Educação corporal e atividades lúdicas: contribuição para o desenvolvimento de habilidades físicas sociais, cognitivas e afetivas na educação infantil Educación corporal y actividades recreativas: contribución al desarrollo de las habilidades físicas sociales, cognitivas y afectivas en la educación inicial Body education and recreational activities: contribution to the development of social, cognitive and affective physical abilities in early childhood education |
|||
*Mestra em Educação pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora – MG (CES – MG) Especialista em Natação – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC – MG) Especialista em Psicopedagogia – Fundação Dom André Arcoverde de Valença – RJ (FAA) Especialista em Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) – Faculdades Integradas de Jacarepaguá Graduada em Educação Física – Universidade Federal de Juiz de Fora – MG (UFJF) Graduada em Pedagogia – Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora – MG (CES - JF) Professora do Curso de Educação Física – Faculdades Presidente Antônio Carlos (FAPAC) Leopoldina - MG Professora do Curso de Pedagogia da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) Unidade Leopoldina Professora de Educação Física na Educação Básica no município de Valença - RJ **Graduada em Pedagogia – Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG Unidade Leopoldina |
Martha Bezerra Vieira* Thaís Lacerda Amaral** (Brasil) |
|
|
Resumo O presente estudo aborda a motricidade e a importância de se olhar a criança como um ser integral (corpo-mente) indissociável, para que a aprendizagem seja prazerosa e significativa. Além de destacar a corporeidade e atividades lúdicas como: brinquedos, brincadeiras e jogos, contribuem para o desenvolvimento de diversas habilidades, dentre elas, físicas, sociais, cognitivas e afetivas da criança, que irão ser favoráveis até a vida adulta. O trabalho foi desenvolvido através de revisão de textos bibliográficos, visando contribuir para Educação Infantil. Unitermos: Motricidade. Corporeidade. Educação Infantil.
Abstract This study present the motor and the importance to look at the child as a whole being (mind-body) inseparable, so that learning is enjoyable and meaningful. In addition to highlighting the corporeality and recreational activities such as: toys, fun and games, contribute to the development of various skills, among them, physical, social, cognitive and affective child that will be favorable to adulthood. The study was conducted by reviewing bibliographic texts, to contribute to early childhood education. Keywords: Motricity. Corporeality. Childhood education.
Recepção: 29/01/2016 - Aceitação: 12/04/2016
|
|||
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 21 - Nº 216 - Mayo de 2016. http://www.efdeportes.com/ |
1 / 1
Introdução
A motricidade acompanha a criança desde a sua concepção, até a vida adulta. É primordial no desenvolvimento da mesma, que a utiliza a todo instante, no andar, engatinhar, correr, pular, saltar, rolar, trepar, etc. A corporeidade é natural do ser humano, que aprende pelo resultado da interação entre corpo e meio, sendo necessária na Educação Infantil, para o desenvolvimento de diversas habilidades, dentre elas: físicas, sociais, cognitivas e afetivas.
As atividades lúdicas como: brincadeiras, jogos e brinquedos, proporcionam as crianças uma sensação de encantamento, por serem próprias de seu universo, propiciando assim, uma aprendizagem significativa e prazerosa.
O estudo objetiva-se em ressaltar a relevância da Educação corporal e atividades lúdicas na vida da criança na Educação Infantil. Sendo assim, propõem-se compreender o conceito de motricidade e seu papel na relação com a aprendizagem na infância; destacar as atribuições da corporeidade e do movimento para o universo infantil e a contribuição do educador e da escola, além de salientar como o trabalho contextualizado com atividades lúdicas como: brincadeiras, brinquedo e jogos cooperam expressivamente para o desenvolvimento de habilidades físicas, sociais, cognitivas e afetivas da mesma.
Observamos em diversas escolas e até mesmo em educadores da Educação Infantil, uma desvalorização da Educação corporal e das atividades lúdicas como suporte no desenvolvimento de diversas habilidades da criança, que também, por muitas vezes não é considerada um ser integral (corpo-mente). Deste modo, o estudo se justifica pela tentativa de estimular e auxiliar os educadores, quanto à utilização do lúdico, no intuito de demonstrar o quanto estas atividades contribuem significativamente e quantos benefícios trazem para a criança até sua vida adulta.
