efdeportes.com

Hábitos de hidratação e alteração hídrica corporal 

em praticantes de caminhada da cidade de Coari, AM

Hábitos de hidratación y cambios hídricos corporales en practicantes de caminata urbana de Coari, AM

Hydration habits and body water change to regular walkers in Coari city, AM

 

*Acadêmico do curso de nutrição do Instituto de Saúde

e Biotecnologia da Universidade Federal do Amazonas/UFAM

** Professora Adjunta do Instituto de Saúde e Biotecnologia

da Universidade Federal do Amazonas/UFAM

(Brasil)

William Charleston Azevedo Nunes*

williaaamnunes@gmail.com

Grasiely Faccin Borges**

grasiely.borges@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo teve como objetivo verificar os hábitos de hidratação dos praticantes de caminhada na cidade de Coari-AM-Brasil. Foi utilizado um questionário sobre caminhada e hidratação, foi aferido à estatura e o peso corporal antes e após a caminhada. Foram entrevistados 130 indivíduos praticantes da caminhada, com idade média de 34,23 ± 11,60 anos, entre eles 73 (56,15%) eram do sexo feminino e 57 (43,84%) do sexo masculino. Os praticantes da caminhada na cidade de Coari-AM apresentaram baixa perda hídrica corporal após a execução da atividade física, relataram hábitos de hidratação antes (85,38%) e após a prática de exercício (93,84%). A hidratação durante o exercício poderia ser melhorada, pois menos da metade afirmaram fazer uso dessa prática.

          Unitermos: Hidratação. Atividade motora. Caminhada.

 

Abstract

          The purpose of this study was to verify the habits of hydration of the practitioners of walk in Coari city-AM-Brazil. We used a questionnaire about walking and hydration, height and body weight was measured before and after the walk. We interviewed 130 individuals practicing the walk, with a mean age of 34.23 ± 11.60 years, including 73(56.15%) female and 57(43.84 %) male. The adepts of walk in Coari-AM city had low body water loss after the performance of physical activity, reported hydration habits before (85.38%) and after exercise (93.84%). Hydration during exercise should be improved because under half said they make use of this practice.

          Keywords: Hydratation. Physical activity. Walking.

 

Recepção: 30/09/2015 - Aceitação: 09/12/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 214, Marzo de 2016. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O estresse térmico ocasionado a uma pessoa durante a prática de atividade física pode gerar dois tipos de respostas: em baixos níveis, pode gerar desconforto e fadiga; em níveis mais altos pode ocasionar redução significativa do desempenho (Silva et al., 2011). A perda de água pelo suor induzido por um exercício físico, além de ser importante na regulação da temperatura do organismo (Powers e Howley, 2001). Além desses agravantes, um estresse térmico muito prolongado pode ocasionar uma diminuição drástica na hidratação, redução esta que pode provocar diminuição do volume do sangue, levando a uma diminuição da pressão sanguínea e afetar o processo transpiratório (Meir et al., 2003).

    As alterações no equilíbrio hídrico diário são facilmente corrigidas para níveis normais com a hidratação, porém a imposição de exercícios físicos e o estresse ambiental, a taxa de sudorese se eleva durante a prática de exercícios físicos, ocorre uma perda hídrica significativa, podendo comprometer o desempenho e a saúde (Cheuvront e Sawka, 2006; Shirreffs, 2003; Perrella; Noryyuki e Rossi, 2005).

    O mecanismo de elevação da temperatura corporal pode ser verificado a partir de uma perda de 1% a 2% de líquido. Estudos afirmam que a perda hídrica entre 2% a 4% do peso corporal do indivíduo interfere diretamente no desempenho e na performance, além de ocasionar efeitos colaterais fisiológicos no organismo humano (Brito et al., 2006; Marins e Ferreira, 2005; Drumond et al., 2007; Machado-Moreira et al., 2006). Valores acima de 4% do peso corporal podem levar o indivíduo à fadiga térmica e a partir de 6% de perda hídrica aumenta-se a probabilidade de choque térmico, coma e até morte (Perrella; Noryyuki e Rossi, 2005).

    Durante vários anos a recomendação feita para evitar a desidratação durante o exercício físico aos atletas e praticantes de atividades físicas era que a cada 15 ou 20 minutos de exercício ingerissem água pura e bebidas esportivas em quantidades fixas ou o máximo de líquidos. Atualmente tem sido verificado que esta estratégia de reidratação, durante o exercício físico, pode ser excessiva ou mesmo prejudicial à saúde das pessoas (Montain et al., 1995; Shirrefs, 2005; Armstrong et al., 1997; Sawka, 2007). Dados recentes têm demonstrado evidências sobre o crescente número de pessoas que são acometidas pela hiponatremia (baixa concentração de sódio plasmático: valores abaixo de 135 mEq) durante exercícios físicos prolongados, devido, sobretudo, à hiperidratação (Noakes, 2003).

