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Território e esporte: novos (re)significados 

para o espaço rural do território do Vale do Iguaçu

Territorio y deporte: nuevos (re)significados del espacio rural del territorio de Vale do Iguazú

Territory and sport: new (re)meanings for rural areas do Iguacu Valley territory

 

*Mestre. Universidade do Contestado (UnC) Campus Porto União NEAF

**Mestre. Universidade do Contestado (UnC) Campus Porto União

Direito/Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional

***Doutor. Fundação Universidade Regional de Blumenau (FURB)

(Brasil)

Douglas Tajes Junior*

douglast@unc.br

Denise Cristine Borges**

adv_denise@hotmail.com

Marcos Mattedi***

mamblu@furb.br

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo tem como objetivo verificar se há possibilidade para novos (re)significados para o espaço rural do território do Vale do Iguaçu. Um possível (re)significado pode ser através do esporte. O espaço rural do território do Vale do Iguaçu pode ser considerado um território propício para a prática do ciclismo de montanha (mountain bike, MTB)? Confirmada essa hipótese, qual a relevância disso para o desenvolvimento da região numa perspectiva sustentável? A metodologia empregada é do tipo descritiva exploratória, de perfil qualitativo, pesquisa bibliográfica. A amostra se caracteriza como intencional. Os resultados obtidos confirmam a temática do estudo onde, fica evidenciado um território propício para a prática do mountain bike por possuir um capital natural e conseqüentemente oportunizar o desenvolvimento da consciência sobre meio ambiente e desenvolvimento regional com perspectiva sustentável para o turismo através da prática do MTB.

          Unitermos: Território. Desenvolvimento regional. Mountain bike. Meio ambiente. Capital natural.

 

Abstract

          This study aims to determine if it is possible for new (re) meanings for rural areas do Iguaçu Valley territory. A possible (re) meaning can be through sports. Rural areas do Iguaçu Valley territory can be considered an area conducive to the practice of mountain biking (mountain bike, MTB)? Confirmed this hypothesis, the relevance of this for the development of the region in a sustainable perspective? The methodology is exploratory descriptive, qualitative profile, bibliographic research. The sample was characterized as intended. The results confirm the theme of study where this is evident from a territory conducive to the practice of mountain biking because it has a natural capital and thus create opportunities to develop awareness of the environment and regional development with sustainable approach to tourism through the practice of MTB.

          Keywords: Territory. Regional development. Mountain biking. Environment. Natural capital.

 

Recepção: 19/11/2015 - Aceitação: 12/01/2016

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 213, Febrero de 2016. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Para que possamos compreender a temática do estudo, é preciso definir alguns termos. O termo território vem do latim, territorium, que, por sua vez, deriva de terra e significa pedaço de terra apropriado. Na língua francesa, territorium deu origem às palavras terroir e territoire, este último representando o “prolongamento do corpo do príncipe”, aquilo sobre o qual o príncipe reina, incluindo a terra e seus habitantes (Le Berre, 1983).

    De acordo com Raffestin (1993, p. 146-147), o território não se reduz então à sua dimensão material ou concreta; ele é, também, “um campo de forças, uma teia ou rede de relações sociais” que se projetam no espaço. É edificado historicamente, transmitindo a diferentes contextos e escalas: casas, bairros, cidades, regiões, nações e planeta. Portanto, o espaço representado não é mais o espaço, mas a imagem do espaço, ou melhor, do território visto e/ou vivido. Destarte, que o território seja objeto de análises sob diferentes concepções: geográfica, antropológico-cultural, sociológica, econômica, jurídico-política, bioecológica e esportiva, que o percebem, cada qual, segundo seus tratamentos específicos.

    A teoria do crescimento endógeno, similarmente à teoria dos polos, afirma que a região tem dentro de si as fontes de seu próprio crescimento. É o meio que cria as condições para a atração de capitais de outras áreas e isso se torna ainda mais importante em tempos de globalização (SOUZA, 2009). Pois, em tempos de globalização, é preciso que as comunidades locais e regionais se organizem em torno do objetivo do desenvolvimento econômico. Destaca-se, assim, o papel dos atores locais no desenvolvimento: universidades, centros de pesquisa, prefeituras, agências de fomento à pesquisa, associações comerciais e indústrias (Barquero, 2002).