Para tais afirmações, o estudo foi realizado através de uma revisão da literatura, abordando a temática sobre Educação corporal e atividades lúdicas: contribuição para o desenvolvimento de habilidades físicas, sociais, cognitivas e afetivas na Educação Infantil, na visão de autores como Nista-Piccolo e Moreira (2012); Oliveira (2010) dentre outros. A partir destas leituras, tem-se referencial teórico suficiente para esclarecimentos sob uma perspectiva geral do tema.
Como proposto, o estudo aborda a conceituação da motricidade, enfatizando sua contribuição no desenvolvimento da aprendizagem, e como sua utilização correta, considerando a criança um ser integral.
Em seu curso se atenta para os aspectos relevantes sobre corporeidade e movimento. Há também uma breve análise sobre a concepção de corpo da antiguidade até a atualidade. Além disto, se pontua papel do educador, quanto à utilização dos trabalhos corporais na Educação Infantil.
Concluindo como as práticas lúdicas no universo infantil contribuem expressivamente na aprendizagem. Ainda se destaca como brinquedos, brincadeiras e jogos, por fazerem parte do cotidiano das crianças, estão relacionados ao desenvolvimento de habilidades: físicas, sociais, cognitivas e afetivas.
Motricidade na Educação Infantil: atribuições e contribuições no desenvolvimento da aprendizagem da criança
Toda criança possui sua percepção de mundo, seja na maneira de ser, agir ou pensar. Ela estrutura sua personalidade a partir de suas experiências com os outros e de sua relação com o meio e os objetos. Assim a motricidade é perceptível por toda nossa vida e é vital para o desenvolvimento da criança até a fase adulta, prevenindo certas dificuldades futuras. Para defini-la, Mello (1989, p.5) nos apresenta uma definição comum instituída em 1982, pelo 1° Congresso Brasileiro de Terapia Psicomotora, onde especialistas colocam que é, “na condição de unidade (corpo-mente) uma ciência que tem por objetivo o estudo do homem, através do seu corpo em movimento, nas relações com seu mundo interno e externo.”
Para analisar a motricidade no universo infantil, Nista-Piccolo e Moreira (2012, p.62) se valem das idéias de Kolyniak Filho (2007), que ressalta que ela é exclusiva do ser humano, se diferenciando do movimento que é “um conceito físico aplicado sobre um corpo”, a motricidade é tida como “um conjunto de possibilidades que o ser humano tem para movimentar-se, considerando-o como indivíduo ou espécie”. As capacidades e habilidades motoras dos indivíduos são resultados da aprendizagem dos mesmos, em determinado tempo, lugar e grupos sociais. Ou seja, resulta das heranças biológicas e histórico-socioculturais.
Todo movimento tem uma intencionalidade, às vezes mais claras ou mais encobertas, sendo que em ambos os casos está relacionada ao significado que tem para o indivíduo e para os grupos sociais que são inseridos. Seja na expressão de sentimentos ou emoções está sempre presente.
É natural que a criança corra, pule, salte, logo, dispõe de sua motricidade a todo instante. De acordo com Ferreira (2007), a criança se estabelece a partir do desenvolvimento de elementos básicos da motricidade dentre eles, estão:
1. Esquema corporal
Há a necessidade de que a criança tenha conhecimento adequado do próprio corpo, para isto a autora nos ressalta que o esquema corporal é a tomada de consciência do próprio corpo. Ela ainda afirma que:
O esquema corporal é um elemento básico indispensável para a formação da personalidade, pois a mesma se desenvolverá em função de uma progressiva tomada de consciência de seu corpo, de suas possibilidades de agir e transformar o mundo à sua volta. É a representação relativamente global e diferenciada que a criança tem do seu próprio corpo. Na medida em que o indivíduo controla seu corpo e seus sentimentos, gradativamente ele irá conduzir-se com mais segurança no meio em que vive. (Ferreira, 2007, p.20)
2. Lateralidade
Para Ferreira (2007), à medida que a criança cresce, ela vai definindo sua lateralidade, “é baseada em fatores neurológicos, mas também é influenciada por hábitos sociais”. Ela afirma que no bebê não há preferência para nenhum dos lados, ele passa a ter simetria a partir do terceiro mês de vida. Mas é aproximadamente com um ano e meio, que ele começa a escolher um lado do corpo, usando ainda as duas mãos. Aos três anos, já usa a mão escolhida, por isso, atenta-nos a não obrigar a criança a usar a mão oposta.
