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Análise do nível de atividade física e variáveis antropométricas de futuros

profissionais da educação de uma universidade pública de Dourados, MS

Análisis del nivel de actividad física y variables antropométricas de futuros 

profesionales de la educación de una universidad pública de Dourados, MS

Analysis of level of physical activity and variable anthropometric future 

professional education of a public university of Dourados, MS

 

*Acadêmico do curso de especialização em Medicina da atividade física

e do esporte (Instituto de Ensino e Pesquisa Alfredo Torres)

**Doutorado em Ciências (Fisiopatologia Experimental) – USP

(Brasil)

Valfredo de Almeida Santos Junior*

Mário Sérgio Vaz da Silva**

juniofex@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          A inatividade física é verificada simultaneamente ao aumento da obesidade entre jovens e adultos. O ingresso na faculdade, o ganho de responsabilidades e intensas alterações biológicas tornam os universitários um grupo suscetível a adquirir hábitos que coloquem em risco sua saúde. Este artigo objetivou analisar o nível de atividade física e a composição corporal em acadêmicos da área da educação de uma universidade pública do município de Dourados-MS. Foram analisados idade, sexo, nível de atividade física (IPAQ) e medidas antropométricas (peso, estatura, índice de massa corporal [IMC], circunferência abdominal [CA] e relação cintura-quadril [RCQ]). A amostra foi composta por 178 acadêmicos (64 M e 114 F). Foram classificados como ativos 70.2% no sexo masculino e 70.9% no feminino. O IMC no sexo masculino apresentou 42.1% sobrepeso e 1.5% obesidade e a amostra feminina 14.9% e 9.6% respectivamente. Em relação ao RCQ as mulheres apresentaram 24.5% de sobrepeso e 14% obesidade e homens apresentaram 4.6% de sobrepeso. Para CA os homens apresentaram 10.9% e mulheres 25.4% para risco aumentado e para risco muito aumentado apenas as mulheres apresentaram 15.7%. A prevalência de indivíduos ativos pode ter sido superestimada devido a erros no preenchimento do questionário. Foram verificadas algumas limitações na avaliação corporal feita pelo IMC, mostrando divergências entre os valores de CA e RCQ. Isto pode ser explicado devido às características da distribuição da gordura corporal da amostra, demonstrando um maior acúmulo de gordura abdominal no sexo feminino, o que pode ser considerado um fator de risco para doenças crônico-degenerativas.

          Unitermos: Atividade física. Sedentarismo. Antropometria. IMC.

 

Abstract

          It is observed simultaneously Physical inactivity with an increase of overweight in young adults. The purpose of this study was to evaluate the level of physical activity and body composition of academics from college education at a public university of Dourados - MS. The sample consisted of 178 academic of college education (64 M and 114 F). Were ranked as active 70.2% of male sample and 70.9% of female. According to BMI, 42.1 % of the male sample presented overweight and 1.5% were obese while female sample had 14.9% and 9.6% respectively. Regarding the WHR females showed 24.5% overweight and 14% obese and males showed only 4.6% to overweight. According the WC 10.9% of men were ranked as increase risk and women 25.4%, to rank risk greatly increase only women showed 15.7%. The prevalence of active in sample may have been overestimated by errors in answer the questionnaire. Some limitation were observed in mensure and classification made by BMI, showing differences between the WC and WHR values. This may occur and can be explained due the body fat distribution of the sample, showing a greater abdominal fat accumulation in females compared to males, demonstrating a greater accumulation of abdominal fat in woman, which can be considered a risk factor.

          Keywords: Physical activity. Sedentary lifestyle. Anthropometry. BMI.

 

Recepção: 03/05/2015 - Aceitação: 10/10/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 214, Marzo de 2016. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A redução da prática de atividades físicas é verificada ao mesmo tempo em que se observa um aumento da obesidade entre jovens e adultos. Fato que pode ser atribuído á inatividade física em correlação com hábitos de vidas atuais, onde a maior parte do tempo destinado ao lazer é utilizada em atividades estáticas como assistir televisão ou usar o computador (Brasil, 2001).

    A inatividade física é uma preocupação no âmbito da epidemiologia, assim como os hábitos alimentares, pois possuem uma alta correlação com doenças crônico-degenerativas não transmissíveis, como doenças cardiovasculares, diabetes, obesidade entre outras (Brasil, 2001). De acordo com um estudo publicado por Vieira et al. (2002) 57% dos alunos matriculados no ensino superior não realizavam atividades físicas. Portanto, os gastos energéticos de indivíduos inativos fisicamente são inferiores a ingesta alimentar, e esse desequilíbrio pode contribuir para o desenvolvimento da obesidade e outras doenças (McArdle, 2005).

