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Sistema midiático e o esporte

Sistema de medios de comunicación y el deporte

Media system and sport

 

Prof. Adjunto da Universidade Federal

do Maranhão/UFMA

(Brasil)

Sidney Forghieri Zimbres

szimbres@terra.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O presente artigo teve como objetivo discutir o sistema midiático e o esporte no contexto brasileiro. Para tanto, utilizou-se como fonte de pesquisa livros, revistas científicas, documentários e trabalhos disponíveis na internet. A análise mostrou que a mídia, especialmente a televisão, tem um enorme poder de influência sobre a visão do esporte, fazendo com que a sociedade seja induzida ao consumo. É necessário mudar as relações dos grupos de comunicação com a sociedade e com o poder e de uma política pública que democratize a informação.

          Unitermos: Sistema midiático. Esporte. Poder.

 

Abstract

          The present article aimed to discuss the media system and sport in the Brasilian context. For this purpose, it was used as a research source books, scientific journals, documentaries and jobs available in internet. The analysis showed that the media, especially television, has enormous power of influence on the vision of the sport, making the company is induced to the consumer. Is necessary to change the relation of communication groups with society and with the power and a public policy that democratizes information.

          Keywords: Media system. Sport. Power.

 

Recepção: 27/01/2016 - Aceitação: 02/03/2016

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 214, Marzo de 2016. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Para alguns o jornalismo brasileiro é ruim na forma, é medíocre, com características latino americana muito fortes, onde os grupos jornalísticos são de famílias, não resistindo à comparação com outros jornais do mundo. Para outros é bom, bastante competitivo, comparado com que existe de melhor da imprensa no primeiro mundo.

    A imprensa brasileira nasceu sob a censura da Coroa Portuguesa que proibiu a impressão de jornais. Os brasileiros só vieram a conhecer o jornalismo através do Correio Brasiliense, em 1808, editado pelo português Ipólito José da Costa, em Londres, e distribuído no Brasil. Toda imprensa reflete seu passado e a imprensa brasileira reflete seu passado autoritário (Documentário: Mídia, poder e sociedade, 2013, n.01).

    Hoje, o sistema midiático pode ser entendido como uma árvore, onde em seus galhos abrigam-se os setores de informação e entretenimento. ...“Cada galho se combina com os outros por intermédio de um fio condutor invisível – as tecnologias avançadas -, que termina por entrelaçar e lubrificar os demais em um círculo comum de elaboração, irradiação e comercialização de conteúdos, produtos e serviços. A árvore pertence a um reduzido número de corporações que se incumbem de fabricar volume convulsivo de dados, sons, imagens, em busca de incessante lucratividade em escala global” (Moraes, 2013 p.19).

    Trata-se de um poder desmaterializado, penetrante, invasivo, livre de resistências físicas e territoriais, expandindo seus tentáculos para muito além da televisão, do rádio, dos meios impressos e do cinema. Já se infiltrou em celulares, tablets, smartphones, palmtops e notebooks, telões digitais, webcams... (Moraes, 2013, p.19).

    O termo midiatização pode ser entendido, para Brittos e Santos (2012), como as novas relações estabelecidas através da informação em circulação. No caso específico da televisão, no século XX, passa-se de uma mídia que permite que se veja e se ouça o que está acontecendo em “qualquer lugar” do mundo – reconstruindo fatos e acontecimentos – para outra que produz toda uma ambiência específica. A recepção ou o consumo dos produtos midiáticos tornam-se uma das práticas do cotidiano (p.176).

    A principal característica do sistema midiático, segundo Moraes (2013), é a de evidenciar a capacidade de fixar sentidos e ideologias, interferindo na formação da opinião pública e em linhas predominantes do imaginário social. Demonstra, também, desembaraço na apropriação de diferentes léxicos, a serviço de suas conveniências particulares e, finalmente, incute e celebra a vida para o mercado, a supremacia dos apelos consumistas, o individualismo e a competição (p. 20).

    Para falar sobre mídia, é necessário discutir os meios de comunicação em uma perspectiva ideológica e ética. Em uma sociedade pós-moderna, a comunicação tem um papel central e importante com suas novas tecnologias e é a informação o novo modo de desenvolvimento responsável pela produtividade do sistema capitalista. O consumo dos produtos da mídia, especialmente a eletrônica, representa hoje o principal espaço de ocupação do tempo livre da população.