3. Orientação espaço-temporal
Ferreira (2007, p.26) nos diz que “estruturação espacial é a orientação e a construção do mundo exterior, referindo-se primeiro ao próprio referencial, depois aos outros, em posição estática ou em movimento”. Para a autora é necessário, para que a criança estruture o espaço, a partir da referência de seu próprio corpo.
É necessário que a escola tenha conhecimento sobre a importância da motricidade, para que o trabalho na Educação Infantil seja produtivo. Nista-Piccolo e Moreira (2012, p.64) dizem que se a motricidade não for levada em consideração, “podemos ter uma educação que impeça a liberdade das ações corporais, propiciando uma educação voltada para crianças ideais que devem ser transformados em adultos produtivos”.
Gomowski e Silva (2014) ao citarem Le Bouch (1988) dizem que a motricidade é primordial na aprendizagem, para eles, muitas crianças sentem dificuldades na escola, pois não tiveram uma educação motora de qualidade. Logo, para os autores, a motricidade proporciona suporte para outras aprendizagens, devendo ser considerada educação de base.
A Educação motora deve ser enfatizada e iniciada na escola primária. Ela condiciona todas as aprendizagens pré-escolares e escolares; leva a criança a tomar consciência de seu corpo, da lateralidade, a situar-se no espaço, a dominar o tempo, a adquirir habilmente a coordenação de seus gestos e movimentos, ao mesmo tempo em que se desenvolve a inteligência. Deve ser praticada desde a mais tenra idade, conduzida com perseverança, permite prevenir inadaptações, difíceis de corrigir quando já estruturadas. (Le Boulch, 1984, p.24, apud Gromowski e Silva, 2014, p.5)
Sendo assim, o movimento é de grande relevância, já que proporciona a criança o descobrimento de sensações de prazer que o corpo oferece, levando-a a se conhecer e a desenvolver suas competências.
Corporeidade e movimento: contribuindo para o desenvolvimento infantil
A corporeidade é própria da existência humana, nosso corpo se relaciona com o meio e interage de acordo com suas necessidades, mantendo-se dessa interação e se enquadrando em várias situações. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (2001, p.46), para a Educação Física, “o corpo é vivo, interage com o meio físico e cultural, que sente dor, prazer, medo, etc.”.
Ainda nos deparamos com discursos dualistas, no que diz respeito sobre corpo-mente, visão esta, que é erroneamente colocada, sabendo que toda ação pretendida, parte da expressão corporal. Esse dualismo, segundo Mattos e Neira (2006, p.9) nos leva a colocarmos “em cheque toda a ação pedagógica centrada unicamente na cognição que, em conseqüência, deixe de fora a dimensão corporal dos atos humanos. Sabe-se que, na escola, na sala de aula é o espaço exclusivo do raciocínio e da inteligência, como se ambos não passassem pela corporeidade”. Logo, destacamos que:
... o ser humano precisa ser compreendido na perspectiva de “fato social total”, ou seja, a partir da consideração de que o corpo se materializa por meio de dimensões que compõem uma totalidade. Assim, não se pode pensar em uma dimensão separada da outra, visto que o biológico, social e o psicológico só existem como elementos culturalmente constituídos, em uma totalidade. (Oliveira, 2010, p.42)
Gonçalves (1994, p.152-153) nos coloca alguns pontos sobre o corpo, onde diz que:
O corpo sente: o relacionamento unificado do homem com o mundo pauta-se na sensibilidade. “O corpo sente, ao mesmo tempo em que estrutura a percepção e se move”.