    O ingresso na faculdade, o ganho de responsabilidades e intensas alterações biológicas tornam os universitários um grupo suscetível a adquirir hábitos de vida que coloquem em risco sua saúde como alimentação inadequada, tabagismo, consumo de álcool e inatividade física (Vieira et al., 2002). Esses hábitos são fatores de risco predisponentes para doenças cardiovasculares e outras doenças crônico-degenerativas e devem ter uma intervenção, buscando diminuí-los, visto que as doenças cardiovasculares são as principais causas de morte no Brasil, cerca de 30% das mortes em todas as faixas etárias (Santos Filho, 2002). As soluções para intervenções efetivas apresentam um ótimo custo-benefício, pois um trabalho de conscientização à prática de atividade física e hábitos mais saudáveis são importante aliados na luta contra doenças crônicas e tem se demonstrado efetivo (WHO, 1995). A prática de atividade física é utilizada tanto para prevenção quanto reabilitação do quadro de doenças cardiovasculares (Benetti, 1997). Portanto, estes momentos que antecedem a vida adulta podem facilitar a promoção de hábitos saudáveis, buscando diminuir a incidência de doenças crônico-degenerativas ao longo da vida (WHO, 1995).

    Alguns estudos apontam que a profissão docente a qual vão se submeter os profissionais da educação, é uma profissão onde a demanda de trabalho é elevada, o controle sobre as atividades físicas é limitado e os recursos de ordem social voltado à prática de exercícios são insuficientes. As principais conseqüências da prevalência de inatividade física observada neste grupo são aumento da ocorrência de doenças crônico-degenerativas (Santos, 2006). Embora os docentes sejam o grupo de profissionais mais numerosos do país (INEP, 2009), os estudos que investigaram a profissão focaram-se prioritariamente em distúrbios osteomusculares, características de trabalho, saúde mental e transtornos vocais, sendo escassos os estudos voltados especificamente ao nível de atividade física e composição corporal desses profissionais. (Carvalho, 2006; Santos & Marques, 2013); (Gasparini, 2006; Jardim et al, 2007). E os estudos que investigaram os universitários o fizeram de um modo geral (Rodrigues et al, 2008; Vieira et al, 2002).

    Em vista do aumento da inatividade física e hábitos de vidas prejudiciais à saúde ligados a prática docente, este artigo busca analisar o nível de atividade física e a composição corporal para verificar os fatores de risco para o desenvolvimento de doenças crônico-degenerativas de acadêmicos do âmbito da educação de universidade pública do município de Dourados-MS.

Metodologia

    O estudo caracterizou-se como estudo descritivo transversal. A coleta de dados foi realizada em uma sala cedida pela universidade. Foram incluídos na pesquisa acadêmicos regularmente matriculados na faculdade de educação de uma universidade publica da cidade de Dourados-ms. Para participar da pesquisa foi necessário o preenchimento e entrega do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Foram excluídos do estudo acadêmicos de outros cursos, questionários com respostas alteradas e questionários com dados incompletos ou que não assinaram o TCLE. A avaliação dos participantes abrangeu dados como: idade, sexo, nível de atividade física e medidas antropométricas. A antropometria foi realizada por pesquisadores treinados. Foi mensurado peso, em uma balança digital portátil Trentin®, com capacidade máxima de 150 kg e precisão de 0.1 kg os avaliados descalços e com o mínimo de roupas e a estatura mensurada por um estadiômetro portátil Sanny® com precisão de 0.1 cm, sendo orientado a ficar descalço na plataforma, formando um ângulo vertical reto com o estadiômetro. Para obter o Índice de Massa Corporal (IMC), foi utilizado o calculo da razão entre peso (kg) e a estatura (m) utilizando a formula: IMC: peso/ (altura)². De acordo com os resultados obtidos no calculo foi utilizado os valores de classificação propostos pela Organização Mundial da Saúde (WHO, 1995) conforme apresentado na tabela 1.

