A abordagem do tema ‘alimentação saudável’ pelos professores de Educação Física da rede municipal de ensino de Foz do Iguaçu (PR) El abordaje del tema “alimentación saludable” por parte de los profesores de Educación Física de la red municipal de enseñanza de Foz do Iguaçu (PR) |
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*Licenciado em Educação Física pela Faculdade União das Américas - UNIAMÉRICA Especialista em Alimentos, Nutrição e Saúde no Espaço Escolar pela Universidade Federal da Integração Latino-Americana - UNILA Professor de Educação Física das redes estadual e municipal de ensino em Foz do Iguaçu (PR) **Doutor em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de Sergipe - UFS Professor Adjunto na Universidade Federal da Integração Latino-Americana - UNILA |
Leandro Pereira da Silva* Fernando Kenji Nampo** (Brasil) |
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Resumo Diante do aumento dos casos de doenças crônicas não transmissíveis, que têm como um dos fatores a mudança do perfil alimentar da população, acredita-se que a escola seja o lugar ideal para fomentar a alimentação saudável, pois é na infância e na adolescência que começam a se definir os hábitos alimentares. Entendendo que a atividade física e a alimentação são fatores indissociáveis para a qualidade de vida do ser humano, o presente estudo teve o objetivo de analisar como os professores de Educação Física abordam o tema “alimentação saudável” durante as atividades com alunos do Ensino Fundamental I da rede municipal de ensino de Foz do Iguaçu (PR). Como instrumento de coleta de dados foi utilizado um questionário elaborado pelos próprios autores, com questões abertas e fechadas. Foram entrevistados 10 professores de Educação Física, sendo 60% do sexo masculino e 40% do sexo feminino. Os resultados da pesquisa mostraram que 80% dos professores ministram aulas com o tema “alimentação saudável”, dos quais 75% realizam aulas expositivas e 62,5% trabalham com visualização de vídeos. Quanto aos principais recursos utilizados para planejar e ministrar as aulas, 62,5% destes professores apontaram os computadores/tablets e também os livros didáticos. As principais dificuldades para abordar o tema, apontadas pelos entrevistados, foram: falta de tempo (40%) e escassez de recursos materiais (30%). Concluiu-se que esta prática pedagógica dos professores de Educação Física se realiza de uma maneira individualizada e não programada, carecendo de integração para que as estratégias de ensino sejam elaboradas e empregadas para alcançar resultados similares no processo de ensino e aprendizagem da alimentação saudável. Unitermos: Educação Física. Prática pedagógica. Educação alimentar. Hábitos saudáveis.
Resumen Teniendo en vista el aumento de los casos de enfermedades crónicas no transmisibles que tienen como uno de los factores el cambio en el perfil alimentario de la población, se cree que la escuela es el lugar ideal para fomentar la alimentación saludable, ya que es en la infancia y adolescencia que empiezan a definirse los hábitos alimentarios. Entendiendo que la actividad física y alimentación son factores indisociables para la calidad de vida del ser humano, el presente estudio tuvo el objetivo de analizar como los profesores de Educación Física abordan el tema “alimentación saludable” durante las actividades con los alumnos de la Enseñanza Primaria I de la red municipal de enseñanza de Foz do Iguaçu (PR). Como instrumento de recolección de datos se utilizó un cuestionario elaborado por los propios autores, con preguntas abiertas y cerradas. Fueron entrevistados 10 profesores de Educación Física, siendo el 60% del sexo masculino y el 40% del sexo femenino. Los resultados de la investigación mostraron que 80% de los profesores dan clases teniendo en cuenta el tema “alimentación saludable”, de los cuales 75% realizan clases expositivas y 62,5% trabajan con visualización de vídeos. En relación a los principales recursos utilizados para planificar y realizar las clases, 62,5% de estos profesores apuntaron los computadores/tablets y también los libros didácticos. Las principales dificultades para abordar el tema, apuntadas por los entrevistados, fueron: la falta de tiempo (40%) y la escasez de recursos materiales (30%). Se concluyó que esta práctica pedagógica de los profesores de Educación Física se realiza de una manera individualizada y no programada, careciendo de integración para que las estrategias de enseñanza sean elaboradas y empleadas para lograr resultados similares en el proceso de enseñanza y aprendizaje de la alimentación saludable. Palabras clave: Educación Física. Práctica pedagógica. Educación alimentaria. Hábitos saludables.
