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Atuação da equoterapia em crianças com síndrome de Down

Intervención de equinoterapia en niños con síndrome de Down

Performance of equine therapy in children with Down syndrome

 

*Acadêmica do curso de bacharelado em fisioterapia das Faculdades INTA

**Mestre e Professora das Faculdades INTA

(Brasil)

Anne Rayssa Mendes Saraiva*

anneraysssa20@gmail.com

Francisca Rocha Liberato**

franciscarocha18@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O presente artigo apresenta um estudo sobre como a equoterapia auxilia no estímulo e desenvolvimento neuromotor, além de melhoras em outras dificuldades apresentadas pelas crianças portadoras de Síndrome de Down. Esse inovador mecanismo que é um dos tipos de terapia assistida por animais (TAA), utiliza o cavalo como instrumento cinesioterapêutico, através do qual se busca o avanço e crescimento biopsicossocial de pessoas com necessidades especiais. Como se trata de um recente método de estudo ainda há muito que se progredir e pesquisar, por isso, também será visto estudos favoráveis e desfavoráveis à aplicação da equoterapia, entretanto, o que já foi explorado e conhecido vem comprovando os benefícios para o paciente. Este trabalho busca cooperar com os estudos no campo da reabilitação e educação das crianças. Para se construir a base de estudos, bem como aprofundamento no tema principal foram utilizadas pesquisas em artigos originais na língua portuguesa, livros acadêmicos e científicos sobre crianças com síndrome de Down e sobre equoterapia. Diante disso o artigo terá uma divisão básica iniciando com as elucidações sobre a síndrome de Down e demais considerações sobre a anomalia, depois disto se fará um contexto histórico no Brasil sobre equoterapia, além de sua definição e, por fim, trataremos das vantagens obtidas na equoterapia como ferramenta terapêutica para pacientes com Down.

          Unitermos: Equoterapia. Crianças. Síndrome de Down.

 

Abstract

          This article presents a study about how the hippotherapy helps in stimulating and neuromotor development, in addition to improvements in other difficulties presented by children with Down syndrome. This innovative mechanism which is one of the types of animal-assisted therapy (AAT) uses the horse as a kinesiotherapeutic instrument, through which it seeks to advance and biopsychosocial growth of people with special needs. Since this is a recent study method there's still much to progress and search, so will also be seen favourable and unfavourable studies the application of Hippotherapy, however, what has been explored and known comes started benefits for the patient. This work seeks to cooperate with the studies in the field of rehabilitation and education of children. To build the basis of studies, as well as deepening the main theme were used in research original articles in the English language, academic books and cie.

          Keywords: Hippotherapy. Children. Down syndrome.

 

Recepção: 10/11/2015 - Aceitação: 20/03/2016

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 21 - Nº 216 - Mayo de 2016. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A Síndrome de Down (SD) ou trissomia do cromossomo 21 é uma anormalidade cromossômica bastante freqüente, ocorrida devido a uma carga genética extra desde o desenvolvimento intrauterino, caracterizando a criança portadora da mesma por toda a sua vida (Moeller, 2006).

    Embora se saiba os mecanismos de alteração genética que culminam na SD, suas causas ainda não estão bem determinadas. Possíveis fatores predisponentes à aneuploidia seriam os hábitos pessoais incluindo o fumo, o consumo de álcool, de drogas ou a exposição a fatores ambientais, tal como radiação. A SD tem sido relacionada ainda à idade materna. Mães com mais idade têm um risco maior em ter filhos com SD. Em geral, considera-se que a idade materna ideal para a gestação está compreendida entre 18 e 35 anos (Nakadori, 2006).

    A incidência da SD em nascidos vivos é de 1 para cada 600/800 nascimentos, tendo em média 8.000 novos casos por ano no Brasil. De acordo com o IBGE, baseado no Censo de 2000, existem 300 mil pessoas com SD no país, com expectativa de vida de 50 anos, sendo esses dados bastante similares às estatísticas mundiais. Abrange aproximadamente 18% do total de deficientes mentais em instituições especializadas no Brasil (Silva, 2006).

    O portador da SD apresenta algumas características bastante peculiares tais como: hiperflexibilidade das articulações, dificuldades na fala, hipotonia generalizada, pregas epicantais nos olhos, mãos com pregas simiescas, língua protusa, e, prejuízo no desenvolvimento motor. Sendo assim, essas crianças possuem atraso nos principal marcos do desenvolvimento motor, e estes problemas podem ser minimizados através da intervenção fisioterapêutica precoce (Teixeira, 2007).

