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A relação entre atletas de futebol e o Instagram. 

Um estudo piloto feito por meio da análise de fotografias

La relación entre los atletas de fútbol e Instagram. Un estudio piloto realizado por medio del análisis de fotos

The relationship between soccer athletes and Instagram. A pilot study done through analysis of photos

 

UNESP – Rio Claro - LEPESPE

(Brasil)

Vivian de Oliveira

André Luis Aroni

Luciana Botelho Ribeiro

Ivan Wallan Tertuliano

Afonso Antonio Machado

vivian_oliveira58@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O Instagram é um aplicativo de rede social que possibilita ao usuário tirar fotos, editá-las e compartilhá-las com o mundo. Criado em 2010, esta rede social se populariza cada dia mais, tornando-se bastante utilizada também pelos atletas das mais variadas modalidades, dentre elas, o futebol. Diante disso, o objetivo deste trabalho foi verificar o conteúdo das postagens no Instagram dos atletas de futebol das equipes campeãs da UEFA Champions League (masculino) e UEFA Women’s Champions League (feminino) na edição de 2013/2014 e analisar se o instrumento criado para esta análise é adequado. Pudemos concluir que o fenômeno do Instagram é popular também entre os atletas pesquisados e que a rede social para os estes esportistas é uma forma de expor seus patrocinadores e aumentar sua visibilidade, divulgando mensagens e também expondo o dia a dia. Sobre o instrumento, percebemos que ele é eficiente, porém poderá receber algumas alterações para pesquisas futuras, visando aumentar a sua especificidade.

          Unitermos: Instagram. Futebol. Redes Sociais. Desenvolvimento Humano. Tecnologias.

 

Abstract

          The Instagram is a social networking application that allows users to take photos, edit and share them with the world. Created in 2010, this social network becomes more popular every day, being used by athletes in many different sports, among them the soccer. Thus, the aim of this work was to verify the content of postings on Instagram of soccer athletes of the champion teams from the UEFA Champions League (male) and UEFA Women's Champions League (female) in the 2013/2014 edition and analyze if the instrument created for this analysis is appropriate. We concluded that the phenomenon of Instagram is also popular among athletes surveyed and that the social network for these athletes is a way to expose their sponsors and increase their visibility by disseminating messages and also exposing their everyday. On the instrument, we realized that it is efficient, but may receive some modifications for future research, with the goal of increase its specificity.

          Keywords: Instagram. Soccer. Social Networks. Human Development. Technologies.

 

Recepção: 13/02/2016 - Aceitação: 28/03/2016

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 21, Nº 215, Abril de 2016. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O Instagram é um aplicativo de rede social baseado em localização móvel que oferece aos usuários uma maneira de tirar fotos, aplicar diferentes ferramentas de manipulação (filtros) para transformar a aparência da imagem e compartilhar instantaneamente com os outros usuários e amigos no próprio aplicativo ou em outras redes sociais, como Facebook, Foursquare, Twitter, etc. (Hochman & Schwartz, 2012). Para Silva (2012), o Instagram é um aplicativo que mistura o conceito de rede social com câmera fotográfica para celulares ou tablets e atualmente, na versão mais recente, permite a captura, edição e compartilhamento de vídeos. Segundo matéria publicada por Kharpal no site CNBC.COM em setembro de 2015, o Instagram atingiu 400 milhões de usuários, ultrapassando o Twitter e tornando-se a segunda maior rede social do mundo, atrás apenas do Facebook.

Suárez, Messi e Neymar Jr. em Instagram

    Para Keen (2012), a internet é onde hoje vivemos. Então, quando olhamos para a internet, estamos vendo algo que reflete não apenas a nós mesmos, mas também os valores dominantes da sociedade. Dentro do universo da internet, estão as redes sociais, que são uma realidade já consolidada da atualidade. Segundo Azambuja (2012), as novas mídias digitais fazem com que os usuários tornem-se os próprios narradores de suas histórias e assim, podem ser os personagens principais.

    Para Silva (2012), no universo contemporâneo, os receptores tornam-se produtores de seus próprios conteúdos, não só por meio de textos e imagens, mas também ao segmentar as informações que desejam receber, prestigiar, acompanhar ou compartilhar. As novas mídias nos fornecem as ferramentas para isso. O receptor é mais emissor do que nunca. O verbo compartilhar (do inglês share) desloca o lugar do sujeito, “convidando-o a um constante trânsito de narração de sua própria vida e de seu cotidiano” (Silva, 2012, p. 5). Além disso, ainda segundo Silva (2012), o Instragram® consolida a demanda de visibilidade do sujeito contemporâneo. Na visão de Keen (2012) o desejo de privacidade era considerado a norma cultural dominante na era industrial, porém, hoje parecemos não nos importar muito com ela, ou pelo contrário: queremos que todos possam nos assistir.

