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Limites e possibilidades da prática pedagógica em Educação Física para a inclusão de alunos com necessidades especiais
diversas: a realidade de Criciúma, SC

Límites y posibilidades de la práctica pedagógica en Educación Física para
la inclusión de estudiantes con diferentes discapacidades: la realidad de Criciuma

Limits and possibilities of pedagogical practice in Physical Education for
the inclusion of students with various disabilities: the reality of Criciuma, SC

 

*Licenciada em Educação Física pela Universidade

do Extremo Sul Catarinense – UNESC

**Professora mestre do curso de Educação Física

pela Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC

(Brasil)

Priscila da Silveira Pessoa*

missyysilveira@hotmail.com

Grasiela Gonçalves Mendes**

grasimendes@unesc.net

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo desta pesquisa foi analisar as aulas e o processo de ensino de professores de Educação Física que possuem mais de um aluno com deficiências diversas em uma mesma sala de aula, a pesquisa foi realizada com turmas do 1º ao 5º ano do ensino fundamental do município de Criciúma. Foi utilizada uma pesquisa de campo na qual foram entrevistados seis professores, sendo eles dois da rede municipal, três da rede estadual e um de uma associação beneficente. Ao finalizar este estudo percebeu-se que a formação precária e a conseqüente falta de conhecimento dos professores com relação ao tema se constituem nos principais fatores limitantes da prática pedagógica inclusiva em Educação Física.

          Unitermos: Deficiências diversas. Inclusão. Educação Física.

 

Abstract

          The objective of this research was to analyze the lessons and the teaching process of Physical Education teachers who have more than one student with various disabilities in the same classroom, the survey was conducted with classes from 1st to 5th year of elementary school from Criciuma County. A field survey was used in which were interviewed six teachers, two of them from municipal, three of the state and one charitable association. After completing this study it was noticed that poor education and the consequent lack of knowledge of teachers on the issue are the main factors affecting the inclusive lessons in Physical Education.

          Keywords: Several deficiencies. Inclusion. Physical Education.

 

Recepção: 10/12/2015 - Aceitação: 03/03/2016

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 214, Marzo de 2016. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A educação atual estabelece mais do que em qualquer outro período histórico o acesso para todos os tipos de pessoas, seja ela dita “normal” ou com alguma deficiência. Muitos professores de Educação Física ainda têm dificuldades em incluir o aluno especial na sala de aula, pois a inclusão vai além de simplesmente colocar o aluno no mesmo espaço que os demais, mas sim garantir de fato que esses alunos vivenciem todos os aspectos de forma plena.

    Nesse sentido, Mendes (1999, p. 18) afirma que:

    (...) a inclusão total (se entendida como a inserção de todas as crianças e jovens, independentemente do tipo e grau de limitação, na classe regular, por tempo integral e sem qualquer outro tipo de apoio) é uma resposta muito simplista e equivocada a um tema demasiadamente complexo, e que, se caracteriza no momento por uma confiança excessiva na retórica e pela falta de evidências científicas. É muito mais uma questão de crença, ou religião do que de ciência.

    Ao se tratar de Educação Física inclusiva, a escola terá como objetivo o desenvolvimento do aluno, sendo que o professor (a) deverá trabalhar as competências de todos, propondo conteúdos que possibilitem a participação, evitando a exclusão ou alienação.

    Durante os estágios e coatuação na educação especial percebeu-se que os professores de Educação Física possuem dificuldade em lidar com os alunos com necessidades especiais dentro de suas aulas, principalmente na elaboração de um plano de aula que contemple a participação e desenvolva adaptação, equilíbrio, independência e autonomia. Essa dificuldade se acentua quando há na mesma turma mais de um aluno com necessidades especiais, e quando essas necessidades são diferentes.

    Observa-se que a falta de aprendizado e estudo na área de educação inclusiva não existia na matriz curricular da Educação Física, pode se constituir em um fator determinante. Há indícios de que alguns professores pela falta de conhecimento e formação específica acabam fazendo a exclusão desses alunos e não a inclusão dos mesmos.