    O estado do Amazonas (Brasil) é dotado de clima quente e úmido, o que pode provocar perda hídrica através da sudorese e acarretar em desidratação, alteração do equilíbrio hidroeletrolítico, dificuldade de efetuar a termorregulação, entre outros, representando risco para a saúde e causando uma queda tanto no desempenho esportivo quanto na prática de atividades menos intensas, que é o caso da cidade de Coari-AM. O presente trabalho teve como objetivo verificar os hábitos de hidratação e alterações hídricas corporais dos praticantes de caminhada da cidade de Coari-AM-Brasil.

Metodologia

    Trata-se de uma pesquisa descritiva de corte transversal, o qual os dados foram coletados por meio de medidas e entrevistas pessoais em um único momento (Thomas e Nelson, 2002). O estudo foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa com seres humanos da Universidade Federal do Amazonas-UFAM, sob o CAEE: 34417714.0.0000.5020.

    Foram incluídos indivíduos de ambos os sexos, com idade igual ou superior a 18 anos, que praticavam caminhada na estrada Coari-Mamiá e que aceitaram participar da pesquisa, responder o questionário e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foram entrevistados 130 indivíduos, 57 homens (43,84%) e 73 mulheres (56,15%).

    Como instrumento de coleta de dados foi utilizado um questionário com questões relacionadas ao tema caminhada e hidratação. Foi utilizado também estadiômetro e a balança, para verificar a estatura e a massa corporal, em seguida calculou-se o Índice de Massa Corporal (kg/m²). A coleta de dados foi realizada na estrada Coari-Mamiá na cidade de Coari-AM-Brasil, nos meses de janeiro e fevereiro de 2015.

    Os dados foram tabulados e realizou-se estatística descritiva onde apresentou-se média, desvio padrão e porcentagem das variáveis estudadas. Foi utilizado o programa Microsoft Excel.

Resultados

    Foram entrevistados 130 indivíduos praticantes da caminhada, entre eles 73(56,15%) eram do sexo feminino e 57(43,84%) do sexo masculino. Os participantes apresentaram idade média de 34,23 ± 11,60 anos. O sexo masculino apresentou estatura média de 1,70 ± 0,05m, IMC de 28,55 ± 4,60kg/m², classificados como pré-obesos. O sexo feminino apresentou estatura média de 1,57 ± 0,05m, IMC médio de 27,40 ± 4,36 Kg/m², classificadas, também como pré-obesas. Quanto à escolaridade, 34 (26,15%) possuíam até o ensino fundamental, 83 (63,84%) o ensino médio e 12 (9,23%) possuíam ensino superior.

    Quando comparado o peso corporal inicial (PI) com o peso corporal final (PF) após a caminhada percebeu-se que o sexo masculino teve perca de 0,59 ± 0,54Kg, já o sexo feminino teve um acréscimo de 0,21 ± 0,90Kg, devido à reidratação realizada durante a atividade física. A tabela 1 mostra as alterações hídricas corporais dos participantes comparando o PI com o PF.

Tabela 1. Estatura, índice de massa corporal e alteração hídrica corporal dos praticantes de caminhada da cidade de Coari-AM

Sexo

Estatura (m)

IMC (Kg/m²)

PI (Kg)

PF (Kg)

Diferença

(Kg)

Masculino (n=73)

1,70 ± 0,05

28,55 ± 4,60

82,70 ± 14,44

82,64 ± 14,57

0,59 ± 0,54

Feminino

(n=57)

1,57 ± 0,05

27,40 ± 4,36

67,88 ± 12,21

67,94 ± 12,90

0,21 ± 0,90

Total (n=130)

1,62 ± 0,08

27,90 ± 4,50

74,38 ± 15,14

74,67 ± 15,52

0,38 ± 0,78

    Quanto ao uso de medicamento, 22(16,92%) relataram que faziam uso, porém 5(3,84%) não sabiam informar o nome do medicamento, as mulheres eram as que mais utilizavam medicamentos (14), os mais citado entre elas foram os anticoncepcionais, utilizados por 4 participantes. Entre os homens apenas 8 faziam uso de algum medicamento.

    Entre os praticantes de caminhada entrevistados, 34 estavam no seu primeiro dia de caminhada, 36 já praticavam entre 1 a 6 meses, 11 de 6 a 12 meses e 49 já praticavam a mais de um ano. Os homens afirmaram caminhar em média 75,61 ± 35,64 minutos por sessão, enquanto que as mulheres afirmaram caminhar em média 94,79 ± 46,51 minutos.

