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Escola e Educação Física no Brasil: dois caminhos um objetivo

Escuela y Educación Física en Brasil: dos caminos un objetivo

School and physical education: two paths a goal

 

Universidade Regional de Blumenau-SC

(Brasil)

Me. Denis Augusto de Camargo

Dra. Gicele Maria Cervi

Ma. Milena Engels de Camargo

denisdecamargo@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Este trabalho foi elaborado por meio de pesquisa bibliográfica e utiliza de alguns autores como, Varela, Correa e Sibilia para o entendimento e compreensão da história e de toda esta máquina chamada escola, e outros autores como, Castellani Filho e Soares, com intuito de problematizar a Educação Física para além de uma perspectiva pragmática. Este artigo teve o objetivo de compreender o que já foi realizado e estudado para a escola e a educação física. Os estudos apontam para algumas compreensões dentre elas o entendimento sobre o motivo da educação física estar sendo mais estudada no âmbito físico, rendimento e estética, do que no âmbito social. Como acalento, mas não como desculpa, fica a idéia de que agimos e pensamos desta maneira pois estamos dentro de uma maquinaria que vai nos capturando e que é difícil livrar e mudar de conduta, pois, trata-se da produção de um corpo dócil, útil e participativo.

          Unitermos: História da escola. História da Educação Física. Política educacional.

 

Abstract

          This job was done through bibliographical and documentary research and used the theories of Varela, Correa and Sibilia for the understanding and comprehension of history and of all this machine called school; and Castellani Filho and Soares, with order of questioning physical education apart from a pragmatic perspective. This article aimed to understand what has been done and studied for education and physical education. The studies point to some understandings: physical education is being studied more in physical level, performance and aesthetics than in social context. As nurturing, but not as an excuse, the idea is that we act and think this way because we are in a machinery that capture us and that is hard to get rid of and change our.

          Keywords: School history. History of Physical Education. Educational policy.

 

Recepção: 06/03/2016 - Aceitação: 14/04/2016

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 21, Nº 215, Abril de 2016. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A escola e a educação física vêm sempre se atualizando. Por um lado, se tem, segundo Sibilia (2012), a escola sendo repensada, pois a máquina já não está mais servindo para os dias de hoje e então se reinventa a escola para que ela continue a cumprir o seu papel. Do outro lado está a educação física, cada vez mais voltada ao esporte espetáculo e lucro, cada vez menos voltada para as pessoas. A educação física desde seu momento de criação, século XIX, até hoje, século XXI, não tem registros de grandes mudanças e existem poucos trabalhos que tendem combater o modelo que foi criado e instaurado com o objetivo de disciplinar e assim contribuir para manter o controle sobre a sociedade.

    O estudo foi desenvolvido através de pesquisa bibliográfica relacionando as teorias encontradas sobre a escola e a educação física a fim de buscar uma compreensão sobre o atual momento da educação física no pais. Para problematizaremos como se é construído um corpo disciplinar que permite aceitar estarmos nessa situação de dominados e como nossos corpos foram ficando dóceis úteis e participativos, dialogaremos diretamente com Guilherme Correa, Julia Varella e Paula Sibilia, buscando uma compreensão sobre a educação e a escola, e para um entendimento sobre a educação física, com Lino Castellani Filho e Carmen Lúcia Soares. Posteriormente ao descrevermos os fatos históricos relacionamos a escola com a educação física e a proximidade dos dois contribuindo para o funcionamento da máquina.

Carteiras, mais cadeiras, mais quadros, mais salas, mais espaço, igual a: Escola

    Um grupo de pessoas sentados em suas cadeiras, pré-dispostas atrás de suas carteiras, com cotovelos calejados apoiados nela. Estão em uma sala com janelas e grades, um grande quadro negro à frente e uma figura sábia, conhecedora de muitos conteúdos, uma autoridade, perante aos que ali estão, o transferidor de conhecimentos.

    Para a maioria da sociedade isso nada mais é que uma sala de aula em uma escola comum, no entanto para autores como Foucault (1999), Varela (1992), Correa (2006) e Cervi (2010), esse lugar comum, a escola, é uma máquina, e o que produz são corpos dóceis politicamente e úteis economicamente (Foucault, 1999), segundo Varela (1992), a escola é um instrumento que marca, naturaliza, funciona com seus dispositivos que vão construindo subjetividades capazes de deixar cada um maleável, para que possa te moldar. “Houve, durante a época clássica, uma descoberta do corpo como objeto e alvo de poder. Encontraríamos facilmente sinais dessa grande atenção dedicada então ao corpo – ao corpo que se manipula, se modela, se treina, que obedece, responde, se torna hábil ou cuja forças se multiplicam” (Foucault, 1999, p. 110).

