentos longos ou condução rápida tenta surpreender a defesa adversária.
2.4.2. Contra ataque indireto - equipe recupera a posse de bola e em troca de passes rápidos e tenta surpreender a defesa adversária, criando vantagem numérica no contra ataque.
3. Proposta de Momentos do Jogo no Futsal de acordo com as fases do aprendizado
Obsessão pela bola; aglomeração; jogo individual e desorganizado taticamente. Também acontece a desorganização funcional e posicional (jogo em torno da bola).3.1. Fase básica – 9 aos 12 anos
Características da Fase -
Nesta fase, os momentos do jogo a serem trabalhados são os de Organização Ofensiva e Organização Defensiva.
Dentro da Organização Ofensiva, deve-se priorizar:
Princípio do ataque direto.
Sub Princípios que possibilitam o ataque direto:
Passes longos pela lateral da quadra.
Passes longos em diagonal pelo centro da quadra.
Um ou dois jogadores de referência no ataque.
Sistema 2.2 ou 2.1.1.
Apoio de um jogador para a finalização (penetração).
Sub do Sub - Princípios
Proteção da bola com a sola do pé.
Passe com lado interno do pé.
Finalização com dorso do pé ou com o bico do pé.
Na proteção da bola utilizar a perna de apoio e o tronco para afastar o adversário.
Giro do pivô utilizando como base o adversário.
Na Organização Defensiva, deve ser priorizado:
Princípio da Recuperação imediata da bola.
Sub Princípios que possibilitam a recuperação imediata da bola:
Pressionar o portador da bola.
Marcação individual (contenção).
Posicionar na marcação entre o adversário e a trave.
Fechar o centro da quadra (concentração).
Sub do Sub - Princípios para alcançar a recuperação imediata da bola:
Abordagem devagar no adversário (não entrar correndo).
Desarme de acordo com o pé de preferência do adversário.
Jogar atrás do pivô.
Antecipar o pivô.
Olhar para a o adversário e a bola.
Postura defensiva com as pernas semi flexionadas.
Jogo Tático por Compreensão para a Fase BásicaExemplo de
Jogo da quadra 2x2 na horizontal
Descrição: jogo de futsal, mas a quadra é dividida no meio em 2 setores (ataque e defesa). Dois jogadores de cada equipe se posicionam em cada setor. Os jogadores não podem mudar de setor.
3.2. Fase elementar (13 aos 15 anos)
Características: Desenvolvimento da organização posicional; domínio técnico; continuidade nas ações individuais e fortalecimento das ações coletivas, com entendimento do projeto coletivo de jogo.
Nesta fase são incluídos os outros dois momentos do jogo no aprendizado. Além de trabalharmos a Organização Defensiva e Ofensiva, deve ser acrescentado no treino as Transições Ofensivas e Defensivas.
Na Organização Ofensiva deve se priorizar:
Princípio do jogo com pivô de referência e a infiltração de um jogador na quadra de ataque.
Sub Princípios táticos que possibilitam o jogo com pivô de referência e a infiltração de um jogador na quadra de ataque:
Utilizar um homem de referência.
Movimentações coletivas de três jogadores (mobilidade).
Sistema 3.1.
Espaço.
Infiltração de um jogador de armação (penetração).
Cobertura ofensiva.
Sub do Sub Princípios
Infiltração em diagonal.
Infiltração em paralela.
Passe pela lateral da quadra.
Bloqueios.
Passes na horizontal com deslocamentos.
Finalização de encontro à bola.
Na Transição Ofensiva deve - se priorizar:
Princípio do ataque rápido.
Sub Princípios táticos que possibilitam o ataque rápido:
Contra-ataque direto.
Velocidade.
Definição rápida do ataque.
Espaço.
Sub do Sub Princípios que possibilitam o ataque rápido:
Passes rápidos.
Deslocar-se para o espaço vazio.
Deslocamentos sem a bola pela lateral da quadra.
Uma ou duas linhas de passes.
Lançamentos.
