Investigação dos acidentes perfurocortantes em profissionais da área de enfermagem de um hospital público do Ceará Investigación de los accidentes perfurocortantes en profesionales del área de enfermería de un hospital público Investigation of needle stick accidents in nursing professionals of a public hospital of the Ceara |
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*Especialização em Enfermagem do Trabalho Faculdade Vale do Jaguaribe **Laboratório de Anatomia Campus, Picos da Universidade Federal do Piauí ***Laboratório NEMPI, Departamento de Morfologia da Universidade Federal do Ceará ****Educador Físico, Pós-Graduando pela Faculdade da Grande Fortaleza *****Departamento de Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal da Paraíba (Brasil) |
Eveline da Costa Pierre* Maria Nubia Mendes de Oliveira* Maria Solange Nogueira dos Santos* Iolanda Gonçalves de Alencar Figueiredo** Dainesy Santos Martins*** Thiago Araújo Meneses Leite Sales** Deiziane Viana da Silva Costa*** Gutierres Bernardo de Freitas*** Tereza Maria da Silva Ferreira* Francisco Rafael Oliveira da Silva**** Thompson Lopes de Oliveira***** |
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Resumo Os acidentes perfurocortantes representam para os trabalhadores da enfermagem um grande risco em se contaminar com material biológico, na intenção de diminuir esses riscos são utilizadas normas de biossegurança. O estudo objetivou identificar os acidentes de trabalho ocorridos com os trabalhadores de enfermagem de um hospital público de Paracuru, Ceará (CE). Realizou-se um estudo descritivo quantitativo, com 23 profissionais de enfermagem, através da aplicação de um questionário semiestruturado. Verificou-se que 39,13% dos entrevistados sofreram algum tipo de acidente perfurocortante nos últimos seis meses. Os fatores contribuintes para a ocorrência dos acidentes entre os trabalhadores foram falta de atenção (47,9%), seguida por estresse/pressa (43,4%) e acontecimentos inesperados (8,7%). Constatou-se que acidentes com perfurocortantes ocorridos com os trabalhadores de enfermagem ocorrem por falta de atenção e que campanhas educativas associadas a treinamentos podem diminuir a incidência desses acidentes. Unitermos: Acidentes. Exposição a agentes biológicos. Exposição ocupacional. Saúde do trabalhador. Saúde Pública.
Abstract The needle stick injuries mean to nursing workers a great risk to be contaminated with biological materials, in an attempt to diminish these risks biosafety standards are used. The study aimed to identify occupational accidents occurred with the nursing workers of a public hospital in Paracuru, Ceara (CE). We conducted a quantitative descriptive study with twenty-three nursing professionals, by applying a semi-structured questionnaire. We found that 39.13% of respondents suffered some kind of needle stick accident over the last six months. The factors leading to the occurrence of accidents among nursing workers were lack of attention (47.9%), followed by stress (43.4%) and unexpected events (8.7%). We evidenced that the lack of attention was the main cause of sharps injuries among nursing workers. Educative campaigns attached to the training can lower the incidence of these accidents. Keywords: Occupational exposure. Endemic agent. Insecticides. Medicine. Health Public.
Recepção: 09/10/2015 - Aceitação: 12/03/2016
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 21, Nº 215, Abril de 2016. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Os acidentes perfurocortante envolvendo a equipe de enfermagem é um problema profissional constante que ocorrem geralmente devido à falta de treinamento e atenção do profissional. Esse tipo de acidente pode expor o profissional a diversas doenças como AIDs, hepatite B, C e D, Sífilis entre outras doenças.
O risco ocupacional de adquirir uma infecção por exposição a material biológico contaminado é real, e depende da extensão da lesão, o volume de condições do sistema de fluido de a vítima do acidente, características dos microrganismos presentes, condição clínica do paciente-fonte, e os procedimentos pós-exposição realizada (Pinelli e Garcia, 2014).
Considera-se que o risco de transmissão ocupacional do HIV é de 0,3% para a exposição percutânea e de 0,09% para a exposição ocupacional em membranas mucosas (Brasil, 2006). Os acidentes de trabalho ocasionados por material perfurocortante entre trabalhadores de enfermagem são freqüentes, devido ao número elevado de manipulação, principalmente de agulhas, e representam prejuízos aos trabalhadores e às instituições e representam cerca de 80 a 90% das infecções por doenças contagiosas entre os profissionais de saúde (Marziale et al., 2004).
O uso constante de agulhas, materiais para punção venosa, assim como o descarte de material já utilizado em local inadequado e o reencape de agulhas, são algumas das situações mais comuns que acarretam o risco da ocorrência destes acidentes (Mastroeni, 2009). Uma das maneiras de reduzir drasticamente a incidência de acidentes seria através do treinamento de biossegurança.