    Os participantes apontaram três objetivos para a prática da caminhada, 83 (63,84%) revelaram praticar a caminhada para reduzir o peso corporal enquanto 45 (34,61%) realizavam a caminhada para manter o peso corporal e 2 (1,53%) participantes procuram manter um estilo de vida saudável.

    Dos 130 participantes, apenas 13 (10%) informaram ter algum acompanhamento profissional, 7 eram acompanhados por Educadores Físicos, 4 por Médicos e 2 por Nutricionistas.

    Quanto à ingestão líquida antes da caminhada, em média os participantes relataram ingerir 1,71 ± 1,06 copo de água antes da caminhada, 111 (85,38%) participantes ingerem líquidos e 19 (14,61%) não ingerem líquidos. O líquido mais relatado foi a água (81,53%), seguido de suco de fruta (3,84%) participantes (tabela 2).

    Quanto à ingestão durante a caminhada, 43(33,07%) participantes relataram ingerir líquidos enquanto 87(66,92%) afirmaram não realizar a ingestão líquida. O líquido mais utilizado foi a água, sendo relatada por 38(29,23%) participantes (tabela 2). A quantidade média de líquido ingerido foi de 2,18 ± 1,04 copos.

    Quanto a ingestão após a caminhada, 122 (93,84%) participantes afirmaram fazer ingestão de líquidos e apenas 8 (6,15%) relataram não ingerir líquidos. Dos que fizeram ingestão líquida 104 (80%) ingeriram água, 14 (10,76%) suco de fruta (tabela 2). A quantidade média relatada de líquidos ingeridos foi de 2,22 ± 1,13 copos.

Tabela 2. Ingestão hídrica relatada pelos praticantes de caminhada antes, durante e após a atividade física (n=130). Coari-AM

 

Sexo

Água

Suco de Fruta

Água de Coco

Não realizam ingestão hídrica

Total

Antes da Caminhada

Masculino

48

3

0

6

57

Feminino

58

2

0

13

73

Total

106

5

0

19

130

Durante a

Caminhada

Masculino

12

 

1

44

57

Feminino

26

1

3

43

73

Total

38

1

4

87

130

Após a Caminhada

Masculino

49

3

2

3

57

Feminino

55

11

2

5

75

Total

104

14

4

8

130

    Dos 130 participantes, 35 (26,92%) apresentaram pelo menos um sintoma de desidratação no ato da caminhada. A câimbra muscular foi relatada por 12(9,23%), a tontura por 12 (9,23%), o suor intenso foi relatado por 8 (6,15%).

Tabela 3. Sintomas de desidratação relatados pelos praticantes durante a caminhada (n=130). Coari-AM

Sexo

Câimbra Muscular

Tontura

Suor Intenso

Dores de Cabeça

Náuseas

Total

Masculino

6(4,61%)

3(2,30%)

5(3,84%)

1(0,76%)

0(0,00)

15(11,53%)

Feminino

6(4,61%)

9(6,92%)

3(2,30%)

1(0,76%)

1(0,76%)

20(15,38%)

Total

12(9,23%)

12(9,23%)

8 (6,15%)

2(1,53%)

1(0,76%)

35(26,92%)

    Todos os participantes responderam que a hidratação é importante na prática de exercícios. Quando questionados sobre qual seria a importância da hidratação, 48(36,92%) afirmaram que seria para manter a saúde, 25(19,23%) disseram que seria para a manutenção do corpo, 17(13,07%) que seria para manter a hidratação do corpo, 11(8,43%) para repor o líquido perdido, 8(6,15%) responderam que a hidratação ajuda na prática de exercícios, 3(2,30%) utilizavam para saciar a sede, 1(0,76%) afirmou que a hidratação é importante para ajudar a perder peso, 1(0,76%) fazia hidratação por recomendação médica, 1(0,76%) respondeu que a hidratação evita doenças e 15(11,53%) não souberam ou não responderam.

    Os participantes também responderam sobre quando se deve ingeria ingerir líquidos, 77 (59,23%) responderam deveria ser ingerido antes da sensação de sede, 32 (16,15%%) responderam que a ingestão de líquido só seria necessária após sentir muita sede (tabela 4).

