Os arquifonemas na oralidade de alunos do primeiro ciclo do ensino básico Los archifonemas en la oralidad de los estudiantes del primer ciclo de la educación básica The archiphonemes in orality students of the first cycle of basic education |
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*Graduando em Letras – Língua Portuguesa e Literaturas pelo Departamento de Letras, campus III, da Universidade Estadual de Alagoas – UNEAL. Bolsista PIBIC/FAPEAL **Graduando em Letras – Língua Portuguesa e Literaturas pelo Departamento de Letras, campus III, da Universidade Estadual de Alagoas – UNEAL. Bolsista PIBIC/FAPEAL (Brasil) |
Silvio Nunes da Silva Júnior* Fellype Lima Alves da Costa** |
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Resumo Este artigo tem como objetivo investigar as ocorrências de arquifonemas na oralidade de alunos do primeiro ciclo do ensino básico. O arquifonema é a neutralização de um fonema, que em outro ambiente fonológico poderia provocar mudança de signos lingüísticos. O corpus é constituído por dados provenientes a fala transcrita de seis alunos de ensino fundamental, tomando como base de investigação oito palavras de língua portuguesa. Na análise de dados, foi possível constatar, uma vez adotadas as variáveis: sexo, idade e escolaridade, que os arquifonemas ocorreram com mais freqüência na fala de alunos do sexo masculino, e no que tange a faixa etária, ocorreram mais arquifonemas na fala de alunos com sete anos. Unitermos: Arquifonemas. Signo lingüístico. Palavras de Língua Portuguesa.
Abstract This article aims to investigate the archiphonemes occurrences in orality students of the first cycle of basic education. The archiphoneme is the neutralization of a phoneme, which in other phonological environment could trigger change of linguistic signs. The corpus consists of data from the speech transcribed six primary school students, taking as a research base eight words of Portuguese. In data analysis, it determined once adopted the following variables: gender, age and education, the archiphonemes occurred more frequently in the speech of male students, and with respect to age group, there were more archiphonemes in speech students with seven. Keywords: Archiphonemes. Language sign. Words of Portuguese.
Recepção: 11/10/2015 - Aceitação: 23/02/2016
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 214, Marzo de 2016. http://www.efdeportes.com/ |
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Considerações iniciais
Esta pesquisa tem como objetivo discutir a ocorrência dos arquifonemas que tendem a ocorrer nas palavras “português”, “menino”, “flamengo”, “salsicha”, “coração”, “devagar”, “alma” e “revista”. Entendemos, conforme Silva (2005), que o arquifonema expressa a perda de contraste fonêmico, o que significa dizer que em determinado contexto fonológico há uma neutralização de um ou mais fonemas.
Percebe-se, diante de tantas transformações ocorrentes da língua portuguesa, e as diversas variações lingüísticas, que a fala acabou sofrendo adaptações em relação à norma padrão da língua. A partir disto, foram iniciados estudos sobre os fenômenos fonéticos, onde são abordadas todas as ocorrências tidas na oralidade, como também na escrita, de determinada língua.
Isto posto, nos despertou a curiosidade de tratar neste trabalho as ocorrências dos arquifonemas na fala de crianças, visto que as ocorrências relacionadas a este fenômeno são constantes e basicamente fáceis de serem encontradas, mais enfaticamente em sujeitos no processo de alfabetização lingüística.
No primeiro momento, apresentaremos uma discussão a respeito da Fonética e Fonologia, apresentando a importância dessas disciplinas para os estudos lingüísticos, bem como as complementaridades e diferenças dessas duas áreas. No segundo momento, será feita uma abordagem teórica a respeito do arquifonema, tema de estudo deste artigo. Posteriormente, apresentaremos a metodologia utilizada, a qual é de base quantitativa. Após essa abordagem, partiremos para a transcrição fonética propriamente dita, o que permitirá que, em seguida, destaquemos a ocorrência dos arquifonemas nas oito palavras escolhidas por meio dos dados transcritos. Em seguida, quantificaremos os dados e apresentaremos os resultados.
1. Fonética e fonologia
O estudo da fonética e da fonologia faz-se imprescindível nos estudos lingüísticos de língua portuguesa e estrangeira, por tratarem particularmente dos fones (sons), e fonemas (menores unidades sonoras). Para Henriques (2007, p. 6), “A Fonética estuda os sons da fala; a Fonologia estuda os sons da língua”.