    Para Cavendish (2013), o Instagram é uma rede social que apresenta atores e conexões e que a interação permitida por ele é geradora de relações, que por sua vez, geram laços sociais. Diante do fato de que as conexões são realizadas por meio de dispositivos móveis, as suas interações podem ser síncronas ou assíncronas, pois existe a possibilidade do usuário ficar conectado à Internet e ao aplicativo por um longo período do dia. As interações no Instagram também podem ser classificadas como mútuas, ou seja, interações em que há algum tipo de comunicação e interação entre os usuários, que pode acontecer por meio dos comentários, dos likes (curtidas) e etc. Sobre os laços, a autora ressalta que “os laços fracos são os mais importantes na estruturação das redes sociais, já que são eles que conectam os grupos, constituídos de laços fortes, entre si” (Cavendish, 2013, p. 58).

Justificativa

    Apesar da atual inserção dos atletas nas redes sociais e das conseqüências que isto pode trazer, existem poucos estudos que tratem da relação de esportistas com o Instagram, especificamente. Com a curiosidade de saber como este assunto vem sendo discutido pelos pesquisadores, utilizamos a plataforma Google Acadêmico para realizar observações. Foram pesquisadas as palavras-chaves “Atletas e Instagram”, “Athletes and Instagram”, “Deportistas e Instagram”. A busca foi feita no dia 10 de julho de 2014, às 11:00 horas. As dez primeiras referências encontradas para cada busca foram analisadas e não foi identificado nenhum estudo que trate especificamente da relação entre os atletas e o Instagram.

Objetivos

    Os objetivos do trabalho foram:

Procedimentos metodológicos

    Esta é uma pesquisa qualitativa, do tipo descritiva e utilizou do método netnográfico para a coleta de dados. Netnografia, segundo Fragoso et. al. (2013) é um neologismo criando nos anos 90, a partir dos termos net+etnografia, com o objetivo de demarcar as adaptações do método etnográfico em relação à coleta e a análise de dados, além da ética em pesquisa.

    A análise das imagens foi baseada nos pressupostos da sociologia visual, já que, segundo Martins (2008), é possível desenvolvermos interpretações sociológicas estruturais por meio da fotografia, ao expor, por meio da imagem, o que é próprio e explicativo de cada sociedade. Para auxiliar neste processo, foi criado um protocolo de análise, num formato check-list, que compreende itens pertinentes aos objetivos do trabalho. Optou-se pela criação de um instrumento para a análise pois não foi encontrado na literatura nenhum outro que possua os mesmos objetivos.

    Foram selecionados para as análises os atletas das equipes campeãs da UEFA Champions League (masculino) e da UEFA Women’s Champions League (feminino) na edição 2013/2014 e que entraram em campo durante o jogo final. Obviamente, foram excluídos da pesquisa os atletas que não possuem perfil no Instagram. No total, 17 foram os atletas que preencheram estes requisitos.

    Os perfis destes atletas foram seguidos e analisados um período de 17 dias. As fotos postadas anteriores a este período não foram contabilizadas.

Resultados

    No total, foram analisadas 76 fotos postadas num período de 17 dias, totalizando uma média de 4,47 fotos postadas por dia. Entre os atletas que tiveram seus perfis na rede social analisados, 3 não postaram nenhuma foto durante este período.

    Das 76 fotos analisadas, 81,57% eram do próprio atleta, com ou sem outras pessoas na foto. Os selfies representaram 3,94% das fotos, ou seja, quando o atleta tira foto de si mesmo. Vale ressaltar que não consideramos como selfie fotos que foram tiradas pelo próprio atleta, mas que mostravam outras pessoas além dele. Do total das fotos, 7,89% eram de terceiros, ou seja, de outras pessoas que não o atleta. Apenas uma foto (1,31%) era de paisagens. Fotos de objetos como medalhas, troféus, artigos esportivos e etc. representaram 2,63% das fotos postadas e mais 2,63% entraram na categoria outros.

    Continuamos as análises apenas para as fotos que continham os atletas (selfies ou não), que totalizam 65 fotos. Em relação ao local onde as fotos foram realizadas 32,30% foram realizadas no centro de treinamento ou estádio, 4,61% foram tiradas na casa dos jogadores, 9,23% em locais de lazer (como parques, piscinas, campos de golf, etc.) e 1,53% dentro de academias de ginástica. Do total, 20% se encaixaram na categoria “Outros” e em 32,30% das fotos não foi possível definir o local onde elas foram tiradas.