    As relações entre território e esporte constituem um tema que vem recebendo atenção crescente junto à opinião pública e o meio científico no Brasil nos últimos anos. Por um lado, este fenômeno está relacionado às controvérsias surgidas em torno dos impactos positivos e negativos da realização dos megaeventos esportivos no país como, por exemplo, a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos (Da Costa, 2008; Costa, 2013); e, por outro, a formação de grupos de pesquisa especializados na investigação de questões relacionadas ao esporte e território, como indica o crescente volume de publicações e eventos que tematizam esta questão nos últimos anos (Maguire, 1999). O resultado tem sido o fortalecimento deste tema de pesquisa e o surgimento de contribuições de várias áreas disciplinares. Nesse sentido, o estudo das relações entre território e esporte pode ser um instrumento para compreender como o esporte pode ser um vetor de conformação do espaço (Mascarenhas, 2006).

    As relações que o esporte mantém com o território são complexas e difíceis de serem traduzidas teoricamente. Sabemos que o esporte possui uma forte ancoragem territorial como, por exemplo, os esportes de inverno como o esqui e o snowboard precisam de neve e, portanto, se localizam em regiões frias; os esportes como surf ou vela estão localizados próximos ao mar, e assim por diante (Gouguet e Henaff, 2006). Mas também que o esporte constitui um fator de territorialização como, por exemplo, certos lugares são reconhecidos pela prática de determinados esportes como o futebol americano, o cricket, golf, entre outros. Assim, o território pode ser utilizado tanto como “porta de entrada” para entender como o esporte se desenvolve no espaço, mas também como “porta de saída” para entender como o esporte produz e reproduz novos (re)significados nas territorialidades. Destarte, essa fronteira deve ser mais adensada dentro da bibliografia nacional.

    Desta forma, o presente estudo pretende verificar se o espaço rural do território do Vale do Iguaçu pode ser considerado um território propício para a prática do ciclismo de montanha (MTB) e se, confirmada essa hipótese, qual a relevância disso para o desenvolvimento da região numa perspectiva sustentável?

Materiais e métodos

    A metodologia empregada fundamenta-se na dialética proposta por Hegel, será de perfil qualitativo. Quanto ao tipo de pesquisa é descritiva exploratória (Marconi e Lakatos, 1996). A intencionalidade da amostra se caracterizou por uma região. A região do Vale do Iguaçu. Quanto ao instrumento de coleta de dados, foi realizado um levantamento dos referenciais teóricos que tratam dos assuntos, território, desenvolvimento regional, desenvolvimento sustentável e esporte, nas bibliotecas da Universidade do Contestado – UnC, Campus Canoinhas – SC e Porto União - SC e na biblioteca da Universidade Estadual do Paraná – UNESPAR, Campus União da Vitória – PR e artigos científicos na plataforma Google Acadêmico, utilizando as palavras-chave seguindo as recomendações do descritor na seção Ciências Sociais, entre os períodos de 2000 a 2014. As palavras-chave utilizadas foram: território, desenvolvimento regional, desenvolvimento sustentável e esporte. Os estudos que não atenderam esses procedimentos foram excluídos. Destarte, através desse trabalho foram identificados trinta e sete trabalhos. Após análise dos mesmos, foram selecionados vinte e quatro trabalhos que atenderam os critérios de inclusão.

O território do Vale do Iguaçu

    O território do Vale do Iguaçu é composto pelos municípios de União da Vitória – PR e Porto União – SC. União da Vitória está localizada a 26°13’48” latitude sul e 51°05’11” longitude oeste, na região sul do Estado do Paraná, no terceiro planalto paranaense, também conhecido como Planalto de Guarapuava. Mesorregião Sul Paranaense e Microrregião de União da Vitória. Porto União está localizada a 26°14’16” latitude sul e 51°04’40” longitude oeste, na região do planalto norte do Estado de Santa Catarina, na Mesorregião Norte Catarinense e Microrregião de Canoinhas.