As normas e técnicas de biossegurança auxiliam a prevenir a ocorrência de acidentes e a diminuir a exposição aos riscos dos acidentes de trabalho. Essas técnicas foram desenvolvidas para garantir a segurança do trabalhador e para criar uma rotina de trabalho a ser executada pelos profissionais de enfermagem (Mastroeni, 2009).
Observando a freqüência de acidentes com material perfurocortantes com os trabalhadores da área de enfermagem, ocorridos devido a não utilização ou a má utilização das normas de biossegurança, aliados as grandes jornadas de trabalho inclusive trabalhos noturnos, o que leva a diminuição da atenção e das funções cognitivas e assim aumentam a incidência de acidentes pérfurocortantes e a demanda de faltas nos serviços de saúde, este estudo tem por objetivo identificar o conhecimento dos trabalhadores de enfermagem a respeito das normas de biossegurança relacionando com a incidência de acidentes perfurocortante ocorridos.
Metodologia
Foi realizado um estudo descritivo com abordagem quantitativa. O estudo foi realizado no Hospital Santa Casa de Paracuru, CE, no período de novembro a dezembro de 2013.
A População foi composta por 25 profissionais, sendo a amostra composta por 23 profissionais de enfermagem dos três níveis: técnicos, auxiliares de enfermagem e enfermeiros. Os critérios de inclusão utilizados foram ter mais de 6 meses de trabalho com vínculo empregatício na instituição referida.
Os dados foram coletados através de um questionário semiestruturado, contendo questões de fácil compreensão, com o objetivo de traçar o perfil pessoal e profissional dos participantes, assim como investigar quais deles conheciam as normas de biossegurança quantificando os que já tinham sofrido acidente.
Um estudo piloto foi realizado para testar a possibilidade dos métodos para serem utilizados no estudo principal, além da verificação da adequação do questionário de pesquisa. A coleta dos dados foi realizada através da aplicação de um questionário baseado no modelo de Freitas et al. (2010). Os dados foram organizados analisados de forma quantitativa utilizando para organização do banco de dados o programa de computador Excel versão 2003 e como instrumento de análise estatística o aplicativo Excel. Os dados foram expressos através de tabelas para melhor compreensão (Barbosa et al., 2014).
Este trabalho seguiu os preceitos da Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, norma que regulamenta a pesquisa envolvendo seres humanos. Todos os participantes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido concordando com a sua participação na pesquisa (Brasil, 2012). Esse trabalho não possui conflito de interesse.
Resultados e discussão
Em relação ao gênero, observou-se que 87% dos profissionais avaliados eram do sexo feminino e 13% do sexo feminino. A prevalência de profissionais do sexo feminino exercendo o trabalho na área da saúde é vivenciada nas instituições de um modo geral, traduzindo o fato de, provavelmente, a população feminina estar mais apta a desempenhar o cuidado direto e contínuo ao cliente na busca de atender às suas necessidades de enfermagem.
A idade média da amostra foi de 34,6 anos, onde a maior parte estavam na faixa etária entre 18 e 30 anos, o que mostra que o profissional do local de estudo tem predominância jovem.
No que concerne a profissão verificou-se que 65,2% eram técnico de enfermagem. Nossos estudos corroboram com os estudos realizados na cidade do Recife, Pernambuco Brasil onde os autores verificam que a maioria dos participantes eram técnicos de enfermagem (61,7%) (Silva et al., 2013) e estudo de Freitas et al., 2010 que verificaram que 60,7% eram técnicos de enfermagem. Os técnicos e auxiliares de enfermagem são os mais afetados com acidentes perfurocortantes devido ao contato permanente com os pacientes (Lubenow et al., 2012).
Tabela 1. Análise dos profissionais em relação sexo, faixa etária, e categoria profissional
Verificou-se que 39,13% dos entrevistados sofreram algum tipo de acidente perfurocortante nos últimos seis meses. Estes resultados são menores quando comparados com estudos realizados em diversos estados como Paraíba (67,9%), São Paulo (44%) e elevados quando comparados a estudos realizados em Minas Gerais (23,6%) (Nishide et al., 2004; Freitas et al., 2010; Oliveira et al., 2010).
Tabela 2. Ocorrência de acidentes, uso de EPI na hora do acidente
Os fatores contribuintes para a ocorrência dos acidentes entre os trabalhadores foram falta de atenção (47,9%), seguida por estresse/pressa (43,4%) e acontecimentos inesperados (8,7%). Nosso estudo corrobora com estudos realizados em Minas Gerais onde a desatenção foi considerada o fator principal associada a 36,7% das exposições dos profissionais de enfermagem de uma rede hospitalar (Oliveira et al., 2010).