Tabela 4. Hábitos sobre ingestão hídrica de acordo com a percepção de sede dos praticantes de caminhada (n=130). Coari-AM

Sexo

Antes de Sentir Sede

Após Sentir Muita Sede

Quando Sentir Sede

Total

Masculino

34(26,15%)

10(7,69%)

13(10%)

57(43,84%)

Feminino

43(33,07%)

11(8,46%)

19(14,61%)

73(56,15%)

Total

77(59,23%)

32(16,15%)

21(24,61%)

130(100%)

    Questionados sobre a preocupação em se hidratar, 91 (70%) afirmaram que a preocupação em se hidratar existe independente da estação do ano, 26 (20%) responderam que se preocupavam mais em estar se hidratando no período mais quente do ano e 13 (10%) participantes apontaram não ter preocupação em se hidratar (tabela 5).

Tabela 5. Hábitos de ingestão hídrica de acordo com o período do ano (n=130). Coari-AM

Sexo

Período mais quente do ano

Independente da Estação

Não se Preocupam

Total

Masculino

11(8,46%)

42(32,30%)

4(3,07%)

57(43,84%)

Feminino

15(11,53%)

49(37,69%)

9(6,92%)

73(56,15%)

Total

26(20%)

91(70%)

13(10%)

130(100%)

    Dos 130 participantes, 91 (70%) afirmaram nunca recebido informação quanto a melhor maneira de se hidratar, apenas 39 (30%) afirmaram terem sido de alguma forma orientados quanto a melhor maneira de se hidratar, destes, 18 (13,84%) foram orientados por médicos, 7 (5,38%) por amigos, 7 (5,38%) afirmaram se hidratar por conta própria, 4 (3,06%) pelo preparador físico, 2 (1,53%) por nutricionista, 1 (0,76%) de acordo com informações da mídia/televisão.

Discussão

    Dos 130 entrevistados, 85,38% se hidratam antes da caminhada, 33,07% durante a caminhada e 93,84% após a caminhada. Em um estudo com karatecas sobre o hábito de se hidratar durante o treinamento e competições, 47,06% da amostra disseram que sempre se hidratam durante o treinamento e 53,13% durante as competições (Brito et al., 2006). Outro estudo feito com atletas de capoeira mostra que 92% dos atletas hidratam-se durante o treinamento (Prado et al., 2010a).

    O presente estudo demonstra que os praticantes da caminhada possuem melhores hábitos de hidratação antes e após a prática de exercícios se comparados com os atletas karatecas e capoeiristas, entretanto, durante a prática da caminhada há uma grande redução no número de pessoas que se hidratam (Brito et al., 2006; Prado et al., 2010a).

    Um estudo anterior, realizado com praticantes de caminhada e corrida na cidade de Coari mostrou que 30% dos participantes afirmaram realizar reposição hídrica durante e depois e 29,35% depois de praticar a atividade física (Mendes et al., 2012). Esses dados, comparados com os do presente estudo revelam que os praticantes de caminhada da cidade de Coari melhoraram seus hábitos de reposição hídrica.

    A reposição de líquidos antes, durante e após a prática de exercícios é de fundamental importância no desempenho dos atletas, pois a desidratação que ocorre em elevadas temperaturas (Powers e Howley, 2001), reduz a capacidade física (Strachan et al., 2005), o que poderia agravar-se na cidade de Coari-AM.

    A pré-hidratação é indicada para minimizar os efeitos da desidratação em treinos ou jogos, sendo indicado a ingestão de aproximadamente 500ml ou o equivalente a 6-8ml.kg-1 de peso corporal (Shirreffs, 2006) de algum tipo de bebida 2 horas antes do início da atividade (Sawka et al., 2007).

    O American College of Sports Medicine (1996) recomenda que os indivíduos ingiram em torno de 500 mL de líquidos nas duas horas que antecedem um exercício, para promover uma hidratação adequada e haver tempo suficiente para excreção da água ingerida em excesso.

    O líquido mais utilizado pelos participantes antes (81,53%), durante (29,23%) e após (81,53%) a prática da caminhada foi a água. Sobre a importância de se hidratar, todos os participantes responderam que a hidratação é importante. Os participantes também responderam quando se deve ingerir líquidos, 59,23% responderam que o líquido deve ser ingerido antes da sensação de sede, 24,61% responderam que a ingestão de líquido só é necessária após sentir muita sede e, 16,15% responderam que só se deve ingerir líquidos quando sentir sede.