O corpo expressa: a expressão é constante em nosso corpo, mesmo quando involuntária. “O corpo expressa não somente nossa história individual, mas também a história acumulada de uma sociedade, que nele imprimiu seus códigos”.
O corpo comunica: antes mesmo da compreensão verbal, já se tem a comunicação corporal. “Como na linguagem, no movimento corporal o inteligível e o sensível se unem na produção de sentidos”.
O corpo cria e significa: há uma criação em cada movimento corporal, que não é repetido, pois há uma diversidade de situações. “Ser capaz de captar o novo em cada situação, isto é, de atribuir novos significados e de agir criando o novo em si próprio, parece ser essência da criatividade”.
Lima; Santos e Araújo (2015) salientam que a corporeidade pode ser compreendida por suas diversas relações internas e externas, que interligadas ao corpo, mantém um conhecimento de si próprio, do outro e do ambiente de convívio. Logo,
...para tal desenvolvimento, as noções e descobertas que o ser humano possa vir a formular sobre o mundo e sobre si mesmo, só tem existência a partir de seu contato com diferentes atividades, meios e grupos e as diversas influências que estes podem ter sobre ele; assim como as influências que ele próprio exerce em seu grupo. Neste sentido a corporeidade e a representação corporal não estão ligadas a uma atividade unicamente subjetiva, interna e particularizada, mas às relações sociais concretas estabelecidas entre os indivíduos de determinados grupos. (Lima; Santos e Araújo, 2015, p.3)
E é através de sua interação com o meio, que a criança tende a construir-se como sujeito e o movimento é uma dessas formas de interação. Para Lima; Santos e Araújo (2015) ela começa a explorar o meio e vai construindo seu conhecimento sobre as relações que pode estabelecer nele aprende limites, interage com a cultura utilizando objetos ou participando das atividades lúdicas que fazem parte desse universo.
Cabe a escola então, ser um lugar propício para que o desenvolvimento motor possa ser trabalhado no intuito de ser algo benéfico e não supérfluo. Lima; Santos e Araújo (2015, p.4) salientam que em um ambiente onde os laços afetivos são bem estabelecidos, “movimento ocorre com mais liberdade e maior rendimento, quando a personalidade é respeitada e afetividade atribui significados, o comportamento faz mais sentido”.
Logo, ressalta-se assim a necessidade de o professor utilizar o lúdico, para que o desenvolvimento integral da criança seja bem estruturado, reforçando a importância da interação com o meio e seus benefícios propiciados pelo movimento e corporeidade, automaticamente contribuindo para o desenvolvimento integral da criança na Educação Infantil.
A importância das práticas lúdicas na Educação Infantil
As atividades lúdicas ganham cada vez mais espaço e significado positivo na Educação Infantil, mas tem-se ainda, uma necessidade de colocá-las em prática corretamente. Silveira (2011) afirma que inserir estas atividades em sala de aula, utilizando-as como meio de “extravaso” da criança, não é válido, faz-se necessário uma junção entre teoria e prática, vivenciando o lúdico de maneira contextualizada, para que o trabalho dê bons resultados.
Para Nista-Piccolo e Moreira (2012) a escola deve ser um ambiente que propicie o lúdico, sendo alegre, atrativo, onde a criança sinta prazer em suas descobertas, pois é através do brincar que a mesma, utilizando diversas linguagens, aciona a capacidade de se expressar. Marinho et al (2007) citam Freire (1989), que acredita que a criança passa a estabelecer sua compreensão e relação com o mundo através do lúdico. Há a atividade simbólica e o mundo concreto que a criança vive, logo, a atividade corporal é um elo que liga esses dois fatores, onde a mesma usa de símbolos para representar aquilo que experimenta corporalmente. Desta forma, o movimento pode ser utilizado como facilitador da aprendizagem dos conteúdos ligados ao cognitivo.