    Existem evidências que o desenvolvimento motor da criança com SD apresenta um atraso nas aquisições de marcos motores básicos, e isto seria atribuído às alterações do sistema nervoso decorrentes da síndrome, dificultando a produção e o controle de ativações musculares apropriadas. É importante salientar que além do atraso nas questões motoras, a criança com SD apresenta dificuldades de adaptação social, de integração perceptiva, cognitiva e proprioceptiva. Quanto ao tipo de anomalia cromossômica, a trissomia simples abrange por volta de 96% dos casos e os outros tipos (translocação e mosaicismo) 2% cada um deles (Araújo, 2007).

    A equoterapia é um dos tipos de terapia assistida por animais (TAA) que utiliza o cavalo ao passo como instrumento cinesioterapêutico Kobayashi et al. (2009). De nomenclatura diversificada: equoterapia, equinoterapia, equitação terapêutica, hipoterapia. “Equo” origina-se do latim “equus” o cavalo. Terapia do grego “therapeia”, parte da medicina que trata da aplicação de conhecimentos técnico-científicos no campo da reabilitação e/ou reeducação (Brito, 2007).

    Equoterapia é um método terapêutico e educacional que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem interdisciplinar, nas áreas de saúde, educação e equitação, buscando o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com deficiência e/ou com necessidades especiais. Ela emprega o cavalo como agente promotor de ganhos físicos, psicológicos e educacionais (ANDE, 2004).

    O cavalo se deslocando ao passo transmite ao praticante, uma série de movimentos seqüenciados e simultâneos, que têm como resultante o movimento tridimensional Das Neves (2008). Este movimento 95% semelhante à marcha humana (Queiroz, 2006).

    Então, é uma proposta alternativa eficaz, uma vez que, auxilia na aquisição de padrões essenciais do desenvolvimento motor, preparando o paciente para uma atividade motora subseqüente mais complexa, ampliando a sua socialização, dando condições para que possam desenvolver simultaneamente outras habilidades que estão internamente relacionadas como desenvolvimento da capacidade motora global. A prática proporciona ganhos sensório-motores através de seus movimentos tridimensionais e das inflexões laterais (dissociação de cinturas) que potencializam a circuitaria sináptica evocando a modulação de tônus muscular, fazendo ajustes posturais (De Souza, 2009).

    No momento da escolha do cavalo torna–se necessário traçar objetivos de tratamento. Equoterapia: a influência da variação do peso na freqüência do passo do cavalo Alves (2009). Se quisermos uma maior dissociação de cinturas do paciente devemos analisar a freqüência do passo do cavalo, pois, quanto mais alta é a freqüência, menor será a dissociação de cinturas do paciente e vice versa (Uzum, 2005).

    Andamento é a forma de locomoção do cavalo, onde o objetivo é deslocar seu centro de gravidade para frente, para o lado e para trás, para isso, os membros apresentam movimentos de elevação, avanço, apoio e propulsão. (Haras Gamarra, 2010).

    Tendo como objetivo principal, identificar o trabalho da equoterapia na atuação com crianças portadoras de Síndrome de Down de acordo com a literatura dos anos 2004 a 2015.

Metodologia

    O presente estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura, a qual é considerada método de pesquisa que possibilita a busca, a avaliação crítica e a síntese do estado do conhecimento sobre determinado assunto (Mendes, 2008).

    O método de investigação fundamentado na revisão integrativa busca manter os padrões de clareza, rigor e replicação dos estudos primários.

    Para a seleção dos artigos foram consultadas as bases de dados de literatura científica e técnicas: Literatura Latino-Americana e de Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Scientific Electronic Library Online (SciELO) no período de agosto a setembro de 2015. Os descritores foram selecionados a partir dos objetivos da pesquisa, sendo: síndrome de Down, equoterapia, crianças. A busca irá considerar as publicações dos últimos onze anos; sendo assim foram pesquisados artigos do período de 2004 a 2015, onde resultará uma melhor abordagem sobre o tema. Na leitura dos resumos, foram observados os seguintes critérios de inclusão: estudos disponíveis na íntegra, em open acess, de 2004 a 2015, publicações originais, nas línguas portuguesa e inglesa, considerando o objetivo do estudo e o protocolo de revisão elaborado previamente. Os critérios de exclusão: artigos repetidos, artigos não acessíveis em texto completo, resenhas, anais de congresso, teses, editoriais, artigos que não abordaram diretamente o tema deste estudo e artigos publicados fora do período de análise. Assim, após essa fase, iniciará a análise de estudos completos.