Recepção: 27/03/2016 - Aceitação: 02/05/2016
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 21 - Nº 216 - Mayo de 2016. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A educação alimentar das crianças deixou de ser uma responsabilidade exclusiva da família, tornando-se um assunto de relevância no contexto escolar. De acordo com Zancul (2008), os hábitos alimentares se iniciam na infância, se definem na adolescência e permanecem na vida adulta, e, por isso, a escola é um espaço privilegiado para se educar para a aquisição de hábitos alimentares saudáveis.
Existe a preocupação e a necessidade de fomentar hábitos saudáveis nas pessoas desde a infância devido ao crescimento dos casos de doenças crônicas não transmissíveis que têm atingido populações de todas as faixas etárias. No Brasil, essas doenças correspondem a 75% dos gastos com assistência hospitalar (Goulart, 2011). Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística mostram que a obesidade e o sobrepeso já atingem, respectivamente, 16,6% e 34,8% das crianças brasileiras entre 5 e 9 anos de idade (IBGE, 2010). Rech et al. (2010), em um estudo realizado com escolares brasileiros com idade entre 7 e 12 anos, constataram que cerca de 30% das crianças estão com obesidade ou sobrepeso.
Estudos comprovaram que a prática regular de exercícios físicos age no controle do peso corporal, pois eles aumentam o gasto calórico do organismo durante e pós-esforço. Além disso, provocam alterações positivas nos sistemas muscular e cardiovascular e fortalecem o sistema imunológico (Gonçalves, 2014; Rondon & Brum, 2003; Santos, Santos & Maia, 2009). Dessa forma, a alimentação adequada associada à atividade física torna-se indispensável na promoção da saúde, pois seus benefícios estão diretamente relacionados ao combate e a prevenção de algumas doenças crônicas como obesidade, diabetes, hipertensão arterial e outras (Sousa & Oliveira, 2015).
A alimentação saudável é um tema transversal que se enquadra na disciplina de Educação Física, pois é estreita a relação entre atividade física e dieta como elementos de uma vida saudável. E ainda, o desígnio de estimular a autonomia dos alunos para as práticas saudáveis é o fato que justifica a vantagem de se trabalhar com educação alimentar e nutricional na Educação Física escolar. Nessa perspectiva, percebe-se a importância de intervir na faixa etária de 5 a 11 anos, idade em que as crianças geralmente dão início à prática de exercícios físicos orientados na escola.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) declaram a expectativa de que ao final do primeiro ciclo do ensino fundamental o aluno tome consciência de que a adoção de hábitos saudáveis de higiene, alimentação e práticas corporais resulta em vários benefícios à saúde dos seres humanos (Brasil, 1997). Contudo, os PCNs ainda não consideram a alimentação saudável como um conteúdo obrigatório e não sugerem propostas pedagógicas para a abordagem desse tema nas aulas de Educação Física.
Até onde alcança nosso conhecimento, não há estudos acadêmico-científicos que analisaram a abordagem dos conteúdos de nutrição por professores de Educação Física. Pesquisas que averiguam a inserção dos temas relacionados à saúde no âmbito escolar podem avaliar as estratégias pedagógicas e identificar as eventuais dificuldades apresentadas pelos profissionais do magistério. Desse modo, ações podem ser planejadas a fim de melhorar a atuação do professor como agente de promoção à alimentação saudável.
Sendo assim, a proposta do presente estudo foi a de analisar a abordagem do tema “alimentação saudável” pelos professores graduados em Educação Física que atuam na rede municipal de ensino de Foz do Iguaçu com crianças do 1º ao 5º ano do ensino fundamental.
A alimentação saudável enquanto tema na Educação Física escolar
A prática pedagógica dos professores de Educação Física que lecionam no ensino fundamental da rede pública do município de Foz do Iguaçu (PR) é norteada pela Associação dos Municípios do Oeste do Paraná (AMOP) através do “Currículo Básico para a Escola Pública Municipal”. Este documento não faz menção da educação alimentar para a saúde nos pressupostos teórico-metodológicos da disciplina, os quais enfatizam o “movimento” como o foco principal das propostas pedagógicas. Somente na proposta curricular para turmas do 2º ano do ensino fundamental aparece a palavra “alimentação” como um tema inserido no eixo “Cultura Corporal e Saúde” (AMOP, 2014).