Segundo o Referencial Curricular Nacional (1998, p.22) para a Educação infantil:
...o brincar é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento da identidade e autonomia. O fato de a criança, desde muito cedo, poder se comunicar por meio de gestos, sons e mais tarde representar determinado papel na brincadeira faz com que ela desenvolva sua imaginação. Nas brincadeiras as crianças podem desenvolver capacidades importantes tais como a atenção, a imitação, a memória, a imaginação. Amadurecem também algumas capacidades de socialização, por meio da interação e da utilização e experimentação de regras e papeis sociais. (Brasil, 1998)
O brincar e o lúdico em sua totalidade, não podem ser compreendidos como ‘coisa de criança’, e sim como atividade humana, fundamentados nessa idéia, Nista-Piccolo e Moreira (2012) citam Winnicot (1975) que apresenta o brincar como parte da essência humana, sendo chamada de “impulso lúdico”, que está incorporado no brincar e garante que o brincar se manifeste por toda nossa vida. Ou seja, o que é trabalhado na Educação Infantil, utilizando a ludicidade, influencia significativamente o desenvolvimento da criança, até a vida adulta.
Desde a antiguidade, já havia uma preocupação com o brinquedo. Ischkanian (2012) ao citar Kishimoto (1995) diz que Platão já abordava essa necessidade de aprender através da brincadeira, para evitar a opressão e a violência que eram impostas na época. Já Aristóteles destacava a utilização de jogos, para preparar as crianças para a vida. A autora diz que, a memória do adulto, sempre traz uma alusão a algum brinquedo que marcou sua infância, que tem uma dimensão material, cultural e técnica, é um auxílio da brincadeira, que faz com que a imaginação da criança seja despertada e que surjam novas brincadeiras a partir daí.
Kishimoto (2010) salienta que o brincar é livre, a criança começa uma brincadeira em qualquer momento, por ser instigante, não exige muito, mas consegue desenvolver habilidades, ensinar regras e valores, trabalhar a linguagem dentre diversos outros aspectos. Ela passa a se expressar, a se conhecer, exprime sua identidade através do movimento.
Ao brincar, a criança experimenta o poder de explorar o mundo dos objetos, das pessoas, da natureza e da cultura, para compreendê-lo e expressá-lo por meio de variadas linguagens. Mas é no plano da imaginação que o brincar se destaca pela mobilização dos significados. Enfim, sua importância se relaciona com a cultura da infância, que coloca a brincadeira como ferramenta para a criança se expressar, aprender e desenvolver. (Kishimoto, 2010, p.1)
Cebalos et al (2011) salientam que muitas escolas não vêem essas atividades lúdicas como um importante caminho para o desenvolvimento da criança. Os autores ainda citam Freire (2007, p.20) que diz que “de nada vale esse enorme esforço para a alfabetização se a aprendizagem não foi significativa. E o significado nessa primeira fase de vida depende mais do que qualquer outra, da ação corporal”. Ou seja, através da ludicidade, de atividades como pular corda, dançar com comandos, ela desenvolve aspectos intelectuais, sociais, afetivos, progredindo significativamente no dia-a-dia.
Ao falarmos de jogos, Huizinga (2005) nos diz que são mais antigos que a cultura, ele salienta que até mesmo os animais brincam, respeitam regras impostas pelos donos e se convidam para brincar através de comandos.
Desde já encontramos aqui um aspecto muito importante: mesmo em suas formas mais simples, ao nível animal, o jogo é mais do que um fenômeno fisiológico ou um reflexo psicológico. Ultrapassa os limites da atividade puramente física ou biológica. É uma função significante, isto é, encerra um determinado sentido. No jogo existe alguma coisa “em jogo” que transcende as necessidades imediatas da vida e confere um sentido a ação. Todo jogo significa alguma coisa. Não se explica nada chamando “instinto” ao princípio ativo que constitui a essência do jogo; chamar-lhe “espírito” ou “vontade” seria demasiado. Seja qual for a maneira como o consideram, o simples fato de o jogo encerrar um sentido implica a presença de um elemento não material em sua própria essência. (Huizinga, 2005, p. 3-4)
O jogo deve ser um auxílio prazeroso na aprendizagem das crianças, segundo Ischkanian (2012, p. 4) através dele, em sala de aula, elas se consideram parte integrante do processo de ensino, onde ocorre a assimilação de valores, conceitos, atitudes. Mas “para que esta aprendizagem ocorra de forma natural é necessário respeitar e resgatar o movimento humano, respeitando a bagagem espontânea de conhecimento da criança. Seu mundo cultural, movimentos, atitudes lúdicas, criaturas e fantasias”. Sendo um recurso metodológico, alguns aspectos importantes devem ser considerados, tais como: seu grau de complexidade (o jogo deve ser compreensível e ter regras simples para as crianças), o caráter desafiador, o interesse do aluno, o número de participantes, o espaço disponível e o material didático.
