A Educação Física como espaço para desenvolvimento da diversidade na escola La Educación Física como espacio para el desarrollo de la diversidad en la escuela |
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Doutora em Ciências da Atividade Física e do Esporte. Universidade da Coruña (Brasil) |
Fabiana Pomin |
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Resumo Se faz uma análise da perspectiva Cultura Corporal do Movimento como ferramenta para a Educação Física. Com a finalidade de cumprir sua função na escola como componente curricular integrante da promoção da diversidade étnica, religiosa, de gênero e econômica. Se propõe reflexões sobre o desenvolvimento de atividades que por meio de práticas corporais conscientizem o(a) estudante a respeito do seu papel como sujeito cultural, que influi e transmite. Fazendo-se assim, uma articulação da práxis pedagógica para superar as fragilidades identificadas. Unitermos: Diversidade. Educação Física. Cultura Corporal.
Resumen Se hace un análisis de la perspectiva de la Cultura Corporal del Movimiento como herramienta para la Educación Física. Con la finalidad de cumplir con su función en la escuela como componente curricular que colabora con la promoción de la diversidad étnica, religiosa, de género y económica. Se proponen reflexiones en torno al desarrollo de actividades que por medio de prácticas corporales hagan que el(la) estudiante tome conciencia respecto a su papel como sujeto cultural, que influye y transmite. Se hace, así, una articulación de la praxis pedagógica para superar las fragilidades que se observan en la actualidad. Palabras clave: Diversidad. Educación Física. Cultura Corporal.
Recepção: 03/03/2016 - Aceitação: 13/04/2016
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 21, Nº 215, Abril de 2016. http://www.efdeportes.com/ |
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A Educação Física, enquanto componente curricular, tem o objetivo de propiciar aos(as) alunos(as) vivências, experimentações e práticas críticas que associem movimentos corporais à cultura da qual fazem parte, seja a cultura circundante (comunidade, bairro, cidade) seja a que os(as) tange em aspectos mais abrangentes (cidade, país, etc.).
A prática consciente da atividade física, social, histórica e culturalmente contextualizada, atua no processo educacional de uma maneira diferenciada dos demais componentes curriculares, e de certa maneira, vantajosamente, já que a maioria dos(as) alunos(as) gostam das aulas de Educação Física e se mostram dispostos a participar das atividades propostas.
Essa vivência, visando à experimentação de movimentos corporais culturalmente embasados, pode desenvolver-se em torno do histórico desta atividade (como se introduziu e consolidou); qual o contexto socioeconômico em que se desenvolveu; como se apresenta atualmente no entorno em que o(a) aluno(a) vive; qual o significado impresso; e diversas outras abordagens concernentes ao tema, e que se mostrem presentes no grupo de alunos(as), ou sobre as quais foram estimuladas discussões e questionamentos entre eles(as), ou, ainda, que mostrem necessidade de serem desenvolvidas com maior atenção.
Contextualização histórica das atividades
Toda atividade contextualizada fará maior sentido ao(à) estudante, servindo como um catalisador para que o(a) professor(a) possa aprofundar o tema, e contar com uma participação efetiva da turma, assim como, com a internalização dos conceitos e a transferência dos mesmos para a vida do(a) aluno(a), seu cotidiano, seus questionamentos e suas possibilidades de intervenção. Por exemplo, ao ser abordado o tema capoeira (salvo as divergências respeito ao seu histórico), pode-se iniciar desenvolvendo o tema a partir da idéia de que no Brasil Colônia, entre os escravos que foram trazidos ao país, eram comuns as danças e atividades desenvolvidas ao som de músicas. Dada à necessidade de um meio de defesa frente às constantes agressões sofridas, e a proibição da prática de combates corporais, os africanos começaram a utilizar-se da música para disfarçar a prática de uma luta (Mello, 2002).