    O papel de maior importância do professor é oportunizar aos alunos a apropriação do conhecimento, a fim de que busquem, por meio de estudo, tentativas de solucionar problemas e possam participar efetivamente de qualquer atividade desenvolvida pela escola.

    Diante dessas constatações surgiu a motivação para a realização dessa pesquisa que teve como objetivo, compreender quais são os limites e possibilidades da prática pedagógica em Educação Física para a inclusão de alunos com necessidades especiais diversas.

    Especificamente essa pesquisa pretendeu apontar questões que dificultam a inclusão nas aulas de Educação Física, relatar os conteúdos trabalhados pelos professores de Educação Física nas turmas do ensino regular que possuem alunos com necessidades especiais, e verificar de que maneira pode ser realizada a inclusão desses alunos.

    Para isso a metodologia utilizada foi a pesquisa de campo que de acordo com Gil (2008) busca ser alcançada por observações direta das atividades realizadas e de questionário, não permitindo isolar e nem controlar as variáveis, mas perceber e estudar as relações estabelecidas.

    A pesquisa foi realizada em 6 escolas que possuem mais de um aluno com necessidades especiais diferentes em uma mesma sala, sendo pesquisadas em 32 escolas em Criciúma sendo que apenas 06 atuam com deficiências diversas, sendo elas 2 da rede municipal, 3 da estadual e uma associação beneficente.

    Para realizar a coleta de dados, foi aplicado um questionário com 12 questões para cada professor responsável por atuar no ensino fundamental de 1º ao 5º ano nestas escolas e observações das aulas dos professores de Educação Física, na qual, foram observados o planejamento, a prática pedagógica e as relações interpessoais estabelecidas.

Análise e discussão dos dados

    Nesta etapa da pesquisa foram entrevistados 6 (seis) professores sendo 5 mulheres e 1 homem com idade entre 28 a 51 anos, que atuam entre 5 à 15 anos nas escolas pesquisadas. Eles trabalham com mais de um aluno com deficiência em uma mesma turma no ensino fundamental.

    Quando questionados a respeito do conhecimento necessário para incluir os alunos com necessidades especiais em suas aulas, responderam:

    O professor 1, que trabalha com um aluno autista e um cadeirante, relatou não possuir conhecimento suficiente, atribuindo esse fato a deficiência na sua formação, que segundo ele não foi tão específica neste tema. E apesar de ter dificuldades salientou também que não procurou nenhum curso de fato para suprir esta necessidade.

    O professor 2, que possui um aluno deficiente visual e um cadeirante, atribuiu à sua experiência de 28 anos de docência a compreensão mais ampla dos limites das crianças com necessidades especiais, principalmente com autistas, portadores de síndromes, e surdos que segundo ele são deficiências mais comuns na escola. Quanto a sua formação, afirmou buscar fundamentação para as intervenções e ações em alguns artigos e trabalhos acadêmicos, adequando a estrutura e desafios da realidade escolar.

    O professor 3 trabalha com alunos incluídos que possuem deficiência motora e visual, o professor 4 atua com um aluno com deficiência auditiva e outro com deficiência motora. Já os professores 5 e 6 trabalham com a deficiência visual e síndrome de Down. Todos eles declararam que não possuem conhecimento nessa área, pois, nos seus cursos de graduação não tiveram acesso a disciplina de educação inclusiva.

    Desse modo verifica-se que a precariedade da formação inicial dos professores pesquisados se constitui na principal justificativa por não terem o conhecimento que necessitam para a realização de uma prática pedagógica verdadeiramente inclusiva.

    A formação de professores é um aspecto que merece ênfase quando se aborda a inclusão. Muitos dos futuros professores sentem-se inseguros e ansiosos diante da possibilidade de receber uma criança com necessidades especiais na sala de aula. Há uma queixa geral de estudantes de pedagogia, de licenciatura e dos professores: “Não fui preparado para lidar com crianças com deficiência” (Lima, 2002, p. 40).