    Correa (2006), quando escreve O Que é Escola? Traz dois movimentos importantes de pedagogização, o primeiro é quando se dá a educação escolar no Brasil, com a vinda das missões jesuíticas ao Brasil em 1549 e o segundo pela ação dos militares na década de 60.

    Com o afastamento dos Jesuítas por Pombal, em 1750, se instituem novas práticas culturais e pedagógicas, fundamentadas no Iluminismo. Em 1772 foi implantado o ensino público oficial, onde a coroa passou a nomear os professores, estabeleceu planos de estudo, instituiu aulas régias, criou novos cargos como o de diretor geral de estudos e escolas de novas ordens religiosas como Carmelitas, Beneditinos e Franciscanos. As aulas deixaram de ser pertencentes à igreja e passaram a pertencer ao Estado.

    Segundo Gallo (2006) desde a origem da escola já se tem denúncias sobre o modelo criado. Sabendo que o poder público se aproveitava para obter benefícios próprios, por meio da promoção e reprodução social de interesse do Estado. No Brasil, após o Estado assumir o comando das escolas, logo trataram de fazer o mesmo. A criação da escola pública, pelo Estado, teve um papel decisivo de servir como instrumento de identidade nacional, uma padronização do saber e com isso um modelo fiel e correto para todos. Essas reformas colocam a educação com o mínimo necessário para uma vida contemporânea, deixando todos dependentes do sistema e controlados pelo Estado (Correa, 2006).

    Nos anos 70, houve um grande crescimento de escolas públicas no Brasil, incentivadas e iniciadas em 1827 por Dom Pedro I com a seguinte lei “criar escolas de primeiras letras em todas as cidades, vilas e lugares mais populosos”, mas o que de fato ocorreu foi a criação de diretrizes e bases para a mesma. O ensino passa a ser direcionado para a formação de personalidades, condutoras de um povo, tendo como formação a educação militar. É neste mesmo período que os interesses dos EUA crescem, com o intuito de impedir o avanço dos países Latino Americanos, isto inclui o Brasil, formalizando e mantendo-os de acordo com seus interesses (Correa, 2006).

    Na década de 80 após a queda do regime militar houveram importantes avanços em pesquisas, sendo elas de cunho teórico ou prático, com olhares voltados à análise crítica da realidade educacional no país, “embora tenham havido importantíssimos avanços principalmente do ponto de vista da produção teórica, como a produção de pesquisas em ensino, são mantidas intocadas estruturas básicas que caracterizam a escola” (Correa, 2006, p. 72).

    A educação que vivenciamos hoje, século XXI, nas escolas públicas ou privadas é controlada e limitada por leis que envolvem um complexo controle sobre o tempo, saberes e corpos que são exercidas por meio de programas de ensino, seleções de conteúdo, regras, horários, avaliações, entre outros. Analisando o que Correa (2006) nos traz, tiramos alguns processos que garantem este controle ao Estado, invenção de espaços próprios para a educação, controle de tempo em que as atividades se desenvolvem, seleção dos saberes, relação saber-capacidade, desqualificação de outras práticas educacionais, obrigação de freqüência, forçando os alunos a terem o mínimo de faltas, para que não fujam do controle, seriar, uniformizar a forma de ação educacional, avaliar, medir o conhecimento especifico do aluno, e certificar, transformar o estudante em profissional habilitado para exercer determinada função.

    Interessante é pensarmos em toda a história da escola e procurar grandes diferenças para os dias de hoje. Cervi (2010) trata toda esta história da educação como fluxos, onde cada diferente modelo de educação teve seu início em determinada época, porém, não teve um fim.

    Não muito distante de toda essa história sobre a escola está a educação física, que vem um pouco mais tarde do que a escola, no entanto, chega para ficar, colaborando com as idéias e contribuindo para que a escola se fortaleça.

A Educação Física criada e executada

    A educação física pode ser entendida como algo bom, de importância para todos, por suas características únicas de desenvolvimento do homem, seja para força, destreza, agilidade física e de raciocínio, coordenação motora ou para saúde, tornando-se indispensável à formação da criança/atleta, adolescente/atleta e futuro adulto/atleta (Castellani Filho 2005).

    O entendimento predominante na educação física veio até nós apenas com o intuito de beneficiar os indivíduos ou a sociedade de alguma forma, desde quando surgiu no final do século XIX até os dias de hoje, sendo ela, Higienista, Militarista, Pedagogicista, Competitivista ou Popular. Castellani Filho (2005) nos atenta para que o fato de a história da educação física brasileira ser compreendida desta maneira é que muitos autores laçaram mão do levantamento de dados coletados por Inezil Penna Marinho, que dispõe a respeito de uma história aprofundada da educação física no Brasil.