Meninos e Meninas
Outro exemplo de tema presente na vida dos(as) alunos(as) é a questão de gênero (Aquino, 1998; Dornelles, Wenetz e Schwengber, 2013), constantemente fonte de discursos e chamadas de atenção, principalmente a partir da segunda fase do ensino fundamental, quando começa a haver interesse afetivo/sexual pelas pessoas com quem convive. Este tema pode permear o desenvolvimento do conteúdo das aulas de Educação Física, podendo se dar, seja de maneira indireta, por meio de jogos e propostas que fomentem a cooperação e respeito entre meninos e meninas, seja de maneira direta. Tome-se como exemplo um trabalho de conscientização sobre a violência contra a mulher, que tem aumentado de maneira alarmante, apresentando o Brasil atualmente uma taxa atual de 4,8 homicídios por 100 mil mulheres (ocupa a 5ª posição entre os países com maiores índices de violência contra a mulher) (Waiselfisz, 2015), possuindo a Educação Física muitas possibilidades para contribuir à conscientização e combate ao problema.
É fácil identificar as diferentes habilidades e capacidades pessoais na prática de uma atividade corporal e/ou esportiva. Resulta ingênuo pensar que os(as) estudantes não poderão reconhecê-las entre si. Tal identificação sugere ser mais coerente e eficaz aceitar este fato, e trabalhar a partir destas diferenças enquanto soma e não, subtração. Por meio de atividades que trabalhem com estas diferenças, e que oportunizem a elaboração de estratégias em que elas comunguem a favor de um bem comum, pode-se abrir um espaço para o entendimento da força das diferenças quando compreendidas e somadas.
Inicialmente, o(a) professor(a) pode utilizar-se de atividades de discriminação positiva, como meio de iniciar o trabalho de envolvimento de meninos e meninas em uma mesma atividade; pode prosseguir por propostas onde as diferentes capacidades físicas não sejam evidenciadas, evitando, por exemplo, atividades de força, nas quais é muito provável que os meninos alcancem melhores resultados que as meninas, assim como em atividades que trabalhem com flexibilidade, em que as meninas podem apresentar melhor desempenho. Assim, a idéia é desenvolver atividades em que ambos, meninos e meninas, possam alcançar o mesmo êxito, como por exemplo, em atividades de precisão óculo-manual, de agilidade ou de pronta resposta ao estímulo. Ou, ainda, apresentar uma atividade que seja nova para ambos, partindo todos do mesmo ponto. Essas atividades permitirão o enfoque nas semelhanças, no que podem igualmente conseguir, e no que terão que fazer em conjunto para atingir o objetivo proposto.
A posterior inserção de atividades nas quais atuem em conjunto, além de divertidas, e, portanto, de caráter recreativo e socializador, propõe o cumprimento de uma tarefa em conjunto, que tornará necessária a atuação de cada um, conforme suas possibilidades, para o melhor desempenho do grupo.
A convivência harmoniosa na quadra esportiva, com respeito às diferenças de cada um, é um grande estímulo para ser mantido fora da mesma, e ser integrada no cotidiano dos(as) alunos(as), deste modo, a diversidade de gênero encontra na escola um terreno fértil para ser trabalhada, e levada para a vida dos(as) alunos(as), oportunizando a que construam e participem do processo de mudança social.
Religião
A religião é outro tema que encontra cada vez mais espaço para discussão e problematização no ambiente escolar dada a diversificação religiosa observada na contemporaneidade. Este tema traz um largo processo de cristianização na sua bagagem, imposto por parte da igreja católica e da homogeneização religiosa em seu favor. Dentro desta temática, a visão pragmática da Educação Física, além do respeito às diferentes crenças e cultos religiosos, deve estar pronta, entre outras coisas, para reafirmar sua proposta em torno à Cultura Corporal do Movimento frente à problematização da definição de corpo que é apresentada pelas diferentes religiões.
O crescente aumento do(a) aluno(a) evangélico(a) suscitou a realização de pesquisas como a de Rigoni e Daolio (2014) em torno à participação ou não das meninas nas atividades propostas nas aulas de Educação Física. As orientações voltadas ao sexo feminino costumam relacionar o movimento como uma exposição do corpo, com a erotização. De certa maneira esta exposição existe, pois, em uma aula de caráter tecnicista e objetivando resultados, haverá concorrência e observação dos colegas com o intuito de ser o melhor. Mas, na perspectiva da Educação Física de Cultura Corporal do Movimento, outras atividades podem ser realizadas sem que exista o enaltecimento do corpo e do desempenho físico.
Outra dificuldade que existe é a relação que essas meninas fazem da Educação Física com o prazer corporal obtido pela prática do exercício físico, que não é bem visto pelos dogmas religiosos, particularmente das igrejas evangélicas (Rigoni e Daolio, 2014).