Tabela 1. Valores de Classificação do IMC para adultos

    A Mensuração das circunferências foi realizada com uma fita antropométrica metálica inextensível CESCORF® com escala de 0.1 cm. A circunferência abdominal (CA) foi mensurada na cicatriz umbilical. A circunferência da cintura (CC) foi mensurada dois centímetros acima da cicatriz umbilical e a circunferência do Quadril (CQ) foi mensurada na circunferência máxima sobre os glúteos. Realizando duas medidas para cada variável, calculando a média e admitindo variação máxima de 1 cm entre as medidas, repetindo o procedimento caso ultrapassar esta variação. A classificação adotada para a CA foi a proposta por Lean et. al (1995) de acordo com os riscos para doenças cardiovasculares: Risco aumentado – CA > 80 cm para mulheres e CA > 94 cm para homens e risco muito aumento CA> 88 cm e CA > 102 cm respectivamente. A relação cintura Quadril (RCQ) foi obtida por meio do cálculo da razão entre CA/CQ e foram classificados em peso normal, sobrepeso ou obesidade os valores de RCQ > 0.90, 0.90-0.99 e ≥ 1.0 para homens e RCQ de < 0.80, 0.80-0.84 e ≥ 0.85 para mulheres, respectivamente. O nível de atividade física foi mensurado pelo Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ) versão curta, validado no Brasil por Pardini et al (2001). As classificações dos níveis de atividade física foram realizadas de acordo com as instruções contidas no próprio IPAQ. Os dados foram armazenados e analisados no programa Biostat Professional 2009, versão 5.8.4.

Resultados

    A amostra foi composta por 178 acadêmicos, sendo 64 do sexo masculino e 114 do sexo feminino. Na tabela 2 é possível verificar as características gerais da amostra. A maior parte da amostra apresenta idade entre a faixa de 20 e 30 anos (66.2% da amostra).

Tabela 2. Características gerais da população do estudo

    Como mostra a tabela 3 o nível de atividade física se apresentou alto em ambos os sexos, 70.2% no masculino e 70.9% no feminino (ativo + muito ativo). Sendo observado maior número de inativos no sexo masculino (6.2%).

Tabela 3. Atividade Física por gênero dos acadêmicos da faculdade de Educação

    De acordo com a classificação do IMC 56.2% dos homens e 58.7% das mulheres foram caracterizadas como índice de peso normal. Houve uma prevalência de sobrepeso no sexo masculino, apresentando 42.1% em comparação com o sexo feminino que apresentou 14.9% nesta mesma classificação. Entretanto, há uma quantidade maior de obesos no sexo feminino (Tabela 3). Com relação à distribuição da gordura corporal 25.4% (n=29) das mulheres apresentavam CA na faixa de 80 a 88 cm, e 15.7% (n=18) acima de 88 cm. No sexo Masculino 10.6% (n=7) apresentaram CA na faixa de 94 a 102 cm e 0% acima de 102 cm. Em relação à RCQ 95,3% (n=61) dos homens apresentaram valores normais e apenas 4,6% (n=3) dos homens com sobrepeso. Já as mulheres, 57,8% (n=66) apresentaram valores normais, 24,5% (n=28) apresentaram sobrepeso e 14% (n=16) foram classificadas como obesas como apresentado na Tabela 4.

Tabela 4. Comparação entre os valores antropométricos IMC, RCQ e CA por gênero dos acadêmicos da faculdade de Educação

Discussão

    Os dados apresentam uma prevalência de sobrepeso de 43.6% no masculino e 24,5% na classificação realizada pelo IMC (incluindo os indivíduos acima do peso de acordo com o IMC >25). Semelhantemente aos estudos de Pereira (1998) e Priore (1998), a prevalência de sobrepeso foi maior entre os entrevistados do sexo masculino de acordo com o IMC. Fonseca et al (1998) em seu estudo relatam que entre os universitários estudados era comum: omitir refeições, consumir excessivamente refeições rápidas, além de tabagismo, consumo de álcool e inatividade física, e que hábitos que fazem parte do estilo de vida dos universitários, o que pode contribuir com o aumento da gordura corporal, o que explicaria os percentuais de sobrepeso e obesidade. (WHO, 1995).

    Os valores da CA e RCQ em ambos os sexos mostram valores divergentes aos da classificação do IMC. Em relação a CA apenas 10.6% das pessoas do sexo masculino apresentaram valores acima da classificação de risco, e apenas 4,6% foram classificados na categoria de acima do peso de acordo com a RCQ, o que possivelmente nos indica uma boa distribuição da gordura corporal ou um quantidade de massa muscular elevada devido a ausência de uma alta circunferência abdominal. Entretanto, o oposto ocorre no sexo feminino, pois de acordo com o CA 41.1% apresentam valores de risco para circunferência abdominal e na classificação do RCQ 38.5% foram classificados com sobrepeso. O que indica uma maior concentração de gordura corporal ou uma maior concentração de gordura abdominal na população feminina deste estudo (Tabela 4).