Segundo Carmo et al. (2013, p. 25) “a disciplina Educação Física Escolar tem a vantagem de trabalhar diretamente sobre a plenitude do desenvolvimento humano, as suas ações não se restringem às práticas mecânicas e esportivizadas”.
Nesse sentido, ao concordarmos com Araújo, Brito e Silva (2010), é possível afirmar que, na escola, a aula de Educação Física é o momento mais apropriado para enfatizar a relação existente entre a prática da atividade física e a alimentação saudável como fatores cruciais para a qualidade de vida.
O professor de Educação Física é um profissional da área da saúde inserido na escola e, por isto, tem a responsabilidade de associar os fatores de atividade física e saúde, tais como os princípios da alimentação saudável e a prevenção de doenças crônicas não transmissíveis (Barbosa, 2012).
Para Cruz, Blois e Brito (2012), a disciplina de Educação Física apresenta possibilidades concretas de intervir desde a infância, através de uma didática que aborde os bons hábitos alimentares tanto na teoria como na prática. Entretanto, os autores acreditam que a Educação Física escolar ainda é predominantemente guiada pela tendência tecnicista/competitivista e enfatizam que são rudimentares as propostas que contemplem as concepções do movimento humano no processo de educação em saúde.
De acordo com Devide (1996, p. 52):Enquanto educador, o professor de Educação Física deve estar atualizado ao conceito multifatorial da saúde, para que, munido de instrumentação teórica consistente, tenha condições de discutir e ampliar a relação de compromisso da Educação Física para além da esfera da aptidão física. A partir dessa reorientação paradigmática, ele poderá fazer com que a Educação Física escolar defina o seu papel em relação à saúde [...].
Atualmente, as praticidades da vida moderna, bem como a grande comercialização e consumo de alimentos e bebidas industrializadas são os principais fatores que acarretam o sedentarismo e, conseqüentemente, aumentam a vulnerabilidade a doenças como a obesidade (Affonso & Sonati, 2007). Então, acredita-se que a espontânea aderência à prática de atividades físicas e hábitos alimentares saudáveis, de certa forma, também é resultado das ações de conscientização que as pessoas vivenciam no decorrer da vida escolar.
Nota-se que a orientação adequada é apontada como uma ação efetiva de intervenção dos problemas relacionados à alimentação inadequada e à falta de atividade física. Portanto, esses temas devem ser constantemente enfatizados pelos professores de Educação Física.
Metodologia
Este é um estudo descritivo quanti-qualitativo que foi sucedido por meio de uma pesquisa de campo. Inicialmente, realizou-se um censo junto à coordenação de Educação Física da Secretaria Municipal da Educação (SMED) e foi constatado que, no período de estudo, havia 19 professores de Educação Física contratados em regime estatutário na rede municipal de ensino de Foz do Iguaçu (PR) que haviam assumido o cargo no ano de 2014.
Um convite foi enviado aos endereços de e-mail de todos os professores. A participação na pesquisa era de caráter voluntário, efetivada mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Os professores receberam um link que abria uma página de um formulário eletrônico. Na primeira página do formulário constava o TCLE. Após ler, concordar e clicar em “sim, eu aceito”, os participantes eram direcionados ao questionário da pesquisa.
Foram incluídos no estudo os professores que preencheram o formulário eletrônico e que imprimiram, assinaram e entregaram o TCLE. E os critérios de exclusão adotados foram: estar de licença ou afastado do cargo e; estar contratado em regime estatutário há menos de 1 ano.
Como não foi encontrado na literatura um instrumento de coleta de dados específico para esta investigação, aplicou-se um questionário elaborado pelos próprios autores com base nos estudos de Bezerra, Capuchinho e Pinho (2015), Valim e Goulart (2011) e Zinhani, Tavares e Salgueiro (2015), que investigaram a maneira como diversos professores do ensino fundamental abordam conteúdos relacionados à alimentação e à saúde. O questionário é composto por perguntas abertas e fechadas que, além de identificar o perfil dos entrevistados, averiguam: a) a freqüência da abordagem do tema “alimentação saudável” nas aulas de Educação Física; b) as metodologias e materiais que são utilizados para ensinar os conteúdos e; c) as dificuldades e desafios encontrados pelos professores quando trabalham este tema na escola.
Por fim, foi realizada a análise descritiva dos dados obtidos, com medidas de freqüência absoluta e relativa para os questionamentos. Os resultados foram expressos em gráficos e tabelas.