    Além da formação inicial, também se verifica a necessidade de formação continuada específica, pois, nessa pesquisa contatou-se que há uma deficiência evidente na capacitação dos profissionais tanto na graduação quanto nos cursos de aperfeiçoamento posteriormente oferecidos pelo municípios e estado. Dos 6 professores pesquisados apenas o 1 relata ter feito formação continuada em Educação Física inclusiva, porém, uma formação superficial, que pouco contribui para a prática e vivência com as crianças.

    Diante das necessidades que surgem no trabalho com crianças especiais, os professores entrevistados buscam se atualizar através de artigos pela internet, e a proposta curricular de inclusão oferecida pela rede municipal para aqueles professores que atuam nas escolas municipais.

    Siens (2010) relata que a preocupação com a formação voltada a área da educação especial ainda é muito recente, neste caso é indispensável o investimento na graduação destes profissionais para que eles tenham conhecimento para exercer a profissão.

    Questionados sobre quais os requisitos necessários para que o professor de Educação Física possa incluir o aluno com necessidades especiais em suas aulas, os professores apontaram algumas questões. Para os professores 1, 2 e 6 o conhecimento é o requisito essencial para a inclusão, e para isso os cursos de formação continuada são indispensáveis. O professor 3 diverge da opinião dos demais, pois, acredita que o segundo professor ou professor auxiliar é que tem a função de incluir esses alunos no processo de ensino. Os professores 4 e 5 relataram que falta nas escolas estrutura física e que esse fator é primordial para as aulas inclusivas.

    Nesse sentido, é importante afirmar que das escolas pesquisadas apenas 3 possuíam acessibilidade, nas demais não havia rampa de acesso, as portas não tinham medidas adequadas para cadeirantes, os banheiros não eram adaptados e possuíam poucos materiais para Educação Física, diante disso, evidencia-se a necessidade de modificar o ambiente escolar e lidar com as exigências de adaptação e inclusão.

    Ao serem questionados sobre como desenvolvem as aulas para que possa ocorrer a inclusão, todos os professores responderam que o objetivo é o mesmo proposto aos outros alunos, colocando sempre dentro das limitações de cada necessidade tentando romper seus próprios limites, pesquisando sobre a deficiência do aluno.

    E então ao responderem sobre como desenvolvem as aulas nas turmas que possuem mais de um aluno com necessidades especiais diversas, dos seis entrevistados o professor 1 e o professor 2, relataram que atuam como se todos os alunos não tivessem limitações, mudando o olhar apenas na maneira de avaliar, pois, para eles o principal é fazer com que essas crianças se sintam iguais as outras.

    Já os professores 3, 4, 5 e 6, relataram que com um aluno já é bastante difícil e com dois na mesma sala, muitas vezes acaba se tornando impossível incluir todos na mesma atividade, dessa forma os alunos especiais ficam fazendo outras atividades com o professor auxiliar. Os professores enfatizaram que têm medo de inserir os alunos especiais e acabar machucando ou traumatizando a criança.

    Chicon (2005, p. 51), afirma que:

    Incluir na Educação Física não é simplesmente adaptar essa disciplina escolar para que uma pessoa com NEEs possa participar da aula, mas é adotar uma perspectiva educacional cujos objetivos, conteúdos e métodos valorizem a diversidade humana e que esteja comprometida com a construção de uma sociedade inclusiva.

    De acordo com as respostas dadas pelos professores de Educação Física pesquisados, o desenvolvimento de suas aulas para trabalhar com alunos com necessidade especiais diversas juntamente com as outras crianças se constitui em realizar práticas que propiciem à criança atingir as habilidades motoras, tratando todos iguais, com a ajuda de professores auxiliares explicando e detalhado para o aluno com deficiência caso ele não entenda o que o professor quis passar.

    No entanto no decorrer das observações, percebeu-se que na prática os professores 3, 4, 5 e 6 acabam deixando a responsabilidade de organizar as aulas e até mesmo aplicar as atividades aos alunos especiais para o segundo professor. Ainda constatou-se que os professores auxiliares que atuam com os alunos dos professores 3 e 6 não possuíam formação específica.