Existe ainda a questão de que alguns grupos religiosos se opõem à competição em atividades esportivas, por estabelecer relações com os jogos de azar. Frente a isso, está o esforço da Educação Física em desenvolver-se a partir da abordagem da Cultura Corporal do Movimento, onde se faz a adoção de perspectivas diferenciadas de movimento corporal desvinculando o caráter competitivo e diminuindo a importância do resultado e do desempenho físico, reiterando seu caráter de formação física e sociocultural em detrimento da competição, resultados e/ou vencedores/perdedores.
Ademais, Rigoni (2009) coloca a “dificuldade das meninas evangélicas em relacionar-se com os meninos, pois elas aprendem desde a infância que para a mulher ser respeitada ela deve manter o pudor em relação aos homens”.
A reafirmação da Educação Física como componente curricular, em torno da perspectiva da Cultura Corporal do Movimento em contraponto às dificuldades e exigências impostas pelas diferentes crenças religiosas, apresenta também o outro lado da moeda, que é a dessacralização do corpo. Frente à menor influência e respaldo religioso e místico, se está dando uma grande importância ao corpo, de modo exagerado, onde a atividade física se relaciona com a boa forma física e a estética (Silva, 2001). Não sendo o corpo um hospedeiro para uma alma que permanecerá além da morte, e sim, de caráter efêmero que deve ser usufruído e resguardado para atingir a imortalidade, este corpo alcança outro significado, onde o objetivo da qualidade de vida é sobreposto pela busca de modelos estéticos expostos na mídia e procurados incessantemente, como sinônimo de êxito e felicidade (Silva, 2001; Lazzarotti Filho, Bandeira e Jorge, 2001), desvinculando a atividade física do caráter social, cultural e inclusive de saúde. Autores como Silva e Moreno (2006) denominam este processo como Neoeugenia: ainda que o sujeito não apresente as melhores qualidades físicas, utiliza-se de subterfúgios para passar a apresentá-las.
Especificamente na Educação Física se observa o culto ao corpo observado principalmente nas academias, onde homens e mulheres empregam esforços para moldar o corpo conforme o padrão social aceito.
Em consulta ao site da ABENUTRI (Associação Brasileira de Empresas de Produtos Nutricionais), o mercado de suplementos alimentares com finalidades específicas como perda de peso e ganho de massa muscular cresce em média 25% ao ano no nosso país. Conforme dados 2014 estima-se que 2% da população no Brasil consumam suplementos, sendo que os produtos à base de proteína aparecem no topo do consumo (65%), representando os jovens entre 15 e 30 anos 80% dos consumidores. Estes produtos promovem o aumento da massa muscular, respondendo ao desejo masculino de apresentar um corpo volumoso e musculoso.
Na contemporaneidade o que observamos é que a beleza implica a aquisição de supostas maravilhas em forma de cosméticos, e também o consumo de medicamentos, a disciplina alimentar e a atividade física. Beleza é, igualmente, submissão a cirurgias, aquisição de prazer acompanhado por despesas significativas, de tempo e dinheiro. A máxima de Helena Rubinstein que dizia “não existe mulher feia, apenas preguiçosa”, deu lugar a: não existe mulher feia, apenas sem dinheiro.
Constantemente disputando com os Estados Unidos o ranking de país em primeiro lugar em número de cirurgias plásticas, o Brasil apresenta estereotipo de beleza restrito e moldável, utilizando-se as pessoas de inúmeros subterfúgios para atingir o ideal de beleza, e de corpo jovem, magro, forte e definido. A cultura brasileira, que associa sucesso ao ideal de corpo imposto pela mídia, fortalece o vínculo entre este estereotipo e o êxito laboral e amoroso. “De fato, cada vez mais pessoas investem no seu corpo, com o intuito de obter dele mais prazer sensual e de lhe aumentar o poder de estimulação social, assistindo-se a um mercado crescente de produtos e serviços” (Barbosa, Matos e Costa, 2011).
Embelezar-se como dever, como prazer e como direito. A imortalidade e o rejuvenescimento se associaram ao embelezamento. A fuga da morte, da doença e do envelhecimento.