    Este território era um só até o ano de 1912. Neste ano, tem início o conflito do Contestado que se prolongam até 1916. Em 5 de setembro de 1917 é criado o município de Porto União, que fica pertencendo para o estado de Santa Catarina e União da Vitória que é incorporada pelo estado do Paraná. Devido há esse fato, o que divide os dois municípios e conseqüentemente os dois estados, é a linha da estrada de ferro da extinta Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima (RFFSA), que corta os dois municípios ao meio.

A potencialidade do mountain bike (MTB) no Vale do Iguaçu

    Para que possamos compreender essa possível potencialidade do território do Vale do Iguaçu para com o MTB, é necessário conhecer melhor cada uma das suas divisões que podem ser realizadas no território:

Cross-Country ou XC: modalidade mais conhecida do esporte é disputada em circuito de terra, misturando subidas, descidas e retas. As competições acontecem em estradões e trilhas fechadas e duram, geralmente, diversas voltas no circuito. Os atletas largam juntos e vence quem completar a distância determinada em menor tempo.

Trip Trail ou Maratona: mais conhecido no Brasil como “inter city”, é uma prova feita em um percurso longo, que varia de 20 a 40 quilômetros, alternando trechos de estrada, trilhas e um pouco de asfalto. Normalmente ela se inicia em uma cidade e termina em outra. Esta modalidade vem ganhando popularidade devido ao seu caráter festivo (integração) e de fácil acesso a todos, como em uma maratona.

    O município de União da Vitória faz parte, em sua maioria, do terceiro planalto paranaense, que é limitado pela Serra da Esperança (Escarpa Mesozóica), cujo ponto culminante é o Pico Tem Que Vê, com 1.300 metros de altitude. É inclinado para o oeste, indo descambar em planícies nas barrancas do Rio Paraná. A parte do município situada à margem esquerda do Rio Iguaçu pertence ao Tropp de Santa Catarina, cuja formação é idêntica ao terceiro planalto paranaense. Uma pequena parcela do município situada na parte leste da Serra da Esperança faz parte do segundo planalto paranaense. Este relevo é menos acidentado. As planícies de várzeas, nos vales dos Rios Iguaçu, Vermelho, da Prata e dos Banhados, são formadas por depósitos recentes e no meio delas destacam-se os morros do Cristo e do Baú. Destarte, a topografia da região é de 15% levemente ondulado, 25% ondulado e 60% acidentado.

    Quanto à geologia dos solos, são eluviais e aluviais, e de estrutura argilo-arenosa e de modo geral são ácidos e de pouca fertilidade, embora possam ser melhorados com corretivos e fertilizantes. Entretanto, como a topografia é bastante acidentada, são pouco favoráveis para o fomento de atividade agrícola, servindo principalmente para o reflorestamento e pastagens.

    O município de Porto União está localizado no Planalto Norte Catarinense, a uma altitude média de 752 metros, sendo o ponto culminante do município o pico do Cerro Pelado, com 1300 metros. O relevo é constituído de planícies, montanhas, vales, grandes várzeas nas bacias dos Rios Iguaçu e Jangada, na divisa com o estado do Paraná, e do Rio Timbó. O município é banhado pela bacia do Iguaçu, e seus afluentes: Rio Timbó, Rio Pintado, Rio dos Pardos, Rio Bonito, Rio Tamanduá, Rio Barra Grande, Rio Pintadinho e Jangada. Esses rios formam cachoeiras, no total são 150 cachoeiras e corredeiras que compõem o cenário natural do interior do município. Um dos destaques é o Salto do Pintado, a 18 km da área central. Com 30 metros de altura. Também merece destaque o Salto do Rio dos Pardos, com 72 metros de altura. Além destas, muitas outras cachoeiras possuem estilos mais selvagens, algumas são de difícil acesso e são um convite para os “bikers”.