Resultados
Este estudo teve a participação de 10 professores de Educação Física, sendo 6 (60%) do sexo masculino e 4 (40%) do sexo feminino. Em relação à formação acadêmica dos participantes, 50% eram graduados somente em Licenciatura e 50% eram graduados em Licenciatura e Bacharelado. Quanto à formação complementar, constatou-se que 80% dos participantes possuíam certificado de especialização (Lato Sensu) e 20% ainda não haviam cursado uma pós-graduação. Além disso, apenas 20% dos entrevistados já participaram de algum tipo de curso da área da nutrição.
Constatou-se que 80% dos professores entrevistados abordam o tema “alimentação saudável” nas aulas de Educação Física. Contudo, notou-se que a freqüência da abordagem do tema varia entre os profissionais (Tabela 1): 30% faz a abordagem do tema uma vez por bimestre; 20% abordam o tema uma vez por semestre; 20% abordam o tema uma vez por mês; 10% abordam o tema duas vezes por semestre e; 20% dos entrevistados afirmaram que nunca trabalham com este tema.
Tabela 1. Freqüência de trabalho com o tema “alimentação saudável” nas aulas de Educação Física
Os professores de Educação Física que trabalham com o tema (N=8) apontaram diversas metodologias que utilizam como estratégias para obter bons resultados na abordagem do tema “alimentação saudável” com os estudantes (Gráfico 1). Das metodologias adotadas pelos professores, aulas expositivas (75%) e visualização de vídeos (62,5%) foram as que obtiveram mais apontamentos no questionário. As outras metodologias que eles utilizam são: debates (50%), trabalhos em grupo (50%), dinâmicas, jogos e brincadeiras (37,5%), pesquisas (12,5%), projetos (12,5%), dramatização (12,5%) e palestras (12,5%).
Gráfico 1. Metodologias utilizadas pelos professores na abordagem
do tema “alimentação saudável” nas aulas de Educação Física
Esses professores também fizeram um levantamento dos principais recursos materiais adotados para planejar e ministrar as aulas com o tema “alimentação saudável” (Gráfico 2). Computadores/tablets e livros didáticos se destacaram como os recursos mais utilizados, sendo apontados por 62,5% dos professores. Os outros recursos que eles utilizam são: livros e artigos científicos (37,5%), jogos e brinquedos (37,5%), cartazes e banners (37,5%), revistas/jornais (25%), aparelho de som/rádio (25%), televisão (12,5%) e projetor multimídia (12,5%).
Gráfico 2. Recursos utilizados pelos professores de Educação Física
no planejamento e realização das aulas sobre alimentação saudável
Os dez participantes do estudo ainda foram questionados sobre os fatores que dificultam o desenvolvimento do tema “alimentação saudável” nas aulas de Educação Física (Gráfico 3). Para 40% dos professores um problema é a falta de tempo; 30% responderam que a falta de recursos materiais é o que dificulta o trabalho e; 10% apontaram a falta de participação/colaboração dos alunos como um fator prejudicial. Já a quantidade de participantes que afirmaram não apresentar nenhuma dificuldade corresponde a 30%.
Gráfico 3. Dificuldades para abordar o tema “alimentação saudável” nas aulas de Educação Física
Discussão
É provável que o presente estudo seja uma exclusividade dentro da temática em questão, pois, durante a consulta à literatura, não encontramos publicações de estudos que tiveram uma amostra composta por professores que doutrinam apenas uma disciplina específica como a Educação Física.
Quanto aos resultados, observamos que 80% dos professores entrevistados nunca participaram de algum tipo de curso da área da nutrição. Barros e Mataruna (2005 apud Mira, 2007) acreditam que os professores não precisam de formação especializada, uma vez que este tema está presente no cotidiano das pessoas, mas devem estar preparados para discutir os conteúdos de maneira crítica e contextualizada, vinculando saúde às condições de vida e direitos do cidadão.
Zinhani et al. (2015) realizaram um estudo que avaliou as principais estratégias de educação alimentar utilizadas nas classes de 21 professores do Ensino Fundamental II. Aproximadamente 75% dos professores afirmaram que trabalham com o tema “alimentação e saúde” somente uma vez por mês, e cerca de 25% nunca preparam uma aula para abordar o tema. Observamos uma semelhança com os resultados do nosso estudo, em que 20% dos professores de Educação Física não doutrinam conteúdos da temática.