Nesta perspectiva, jogos, brinquedos e brincadeiras, por fazerem parte do universo infantil, podem ser considerados ricos recursos, que podem e devem ser utilizados pelos educadores. Transformando o processo de ensino-aprendizagem, em algo divertido, onde a criança passa a ter um desenvolvimento integral significativo.
Considerações finais
Através deste estudo podemos observar que, ainda encontramos discursos dualistas na concepção de criança. Acreditar que corpo e mente, podem ser vistos distintamente, é uma visão equivocada, pois o ser humano deve ser considerado um ser integral. Sendo assim, a motricidade está extremamente ligada à criança, que utiliza a todo o momento, no engatinhar, andar, correr, pular, saltar, rolar, trepar, girar, etc. Logo, o movimento estático, não pode ser considerado padrão de comportamento.
A criança se estabelece a partir de elementos básicos da motricidade, dentre eles, o esquema corporal, que é a tomada da consciência do próprio corpo, importante para a formação da personalidade da criança. Outro é a lateralidade, que é definida de acordo com o crescimento da criança, e ainda a orientação espaço-temporal, onde a criança movimenta-se a partir de suas noções de espaço (frente, traz, um lado e outro). Então, para que o trabalho na Educação Infantil seja bem estruturado, cabe ao educador saber a definição correta de motricidade, buscando ações que não impeçam a liberdade corporal das crianças.
Quando nos atentamos a aspectos relacionados à corporeidade, podemos enfatizar que ela é própria do ser humano, que se adapta a diversas situações, de acordo com o meio e com os outros, e o movimento é uma dessas formas de interação. Se ressaltarmos alguns pontos sobre o corpo, observamos que o mesmo sente, pois na interação com o meio nos expressamos (mesmo que involuntariamente o que estamos sentimos); comunicamos-nos (antes mesmo da expressão verbal, a corporeidade é nossa primeira forma de comunicação); além de criar e significar, pois não há repetição de movimentos nas variadas situações.
Corpo e movimento ainda são vistos isoladamente. Sendo assim, o trabalho com corporeidade é deixado em segundo plano. O educador se esquece de que não há atividades cognitivas e atividades corporais, mas sim atividades que partem sempre da expressão corporal. Os benefícios trazidos pela valorização da ação corporal são inúmeros, logo, há necessidade de abordá-los de maneira correta, contextualizada. Por isso, inserir as atividades lúdicas somente com o propósito de distração, não é válido na Educação Infantil. Isto porque as mesmas podem e devem ser utilizadas no intuito de proporcionar a aprendizagem de maneira prazerosa.
O brinquedo é considerado algo relevante, desde a Antiguidade, e é tido como representação de determinadas realidades. Mas ocorre certa confusão, quanto à definição do mesmo com outras atividades lúdicas, como brincadeiras e jogos. Dissipando esta visão, podemos dizer que, o brinquedo é o objeto utilizado para o desenvolvimento da atividade lúdica, brincadeiras são atividades mais livres, já os jogos possuem regras pré-estabelecidas, mas que são flexíveis.