    Com a análise destes aspectos geomorfológicos e geológicos, podemos afirmar que o território do Vale do Iguaçu é um território que tem totais condições de oportunizar a prática e o desenvolvimento de diversas modalidades do MTB. Pois, o espaço rural dos dois municípios possuem estradas de chão, trilhas, planícies e serras. Um verdadeiro parque de diversões para os amantes do ciclismo de montanha.

    Outro fator que não pode passar despercebido é a questão com os municípios limítrofes. União da Vitória faz divisa ao norte com Cruz Machado (45 Km), ao leste com Paulo Frontin (45 Km) e Paula Freitas (22 Km), oeste com Porto Vitória (22 Km) e Bituruna (92 Km) e ao sul Porto União. Porto União faz divisa ao norte com União da Vitória, ao leste com Irineópolis (43 Km), oeste Porto Vitória (22 Km), e ao sul com Matos Costa (38 Km) e Calmon (40 Km). Todas essas localidades podem ser visitadas por ciclistas em forma de treinamento e/ou Trip Trail, por sua proximidade e alguns casos, como o do município de Paula Freitas, pode ser feita boa parte do trajeto por estrada de chão, perfeita para a prática do MTB. Se o ciclista quiser, pode realizar a volta pela BR 476 e próximo da entrada da pedreira, pode entrar na localidade da Colônia Macacos, seguir até a Colônia Rio Vermelho e perfazer um percurso de aproximadamente de 60 Km, alternando estradas de chão, asfalto, aclives e declives.

    As serras que circundam o município de União da Vitória, como a da Esperança, são percursos que podem ser explorados para a prática do MTB, com grandes aclives, trilhas e a sua proximidade ao centro urbano são aspectos que justificam a sua relevância para a prática dessa modalidade. Outra localidade, que pode ser bem aproveitada para a prática do esporte é o trajeto que leva até a Colônia Flor da Serra, localidade que se encontra entre União da Vitória e Porto Vitória, que possui um Recanto. Uma boa parte do trajeto é feita pelo asfalto e outra é por estrada de chão. Também há a possibilidade de realizar uma interconexão entre a Serra do Jacu e a da Flor da Serra. O tempo decorrido para realizar essas pedaladas até o município de Paula Freitas e até a Colônia Flor da Serra é em média de 1 hora e 40 minutos. Temos ainda, a Serra do Professor que tem 1.008 metros de elevação e leva até a Colônia São Domingos que fica a 12 km do centro de União da Vitória – PR. Esse percurso pode ser feito num tempo de 1 hora e 30 minutos.

    O espaço de conhecimento provê arranjos estruturais para o saber, transformando o saber tácito em explícito; o espaço de consenso estimula o fazer, levando os atores a trabalharem juntos; o espaço de inovação favorece a organização de novos e/ou velhos elementos de forma criativa, fortalecendo o processo de inovação. Os espaços de consenso e inovação constroem-se cooperativamente nas parcerias entre os atores do desenvolvimento (Etzkowitz, 2005).

    A abordagem da hélice tríplice, desenvolvida a partir dos trabalhos pioneiros de Henry Etzkowitz e Loet Leydesdorff (Leydesdorff e Etzkowitz, 2004). Ela se fundamenta no entendimento de que o conhecimento se desenvolve dinamicamente, fluindo tanto no interior das organizações como através das fronteiras institucionais e de que a geração de riqueza pode se dar através do conhecimento produzido por arranjos institucionais entre “organizadores” do conhecimento, tais como universidades, indústrias e agências governamentais. Ela assume que a base de conhecimento e o seu papel na inovação podem ser explicados em termos de mudanças nas relações entre universidade (universidade e outras instituições produtoras de conhecimento), indústria e governo (local, regional, nacional e transnacional). Nesta mesma linha de raciocínio, vem a idéia central do desenvolvimento local endógeno, de que a inovação não é mais produto exclusivo do empresário individual, mas de um conjunto de atores ligados ao setor produtivo e ao meio local, envolvendo os diferentes agentes ligados às diferentes instituições (Barquero, 2002).

    No modelo da hélice tríplice, a interação entre os atores promove uma infraestrutura de conhecimento que alicerça o desenvolvimento das regiões. As relações que se processam permitem às instituições exercerem o papel da outra, produzindo organizações híbridas que emergem das interfaces. Observe a figura 3.