    A primeira forma de educação física que chega ao Brasil é a higienista, e tinha como principal objetivo resolver o problema de saúde pública no país por meio das escolas. Esta foi uma concepção que se preocupou em deixar a sociedade mais saudável, livrando-a das doenças infecciosas, por meio de corpos saudáveis e comportamentos adequados para se viver em sociedade (Castellani Filho, 2005).

    Soares (1994) destaca que o médico servia como tutor do professor de educação física, desta maneira, a educação física não estava relacionada só as atividades físicas, como também, diretamente ligada aos cuidados com a saúde das crianças e com a higiene da classe. Deixando clara a importância da disciplina higiênica, fazendo com que se torne habitual o cumprimento destas tarefas.

    Castellani Filho (2005) aponta que a educação física brasileira sempre foi influenciada por militares, no entanto só foi imposta por meio de decreto a todo país em 1921. Posteriormente em 1931, quando se deu o início da vigência da legislação que colocou a educação física como disciplina obrigatória nos cursos secundários, conhecida por Método do Exército Francês, serviu de base para fundar a Escola de Educação Física do Exército. A educação física militarista tinha como um de seus objetivos a obtenção de jovens combatentes, deixando seus corpos fortes, saudáveis e capazes de suportar as guerras e as lutas.

    Todo trabalho desenvolvido, por meio da ginástica, esporte e exercícios diversos, só seriam úteis se fossem direcionados a selecionar futuros “guerreiros”. “a Educação Física no Brasil [...] foi entendida como um elemento de extrema importância para forjar daquele indivíduo “forte”, “saudável” indispensável à implementação do processo de desenvolvimento do país” (Catellani Filho, 2005, p.39).

    Com a obrigatoriedade da educação física no contexto escolar, a educação física passa a ter um olhar mais pedagogicista, buscando não apenas promover a saúde e preparar os jovens para a função de combatentes, mas sim de educar por meio de seus movimentos. E assim segue até o esporte, progressivamente, ganhar espaço em meio a sociedade, e a idéia que se tinha de uma educação física neutra e educadora, passa a ter uma grande importância quando objetiva a capacitação de talentos dentro da escola, tendo como foco a educação física como formadora de atletas. A educação física passa a ter um apelo à competitividade (Castellani Filho, 2005).

    A especialização em uma determinada modalidade abriu espaço para uma educação física tecnicista, ela teve sua grande força na Ditadura Militar, onde o objetivo era de tornar o Brasil uma grande potência mundial inclusive nos esportes. Nesta mesma época é que surgem os interesses e investimentos em estudos sobre treinamentos esportivos, fisiologia, biologia, biomecânica, entre outros voltados a melhora da performance, na técnica especifica de um determinando esporte (Soares, 1992).

    Após este breve entendimento sobre a escola e sobre a educação física, pretendemos estabelecer aproximações e ver como as engrenagens estão encaixadas e lubrificadas dando continuidade ao seu bom funcionamento.

A Educação Física: mantendo a máquina em seu funcionamento

    A educação física entra e acompanha este funcionamento da máquina, para o qual foi criada e desenvolvida, adicionando algumas dificuldades para aqueles que tentam não ser disciplinados.

    Quando a educação física higienista chega, com intuito de solucionar problemas relacionados a epidemias e doenças, tinha um papel fundamental para “...criar um corpo saudável, robusto e harmonioso organicamente. Porém, ao assim fazê-lo, em oposição ao corpo relapso, flácido e doentio do indivíduo acabou contribuindo para que esse corpo fosse representante de uma classe e de uma raça” (Catellani Filho, 2005, p.43), servindo de incentivo para o racismo e aumentando assim os preconceitos sociais, com o objetivo de poder explorar e manter explorado em nome de uma supremacia racial e social (Costa, 1989).

    A educação física no Brasil vem atrelada aos ideais eugênicos, como uma forma de fortalecimento da raça branca. Os higienistas tinham todo um controle familiar, embasado na política populacionista elaborada pelo Estado Novo, com o objetivo de dar uma identidade racial com predominância branca, “figurando em congressos médicos, em propostas pedagógicas e discursos parlamentares” (Soares, 1994, p.25).

    De acordo com Soares (1992) as teorias raciais serviram de instrumentos nas mãos dos burgueses para ter uma explicação quanto ao domínio da classe, pois eles seriam os únicos capazes de manter a Ordem na sociedade e como resultado desta ordem mantida pela burguesia obter o Progresso.

