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Avaliação da distorção da imagem corporal e do desenvolvimento

de transtornos alimentares em universitários da área da saúde

Evaluación de la distorsión de la imagen corporal y el desarrollo de trastornos de la alimentación en estudiantes del área de la salud

 

*Nutricionista graduado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie

**Nutricionista, mestre e doutora em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo

Docente dos cursos de graduação em Nutrição e Tecnologia

em Gastronomia da Universidade Presbiteriana Mackenzie

(Brasil)

Rafaella Fernandes Bacelar*

Alisson Diego Machado*

Edeli Simioni de Abreu**

edelisabreu@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          No padrão estético corporal atual, há uma supervalorização de um corpo magro, esguio, definido e musculoso como sinal de beleza, impondo as mulheres que se encontram insatisfeitas com seu corpo formas rápidas para controlar o peso. O estudo teve por objetivo avaliar a distorção da imagem corporal e o desenvolvimento de transtornos alimentares em universitárias da área de saúde. Foi realizado um estudo transversal com 87 universitárias da área da saúde. Para avaliar a imagem corporal, foi aplicado o questionário “Body Shape Questionnaire (BSQ)” - cada questão do questionário é composta por seis alternativas de resposta, que variam do “sempre” ao “nunca”. 21 universitárias (24,13%) apresentaram padrão de normalidade e ausência de distorção da imagem corporal; 22 (25,28%) universitárias tiveram a soma do questionário foram classificadas como leve distorção da imagem corporal; 21,8% das universitárias estão classificadas com presença de moderada distorção da imagem corporal e 25 (28,73%) das 87 estudantes são classificadas como grave distorção da imagem corporal. Houve alta prevalência de distorção da imagem corporal entre as universitárias, o que demonstra a tendência atual do aumento da incidência de transtornos alimentares em mulheres jovens.

          Unitermos: Transtornos alimentares. Anorexia. Bulimia.

 

Abstract

          In the current body aesthetic standard, there is an overvaluation of a lean, lean, muscular and defined as a sign of beauty, imposing women who are dissatisfied with their bodies fast ways to control weight, as highly restrictive diets, as well as dietary fads, which are increasingly advertised by the media. This study aimed to evaluate the distortion of body image and the development of eating disorders in students of health care in a university in the state of São Paulo. The study was cross-sectional and took place between February and October 2013. To assess the body image questionnaire was applied "Body Shape Questionnaire (BSQ)" - each question of the questionnaire consists of six responses alternatives, ranging from "always" to "never”. Procedures complied with the terms of research ethics, and project participants signed an informed consent form. A total of 87 students evaluated : 21 (24.13 %) were the sum of the 34 items of the questionnaire, less than 70, it means that these individuals are considered within a normal range and are considered no distortion body image; 22 ( 25.28 %) had university the sum of the questionnaire between 70 and 90 points, then, are classified as mild distortion of body image, 21.8 % of university students are classified with moderate presence of body image distortion because the sum of the questionnaire was answered by those between 91 and 110 and 25 ( 28.73 % ) of the 87 students are classified as severe body image distortion, because the sum of their questionnaires were higher than 110 points. There was a high prevalence of body image distortion between the university, which shows the current trend of increased incidence of eating disorders in young women.

          Keywords: Eating disorders. Anorexia. Bulimia.

 

Recepção: 29/01/2016 - Aceitação: 26/03/2016

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 21, Nº 215, Abril de 2016. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    No padrão estético corporal atual há uma supervalorização de um corpo magro, esguio, definido e musculoso como sinal de beleza, poder e até mesmo saúde. Esse padrão de beleza, que tem sido cada vez mais rigoroso, cria uma situação de frustração, baixa autoestima, além de discriminação entre aqueles que não se inserem nessa regra. Isso pode potencializar, nesses indivíduos, o surgimento de transtornos alimentares (Silva et al., 2012).

    Transtorno alimentar é um termo amplo usado para apontar qualquer disfunção no padrão dos comportamentos alimentares. Esses comportamentos, que geralmente se iniciam na infância e adolescência, são de origem multifatorial e são resultantes da soma de fatores genéticos, familiares, pessoais, socioculturais e psicológicos, principalmente quando se trata da preocupação excessiva com o peso e com os alimentos (Souto et al., 2006).

    O maior grupo de risco para o desenvolvimento desses transtornos é o de adolescentes e mulheres jovens, por sofrerem maior pressão da sociedade, cultural e por serem mais vulneráveis (Oliveira et al., 2003).

    Essas síndromes geralmente se estendem por um longo período de tempo sem serem diagnosticadas, e isso ocorre, principalmente, devido ao fato de que o individuo nega a própria condição patológica. Ou seja, devido à existência de certo tabu em torno dos sintomas dos transtornos alimentares. Essa demora no diagnóstico pode contribuir para o desenvolvimento de doenças associadas, sendo prejudicial à saúde (Magalhães et al., 2005).

