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Hérnia de disco cervical: aspectos clínicos e ocupacionais

La hernia de disco cervical: aspectos clínicos y ocupacionales

Cervical herniated disc: clinical and occupational aspects

 

*Mestre e Doutor em Ciências da Saúde pela Universidade de Brasília – UnB

Acadêmico de medicina pela Faculdade de Ciência Médicas

e da Saúde de Juiz de Fora (FCMS-JF) – SUPREMA

**Acadêmico de medicina pela Faculdade de Ciência Médicas

e da Saúde de Juiz de Fora (FCMS-JF) – SUPREMA

***Médico graduado pela Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF

Ortopedista pelo Hospital do Andaraí - RJ

****Doutor em Ciências pelo Instituto Central Estadual de Cultura Física

de Moscou - Rússia. Coordenador do Núcleo de Pesquisas e Iniciação

Científica do Centro Universitário Euro-americana – Brasília. Professor da UNIPLAN

Diretor do Instituto Latino-americano de Atividade Física Terapêutica-ILAFiT

Demóstenes Moreira*

Matheus Fávero Damasceno**

Mariana Chiesquini Arrigoni**

Anderson José Damasceno***

Ramón Fabián Alonso López****

matheus_favero@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A hérnia de disco cervical consiste na protrusão do disco intervertebral na coluna cervical pela ruptura do anel fibrocartilaginoso, podendo associar-se a um quadro de radiculopatia, condição incapacitante em relação às tarefas ocupacionais. O diagnóstico se faz pela anamnese e exame físico, combinados a exames de imagens como a ressonância magnética. A abordagem terapêutica é diversificada, sendo que o tratamento conservador engloba o uso de fármacos, fisioterapia, colar cervical, além de reeducação e correção postural. Em relação aos procedimentos cirúrgicos, existe a tendência que se tornem minimamente invasivos, permitindo assim a alta hospitalar mais rápida e redução do risco de complicações secundárias para o paciente, bem como de custos hospitalares. Pela relevância do tema pesquisado, elaboramos o presente estudo a partir de investigação qualitativa e pesquisa bibliográfica nas bases de dados como Medline, Scielo e Lilacs, culminando em uma revisão sistemática e atualizada acerca do assunto.

          Unitermos: Herniação do disco intervertebral. Cervicalgia terapêutica. Trabalho.

 

Abstract

          The cervical herniated disc consists on an intervertebral disc protrusion in the cervical spine due to a tear on the fibrocartilagineous annulus, associated with a radiculopathy framework, a disabling condition in relation to occupational tasks. The diagnosis is made from the anamnesis and physical exam, combined with imaging exams as the magnetic resonance imaging. The therapeutic approach for this disease is diverse, and the conservative treatment includes the use of drugs, physical therapy, cervical collar, as well as rehabilitation and postural correction. About the surgical procedures, there is a tendency for them to become minimally invasive, allowing a faster patients discharge as well as risk of secondary complications and hospital costs reduction. Due to the theme relevance, we developed this study based on qualitative research and bibliographic search through MedLine, Scielo and Lilacs databases, in order to provide an updated and systematized review on the subject.

          Keywords: Intervertebral disc displacement. Neck pain treatment. Work.

 

Recepção: 13/02/2016 - Aceitação: 23/03/2016

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 21, Nº 215, Abril de 2016. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Em 1928 Stookey descreveu, pela primeira vez, a localização e os sintomas da hérnia de disco cervical. Posteriormente, Mixter e Ayer a relacionaram com a dor nervosa, evidenciando a laminectomia e excisão do disco como solução. Daí em diante, iniciou-se uma evolução histórica dessa patogenia, tanto em diagnóstico, quanto nos tratamentos clínicos e cirúrgicos. A hérnia de disco cervical é definida como um prolapso do disco intervertebral da coluna cervical pela degeneração do mesmo, geralmente nas vértebras C4-C5, C5-C6 e C6-C7 (Kin e Kin, 2010; Vital et al., 2013). Muitas vezes essa herniação resulta em radiculopatia, marcada pela compressão e inflamação da raiz nervosa próxima ao forame neural. Por vezes essa doença é assintomática, mas quando se manifestam, variam entre dor no pescoço e ombro, irradiando ao longo do dermátomo da raiz acometida, até parestesia. O reflexo, vibração e sensação ao toque são diminuídos homolateralmente à lesão, podendo ocorrer perda da massa muscular do pescoço. Mais raramente, há a Síndrome de Brown-Séquard, com fraqueza muscular ipisilateral associada à perda da sensibilidade e sensação térmica contralateral abaixo do nível cervical afetado (Kin e Kin, 2010; Vital et al., 2013; Sun et al., 2014).