Na atualidade, os estudos abrangem de uma maneira geral à fonética e a fonologia, preocupando-se, nesse sentido, em fazer distinções no que corresponde cada um dos termos. O que se deve entender, primeiramente, é que a fonética e a fonologia não são iguais, e nem completamente distintas, pois para existir a fonologia, deve-se existir a fonética para complementá-la, e vice e versa.
Como destaca Silva (2006, p. 27) “Podemos observar que a Fonética e a Fonologia são compreendidas como disciplinas com objetos de estudos distintos, sendo que cada uma destas disciplinas estabelece uma relação diferenciada com a Lingüística [...]”.
O estudo fonético detém-se no estudo dos fones, ou seja, dos sons da linguagem humana que determinam os traços articulatórios. “Enquanto a fonética estuda os sons como entidades físico-articulatórias isoladas, a fonologia irá estudar os sons do ponto de vista funcional como elementos que integram um sistema lingüístico determinado” (Callou e Leite, 2009, p. 11)
Na linguagem humana, observa-se que o ato de fala se concretiza com muita facilidade no cotidiano, seja na capital, no interior, ou em qualquer lugar. O ato de fala é tão natural como escutar, comer ou enxergar. Como afirma Callou & Leite (2009, p. 13) “Falar é tão natural para os seres humanos, como o são o olfato, a visão e o paladar, que só nos detemos para examinar seu funcionamento nos casos de deficiência ou de privação”.
Para a concretização da produção sonora, pode-se ver de acordo com Callou & Leite (2009, p. 15) que este processo se divide em três etapas.
A produção dos sons é assim estudada de três ângulos diversos: 1) partindo-se do falante (da fonte) e examinando-se o que se passa no aparelho fonador; 2) focalizando-se os efeitos acústicos da onda sonora produzida pela corrente de ar em sua passagem pelo aparelho fonador ou, então, 3) examinando-se a percepção da onda sonora pelo ouvinte, isto é, o estudo das impressões acústicas e de suas interpretações no processo de decodificação.
Com isso, vê-se que a produção sonora só irá se concretizar através da dependência dos estabelecimentos das etapas citadas acima. Partindo do falante, passando pelos efeitos acústicos, e por fim as impressões acústicas causadas pelos efeitos.
1.1. Fonética
Resumidamente, a descrição dos eventos fonéticos de uma língua deve servir de base para o estabelecimento de valores categóricos. A descrição dos eventos fonéticos fica a cargo da fonética; já o estabelecimento de valores distintivos categóricos, isto é, que distinguem palavras em uma língua, é função da fonologia. (Silva, 2009, p. 35)
A fonética, como já foi dito, detém-se exclusivamente no estudo dos fones, ou seja, dos sons produzidos na linguagem humana, que disseminam os traços articulatórios, estudando então, a natureza física da fala e, preocupando-se apenas com a teoria do signo lingüístico, não se importando com o seu conteúdo ou assunto.
Diante disso, Silva (1999, p. 17), divide a fonética em três denominações diferentes.
Fonética articulatória: a maneira como os sons são produzidos, ou seja, os movimentos do aparelho fonador na produção dos sons;
Fonética acústica: a maneira como o som é transmitido, isto é, as propriedades físicas (acústicas) dos sons que se propagam através do ar;
Fonética auditiva: como eles são percebidos pelo ouvido.
A fonética estuda basicamente a pronuncia e as transcrições da língua falada, tendo a fonética articulatória como a denominação mais perceptível do estudo fonético, visto que a fala é concretizada no decorrer da expiração de ar, tendo em vista que alguns tipos de sons são pronunciados durante a inspiração.
Dentro da perspectiva da fonética articulatória, Silva (2012), explicita um dos conceitos mais utilizados.
A Fonética articulatória é um dos principais ramos da Fonética, que é a ciência responsável pelo estudo dos sons utilizados na linguagem humana. Tendo como ponto de vista de análise os aspectos fisiológicos e articulatórios da produção da fala, a fonética articulatória se encarrega da observação, descrição, classificação e transcrição dos sons produzidos.