    Os transtornos alimentares mais frequentes são a anorexia nervosa e a bulimia nervosa. Indivíduos com anorexia apresentam grande restrição alimentar autoimposta com o objetivo de perder peso cada vez mais. Esses indivíduos são obcecados pela magreza, e, isso os leva a comportamentos que incluem a redução exagerada da ingestão alimentar ou à utilização de métodos de purgação autoinduzidos ou à prática compulsiva de atividades físicas (Oliveira et al., 2003).

    A bulimia nervosa é caracterizada pela grande ingestão de alimentos com sensação de perda de controle, que são chamados de “episódios bulímicos”. A preocupação exagerada do individuo com o peso e imagem corporal faz com que este use métodos compensatórios inadequados para não engordar. Esses métodos são: vômitos autoinduzidos, uso de laxantes ou diuréticos ou até mesmo inibidores de apetite, dietas e exercícios físicos (Cordás, 2004).

    Segundo Silva et al. (2012), a prevalência dos transtornos alimentares aumenta para 35% entre alunos estudantes de nutrição. Isso ocorre principalmente pelo fato de que essa profissão remete a uma preocupação constante com a aparência física e a boa forma, além do conhecimento aprofundado que esses profissionais têm que ter diante dos alimentos.

    A literatura aponta uma prevalência maior de transtornos alimentares em certos grupos profissionais que lidam com aspectos relacionados à nutrição e à saúde e nos quais a aparência física é importante. Entre estes estão educação física e nutrição (Bosi et al., 2006a; Laus et al., 2009).

    Supõe-se que pessoas que se preocupam mais com seu peso e imagem corporal optem por esses cursos por terem certo interesse pessoal por esse tema, porém, essa preocupação excessiva com a imagem corporal também pode começar a surgir durante o curso, devido ao fato de que esses indivíduos começam a ter um maior conhecimento sobre esse tema e começam a perceber que a sociedade impõe que estes tenham que ter uma boa aparência física (Laus et al., 2009).

    Considerando-se o exposto, o presente estudo teve por objetivo avaliar a distorção da imagem corporal e o desenvolvimento de transtornos alimentares em universitárias da área de saúde.

Metodologia

    O estudo realizado foi de delineamento transversal. A pesquisa foi realizada em uma universidade localizada no município de São Paulo entre os meses de fevereiro a outubro de 2013. A população estudada foi constituída por universitárias de cursos da área da saúde (Nutrição, Psicologia e Farmácia).

    Para avaliar a imagem corporal, foi aplicado o questionário “Body Shape Questionnaire (BSQ)” - cada questão do questionário é composta por seis alternativas de resposta, que variam do “sempre” ao “nunca”. Para cada alternativa escolhida são conferidos pontos que variam de acordo com o Quadro 1.

Quadro 1. Pontuação do Body Shape Questionnaire

    O resultado do teste foi a somatória dos 34 itens contidos no questionário, e a classicação dos resultados remete os níveis de preocupação com a imagem corporal, apresentados no Quadro 2.

Quadro 2. Score do Body Shape Questionnaire

    O software utilizado para a tabulação do banco de dados foi o Excel®, versão 2010. A diferença na pontuação entre os cursos foi avaliada pela análise de variância, utilizando-se o software SPSS versão 20.0. Os procedimentos respeitaram os termos de ética em pesquisa, e os participantes do projeto assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido, sendo que o projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética Interno em Pesquisa, sob o número Nº 11/04/13.

Resultados

    Das 87 universitárias avaliadas, 29 (33,3%) são do curso de Nutrição, 29 (33,3%) são do curso de Psicologia e 29 (33,3%) do curso de Farmácia. A faixa etária variou entre 18 e 23 anos.

Tabela 1. Porcentagem e analise estatística do grau de distorção corporal em universitários da área de saúde. São Paulo, 2013

    De acordo com a Tabela 1 é possível verificar que existe prevalência de distorção da imagem corporal em todos os cursos avaliados, e uma analise estatística mais detalhada demonstrou que a distribuição dos graus de distorção de imagem corporal entre os diferentes cursos avaliados não apresentou diferença estatisticamente significativa (p>0,05).

    Na Figura 1 pode ser observado o grau de distorção (normal, leve, moderado e grave) de todas as estudantes que participaram do estudo.

Figura 1. Distribuição do grau de distorção de imagem corporal em universitárias. São Paulo, 2013

    Do total de estudantes avaliadas, 21 (24,13%) tiveram a soma dos 34 itens do questionário menor que 70, sendo que isso significa que esses indivíduos são considerados dentro de um padrão de normalidade e são tidos como ausência de distorção da imagem corporal; 22 (25,28%) universitárias tiveram a soma do questionário entre 70 e 90 pontos, logo, estas são classificadas como leve distorção da imagem corporal; 21,8% das universitárias estão classificadas com presença de moderada distorção da imagem corporal, pois a somatória do questionário respondido por estes foi entre 91 e 110 pontos e 25 (28,73%) das 87 estudantes são classificadas como grave distorção da imagem corporal, pois a somatória de seus questionários foram superiores a 110 pontos.

    Na Figura 2 está representado o grau de distorção das alunas do curso de Nutrição.