    Houve tempo que a produtividade esteve ligada terra; depois foi a indústria a responsável pelo desenvolvimento. Nos dias atuais o modo de desenvolvimento fundamental, isto é, o fator de produtividade primordial é a informação. Quem detém a

    informação, detém o fator central do desenvolvimento. Até o conhecimento científico submeteu-se a uma nova lógica. Deixou de ser uma atividade nobre e desinteressada, realizada em nome do progresso da humanidade e passou a ser uma maneira especial de organizar, estocar e distribuir as informações, assumindo uma condição de mercadoria submetida aos interesses do capital e do poder político (Guarescki, 2000).

    Nos anos 50 a televisão estava pouco presente no campo jornalístico; quando se falava de jornalismo, mal se pensava em televisão. “Com os anos, a relação inverteu-se completamente, e a televisão tende a torna-se dominante econômica e simbolicamente no campo jornalístico. Isso é assinalado sobre tudo pela crise dos jornais: há jornais que desaparecem, outros que são obrigados a se colocar a cada instante a questão de sua sobrevivência, da conquista ou da reconquista de sua audiência” (Bourdieu, 1997, p. 59).

    A televisão assim como a imprensa de um modo geral, levada pela busca da audiência expõe a um grande perigo as diferentes esferas da produção cultural, arte, ciência, filosofia e, também, a vida política e a democracia O que se passa na televisão é determinado pelas pessoas que a possuem, pelos anunciantes que pagam a publicidade, pelo Estado que dá subvenções, entre outros. A televisão tem uma espécie de monopólio de fato sobre a formação das cabeças de uma parcela muito importante da população.

    As redes televisivas definem os esportes olímpicos, os horários e dias de exibição, escolha das cidades etc. Os governos nacionais buscam, no sucesso de seus atletas, uma maneira de vangloriar seus próprios resultados políticos. Esse processo de “transmutação simbólica”, como define Bourdieu, é pertinente nos dias atuais. Por um lado a televisão transforma a competição esportiva em um confronto de campeões e, ao mesmo tempo, existe uma construção social do espetáculo e das manifestações oferecidas, vezes muitas com caráter nacionalista, e a produção da imagem televisiva desse espetáculo enquanto um produto comercial que obedece à lógica de mercado ou , ainda, a exploração simbólica e econômica da vitória (Alves, 2014).

    Chomsky (2013), ao falar sobre mídia pergunta em que tipo de mundo e de sociedade queremos viver e em que democracia estamos pensando para nossa sociedade. Ele apresenta duas concepções diferentes: a de uma sociedade em que o povo dispõe de condições de participar de maneira significativa na condução de seus assuntos e outra que leva em consideração que o povo deve ser impedido e rigidamente controlado. O autor entende que a segunda concepção é a predominante em nossa sociedade. Quando a propaganda política patrocinada pelo Estado, quando apoiada pelas classes instruídas e quando não existe espaço para contestá-la, pode haver conseqüências importantes numa sociedade.

    Chomsky cita como exemplo o jornalista americano Walter Lippman, importante crítico da política interna e externa e também teórico da democracia liberal. Lippman entende que somente uma pequena elite, a comunidade intelectual, é capaz de entender os interesses gerais de um país, aquilo com que todos nos preocupamos, e que esses temas “escapam às pessoas comuns”.

    Ou seja, segundo Lippman, para uma democracia funcionar adequadamente é necessário existir duas classes de cidadãos: uma classe especializada, que assume o papel ativo na gestão dos assuntos de interesse público, que assumem a função executiva, que pensam, planejam e compreendem os interesses de todos. E “aqueles outros”, também chamados de “rebanho desorientado” que tem a função, na democracia, de “espectador”, e não de participante da ação.

    Segundo Chomsky (2013) existe uma lógica por trás disso ou uma espécie de princípio moral imperativo. O princípio moral imperativo é que a maioria da população é simplesmente estúpida demais para conseguir compreender as coisas. Não se permite que o rebanho desorientado se torne participante da ação: ele só vai causar transtorno. É necessário que algo domestique o rebanho desorientado, e esse algo é a nova revolução na arte da democracia: a produção do consenso. A mídia, as escolas e a cultura popular têm que ser divididas. Para a classe política e para os responsáveis pela tomada de decisões, elas têm que oferecer uma percepção razoável da realidade, embora também tenham de incutir nele as convicções certas (p.18).