    Embora o IMC seja amplamente usado em estudos epidemiológicos e alguns estudos tenham demonstrado sua eficácia como preditor de doenças crônicas, parâmetros bioquímicos desfavoráveis e obesidade (Gharakhanlou et al., 2012; COSTA e Gil, 2005; Cercato et al., 2004) suas limitações devem ser ressaltadas, pois não distingue massa gorda de massa magra, assim como densidade óssea, e as diferentes etnias podem apresentar proporções corporais diferentes, que pode interferir na fidedignidade dos resultados, sendo orientado a incluir outras variáveis antropométricas em estudos epidemiológicos, com o intuito de entender mais sobre a natureza do diagnóstico de obesidade (WHO, 1995; Deurenberg, 1999).

    Pesquisas recentes indicam que valores de CA podem ser usados como preditor independente de doenças cardiovasculares (Oliveira et al., 2010). Para a classificação risco aumentado de doenças cardiovasculares com base na CA houve uma prevalência no sexo feminino, em que 25,4% da amostra feminina e 10,6% da masculina apresentaram-se como risco aumentado. Para risco muito aumentado não houve incidências entre os homens, e entre as mulheres, 15,7% apresentaram-se nesta categoria. Embora os resultados sejam inferiores aos estudos publicados por Rezende et al (2006), onde 32% das mulheres foram classificadas como risco aumento e 42% foram classificados como risco muito aumento e para homens os valores foram 23,9% e 22.2% respectivamente, fica evidenciado uma prevalência de risco cardiovascular e uma maior concentração de gordura abdominal nas mulheres em ambos os estudos.

    Em relação ao nível de atividade física, os altos valores de indivíduos classificados como ativos podem ter ocorrido por estar incluso no questionário caminhadas, atividades de locomoção diárias e atividades do cotidiano doméstico e profissional, sendo observado divergências nos conceitos de atividade física leve, moderada e vigorosa entre os entrevistados, o que pode ter acarretado possíveis erros no preenchimento do questionário, e conseqüentemente uma classificação superestimada dos resultados. O nível de atividade física mostra-se superior a estudos anteriores feitos com a mesma faixa etária, visto que Vasconcelos et al (2009) verificou uma prevalência de apenas 36.5% da amostra classificados como ativos. Entretanto os resultados do presente estudo corrobora com estudos feitos por Costa (2009) que aponta um maior índice de atividade física entre indivíduos com maior escolaridade.

    Estudos recentes revelam que a profissão docente apresenta baixos níveis de atividade física, visto que 46.3% dos professores que atuam na rede estadual de ensino apresentam baixos níveis de atividade física (Brito, 2012). Pesquisas demonstram uma associação entre a diminuição do nível de atividade física e o avançar da idade (Burton, 2000), indicando que a possível causa da diminuição da atividade ao longo da vida pode estar associada ao desenvolvimento de doenças crônico-degenerativas e piora na qualidade de vida (Brown et al, 2003). O que poderia ser diminuído ou evitado com programas sociais voltados a prática de atividade física para esta população. Devido relação entre atividade física, prevenção de doenças crônico-degenerativas e melhora na qualidade de vida (WHO, 1995).

Considerações finais

    Em relação ao nível de atividade física, ambos os sexos apresentaram valores semelhantes. Foi notado que há algumas limitações na avaliação corporal feita pelo IMC, mostrando divergências entre os valores de CA e RCQ, valores que podem variar de acordo com a característica da distribuição da gordura corporal da amostra. Foi verificado um maior acúmulo de gordura abdominal no sexo feminino, o que pode ser considerado um fator de risco para doenças crônico-degenerativas. Possivelmente, o estudo indica uma fragilidade na avaliação do nível de atividade física por prováveis erros conceituais no momento do preenchimento do questionário. Portanto, em investigações futuras, sugerimos a realização de estudos que procurem analisar as variáveis antropométricas e parâmetros bioquímicos, além de verificar o nível de atividade física por métodos mais fidedignos, como pedômetros ou acelerômetros. A literatura existente indica uma queda no nível de atividade física e aumento da incidência de doenças crônicas ao longo da vida na profissão docente, levando-nos a alertar futuras investigações e planos de incentivo a prática de atividade física em jovens e adultos desta área.

Bibliografia

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