    O diagnóstico da entidade é feito através de uma anamnese minuciosa associada ao exame físico, com testes como o Teste de Spurling. O uso de exames de imagem como a Ressonância Magnética, feito desde os anos 80, visa observar o tecido mole em pacientes sintomáticos e assintomáticos. Em relação ao tratamento, a cirurgia é opção em pacientes que não respondem às medidas conservador, ou que apresentam dor progressiva sem alívio com disfunções neurológicas. Entre 1955 1958 foi introduzida a abordagem anterior para laminectomia em casos de síndrome de disco cervical, relatando segurança no procedimento (Takasaki et al., 2009; Botelho et al., 2012).

Epidemiologia

    A partir dos 30 anos, modificações bioquímicas e outros fatores, levam à incapacidade do disco em distribuir cargas adequadamente, o que causa fissuras no ânulo fibroso, por onde o material do núcleo pulposo pode se extravasar e formar uma hérnia. Destaca-se o fator genético, que sugere uma herança familiar na manifestação precoce, além de influenciar sobre a degeneração do disco intervertebral, apesar da grande influência por fatores ambientais nas formas da doença. O sobrepeso e a obesidade são importantes fatores ambientais de deterioração discal dado ao excesso de peso na região, enquanto o tabagismo aparece como acelerador do seu processo de envelhecimento e dos tecidos adjacentes a ele. Além desses, destacam-se as ocupações profissionais em que há excesso de movimentação da coluna cervical, excesso de carga ou vibrações. Em relação ao sexo e etnia, não há destaque para nenhuma das variações, com proporção de acometimento de 1:1 entre os sexos (Abouhashem et al., 2013; Takahashi et al., 2013).

Etiopatogenia

    O disco intervertebral apresenta duas porções: a externa, constituída pelo ânulo fibroso, e o núcleo pulposo internamente. A primeira apresenta fibras entrelaçadas e alternadas com uma camada de fibras colágenas. Sua unidade estrutural básica, o glicosaminoglicano, tem carga negativa e atrai fortemente moléculas de água. Com a idade, reduz-se o tamanho e número de proteínas, diminuindo também a retenção d’água no disco intervertebral. A partir da terceira década de vida há a transformação o núcleo em uma massa fibrocartilaginosa indistinta, pelo declínio no conteúdo de água do disco (Mercer e Bogduk, 1999; Keith e Luk, 2008).

    Bioquimicamente, há envolvimento de proteoglicanos, glicoproteínas, proteínas colágenas e não-colágenas, com ação de inúmeros genes, especialmente das Proteínas Ativadoras de Mitose (PAM), genes relacionados ao colágeno IX e vitamina D. Essas alterações tornam o disco menos compressível e elástico, além de perder altura, com protrusão dorsal para dentro do canal espinhal. Isso pode causar a compressão da raiz nervosa, apresentando caráter crônico ou agudo. A primeira ocorre quando o disco se degenera e desidrata, culminando no colapso discal, causando assim sintomas insidiosos e mais brandos. A hérnia aguda ocorre quando um fragmento do núcleo pulposo faz a extrusão por um defeito no ânulo fibroso, com surgimento repentino de sintomas, enquanto a síndrome dolorosa e os déficits resultam da isquemia e inflamação, explicando os sintomas mais profundos nos casos agudos (Diwan et al., 2000; Wu et al., 2014). Henderson e colaboradores revisaram a clínica da radiculopatia cervical em mais de 800 pacientes e encontrou dor no braço em 99,4%, déficits sensoriais em 85,2%, dor no pescoço em 79,7%, déficits de reflexo em 71,2%, déficits motores em 68%, dor escapular em 52,5%, dor no peito em 17,8% e dores de cabeça em 9,7%. Sensação de frio ou calor no membro envolvido em função de compressão radicular são sintomas subjetivos, demandando assim testes que certifiquem suas existências (Henderson et al., 1983).