Exclusão econômica
Outro desafio que deve ser enfrentado pela área de Educação Física é a questão das ações sociais. Essas se fazem necessárias em decorrência das diferenças sociais, que podem ser percebidas mais fortemente entre alunos(as) que freqüentam escolas públicas e os que freqüentam escolas privadas, mas que são questões que deveriam ser abordadas nos dois âmbitos. Nos casos em que se faz a identificação destas diferenças, a Educação Física pode introduzir atividades em igualdade de condições de serem desenvolvidas contornando com propriedade esta temática.
A inclusão de estudantes de classes especiais nas turmas de ensino regular, processo iniciado faz alguns anos nas redes privadas e públicas de ensino, tem levantada uma onda de relatos de experiências, críticas, elogios, problematizações e soluções. Embora experiências positivas tenham sido relatadas e observadas, desde uma visão pragmática se observam fragilidades, que demandariam um debate pedagógico-político extenso, que encontra espaço para desenvolvimento em outra ocasião.
Diversidade étnica
Entre os desafios referentes às questões étnicas nas quais a Educação Física pode intervir, é relevante citar o resgate da cultura afro-brasileira. O maior desterro já registrado na história da humanidade aconteceu com o tráfico de africanos para o Brasil (Novais, 1997). Privados da sua terra, da sua origem e da sua liberdade, os negros entraram no Brasil como mão de obra escrava, fato que se revelou um estupendo negócio econômico aos envolvidos nesse processo. Destituídos de seu patrimônio, tangível e intangível, inclusive do seu corpo, por mais numerosos que tenham chegado a ser, pois na época do Império, no Rio de Janeiro, um terço dos habitantes havia nascido na África (Novais, 1997) sempre ocuparam um lugar de desprestígio, onde inexistia o respeito por eles, e dos quais se tentou apagar qualquer memória histórica, cultural ou religiosa.
Mesmo passado um largo período de transformações, incluída a abolição da escravatura, o negro continuou a ver subjulgado seu valor, a ponto em que o mesmo tentou adaptar-se à cultura predominante, branca e católica, desejando emergir na sociedade, ansiando, assim, adquirir valor e prestígio. O processo de branqueamento afetou gerações de brasileiros, que são herdeiros de um passado de luta, sofrimento e resistência, e que, levando na cor da pele a marca desse desafio, enfrentam dificuldades de ver valer seus direitos, para poder conviver em uma sociedade justa e igualitária.
As atuais políticas públicas no Brasil, entre elas, o sistema de quotas instituído em algumas leis municipais, estaduais e federais, e que conferem determinada prioridade à população afrodescendente ao acesso a vagas em empresas estatais, assim como às universidades, vem corrigir anos de discriminação e espoliação, objetivando conferir à população afro-brasileira seus direitos integrais.
Esse desafio de valorizar a cultura afro-brasileira encontra forte respaldo na Lei 10.639/03, que promove a obrigatoriedade do estudo desta cultura no ensino fundamental e médio, e que garante a reinserção de uma cultura ao mesmo tempo genitora e resultante da cultura popular brasileira.
Abordando-se estes desafios desde a perspectiva da Educação Física, embora possam partir da aceitação da diversidade, costuma demandar maior atenção. A proposta é salientar não o que é diferente, mas sim, o que é comum. O que se pode compartilhar. Enfatizar a relação, a conexão e não a diferença para não contribuir na construção de muros infranqueáveis entre as diferentes etnias. A valorização das diferenças étnicas e o conhecimento de outras culturas é também um modo de promover a convivência e coexistência. Rangel et al. (2008) sugerem ações como abordar a importância (e obrigatoriedade até pouco) do silêncio no jogo de tênis como sinal de respeito ao país de origem, à irrestrita obediência ao juiz observada nas lutas, e a criação de rótulos para jogos populares femininos (amarelinha) e jogar pião (masculina).
Indígenas
Ainda no relativo aos desafios sociais e étnicos, a área Educação Física não pode deixar de considerar a questão da cultura indígena.
A proposta, baseada em Viveiros de Castro (2013), é promover a idéia de aceitação do índio não como pertencente ao Brasil, mas sim, como parte dele, com direito de conservar suas características, e tendo assegurado os meios para que assim possa fazer.