A fonética articulatória é simplesmente a denominação da fonética que trata das transcrições de fala, que servem de corpus para diversos estudos provenientes a esta área.
1.2. Fonologia
A fonologia trata basicamente do estudo dos fonemas, ou seja, das unidades sonoras da fala. “O fonema é uma unidade da língua e sons ou fones são unidades da fala”. (Callou e Leite, 2009, p. 35). A fonética define restritamente os sons da língua apresentando os valores distintivos da língua.
Visto que a fonética estuda a natureza física da fala, a fonologia detém-se na maneira com que a fala se organiza na língua, tendo um conjunto de traços articulatórios, os quais formam os traços distintivos da língua, como objeto principal para seus estudos. Para Silva (2012)
A Fonologia é a ciência que estuda a organização dos sistemas sonoros das línguas naturais. Transcrições fonológicas são apresentadas entre barras transversais: /.../. Transcrições fonológicas recebem várias denominações dependendo do modelo fonológico, como, por exemplo: representação subjacente, representação lexical, representação mental ou output.
Nesse sentido, a fonologia, assim como a fonética, possui suas denominações, que são elas: representações subjacentes, mais conhecida como fonologia gerativa, representação lexical, ou autosegmental, representação fonêmica, representação fonológica, e a representação mental, que trata dos conceitos de output e input, segmentos utilizados nos estudos lingüísticos voltados à aquisição da linguagem.
2. Arquifonemas
A definição de arquifonema é praticamente a mesma entre os autores que estudados para esta pesquisa. Para Silva (2005, p. 158), um arquifonema expressa a perda do contraste fonêmico, o que implica dizer que em determinado contexto fonológico há uma neutralização de um ou mais fonemas. Para exemplificar sua definição, a autora afirma que á um contraste fonêmico nos pares mínimos “assa, asa, acha, haja” em posição intervocálica. Trata-se da oposição entre os fonemas /s, z,ʃ, z/. No entanto, ainda segundo a autora, em posição final de sílaba, o contraste fonêmico dos fonemas /s, z, ʃ, z/ desaparece. Isso é visível em palavras como em [meʃ] e [mês] em que a posição final de sílaba acontece uma neutralização.
Segundo Crystal (2008), em seu Dicionário de Lingüística e Fonética, arquifonema é um termo usado em Fonologia com referência a uma maneira de se lidar com o problema de neutralização, ou seja, quando o contraste entre fonemas se perde em certas posições de uma palavra. Assim, para ser considerado arquifonema, e não alofone1, a neutralização ocorre, a mudança de fonema só pode existir de forma posicional, isto é, numa região específica da palavra.
3. Metodologia
A pesquisa em pauta é de base quantitativa, pois nosso intuito foi estabelecer perguntas objetivas para o entrevistado. Isso significa que sabíamos exatamente o que perguntaríamos aos informantes. Como nossos dados são compostos por oito palavras que não mantêm relação entre si, nós selecionamos oito imagens para que a coleta fosse realizada. Os dados foram coletados em duas escolas públicas, uma na cidade de Palmeira dos índios e outra na cidade de Maribondo, ambas no Estado de Alagoas. Foram entrevistados seis alunos, três do sexo masculino e três do sexo feminino. Dos seis alunos, 50% tem 7 anos e cursam a segunda série do ensino fundamental e os outros 50% tem 10 anos e cursam a quinta série também do ensino fundamental.
Assim, consideramos como variáveis o sexo, a idade e a escolaridade, com o objetivo de observar em qual deles o arquifonema ocorre mais.
3.1. Instrumentos para a coleta
Para a coleta de dados, foi necessária a utilização de materiais visuais para a assimilação do informante no processo de decodificação, que resultou na pronúncia da palavra almejada pelo pesquisador.
Diante disso, foram utilizadas as imagens e os questionamentos a seguir para a coleta de dados:
Português: Para o processo de assimilação do aluno com a referida palavra, foi utilizado o método de perguntas e respostas na interação. Foi utilizado o seguinte questionamento: Qual o idioma que nós Brasileiros falamos?
Menino: Para a assimilação desta palavra, foi utilizada a seguinte imagem.
Fonte: http://lerescrever.no.sapo.pt/germinando_menino%20e%20menina.htm
Flamengo: Como se trata de um time de futebol, utilizou-se a imagem representada pela bandeira do referido time, que consta abaixo.