    Entretanto cabe a pergunta de como eles alcançam a posição em que tem autoridade para tomar decisões e fazer parte da classe especializada. Para Chomsky, é servindo as pessoas que têm o poder de verdade e que são donas da sociedade, ou seja, o poder privado. O resto do rebanho desorientado só precisa ser distraído.

    Num Estado totalitário ou militar, se alguns não obedecerem a “classe especializada” ou saírem da linha, são penalizados ou esmagados. Mas numa sociedade livre e democrática, precisa-se recorrer às técnicas da propaganda política. A propaganda política está para a democracia assim como o porrete está para um Estado totalitário. O sistema na sociedade democrática é eficaz e penetra na política do partido. Ninguém questiona, é como o ar que respiramos. Ele penetra na política do partido dando a impressão de que há um debate. É um sistema eficaz.

    Em nossa sociedade, as pessoas devem ser desviadas, para ficarem inofensivas, é preciso submergi-las e atordoá-las com informações para que não tenham tempo de refletir. É preciso convencê-las de que são incapazes de mudar e que a revolta só piora tudo. É preciso votar às vezes, o que lhes dá a ilusão de decidir, uma ilusão necessária. E a mídia tem um papel fundamental nesse processo

Mídia e esporte

    Ao longo das últimas décadas o fenômeno esportivo, quanto ao seu papel na sociedade industrial, tem sido abordado de duas formas; de uma forma romântica, que valoriza o lúdico, como fator civilizatório, criador de identidades e de formas de socialização, e numa visão mais apocalíptica diante da mercantilização excessiva e da espetacularização que o esporte adquiriu, especialmente na segunda metade do século XX (Marques, 2011).

    Umberto Eco, ao analisar o discurso da imprensa esportiva nos dias atuais, estabelece três categorias do esporte: “elevado ao quadrado”, “elevado ao cubo” e “elevado à enésima potência”. A primeira dá-se quando o jogo, que era praticado em primeira pessoa, passa a ser uma espécie de discurso sobre o jogo, isto é, o jogo passa a ser um espetáculo para os outros, surgindo assim, a figura do espectador, o espetáculo esportivo sobre o qual se exercem especulações e comércios, bolsas e transações, vendas e consumos. A segunda categoria ocorre a partir do momento em que impera o discurso sobre o esporte assistido, o discurso da imprensa esportiva em primeira instância. A terceira categoria, esporte elevado à enésima potência, representa o discurso sobre a imprensa esportiva, ou seja, o componente autorreferencial que a imprensa esportiva demonstra ao autofocar as discussões sobre as práticas esportivas.. Neste, a discussão e o relato não são mais sobre o esporte, mas sim sobre a falação a respeito do esporte. A falação sobre o esporte dá a ilusão de que se pratica o esporte; o falante se considera esportista e não percebe que não pratica atividade esportiva alguma (Marques, 2011, p.98).

    Os esportes profissionais, no sistema midiático, obedecem à lógica da mercadoria, onde os planos de comercialização levam em conta direitos de transmissão, patrocínios, sorteios, promoções, merchandising de marcas, entre outros, tornando-se em uma das mais lucrativas indústrias capitalistas. As competições tornaram-se nichos econômicos no mercado global, cada vez mais atrelado ao poder da divulgação televisiva (Moraes, 2013).

    Nos dias atuais a grande atração esportiva na mídia brasileira, depois do futebol, é o MMA (é a sigla para Mixed Martial Arts, ou em português, “Artes Marciais Mistas”). São artes marciais que incluem golpes de luta em pé e técnicas de luta no chão. Poderíamos classificar este evento de esporte? Quais os critérios necessários para uma atividade ser considerada um esporte?

    Com sua origem no Brasil, com o vale tudo, foi levado para os EUA e transformou-se em UFC (é a sigla de Ultimate Fighting Championship, uma organização americana de artes marciais) e suas lutas passaram a ser transmitidas pelos canais de TV americanos fechados. Comprado por um grupo americano que atuava no Box, a atividade foi regulamentada e mediada por uma entidade, passou a ter regras, criou-se um calendário esportivo e finalmente foi reconhecido como esporte.