    Um estudo revelou que 96% dos praticantes de capoeira também utilizavam água como principal líquido para se hidratar, seguida de sucos naturais (52%) e refrigerante (20%), nesse estudo os participantes podiam assinalar mais de uma alternativa (Prado et al., 2010a). Outro estudo, que foi realizado com caratecas, revelou que 66,42% dos avaliados consumiam líquidos antes de sentirem sede, 21,9% somente depois de sentirem sede e 11,68% após sentirem muita sede (Brito et al., 2006). Atletas de vôlei de praia afirmaram que o principal líquido ingerido é a água (50%), seguida de sucos (20%) e bebidas carboidratadas (15%). Outro estudo relatou ainda que para 63% dos atletas a ingestão líquida deve ser feita antes da sensação de sede e para 33% a reposição hídrica deve ser feita quando o atleta sentir sede (Prado et al., 2010b). A sede é considerada um sinal tardio de desidratação, porque quando surge, o organismo encontra-se em média com 2% a menos de peso corporal; é este o limiar de desidratação. Além disso, a ingestão de líquido voluntária quase sempre é insuficiente para evitá-la e restaurar a água perdida no suor (Tirapegui, 2009). Por isso é tão importante a ingestão de líquidos antes, durante e após a prática de atividades físicas.

    Sobre os sintomas de desidratação (câimbra muscular, tontura, suor intenso, dores de cabeça, náuseas) no ato da caminhada, 26,92% dos participantes apresentaram pelo menos um sintoma. A câimbra muscular foi relatada por 9,23% dos entrevistados, tontura por 9,23%, o suor intenso por 6,15%. Em praticantes de mountan bike, foi verificado maior incidência do sintoma de sensação de perda de força (66,7%), seguido por câimbras (51,5%) e pela insensibilidade nas mãos (42,4%) (Rodrigues; Lopes y Lopes, 2013). As principais manifestações fisiológicas observadas em karatecas foram dificuldade de concentração (38,52%), sede muito intensa (35,56%), sensação de perda de força (34,81%) e câimbras (20,74%) (Brito et al., 2006). O aparecimento de câimbras pode estar relacionado à perda excessiva do mineral sódio através do suor (Powers e Howley, 2001; Aragon-Vargas et al., 1999).

    Dos praticantes de caminhada entrevistados, 70% afirmaram que a preocupação em se hidratar existe independente da estação do ano, 20% responderam que se preocupam mais em estar se hidratando nos períodos mais quentes do ano, 10% apontaram não ter preocupação em se hidratar. Em estudo com karatecas verificou-se que 46,67% dos participantes se preocupam em se hidratar mais no verão enquanto que 43,7% independente da estação. No Brasil os atletas parecem não apresentar grandes preocupações com hidratação quando comparadas as diferentes estações climáticas, pois a temperatura na maior parte do país não varia tanto ao longo do ano, quando comparado a outros países como os europeus (Brito et al., 2006).

    Sobre acompanhamento profissional, apenas 30% relataram seguir orientações, onde 5,38% são acompanhados por Educadores Físicos, 3,07% por Médicos e 1,53% por Nutricionistas. Quanto a melhor maneira de se hidrata, 30% dos participantes afirmaram já terem sido orientados, destes, 13,84% foram orientados por médicos, 5,38% por amigos, 3,07% por preparador físico, 1,53% por nutricionista, 0,76% de acordo com informações na mídia/televisão e 70% afirmaram nunca ter tido nenhuma informação quanto a melhor maneira de se hidratar.

    Um estudo feito com karatecas constatou que 60,74% da amostra nunca tiveram uma orientação sobre qual a melhor maneira de se hidratar. Quanto aos que já tiveram orientação, 46% obtiveram informações do treinador, 22% de nutricionista e 20% de médico (Brito et al., 2006). Em estudo com atletas de vôlei verificou-se que 57% dos atletas não tinham orientações sobre qual a melhor maneira de se hidratar, entre os que tiveram informações, 33% receberam do médico e 18% do preparador físico (Prado et al., 2010b). Esses dados são preocupantes, pois assim como no presente estudo, demonstram que menos da metade das amostras nos três estudos possuíam informações sobre a melhor maneira de se hidratar.

Conclusão

    Os praticantes de caminhada na cidade de Coari-AM, apresentaram baixa perda hídrica após a execução da atividade física, e a maioria afirmou hidratar-se antes e após a caminhada, apesar disso a maioria afirmou não ter recebido informações ou orientações sobre a melhor maneira de hidratar-se. Os praticantes da caminhada da cidade de Coari-AM comparados com praticantes de outros esportes como a capoeira e o karatê relataram maior freqüência de ingestão de líquidos antes e após a prática de exercício, no entanto a hidratação durante o exercício deve pode ser melhorada, pois menos da metade afirmou realizá-la. A hidratação é de suma importância para a prática de exercícios físicos, ela evita complicações fisiológicas e ajuda na melhora do desempenho do físico, tanto em esportes intensos, quanto em atividades menos intensas como a caminhada.

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 20 · N° 214 | Buenos Aires, Marzo de 2016
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