Diagnóstico

    A anamnese permite o diagnóstico em mais de 75% dos casos, cabendo a correlação desta com o exame físico e complementares. Palpação da musculatura escapular e trapézio, averiguação da amplitude de movimento cervical, exame neurológico e teste de força, avaliação dos reflexos, além de exame sensorial da dor, vibração e toque, são essenciais. O teste de Spurling reproduz os sintomas pela flexão lateral, rotação e compressão da cabeça para o lado dos sintomas, reduzindo o forame intervertebral. Segundo Shah e Rajshekhar, este teste é moderadamente sensível e específico nos pequenos prolapsos discais intervertebrais cervicais. A manobra de Valsalva pode reproduzir sintomas, mas seus mecanismos de ação e reprodutibilidade são obscuros. Já o teste de tensão do membro superior almeja esticar a raiz nervosa e gerar sintomas, apesar da reprodutibilidade baixa e sensibilidade/especificidade duvidosas. O sinal de abdução do ombro e a tração do pescoço fazem a abertura do forame e conseqüente alívio dos sintomas do paciente (Wainner et al., 2000; Shah e Rajshekhar, 2004; Freedman et al., 2008).

    Em se tratando de exames complementares, a radiografia é fundamental na avaliação do alinhamento da coluna, ressaltando seu baixo custo e a acessibilidade. A mielografia também é amplamente utilizada, apresentando exatidão próxima de 85%, enquanto a tomografia computadorizada apresenta acurácia igual ou melhor, por possibilitar a distinção da origem da compressão. Quando combinada à mielografia, a capacidade diagnóstica atinge 96%. Estudos eletrofisiológicos são exames adjuntos capazes de identificar anormalidades na raiz nervosa, mas em pacientes com doença bem-definida seu uso é injustificável. O exame de ponta no diagnóstico da hérnia de disco cervical é a ressonância nuclear magnética (imagem 1). Brown et al (1998)., num estudo retrospectivo randômico, estudou 34 pacientes submetidos ao exame. A ressonância predisse corretamente 88% das lesões, contrário aos 81% da TC e mielografia, 57% pela miografia isolada e 50% pela TC sozinha. Essa modalidade de exame tem a melhor habilidade em mostrar tecidos moles, bem como o curso do nervo ao sair pelo forame (Brown et al., 1998; Carlos et al., 2010; Jason, 2010; John et al., 2011).

Tratamento conservador

    A terapia da hérnia de disco cervical é ampla e visa eliminar ou restaurar os sintomas do comprometimento sensorial, como dor e parestesia, bem como da função motora, relacionada à limitação da amplitude de movimento e perda de força muscular, seja na região cervical nos dermátomos e miótomos envolvidos na gênese da doença. O tratamento contempla o enfoque conservador e o enfoque cirúrgico, sendo que ambos podem apresentar resultados satisfatórios. O tratamento conservador inclui a abordagem farmacológica com analgésicos, relaxantes musculares e anti-inflamatórios; a fisioterapia via realização de exercícios e recursos eletrotermofototerápicos; órteses como o colar cervical e a correção postural. Analgésicos, como o acetaminofeno, descrito como primeira linha, tem alta eficácia e segurança. Os anti-inflamatórios não esteróides combatem a inflamação pela inibição da Cox e interferência na via do ácido araquidônico, sendo também considerados como primeira linha. Já os relaxantes musculares reduzem os espasmos, proporcionando alívio da tensão na musculatura. Antidepressivos e anticonvulsivantes podem ser administrados no tratamento da dor crônica, já que esta se associa a episódios depressivos. Injeções de corticosteróides aliviam a dor nas imediações das raízes nervosas comprometidas, ao passo que agentes opióides devem ser prescritos equilibradamente, evitando efeitos colaterais e dependência (Peolsson et al., 2014).