Condução da bola pelo centro da quadra.
Finalização no 2º pau.
Na Organização Defensiva deve se priorizar:
Princípio da marcação por zona.
Sub Princípios táticos que possibilitam a marcação por zona:
Marcação no setor;
Linha 3 ou linha 4 de marcação
Concentração
Observação da bola e movimentação dos adversários.
Sub do Sub Princípios táticos que possibilitam a marcação por zona:
Cobertura defensiva
Dobras de marcação
Comunicação
Aproximação
Antecipação
Desarme
Marcar pelo centro da quadra (contenção)
Avisar os colegas se o adversário esta passando pela direita ou pela esquerda.
Retorno defensivo.
Na Transição Defensiva deve se priorizar:
Princípio de retorno para linha 3 de marcação.
Sub Princípios táticos que possibilitam o retorno para linha 3 de marcação:
Marcar atrás do meio da quadra
Retorno pelo meio da quadra
Marcar atrás da linha da bola
Equilíbrio.
Sub do Sub Princípios táticos que possibilitam o retorno para linha 3 de marcação:
Flutuação
Correr de frente para bola (corrida de costas)
Visão periférica
Abordagem no adversário quando estiver equilibrado (contenção).
Exemplo de Jogo Tático por Compreensão para a Fase Elementar
Jogo da trave virada
Descrição: jogo de futsal, mas as traves ficam situadas na linha da área de costas para o círculo central. Os pivôs só jogam dentro da área adversária (atrás da trave), os alas e fixos podem correr por toda a quadra, menos na área do pivô. Os pivôs só podem fazer gol de primeira, caso não consigam finalizar de primeira, podem dominar e recomeçar o jogo com seus companheiros. O goleiro terá uma área de 2 metros a frente da linha de meta e 1 metro de cada lado da trave.
3.3. Fase especialização (a partir dos 17 anos)
Características: Refinamento na dinâmica coletiva; domínio técnico auxiliando na interação do projeto coletivo; evidente qualidade técnica e tática dos jogadores; o jogo é preferencialmente coletivo, com ações individuais para desestabilizar a defesa adversária. Dentro desta fase, todos os momentos de jogo e seus aspectos táticos devem ser abordados de uma forma mais especializada.
Na Organização Ofensiva deve se priorizar:
Princípio do jogo de Infiltrações.
Sub Princípios táticos que possibilitam o jogo de Infiltrações:
Circulação e posse de bola.
Criar três linhas de passe (espaço).
Penetrações na quadra adversária.
Variação na velocidade das ações.
Sistema 4.0 ou goleiro linha.
Sub do Sub Princípios que possibilitam o jogo de Infiltrações:
Infiltração em diagonal.
Infiltração em paralela.
Bloqueios.
Ultrapassagens.
Cruzamentos.
Corrida falsa.
Jogadas individuais.
Aproximações.
Visão Periférica.
Condução na vertical e na horizontal.
Passes rápidos ou lentos de acordo com a marcação do adversário.
Tabelas.
Mobilidade.
Cobertura ofensiva.
Na Transição Ofensiva se prioriza:
Princípio do ataque com posse de bola.
Sub Princípios táticos que possibilitam o ataque com posse de bola:
Circulação da Bola.
Mobilidade.
Espaço.
Apoio (cobertura ofensiva).
Sub do Sub Princípios táticos que possibilitam o ataque com posse de bola
Passes curtos.
Formação de figuras geométricas (triângulo ou losango).
Saída com a bola pelo centro ou lateral da quadra.
Jogadores como referência para armação.
Apoio do goleiro.
Recuperação da bola.
Comunicação.
Deslocamentos laterais e verticais.
Na Organização Defensiva deve – se priorizar
Princípio da marcação mista
Sub Princípios táticos que priorizam a marcação mista:
Marcação zona.
Marcação individual.
Marcação linha 2 e linha 3 (equilíbrio).
Sub do Sub Princípios táticos que priorizam a marcação mista:
Troca de marcação.
Cobertura defensiva.