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Clube_de_Regatas_do_Flamengo
Salsicha: Para representar este termo, foi utilizada a seguinte imagem.
Fonte: http://www.obomprato.com.br/?p=2622
Coração: Para representar este termo, foi utilizada a seguinte imagem.
Fonte: https://pixabay.com/pt/cora%C3%A7%C3%A3o-amor-red-valentim-157895/
Devagar: Como se trata de um substantivo abstrato, necessitou-se realizar uma adaptação de pergunta com imagem. O questionamento foi: Este animal anda muito...?, e a imagem consta abaixo.
Fonte: http://criartes.webnode.com.br/products/a-pequena-tartaruga/
Alma: Não tendo estratégias exatas para a assimilação deste termo, optou-se pelo uso do seguinte questionamento: Quando uma pessoa morre, fica o corpo e morre a...?
Revista: Optou-se pelo uso da imagem abaixo, como representação.
Fonte: http://capricho.abril.com.br/revista/taylor-swift-702587.shtml
3.2. Transcrições
3.3. Resultados
Como pode-se observar no quadro, houve variação na maneira como os alunos pronunciaram as oito palavras. Os três primeiros informantes são da segunda série (primeiro ano), do sexo masculino, e têm sete anos. Na transcrição da fala deles é possível identificar os arquifonemas, como em “mininu”, “framengo” e “divagar”, em que a neutralização nesse contexto fonológico não provoca mudança de signo. Na fala dos outros informantes também foi possível identificar os arquifonemas, mas em menor quantidade. O informante 4, por exemplo, teve uma fala artificializada, o que pode ter atrapalhado a ocorrência do arquifonema, que ocorre com freqüência na fala espontânea. Dessa forma, nesta pesquisa, o arquifonema ocorreu mais na fala de alunos do sexo masculino, com idade de sete anos e que cursam a segunda série do ensino fundamental.
Considerações finais
Os aspectos abordados no presente artigo, o qual objetivou tratar de ocorrências de arquifonemas, permite-nos expor as seguintes considerações finais.
Em primeiro plano, foi possível perceber, que os fenômenos fonéticos são encarados naturalmente, mediante tantas variações lingüísticas presentes na língua falada.
Outro aspecto que merece ênfase, é a importância das transcrições fonéticas no estudo da língua materna, por tratar da língua como estrutura física, podendo sofrer modificações, e que a partir destas transcrições é possível realizar estudos que abordam todo e qualquer fenômeno fonético escolhido pelos pesquisadores da área.
Assim, portanto, o estudo lingüístico que toma como base os fenômenos da língua com base na fonética e na fonologia permite aos pesquisadores partir por diversos dimensionamentos importantes, tanto na pesquisa quantitativa, quanto na qualitativa, reverenciando também, que a língua está em movimento e sempre estará apta a abranger novos olhares e perspectivas para adensar cada vez mais no extenso mundo da lingüística moderna.
Nota
No Alofone ocorre mudança de fonema que não pressupõe mudança de significado.
Bibliografia
Callou, Dinah e Leite, Yonne (2009). Iniciação à fonética e à fonologia. 11ª ed. Rio de Janeiro: Zahar.
Cristófaro-Silva, Thais e Yehia, Hani Camille (2012). Sonoridade em Artes, Saúde e Tecnologia. CD-ROM, Belo Horizonte: Faculdade de Letras. Disponível para download em: http://fonologia.org
Crystal, David (2008). Dicionário de Lingüística e Fonética. 2ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora.
Henrique, Claudio Cesar (2007). Fonética, fonologia e ortografia: estudos fono ortográficos do português. Rio de Janeiro: Elsevier.
Silva, Glauber Romlingda (2009). Fonologia da língua Paresi-Haliti (Arawak). 319 p. Dissertação (Mestrado em Lingüística) – Programa de Pós-graduação em Lingüística, Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Silva, Thais Cristófaro (2006). Fonética e Fonologia: Perspectivas Complementares. Revista de Estudos da Linguagem, Vitória da Conquista - BA, v. 3, p. 25-40.
Silva, Thais Cristófaro (1999). Fonética e fonologia do português. São Paulo: Contexto.
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