Os acidentes perfurocortantes pode expor o profissional a diversos patógenos como o vírus do HIV, hepatites B e C e Sífilis. O trabalhador de enfermagem ao não reconhecer sua vulnerabilidade frente à infecção, predispõe-se à exposição de patógenos (Vieira et al., 2008).
Tabela 3. Fatores que favoreceram a ocorrência do acidente
Os profissionais abordados neste estudo demonstraram que detém o conhecimento sobre biossegurança, 91,3% deles afirmaram ter este conhecimento. Já 77,9% destes profissionais afirmaram que já participaram de treinamentos sobre biossegurança dentro da instituição de saúde a qual trabalha, o que ressalta a participação do setor de educação permanente, ou órgão similar da instituição na atualização dos profissionais da área de enfermagem preparando-os para executar uma assistência de qualidade, trazendo melhor satisfação aos clientes/pacientes.
Assim com o objetivo de minimizar os riscos desses acidentes é necessário que os trabalhadores utilizem corretamente as medidas de precaução seguindo corretamente as normas de biossegurança.
De acordo com os resultados apresentados, a baixa incidência na ocorrência de acidentes perfurocortantes nos profissionais abordados, levanta a hipótese de que o pouco tempo inserido no mercado de trabalho ocasionou a diminuição do número desses acidentes, já que como demostrado anteriormente, a população de trabalhadores da área de enfermagem deste hospital é predominantemente jovem, 52% dos profissionais possuem até 30 anos, o que nos faz concluir que os profissionais inseridos recentemente no mercado de trabalho estão tendo melhor treinamento acerca das condutas de biossegurança, fazendo que eles tenham mais cautela na hora de entrar em contato direto com o paciente.
Notou-se, ainda, que a necessidade de maior agilidade na realização das atividades de rotina de um setor, associada à extensa carga horária diária de trabalho ocasiona o estresse e a falta de atenção. Estes, conforme observado, são fatores que contribuem para o aumento do índice de ocorrência de acidentes perfurocortantes.
Vale ressaltar que, trabalhadores com maior tempo de serviço acabam se arriscando mais, por adquirir uma autoconfiança na execução de suas atividades, por vezes, negligenciando medidas de precaução para proteção individual, e ainda apresentam resistência à participação de treinamentos a respeito de biossegurança, facilitando ainda mais a predisposição da ocorrência de acidentes de trabalho.
Portanto a melhor distribuição de conhecimento sobre normas de biossegurança evidenciada neste estudo, sem duvida é um fato que influencia na redução do número de profissionais acidentados melhorando a prestação de serviços.
Considerações finais
Constatou-se que os acidentes perfurocortantes ainda possuem um alto índice entre os trabalhadores da área de saúde, em especial a equipe de enfermagem, e apesar disso na instituição estudada esta realidade já esta se modificando, mostrando um percentual menor em profissionais não acidentados comparados aos profissionais acidentados.
Pode-se observar que os trabalhadores formados recentemente já possuem uma melhor abordagem quanto aos cuidados de segurança na proteção de acidentes. Notou-se ainda que os trabalhadores da área de enfermagem com maior experiência profissional possuem uma maior resistência à utilização de medidas de prevenção de acidentes e na participação de treinamentos sobre biossegurança.
Embora tenha sido detectado que o setor de educação continuada da instituição seja bastante atuante, sugere-se que o setor trabalhe com uma melhor divulgação de medidas de segurança junto aos profissionais da área da saúde em geral, dando uma atenção especial àqueles com maior experiência profissional, além da fixação de cartazes e cartilhas com protocolos de biossegurança dispostas nas áreas de trabalho, fazendo com que a biossegurança seja sempre lembrada no momento da realização dos procedimentos pelos profissionais.
Bibliografia
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Mastroeni, Marco Fabio; Silva, Aline Daiane Ruthes Iarenhuk da (2009). Biossegurança: o conhecimento dos formandos da área de saúde. Revista Baiana, 33, (3), 476-487.
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Silva, Valério Severino; Carneiro, Gledsangela Ribeiro; Junior, Osmar Arujo; Cerqueira, Gilberto Santos et al. (2013) Vírus da imunodeficiência humana: atitudes profiláticas dos profissionais de enfermagem frente ao risco de contaminação ocupacional Lecturas: Educación Física y Deportes. Buenos Aires, 18, (182). http://www.efdeportes.com/efd182/virus-da-imunodeficiencia-humana-risco.htm
Vieira, Mariana, & Padilha, Maria Itayra Coelho de Souza (2008). O HIV e o trabalhador de enfermagem frente ao acidente com material perfurocortante. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 42(4), 804-810.
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