Os benefícios que o brincar traz para a criança são múltiplos. Através dos jogos e brincadeiras, é possível contribuir para o desenvolvimento de habilidades físicas (reconhecendo e desenvolvendo atividades motoras); sociais (na interação e cooperação propiciadas pelo lúdico); cognitivas (com seu auxílio, poder trabalhar vários conceitos, prazerosamente); e afetivas (pelo ambiente agradável vivenciado).
No entanto, brinquedos, brincadeiras e jogos, o lúdico em geral deve estar presente na Educação Infantil, propiciando a contemplação da criança em sua totalidade. Logo, cabe ao educador e a escola, valorizarem os trabalhos corporais na infância.
Em virtude do que foi apresentado, o presente estudo, contribui para a formação e atuação de profissionais da área educacional, por meio da valorização da Educação corporal e atividades lúdicas. Além disso, há a finalidade de servir de estímulo e apoio, para que possíveis estudos possam surgir.
Bibliografia
Brasil (2001). Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. v.7. Brasília, DF.
Brasil (1998). Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. v.3. Brasília, DF.
Cebalos, N.M. et al. (2011). A atividade lúdica como meio de desenvolvimento infantil. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Nº 162. http://www.efdeportes.com/efd162/atividade-ludica-como-meio-de-desenvolvimento.htm
Ferreira, F. de (2007). A importância da Psicomotricidade no desenvolvimento da criança na Educação Infantil. 48f. Monografia (Especialista em Psicomotricidade) - Universidade Cândido Mendes.
Freire, J.B. (1994). Educação de corpo inteiro: teoria e prática na Educação Física. 1ª ed. São Paulo: Scipione.
Gonçalves, M.A.S. (1994). A Educação e a Educação Física. In: ______________ (Org.). Sentir, Pensar, Agir corporeidade e educação. 15ª ed. Campinas, SP: Papirus.
Gromowski, V. e Silva, J. A. (2014) Psicomotricidade na Educação Infantil, p.1-7.
Huizinga, J. (2005). Natureza e significado do jogo como fenômeno cultural. In: ______________ (Org.) Homo Ludens. 5ª ed. São Paulo: Perspectiva.
Ischkanian, S.H.D. (2012). O lúdico: jogos, brinquedos e brincadeiras na construção do processo de aprendizagem na Educação Infantil. p.1-9. Acessado em 15 mar.2015 http://www.pedagogiadaletra.com
Kishimoto, M.T. (2010). Brinquedos e brincadeiras na Educação Infantil. p. 1-3. Acessado em 21 ago. 2015. http://www.portal.mec.gov.br
Kolyniak Filho, C. (2010). Motricidade e aprendizagem: algumas implicações para a educação escolar, p. 1-10. Acessado em 21 ago. 2015. http://www.pepsic.bvsalud.org
Marinho, H.R.B. et al. (2007). O universo lúdico. In: ________________ (Org.) Pedagogia do movimento, universo lúdico e psicomotricidade. 2ª ed. Curitiba: Ibpex.
Mattos, M.G. de e Neira, M.G. (2006). A Educação Física infantil em uma perspectiva construtivista. In: _______________ (Org.). Educação Infantil: construindo o movimento na escola. 6ª ed. São Paulo: Phorte.
Mello, A.M. de (1989). Psicomotricidade, Educação Física e jogos infantis. 7ª ed. São Paulo: IBRASA.
Nista-Piccolo, V.L. e Moreira, W.W. (2012). A corporeidade e a criatividade na Educação Infantil. In: ______________ (Org.) Corpo em movimento na Educação Infantil, 1ª ed. São Paulo: Telos.
Oliveira, N.R.C. de (2010). Corpo e movimento na Educação Infantil: concepções e saberes docentes que permeiam as práticas cotidianas. Tese (Doutorado em Educação). Universidade de São Paulo.
Silveira, L.D. (2011). Educação Física e atividade lúdica: o papel da ludicidade no desenvolvimento psicomotor. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Nº 154. http://www.efdeportes.com/efd154/o-papel-da-ludicidade-no-desenvolvimento-psicomotor.htm
Outros artigos em Portugués
|
|
EFDeportes.com, Revista Digital · Año 21 · N° 216 | Buenos Aires,
Mayo de 2016 |