O presente estudo verificou que as aulas expositivas e a visualização de vídeos são os métodos mais utilizados para a abordagem do tema “alimentação saudável”. Valim e Goulart (2011) realizaram um estudo com 176 professores do Ensino Fundamental I e os resultados mostraram que mais de 50% dos professores abordam o tema através de textos e pesquisas. Bezerra et al. (2015) entrevistaram 158 professores do Ensino Fundamental I que na abordagem do tema utilizam principalmente as pesquisas e as aulas expositivas. No trabalho de Zinhani et al. (2015) se destacaram os debates em grupo e, também, as aulas expositivas.
Cabe destacar que as dinâmicas, os jogos e as brincadeiras caracterizam-se como métodos ativos que estimulam uma pluralidade de recursos sensoriais que favorecem a fixação do conhecimento durante o processo de ensino e aprendizagem (Silva, 2005 apud Galeno, 2011). Esta pesquisa constatou que dinâmicas, jogos e brincadeiras, que são mais comuns e apropriados para as aulas de Educação Física, são utilizados como estratégia de ensino por apenas 37,5% dos professores que abordam o tema.
O presente estudo também constatou que os recursos mais utilizados pelos professores de Educação Física nas aulas sobre alimentação saudável são os computadores/tablets e os livros didáticos. No estudo de Zinhani et al. (2015), mais de 80% dos professores responderam que utilizam jornais e revistas.
Em relação aos fatores que dificultam a abordagem do tema “alimentação saudável”, 40% dos entrevistados responderam que é a falta de tempo, pois acreditam que o número de aulas destinado à disciplina é insuficiente para a organização das atividades. Atualmente, os alunos do ensino fundamental da rede municipal de ensino de Foz do Iguaçu (PR) têm apenas uma aula de Educação Física por semana, o que justifica a luta pela valorização da profissão que tem ocorrido através de reivindicações de aumento do número de aulas semanais e abertura de novos concursos públicos para o cargo.
O primeiro passo para mudar essa realidade foi a publicação do Decreto nº 24.064 de 27 de agosto de 2015, que determina que a rede municipal de ensino de Foz do Iguaçu (PR), até o ano de 2018, ofertará pelo menos duas aulas semanais da disciplina de Educação Física, para cada turma do Ensino Fundamental I.
Assim como neste estudo com professores de Educação Física, a falta de recursos materiais didáticos também foi apontada como um dos maiores empecilhos pelos participantes do estudo de Bezerra et al. (2015) e de Valim e Goulart (2011). Neste caso, é preciso que os gestores públicos e a comunidade escolar se comprometam com a promoção da alimentação saudável na escola e busquem alternativas para ampliar a disponibilidade de recursos didáticos.
Consideramos que o presente estudo apresentou uma limitação, pois não contou com a participação de todos os professores de Educação Física da rede municipal de Foz do Iguaçu (PR). Por outro lado, o método de coleta de dados, a nosso ver, proporcionou aos participantes certa privacidade no momento de responder o questionário, livrando-os de possíveis constrangimentos e favorecendo a fiabilidade das respostas.
Conclusão
Apesar dos conteúdos de nutrição não serem obrigatórios na educação básica, a maior parte dos professores de Educação Física entrevistados elencam a alimentação saudável como tema de algumas aulas teóricas e práticas. Entretanto, notamos que o trabalho desses profissionais é realizado de uma maneira individualizada, desde o planejamento até a execução das atividades. Ou seja, não há organização para que as estratégias de ensino dos professores sejam elaboradas e empregadas para alcançar resultados similares com todos os alunos da rede municipal de ensino.
Uma solução seria oferta de cursos de capacitação em educação nutricional tendo como público alvo os professores de Educação Física, com o intuito de oportunizar compartilhamento de experiências e interação entre eles. Deste modo, além de propiciar a aquisição de conhecimentos sobre o assunto, esses cursos também serviriam como um momento de planejamento coletivo das ações didáticas e de debates voltados à minimização dos problemas que dificultam a abordagem do tema “alimentação saudável”.
Acreditando que a Educação Física tem um papel de destaque na promoção da alimentação saudável no âmbito escolar, esperamos que este trabalho possa subsidiar o planejamento de ações que visem melhorar a qualidade do trabalho dos professores desta disciplina que atuam na promoção de saúde dentro da escola.
Por fim, ansiando o desenvolvimento científico da temática tratada, sugerimos a realização de novos estudos com professores que lecionam outras disciplinas e/ou em outros níveis da educação básica.
Bibliografia
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