    No Brasil o MMA foi pensado para esse aparato midiático. Invadiu todos os espaços comunicacionais, chegando ao ponto da maior TV brasileira, a rede Globo, escalar seu principal jornalista esportivo, Galvão Bueno, para a apresentação e transmissão dos eventos. Isso demonstra a dimensão da importância midiática desse esporte (Marques, 2012).

    Para Betti (2002), não existe esporte na mídia, apenas esporte da mídia. “Se a mídia enfocasse o esporte como cooperação, autoconhecimento, socialização etc., em vez do habitual ênfase no binômio vitória-derrota, recompensa extrínseca, violência etc. , ainda assim estaria fragmentado e descontextualizando o fenômeno esportivo, pois a competição e uma certa agressividade são a ele inerentes”.

    O autor ainda apresenta as características do esporte da mídia: 1) ênfase na “falação esportiva”, de Umberto Eco (informa e atualiza quem ganhou, quem foi contratado ou vendido, conta a história das partidas, das corridas, dos campeonatos, faz previsões, fala sobre a participação dos árbitros entre outros); 2) monocultura esportiva (ênfase excessiva ao futebol); 3) sobrevalorização da forma em relação ao conteúdo (o poder da linguagem audiovisual é maximizado na TV em busca da emoção do espectador, e não da razão, ocasionando a fragmentação e descontextualização do fenômeno esportivo. Também ocorre nas mídias impressas onde as imagens vem ganhando espaço em relação às palavras); 4) superficialidade (as culturas das mídias é a cultura do efêmero, do breve, do descontínuo); 5) prevalência dos interesses econômicos (atende aos interesses econômicos, valorizando índices de audiência).

    Pires (2002) chama a atenção para a transformação do exercício físico, esporte e mídia em decorrência das transformações decorrentes do novo cenário, pelo interesse da indústria midiática. Para o autor, as empresas da área de comunicação de massa integram a linha de frente dos grupos financeiros que vem se tornando parceiros do sistema esportivo no mundo inteiro, assumindo a interface mídia-esporte como o fulcro dos interesses comuns (p. 82). A associação entre empresas de comunicação e esporte constitui-se, no Brasil, em um novo filão comercial, capaz de gerar novos monopólios econômicos.

    O esporte, como outras atividades culturais, passa a ser entendido não só como lazer, mas, principalmente, como uma das coisas a ser apropriada para a produção de mercadorias. Esporte e comunicação se interagem e se constituem mutuamente. O homem moderno assumi o papel de consumidor permanente do esporte.

Considerações finais

    Historicamente a mídia sempre foi a defensora do poder constituído no Brasil. Foi assim no Brasil Império, no governo Vargas e na ditadura militar. Ela defendia os grandes interesses ou grupos econômicos. Hoje, ela é o grande grupo econômico, é o próprio capital.

    A mídia, especialmente a televisão, tem um enorme poder de influência sobre a visão do esporte, fazendo com que a sociedade seja induzida ao consumo. Ela também passou a ser o principal meio de programação e financiamento das modalidades esportivas, como, por exemplo, o futebol e o voleibol, interferindo nos horários dos jogos e até em suas nas regras. Com o apoio da mídia, alguns clubes esportivos conseguem até negociar melhores contratos de patrocínio. Ou seja, o sistema midiático utiliza o esporte como produto de consumo, tornando-o um instrumento em busca do lucro.

    Outro aspecto que deve ser colocado em discussão no sistema midiático é a questão da ética no jornalismo. A palavra ética hoje parece estar banalizada e até desacreditada. A mídia a desrespeita por conta de seus interesses voltados para a publicidade e arrecadação de lucros. Fica a pergunta: a imprensa é um veículo de informação ou simplesmente um negócio?

    No “Documentário: Mídia, poder e sociedade”, algumas propostas são apresentadas, por jornalistas brasileiros, para responder a essas questões levantadas. Fica claro que existe uma questão técnica e ideológica a ser resolvida; é necessário um novo marco regulatório, é hora de buscar soluções para problemas da mídia que afligem toda a sociedade e mudar as relações dos grupos de comunicação com a sociedade e com o poder.

    É necessário, também, uma lei para determinar um limite para os poderes midiáticos, de uma política pública, não só de democratização da informação, mas muito mais abrangente, para tentar preservar uma identidade nacional. A estabilidade e transparência das relações entre mídia, estado e sociedade são bases da democracia.

Bibliografia

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 20 · N° 214 | Buenos Aires, Marzo de 2016
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