    Foi elaborado um quadro para organização da análise dos artigos contendo os itens: tipo de publicação, ano, fonte, autores, título, tema, método e objetivo. No que refere a atuação da Equoterapia em crianças com Síndrome de Down, a análise em sua maioria se fez em termos quantitativos, sumarizando os dados para formar as categorias equoterapia na Síndrome de Down.

Resultados e discussões

    Na combinação dos descritores “equoterapia”, “criança” e “Síndrome de Down”, foram selecionadas três (3) na Scielo e duas (2) na Lilacs.

    Foram encontrados cinco artigos, dos quais dispostos em quadros, visualizamos a utilização da equoterapia em crianças com Síndrome de Down, o atendimento realizado e seus benefícios, discutidos por autores que reforçam a utilização das técnicas e sua eficácia.

Quadro 1. Artigos selecionados sobre a utilização da equoterapia em crianças com Síndrome de Down

Autor

Ano

Titulo

Objetivo

Método

Copetti et al.

2007

Comportamento angular do andar de crianças com síndrome de Down após intervenção com equoterapia.

Verificar o efeito de um programa de equoterapia no comportamento angular do tornozelo e joelho de crianças com síndrome de Down (SD).

Pesquisa de Campo

Pierobon e Galetti.

2008

Estímulos sensório-motores proporcionado ao praticante de equoterapia pelo cavalo ao passo durante a montaria

Demonstrar que o cavalo quando conduzido ao passo proporciona estímulos sensórios- motores favoráveis aos ajustes biomecânicos e tônicos do praticante montado.

Revisão de Literatura

Biazus et al.

2010

Equoterapia: Relato de Experiência.

Demonstrar o trabalho de uma equipe multidisciplinar, o trabalho do fisioterapeuta dentro desta equipe e conhecer a visão dos acadêmicos de Fisioterapia acerca deste campo profissional durante a formação profissional.

Pesquisa de Campo

Oliveira et al.

2011

Equoterapia: O uso do cavalo em praticas terapêuticas.

Explicar o que é a equoterapia, seus fundamentos e enfatizar os resultados obtidos pelos pacientes.

 Estudo de Caso.

Torquato et al.

2013

A aquisição da motricidade em crianças portadoras de Síndrome de Down que realizam fisioterapia ou praticam equoterapia.

Verificar a aquisição de marcos motores em crianças portadoras de Síndrome de Down que realizam equoterapia ou fisioterapia convencional.

 Estudo Transversal

    Segundo a Associação Nacional de Equoterapia (ANDE, 2004), a equoterapia é um método terapêutico e educacional interdisciplinar que utiliza o cavalo dentro das áreas de saúde, educação e equitação, objetivando o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas portadoras de deficiências ou de necessidades especiais.

    Copetti et al. (2007) em sua pesquisa de campo objetivou inicialmente em seu estudo verificar o efeito de um programa de equoterapia no comportamento angular do tornozelo e joelho de crianças com síndrome de Down (SD), após a realização do estudo o autor chegou à conclusão que tais modificações foram observadas na qualidade do andar, atuando de maneira mais eficiente no movimento do tornozelo e com pouco efeito sobre o joelho. Isso sugere que atividades desenvolvidas na equoterapia podem gerar uma combinação de estímulos favoráveis a um maior controle do movimento, desencadeando uma aproximação maior do andar da criança com SD como padrão de normalidade descrito pela literatura.

    Confirmando o que foi dito por Copetti et al. (2007), Graup (2007), analisando o comportamento angular do tornozelo e joelho após a intervenção através da equoterapia, observou uma diferença significativa para o tornozelo, predominantemente na fase de balanço e progressão do toque inicial do pé, sendo isto, para todos os sujeitos, o que também foi observado em estudo similar.

    Pierobon e Galetti (2008), em seu estudo de revisão de literatura, buscou demonstrar que o cavalo quando conduzido ao passo, proporciona estímulos sensório-motores favoráveis aos ajustes biomecânicos e tônicos do praticante montado. Esses resultados são semelhantes aos de Robacher et al. (2003), onde relata que estes estímulos favorecem a melhora da marcha dos praticantes da equoterapia.