    Das 29 (100%) alunas de Nutrição que foram avaliadas, 6 (20,68%) estão dentro do padrão de normalidade e apresentam ausência de distorção da imagem corporal; 5 (17,24%) possuem leve distorção da imagem corporal; 8 (27,58%) são considerados com moderada distorção da imagem corporal e 10 (34,48%) possuem grave distorção da imagem corporal.

Figura 2. Distribuição do grau de distorção de imagem corporal

das alunas do curso de Nutrição. São Paulo, 2013

    No curso de Psicologia, dentre as 29 (100%) alunas que foram estudadas, 4 (13,79%) estão dentro do padrão de normalidade, ou seja, não apresentam distorção da imagem corporal; 11 (37,9%) dos 29 universitárias possuem leve distorção da imagem corporal; 7 (24,13%) tem moderada distorção e 7 (24,13%) são classificadas como grave distorção da imagem corporal, como pode ser observado na Figura 3.

Figura 3. Distribuição do grau de distorção de imagem corporal

dos alunos do curso de Psicologia. São Paulo, 2013

    Em relação ao curso de Farmácia, 11 (37,9%) foram classificadas com ausência de distorção da imagem corporal; 6 (20,68%) com leve distorção da imagem corporal; 4 (13,79%) com moderada distorção e 8 (27,5%) apresentaram grave distorção da imagem corporal.

Figura 4. Distribuição do grau de distorção dos alunos do curso de farmácia São Paulo, 2013

Discussão

    No presente estudo foi verificado que existe prevalência de distorção da imagem corporal em todos os cursos avaliados (Nutrição, Psicologia e Farmácia), sendo que não houve diferença na distribuição da pontuação entre os cursos, demonstrando a alta frequência desse tipo de distorção em universitárias de cursos da área da saúde.

    Laus et al. (2009) realizaram um estudo em que foram avaliadas as diferenças na percepção da imagem corporal, no comportamento alimentar e no estado nutricional de universitárias da área de saúde e humanas, e de acordo com a análise feita pela autora, não houve diferença estatística em relação a distorção da imagem corporal entre as áreas de saúde e de humanas estudadas, fato que pode ser comparado com o presente estudo, considerando que a distorção da imagem corporal também não foi estatisticamente diferente entre os cursos da área da saúde pesquisados.

    A maioria das pesquisas nacionais realizadas sobre percepção de imagem corporal e comportamento alimentar são feitas com alunos dos cursos de Nutrição e Educação Física, sendo poucos os trabalhos que avaliam universitários em mais de 3 cursos de graduação da área da saúde.

    Dados do estudo de Penz et al. (2008) mostraram uma prevalência de 75,8% das futuras nutricionistas dentro do limite de normalidade, valor este bem superior em relação ao valor constatado na presente pesquisa, que consiste em apenas 20,68% das universitárias do curso de Nutrição dentro do padrão de normalidade e com ausência de distorção da imagem corporal.

    Bosi et al. (2006b) utilizou o BSQ para avaliar o grau de distorção da imagem corporal, mesmo instrumento utilizado no presente estudo, porém com resultados muito diferentes, visto que a classificação por níveis de preocupação com a imagem corporal apontou que 59,6% das estudantes do curso de Nutrição não apresentam alteração da auto-imagem corporal e apenas 6,2% possuem grave distorção, enquanto no presente estudo, apenas 20,68% das universitárias do curso de Nutrição foram classificadas dentro do padrão de normalidade e 34,48% classificadas com grave distorção.

    Um estudo realizado por Stipp et al. (2003) comparou a prevalência de transtornos alimentares e distorção da imagem corporal entre estudantes de graduação dos cursos de Nutrição e Psicologia, e foi concluído no estudo que 6,7% das estudantes de nutrição e 3% das estudantes de psicologia possuem distorção intensa. Os resultados do presente estudo não corroboram os dados da literatura, uma vez que no presente estudo a presença de distorção grave nos cursos de Nutrição e Psicologia apresentaram porcentagens bem mais altas, com valores de 34,48% e 24,13%, respectivamente.

    Embora não existam estudos na literatura referentes à distorção da imagem corporal e transtornos alimentares especificamente em estudantes do curso de
Farmácia, um estudo realizado por Laus et al. (2009) concluiu que existe uma alta prevalência de distorção de imagem corporal associada à grande incidência de comportamentos alimentares inadequados em alunas da área da saúde, bem como observado no presente estudo.

Conclusão

    Os resultados do presente estudo demonstraram alta incidência de distorção de imagem corporal em todos os cursos. A alta incidência de distorção da imagem corporal associada à grande prevalência de comportamento alimentar inadequado no grupo de alunas da área da saúde demonstra uma possível susceptibilidade dessas alunas ao desenvolvimento de transtornos alimentares. É importante ressaltar que se tratando de futuras nutricionistas, o impacto desse achado é ainda mais relevante, tendo em vista o papel do nutricionista no manejo desses quadros.

Bibliografia

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 21 · N° 215 | Buenos Aires, Abril de 2016
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