    Levando em consideração os avanços teóricos da área que possibilitaram compreender a prática pedagógica, nesse caso em Educação Física, como uma prática cultural e social, faz-se necessário que o professor repense seus métodos pedagógicos e nesse processo de desconstrução e construção de uma nova prática, pense em um planejamento que almeje também a inclusão dos alunos especiais. (Coletivo de Autores, 1992)

    Na escola, os educandos com deficiência leve e moderada podem participar de atividades dentro do programa de Educação Física, com pequenas adaptações, que não prejudiquem o conteúdo. (Cidade, 2002, p. 41)

    O professor precisa adaptar a sua aula, sempre objetivando o desenvolvimento e aprendizagem para todos, considerando a duração das suas atividades para que os alunos deficientes consigam se envolver na mesma, e o que o educando precisa para que ele consiga desempenhar a atividade. Usando os objetivos da Educação Física adaptada, o educador terá que constantemente avaliar a sua aula, levando em consideração a capacidade de seus alunos e as suas adequações a novas possibilidades.

    Essas adequações envolvem a organização da aula e a utilização de materiais adaptados, que devem ser oferecidos pela escola, assim como o espaço na qual a aula ocorrerá; disponibilidade do tempo; planejamento das atividades e a sua avaliação; metodologia que se aproprie aos alunos, visando despertar interesse e motivação; ajustamento de objetivos e dos conteúdos, sempre adequando às necessidades especiais do educando.

    Para que haja a verdadeira integração professor-aluno, é necessário que o professor da sala regular e os especialistas de educação das escolas tenham conhecimento sobre o que é deficiência, quais são seus principais tipos, causas, características e as necessidades educativas de cada deficiência. O professor precisa, antes de tudo, ter ampla visão desta área, que deve ser proveniente de sua formação acadêmica. Hoje, poucas escolas e universidades, que formam professores, abordam adequadamente a questão da deficiência em seus currículos. Urge mudar essa realidade. A atualização periódica também é indispensável, devendo ocorrer por meio de cursos, seminários e formação em serviço. (Maciel, 2000, p. 55)

    Dessa forma é essencial que o educador conheça a deficiência de seus alunos, os seus aspectos, quando surgiu, se foi súbita ou gradativa, etc. Pois a inclusão nessas aulas precisa promover uma qualidade melhor de vida para estas crianças. A educação para todos vem junto com uma luta pelos direitos iguais. Por mais que o aluno especial não esteja no mesmo nível de aprendizagem que as outras crianças, ele precisa ter seu espaço na sociedade e direitos de igualdade.

    “[...] o princípio da inclusão ou da não exclusão, segundo o qual nenhum aluno pode ser excluído de qualquer aula, procura garantir o acesso de todos os alunos ás atividades propostas e o princípio de diversidade, que propõem uma Educação Física com conteúdos diversificados, não privilegiando, por exemplo, nenhuma modalidade esportiva.” (Dorido e Rangel, 2005, p.38)

    Para o professor de Educação Física, o desafio é adaptar e incluir por meio de atividades que têm como objetivo o desenvolvimento cognitivo, psicomotor, afetivo e também estimular o desenvolvimento pessoal e social.

Conclusão

    O objetivo desta pesquisa foi analisar o processo de ensino de professores de Educação Física que possuem dois alunos com deficiência em uma mesma sala no município de Criciúma.

    Constatou-se que os professores das escolas pesquisadas possuem uma grande dificuldade em incluir alunos com necessidades especiais diversas, atribuindo esse fato à falta de conhecimento a respeito do tema. Até mesmo os professores com uma formação acadêmica mais recente demonstram dificuldades e relatam que no curso de graduação o acesso ao conteúdo de inclusão é insuficiente.

    A infraestrutura inadequada das escolas para receber alunos com deficiência, também é um fator que limita a prática pedagógica, principalmente nas aulas de Educação Física. Ao finalizar essa pesquisa fica evidente que o tema precisa ser discutido em todos os âmbitos que fomentam a educação nacional, pois, no “chão” da escola refletem-se os problemas e inconsistências resultantes da amplitude social. Logo, é necessário investimento, capacitação e formação crítica para que se estabeleçam possibilidades para a prática pedagógica em educação inclusiva.

Bibliografia

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