    Biazus et al. (2010), em sua pesquisa de campo, tenta demonstrar o trabalho de uma equipe multidisciplinar, o trabalho do fisioterapeuta dentro desta equipe e conhecer a visão dos acadêmicos de Fisioterapia acerca deste campo profissional durante a formação profissional. O autor relata em seus resultados que a equipe que atua na equoterapia é constituída por médico, fisioterapeuta, psicóloga, instrutor de equitação, pedagoga e fonoaudióloga, avalia caso a caso e é feito um programa de exercícios. E especificamente, no caso do fisioterapeuta tem como principal função cuidar de lesões musculares, ósseas e seqüelas neurológicas, visando recuperar movimentos e funções do organismo.

    Em seus resultados Biazus et al. (2010), relata que o conhecimento dos estudantes de fisioterapia desconhecem esse campo de atuação, ou pelo menos os que sabem algo à respeito, é somente de forma superficial, demonstrando assim, o pouco ou quase nenhum conhecimento com cunho cientifico sobre a atuação do fisioterapeuta na equoterapia e sobre a área desta profissão.

    Oliveira et al. (2011), no seu estudo de caso, explica o que é a equoterapia, seus fundamentos e enfatizar os resultados obtidos pelos pacientes. Resultados estes, que concordam com Campos (2007), que em um estudo de caso sobre o tratamento com a utilização do cavalo para crianças portadoras de Síndrome de Down, observou que o estado mental, motor e comportamental dos pacientes antes e no decorrer das sessões de equoterapia. Segundo a autora, foi perceptível a evolução das crianças por toda equipe de profissionais que os auxiliaram e também pelos próprios familiares.

    Torquato et al. (2013), na realização de seu estudo transversal, procurou verificar a aquisição de marcos motores em crianças portadoras de Síndrome de Down que realizam equoterapia ou fisioterapia convencional, fazendo assim, uma comparação entre os ganhos dos marcos entre os dois métodos de tratamento para os portadores de SD.

    A autora Tani et al. (1988), reforça o que foi citado por Torquato et al. (2013), na qual a autora descreve que o desenvolvimento motor é um processo contínuo e demorado e, pelo fato de as mudanças mais acentuadas ocorrerem nos primeiros anos de vida, existe uma tendência em se considerar o aprendizado do desenvolvimento motor como sendo apenas o estudo da criança, basicamente pela aquisição, estabilização e diversificação das habilidades básicas.

    Lorenzini et al. (2002) diz que de modo geral, apesar dos baixos resultados motores atingidos pelas crianças com Síndrome de Down, as pesquisas mostram que programas de estimulação precoce e intervenção são capazes de fazê-las atingir níveis motores mais satisfatórios.

    Pereira et al. (2009) descreve que em um estudo sobre os benefícios da equoterapia no desenvolvimento motor de uma criança portadora de Síndrome de Down, compararam-se a avaliação pré e a pós-tratamento; notou-se melhora no equilíbrio a partir da décima sessão de equoterapia, porém não chegando ao que seria normal para a sua idade cronológica.

    Os autores dos estudos selecionados para esta pesquisa concordam e afirmam que a Equoterapia favorece o desenvolvimento mental, a melhora da aprendizagem e a aquisição do comportamento para uma adequação à sociedade dos pacientes com Síndrome de Down, pois os tipos de movimentos efetuados pelo animal atuam diretamente no cérebro e este sendo responsável por comandar todo o corpo, responde conforme ao estímulo que lhe foi dado.

    O resultado descrito pelos autores condiz com a contribuição da equoterapia para a função motora, atenção, melhor envolvimento familiar, relevante inclusão escolar e social dessas crianças.

Considerações finais

    A utilização da Equoterapia em crianças portadoras de Síndrome de Down está cada vez mais adquirindo reconhecimento e com o passar do tempo ficando comprovado que a mesma está proporcionando benefícios extraordinários aos pacientes com Síndrome de Down. O cavalgar realizado pelo cavalo, aparentemente é simples, no entanto até os pequenos e simples movimentos que o cavalo realiza refletem nos diferentes sistemas do corpo do paciente. Assim, o cavalo é considerado instrumento essencial para a equoterapia.

    Os resultados obtidos através da atuação equoterápica já são comprovados cientificamente, e o trabalho realizado não é destinado somente à parte sensoriomotora, mas também em grande parte ao psicológico dos pacientes, por isso os benefícios da equoterapia se refletem também na autoconfiança, autoestima, força de vontade e os pacientes adéquam-se melhor a sociedade.

Bibliografia

Outros artigos em Portugués

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 21 · N° 216 | Buenos Aires, Mayo de 2016  
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