    Sobre o momento em que as fotos foram feitas, 30,76% delas foram tiradas durante o trabalho dos atletas, 9,23% em momentos de descanso, 20% durante o lazer dos atletas. Do total, 32,30% foram classificadas como em momento de descontração e em 5 delas (7,69%) não foi possível definir. Classificamos como descontração os momentos inespecíficos (como em um treino, dentro de um ônibus, entre outros) em que os atletas aparecem descontraídos, sorrindo, fazendo caretas, brincando e que não se encaixam em nenhuma das outras categorias.

    Ainda sobre as fotos em que o atleta que a postou está presente, em 42 delas (64,61%) aparece algum tipo de propaganda dos patrocinadores, direta ou indiretamente, enquanto em 23 fotos (35,39%) isto não acontece.

    Sobre as hashtags, em 66,16% das fotos elas são utilizadas na legenda, enquanto em 33,84%, não.

    Analisamos também se as fotos dão destaque ao corpo ou a alguma parte do corpo do atleta, como por exemplo, fotos onde os atletas aparecem sem camisa, em roupas de banho, entre outras maneiras. Percebemos que apenas 4 delas (6,16%) chamam atenção para o corpo do atleta, enquanto a maioria (93,84%) não dá este destaque.

    Por fim, investigamos se as fotos postadas dão algum destaque a vestimenta do atleta. Neste quesito, também percebemos que apenas 6,16% das fotos deram este destaque.

Discussão

    Para Silva (2012), o indivíduo que se utiliza da web para se mostrar e falar costuma ser tríplice: é ao mesmo tempo autor, narrador e personagem, e para a autora “ao analisar o cenário midiático atual percebemos um meio permeado de subjetividades que se constroem narrativamente” (p. 2). Pudemos perceber que as nossas análises condizem com o defendido pela autora. A necessidade de deixar uma marca por meio da internet e das redes sociais é percebida pelo fato da maioria das fotos postadas conterem os próprios atletas.

    É interessante notar também o potencial das redes sociais para a publicidade, já que a maioria das fotos postadas faz alguma referência às marcas que patrocinam os atletas. Outro fato a se notar é o uso das hashtags na maioria das fotos postadas. Hashtags são palavras-chave antecedidas pelo símbolo "#" que designam um assunto específico, e que no Instagram funcionam como um agrupador de imagens relacionadas a determinado tema, facilitando a disseminação de um tópico e o acompanhamento de um conteúdo (Cavendish, 2013). Isso indica que o usuário da rede tenta, por vários meios, fazer com que sua foto seja visualizada.

    Sobre o instrumento (o check-list) criado para esta análise, percebemos a necessidade de adicionar outras categorias. Por exemplo, no que diz respeito ao tipo de foto, poderíamos acrescentar a categoria “Montagens”, pois algumas fotos deste tipo foram postadas e as classificamos como “Outros”. No que diz respeito ao local onde a foto foi tirada, sugerimos que seja adicionada a categoria “Meios de Transporte”, pois percebemos que algumas fotos foram postadas quando os atletas estavam dentro de ônibus, aviões ou carros.

Considerações finais

    O estudo nos permite perceber que o fenômeno do Instagram é popular também entre os atletas. Além disso, a rede social funciona para os esportistas como uma forma de expor seus patrocinadores e aumentar sua visibilidade, divulgando mensagens e também expondo o dia a dia. Em outras palavras, o Instagram acaba sendo um meio de promoção do atleta em questão. Apesar da maior parte das fotos serem postadas em momentos de descontração, o que traz um ar descomprometido para as fotografias, sabemos que para os atletas, assim como para outras pessoas famosas, as redes sociais não são apenas hobbies. São um instrumento importante para aumentar também os seus rendimentos financeiros. O fato de uma grande parte das fotografias serem tiradas durante momentos de trabalho mostra a intenção de afirmar a identidade dos atletas como pessoas do esporte.

    Sobre o instrumento utilizado para a análise, este se mostrou eficiente, porém pode consideramos que pode ser melhorado. Sugerimos a criação de novas categorias, com o objetivo de aumentar a especificidade. Além disso, consideramos interessante outras possibilidades para estudos futuros. Dentre elas, estão: explorar as hashtags e as legendas (o conteúdo textual das publicações); estudar o número de curtidas de cada foto postada; comparar atletas de diferentes modalidades, em diferentes países e/ou realidades.

Bibliografia

Outros artigos em Portugués

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 21 · N° 215 | Buenos Aires, Abril de 2016
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