A Comemoração do Dia do Índio normalmente promovida nas escolas é um exemplo de distorção do que é a população indígena. As “celebrações” costumam se desenvolver em torno à imagem romântica do índio na selva, em contato com a natureza, longe dos problemas sociais como fome, violência e prostituição (Oliveira, 2007). Uma aproximação da realidade, abrindo espaço para a reflexão em torno ao apoio para corrigir a defasagem que foi criada enquanto estas populações eram tidas como minoria, e por tanto excluídas, e que passaram pelo processo de branqueamento no qual a cultura da classe economicamente dominante (de brancos) subjugou as demais, esforçando-se em apagá-las, e exigindo a incorporação da cultura dominante pelas populações minoritárias.
Assim, em face do panorama social com que hoje se depara a Educação Física, e considerando os desafios a que ela são propostos, se evidencia a atenção necessária para que sua práxis pedagógica atue de maneira a evitar o relativismo.
Por exemplo, dado o processo pedagógico assumido pelo(a) professor(a) baseado na Cultura Corporal do Movimento, em que ele(a), desejando partir das experiências e vivências que os(as) alunos(as) trazem para a escola, pesquisa entre eles(as) e ao encontrar uma grande preferência e prática constante na comunidade do futebol decide desenvolver este conteúdo com ênfase nas suas aulas. Embora considerados os princípios da perspectiva em questão, respeitando a bagagem cultural dos(as) estudantes, essa opção restringiria o universo de possibilidades que poderia ser desenvolvido nas aulas de Educação Física, deixando de apresentar e oferecer aos(às) alunos(as) novas práticas e vivências que permitam aos(às) mesmos(as) aprender e se relacionar com outras atividades inseridas em um contexto cultural mais amplo.
Entendendo a cultura como as experiências vividas por um indivíduo, dentro de um contexto social, e que se modifica constantemente pela ação de ambos, seria medíocre por parte da Educação Física resumir sua ação unicamente ao que o(a) aluno(a) já conhece, sem trazer novas vivências que o permitam relacionar com a própria, aumentando seu repertório motor e cultural, e situando-o no mundo frente às demais culturas.
Outro exemplo de fator limitante que pode apresentar-se nas aulas de Educação Física é, encontrando-se o(a) professor(a) com uma turma em que a maioria dos(as) estudantes são afrodescendentes, decide desenvolver atividades em torno do que considera propriedade da cultura do negro, como capoeira, maculelê e jogos africanos. Embora se trate de trabalhar com os(as) alunos(as) seu patrimônio cultural, corre-se o risco de aumentar a distância e o preconceito entre as diferentes culturas, como se o embasamento se fizesse por estereótipos.
“Enquanto educadores, temos a responsabilidade de refletir sobre o nosso fazer pedagógico, não por imposição, já que as leis estão para normatizar as práticas nas instituições educacionais do nosso país, mas pela ética do nosso papel social” (Romanowski, Romanowski e Peranzoni, 2011). Compreendendo a Educação Física como “mediadora de um contexto social determinado, que relaciona e reflete seu tempo e contextos para se tornar um dos instrumentos de transformação social, percebemos a práxis pedagógica como um lugar de reflexão sobre teoria e prática sócio/educacionais mediadas pela cultura e pelo seu contexto sócio-histórico” (Moreira e Silva, 2010), vendo emergir a necessidade de uma postura pedagógica capaz de valorizar o sentido e os objetivos das ações. A perspectiva da Cultura Corporal do Movimento possibilita isso.
Ressalta-se aqui a importância da formação do professorado, pois o que se observa é que os mesmos não estão nem preparados, nem conscientizados, já que se observa uma atitude conteudista, onde eles(as) consideram um desperdício de tempo abordar como da diversidade étnica, dado que se consideram pressionados a cumprir determinado conteúdo, demonstrando, assim, uma percepção de escassa importância sobre o tema.
Considerações finais
Em conformidade com o anteriormente exposto, por tanto, a Educação Física desde a perspectiva Cultura Corporal do Movimento pode trabalhar o seu conteúdo a partir da vivência da cultura local, regional e étnica, e da experimentação de práticas que permitam ao(a) aluno(a) refletir sobre a sua ação enquanto sujeito social capaz de transformar e interagir com o ambiente em que vive, a ponto de o modificar.
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