    Cervi (2010) mostra que a Constituição de 1934 tem 16 artigos sobre a educação, dentre eles está a educação como um direito a todos, incluindo a classe trabalhadora. Algumas reformas em 1937, já então no Estado Novo, nas chamadas leis Orgânicas da Educação colocam a educação de uma maneira que se tenha: “Um tipo de escola para cada tipo de escolar. A escolarização apareceu enquanto uma preocupação militar e representou o caminho para a construção de um novo homem [...]” (p. 87)

    Aos poucos a educação física Higienista foi sendo absorvida pela Educação Física Militarista, um forte argumento para que ocorresse esta absorção é que as primeiras escolas de educação física no país foram de origem militar, com isso os médicos começaram a deixar de serem responsáveis pela educação física, vindo à tona a educação física militarista (Correa, 2006).

    A educação física militarista vinha bem a calhar, pois diferentemente de outros países que incluíram a educação física no contexto escolar devido as suas perdas em guerras, o Brasil não tinha este objetivo militar de formar soldados fortes para combaterem na guerra. Seu principal objetivo era militarizar a sociedade, começando pelos escolares e depois de fixar-se ao corpo, passariam aos seus pais e disseminariam a educação militarista a todos. “A Educação Física [...] absorveu o gosto pelas leis, pelas normas, pela disciplina, pela organização da forma” (Soares, 1992, p. 62).

    Com o fim da Segunda Guerra Mundial voltava a democracia ao país, a Constituição de 1946 tinha como características a democracia, o liberalismo e a educação, nas palavras de Cervi (2010, p.88), “em termos de escolarização, foi inspirada nos princípios proclamados pelos pioneiros da Escola Nova”. A educação física segue pelo mesmo caminho, pedagogicista, tendo um grande aumento em trabalhos, estudos e congressos sobre a educação física escolar, influenciada pelas teorias pedagógicas de Dewey, mudando a maneira de pensar a prática da educação física, e do professor.

    A Escola passa a olhar para a educação física com o intuito de fazer com que a juventude aceite melhor as regras de convívio, que adquira hábitos fundamentais para sua formação. Ao assim fazer, deixa a educação física com responsabilidades como: fanfarras, desfiles públicos, jogos escolares e festas típicas, as quais as outras disciplinas não dariam conta de cuidar, ficando a cargo da educação física a formação do cidadão de maneira integral. (Castellani Filho, 2005)

    O esporte esteve acompanhou a educação física em seus momentos de mudança, surgiu através dos ingleses quando colocaram regras para o mesmo, inventando e colocando como forma de competição muitos dos esportes da era moderna. O esporte ganha sua maior força no Brasil no mesmo momento em que os avanços obtidos para a educação sofrem interferência internacional, de modo que a educação do Brasil se volte a consolidação do capitalismo.

    Grandes pensadores e reformistas da educação brasileira, como Paulo Freire e Darcy Ribeiro, foram exilados, outros foram aposentados compulsoriamente e afastados de seus cargos. O atual Governo tinha grande interesse no desenvolvimento de programas educacionais que visavam aumentar a capacidade produtiva. “Na educação escolar, o período ditatorial pautou-se pela repressão, privatização de ensino, institucionalização do ensino profissionalizante, criação dos especialistas, ênfase no planejamento e tecnicismo pedagógico, e obrigatoriedade escolar” (Cervi, 2010, p.95).

    O esporte nacional se desenvolve e muito nesta mesma época, muitos autores colocam como a melhor época do esporte no Brasil, segundo Oliveira (2012, p. 43), “foi o propósito político da ditadura militar”, onde teve uma maior disseminação do esporte de rendimento, aumentando assim a quantidade de ginásios e investimentos em todas as áreas voltadas para esporte, tanto da saúde quanto da ciência, melhorando as tecnologias para aprimoramento do esporte. Uma clara produção de homens úteis para a sociedade (Soares, 1992).

    Colocando nos ideais de Platão (2003), para o esporte na escola, poderíamos pensar da seguinte maneira:

    O que tínhamos no passado pode não estar claramente presente nos dias de hoje e talvez não o percebamos no futuro, o que temos não é uma enorme mudança, mais sim atualizações, tanto na escola quanto na educação física. Um exemplo é a escola ainda servir como base para formação de atletas, analisando o PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais), vemos que primam a pluralidade cultural com objetivos na técnica esportiva, não é especificamente voltada ao tecnicismo, mas está presente.