Dobra de marcação.
Induzir o adversário ao erro.
Comunicação.
Marcação próxima e marcação á distância.
Percepção dos espaços da quadra.
Cobertura do goleiro.
Concentração.
Marcação de 1 contra 1 (contenção).
Na Transição Defensiva deve – se priorizar:
Princípio da recuperação rápida da posse de bola.
Sub Princípios táticos para a recuperação rápida da posse de bola:
Pressão coletiva em todos os setores da quadra.
Marcação pressão na quadra toda.
Contenção.
Concentração no setor da bola.
Sub do Sub Princípios táticos para a recuperação rápida da posse de bola:
Cobertura defensiva.
Fechar as linhas de passe.
Levar o adversário para o lado da quadra.
Comunicação.
Velocidade de reação.
Dois ou três jogadores no setor da bola.
Dobras de marcação.
Exemplo de Jogo Tático por Compreensão para a Fase Especializada
Jogo do passe as cores
Descrição: Jogo de futsal, mas cada equipe esta dividida com dois jogadores de uma cor e outros dois jogadores de outra cor. Os jogadores só poderão passar a bola, para os colegas de sua equipe, que estiverem com cores diferentes da sua. Para passar a bola para o colega da mesma cor, este deve finalizar a gol, dando no máximo dois toques na bola. Obs. o goleiro é livre para receber a bola (todos podem passar a bola para ele).
4. Considerações finais
Consideramos importante ao treinar equipes de futsal, que o treinador tenha referências (princípios) para facilitar o entendimento dos atletas nos objetivos que pretende alcançar nos treinos e jogos. A criação de um modelo de jogo com seus momentos poderá facilitar a compreensão dos jogadores para a forma que se pretende atuar. Como descrevemos durante este trabalho, os princípios de jogo devem assumir comportamentos padrões, que os treinadores desejam que seus jogadores e suas equipes realizem durante os momentos do jogo. Em nenhuma circunstância, podemos esquecer que os comportamentos e padrões dos jogadores e da equipe devem ser limitados, pois a criatividade individual e coletiva é essencial para o desenvolvimento do jogo e para o alcance dos objetivos da equipe. Pretendemos com este estudo, contribuir com os abnegados que trabalham no futsal, e de todas as maneiras defendem a bandeira, para que um dia, este esporte se torne Olímpico.
Bibliografia
Balzano, O. N. (2012). Metodologia dos jogos condicionados para o futsal e educação física escolar. 1ª ed. Várzea Paulista, SP: Fontoura.
Balzano, O. N. (2014). Futsal: treinamento com jogos táticos por compreensão. 1ª ed. Várzea Paulista, SP: Fontoura.
Casarin, R. V. e Esteves, L. A. de S. (2010). Para ganhar no futebol precisa-se treinar, mas o que treinar? Lecturas: Educación y Deportes, Revista Digital, Buenos Aires, v.14, n. 142. http://www.efdeportes.com/efd45/ensino.htm
Garganta, J. e Pinto, J. (1994). O ensino do futebol. In: Graça, A.; Oliveira, J. (Ed.). O ensino dos jogos desportivos. Porto: Centro de Estudos dos Jogos Desportivos, FCDEF-UP.
Garganta, J. (2002). Competência de ensino de jovens futebolistas. Lecturas, Educación y Deportes, Revista Digital, Buenos Aires, v.8, n. 45. http://www.efdeportes.com/efd45/ensino.htm
Oliveira, B.; Barreto, R.; Resende, N. e Amieiro, N. (2006). Mourinho: Porque tantas vitórias? Lisboa: Editora Gradiva.
Oliveira, J. G. (2003). Organização do jogo de uma equipa de Futebol. Aspectos metodológicos na abordagem da sua organização estrutural e funcional. Documento de apoio das II Jornadas técnicas de futebol da U.T.A.D.
Saad, M.A. e Costa, C.F. (2005). Futsal: movimentações ofensivas e defensivas. 2ª ed. Florianópolis: Visual Books.
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