    A fisioterapia clássica consiste em exercícios que visam o relaxamento muscular, melhora da amplitude de movimento e ganho de força dos músculos cervicais e da cintura escapular. Recursos eletrotermofototerápicos são utilizados para o alívio da dor e inflamação e relaxamento muscular. Além desses, há a tração cervical, osteopatia, acupuntura, reeducação postural global (RPG) e isostretching. O uso do colar cervical minimiza movimentos inconvenientes, utilizado ainda em pacientes após o tratamento cirúrgico, podendo ser retirado caso o paciente se sinta seguro e consciente dos movimentos que pode executar. As orientações posturais visam evitar movimentos que possam sobrecarregar a região cervical, além de proporcionar uma postura adequada nas atividades laborais e afazeres domésticos. É relevante enfatizar a importância da “Back School”, ou “Escola de Postura”, que promove a conscientização acerca da importância da manutenção de exercícios e das atitudes posturais em relação a sua doença (Santos e Moreira, 2009; Eubanks, 2010; Peolsson, 2014).

Tratamento cirúrgico

    Alternativa quando o tratamento conservador é insatisfatório após 2 ou 3 meses de acompanhamento, ou quando o paciente apresenta grave comprometimento neural, com perda da função sensitiva e motora. Usualmente recomenda-se como intervenção para a hérnia de disco cervical a discectomia, em geral realizada por via anterior com ou sem artrodese do segmento. A nucleoplastia é uma técnica minimamente invasiva sem remoção discal, alternativa ao tratamento cirúrgico convencional para hérnias discais. Outra abordagem possível é o implante de um disco artificial, minimizando a compressão nervosa e preservando os movimentos, impedindo o surgimento de outras herniações próximas. Com a tendência a procedimentos cirúrgicos minimamente invasivos, houve a redução do risco de complicações secundárias para o paciente e dos custos hospitalares, além de altas mais rápidas. Enfatiza-se que o controle da evolução pode ser feito pela Escala de Frankel, descrita em 1969, que avalia o nível do comprometimento sensitivo e motor pela hérnia, servindo como um excelente parâmetro para a avaliação entre o pré e pós-operatório. As doenças ocupacionais têm implicações legais que atingem a vida do trabalhador. A Portaria GM n.º 777 do Ministério da Saúde, de 28 de abril de 2004, é descrita como sendo de notificação compulsória para vários agravos relacionados ao trabalho ou saúde ocupacional (Frankel et al., 1969; Tamayo e Paschoal, 2003; Wullems et al., 2014).

Considerações finais

    A hérnia de disco cervical é uma enfermidade que pode variar desde um simples desconforto, até uma condição altamente incapacitante, comprometendo sua funcionalidade no âmbito laboral e nas atividades de vida diária. Seu diagnóstico requer uma abordagem clínica minuciosa acompanhada de exames complementares. A terapia da hérnia de disco cervical é diversificada e dependerá da extensão da lesão e sua repercussão para o paciente. O tratamento conservador engloba o uso de fármacos, fisioterapia, colar cervical, além de reeducação postural, enquanto que no tratamento cirúrgico existe uma tendência à realização de procedimentos minimamente invasivos. Compreender os fatores relacionados à etiopatogenia, evolução clínica, tratamento e aspectos ocupacionais que envolvem a hérnia de disco cervical são de extrema importância para os profissionais que atuam no atendimento desses pacientes. A conduta terapêutica bem sucedida envolve a necessidade de uma investigação ampla e detalhada onde a experiência profissional e o conhecimento técnico baseado em evidências são fundamentais na tomada de decisões.

Bibliografia

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 21 · N° 215 | Buenos Aires, Abril de 2016
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