    O esporte está em sintonia com os tempos e com os movimentos do capitalismo. No esporte você é obrigado a cumprir horários, a seguir as regras, a obter excelência nas técnicas, a ter disciplina, e, acima de tudo, sempre ter em mente a vitória. Neste mesmo pensamento capitalista podemos englobar o consumismo, afinal não conseguimos praticar um determinado esporte sem ter a roupa adequada. Cada vez mais somos levados ao desejo de vitória, impulsionados pelas mídias que nos dizem que não basta apenas praticar alguma atividade física, mas sim, é preciso estar no meio competitivo. Somos constantemente incentivados a participar de maratonas aquáticas, corridas de rua, passeios ciclísticos, torneios de todos os tipos, e por mais que o objetivo seja só para participar, precisamos pagar as altas taxas de inscrição, para ver apenas uma pessoa ganhar entre tantas mil participantes.

    Com o fim da Ditadura Militar, ocorrido em 1985, voltam os estudos e pesquisas a respeito da educação no país, com inserções de novas leis e novos propósitos para a educação no Brasil. Na educação física também surgem muitos trabalhos, artigos e congressos referentes aos novos olhares voltados para a vertente escolar, no entanto a educação física competitivista ainda está fortemente presente em nosso meio, facilmente notada por meio de jogos escolares, competições municipais, estaduais e nacionais. A maioria das literaturas que criticam a educação física datam de 1985 até 1992, dando a entender que estavam afoitos para publicar durante a ditadura e depois de publicar e discutir em vários congressos.

    A educação física também pode ser autônoma, é praticada por todos, sem a necessidade de um especialista, emerge de uma prática social ligada aos grupos de trabalhadores e populares, grupos que se reúnem para ter esta prática como forma de lazer e descontração após o labore. A prática dessa educação física autônoma seria um momento de descontração e lazer, ao pensarmos que estamos agindo de forma livre e autônoma, no entanto Castellani Filho (2005) nos aponta que está prática foi inserida como um meio de estarmos ocupados em nossas horas de folga, para que possamos desenvolver em nós intelectos do tipo raciocínio rápido, atenção, iniciativa, controle, memória e julgamento, proporcionando um desenvolvimento físico, muscular, pulmonar, uma melhor circulação sanguínea e um regulamento das funções orgânicas, fazendo com que tenhamos corpo e mente preparados para a atividade laboral, ficando sempre prontos para o trabalho e não tendo espaços e tempos de folga para refletirmos sobre nossas ações.

    Temos ainda, inserida no dia a dia do trabalhador, a ginástica laboral. Ela pode ser preparatória, antes da jornada de trabalho, compensatória, no meio do expediente, ou de relaxamento ao final do expediente. Essa ginástica se enquadra muito bem para os dias de hoje, pois não pensemos que foi criada para favorecer o funcionário, essa ginástica nada mais é que, mais um instrumento de controle para nos mantermos saudáveis, o que nos remete ao objetivo da criação da educação física, e assim o mercado se vangloriar ao dizer que, depois de inserir a ginástica os números de afastamento por problemas médicos caíram, desta maneira o trabalhador pode produzir mais e levar menos prejuízo para a empresa. Mantendo assim a máquina operária em ótimo estado para dar bons resultados.

Considerações finais

    Após as análises das teorias concordamos que realmente a escola e a educação física se atualizam. Embora pareçam distintas estão ligadas aos mesmos objetivos hegemônicos e ambas têm propósitos de deixar os corpos dóceis e obedientes, cada uma com suas ferramentas que complementam a máquina. E assim somos guiados cegamente e contribuímos ao funcionamento da máquina sem percebemos, e quando nos deparamos com a situação ao qual nos encontramos é difícil nos livrarmos pois o que foi incutido em nós por tanto tempo é de difícil desapego, cabendo a muitos a aceitação.

    Se levarmos essas teorias como única fonte de verdade poderemos cair em descrédito, tanto com a escola quanto à educação física, esporte, e não mais querer fazer parte do sistema, ao assim fazer poderemos cair no limbo. No entanto, cabe a nós buscarmos alternativas de nos infiltrarmos no sistema e procriarmos vírus contra ele, pois nós professores somos quem estamos frente a frente com nossos alunos, somos o elo que nos liga a eles. A escola e a educação física têm que fazer parte da vida dos alunos e nós professores temos que ensinar a eles não só o conteúdo dos currículos como também a viver sendo críticos e livres. Talvez se seguirmos uma outra literatura da qual somos impostos e percorrermos diferentes caminhos, deixaremos de ser tão disciplinados, poderemos encontrar uma gama de possibilidades para usufruir de uma melhor educação física.

Bibliografia

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 21 · N° 215 | Buenos Aires, Abril de 2016
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