Figura 3. Modelo da hélice tríplice de relações entre Universidade-Indústria-Governo

Fonte: Etzkowitz & Leydesdorff (2000)

    A abordagem da hélice tríplice situa a dinâmica da inovação num contexto em evolução, onde novas e complexas relações se estabelecem entre as três esferas institucionais (hélices) universidade, indústria e governo, relações estas derivadas de transformações internas em cada hélice, das influências de cada hélice sobre as demais, da criação de novas redes surgidas da interação entre as três hélices; e do efeito recursivo dessas redes tanto nas espirais de onde elas emergem como na sociedade como um todo (Mello, 2004). Da interação entre as três hélices surgem novas camadas de organizações e redes trilaterais. Estamos falando, por exemplo, de programas de pesquisa cooperativos (redes) envolvendo o mundo acadêmico, o mundo industrial e a governança pública. A abordagem da hélice tríplice ressalta que, além de sua subordinação as especificidades locais, o imperativo, por parte dos atores institucionais, de se adaptarem as situações contingências em curso, de passarem a assumir novos papéis e novas funções. Na sua dinâmica, esses novos relacionamentos engendram efeitos retroativos e reflexivos, abrindo espaço para o surgimento de novas camadas institucionais, de novos atores e de novas relações, numa transição sem fim (Mello, 2004). Na medida em que o conhecimento se torna cada vez mais um insumo importantíssimo para o desenvolvimento socioeconômicos é natural que a universidade, enquanto um espaço institucional de geração e transmissão de conhecimentos seja vista e analisada como um ator social de destaque (Mello, 2004). A tese da hélice tríplice é de que a interação universidade – indústria – governo é a chave para melhorar as condições para inovação numa sociedade baseada no conhecimento. O modelo das três hélices propõe que as universidades devem preparar profissionais para promoverem a inovação e o desenvolvimento; os governos devem criar aperfeiçoar e consolidar políticas públicas e mecanismos de fomento; e as indústrias, devem integrar o esquema, com base na responsabilidade social, como parceiras dos dois outros atores (Silva; Lopes e Carvalho, 2010). Conforme Etzkowitz e Leydesdorff (2000), o modelo da hélice tríplice-1 apresenta uma configuração semelhante ao proposto no triângulo de Sábato (1975), em que o governo engloba a universidade e a indústria, direcionando a relação entre eles. Esse modelo é considerado estático. O segundo modelo, a hélice tríplice-2, apresenta um distanciamento entre a universidade, a indústria e o governo. Configura-se como um modelo laizzez-faire. As instituições produzem um movimento no desenvolvimento econômico e social, mas atuam isoladamente (Silva; Lopes e Carvalho, 2010). O terceiro modelo, e o que até o momento vem sendo utilizado com mais ênfase para explicar a mudança paradigmática da sociedade industrial para a sociedade do conhecimento é a hélice tríplice-3. Neste caso, a interação entre as instituições se realiza de forma efetiva, promovendo uma infraestrutura de conhecimento que alicerça o desenvolvimento das regiões (Silva; Lopes e Carvalho, 2010).

    A realidade brasileira é muito diferente, falta ao país uma bem articulada interação universidade – indústria - governo que possa ser verdadeiramente qualificada como uma hélice tríplice. De qualquer forma, o modelo da hélice tríplice pode ser usado como um conceito ex-ante, uma ferramenta estratégica para abrir caminhos para um processo de catch up, com um objetivo último de se criar uma sociedade do conhecimento (Etzkowitz e Mello, 2004). E, isso pode ser iniciada adotando essa perspectiva do argumento da hélice tríplice para o desenvolvimento de territórios do esporte no país. Destarte, caminhos para realizar o MTB no território do Vale do Iguaçu não faltam. O que parece estar faltando é um pouco de iniciativas público/privadas, talvez por desconhecimento das potencialidades do território para a sua real efetivação em um território do esporte em uma modalidade muito promissora, atrativa e popular entre os cidadãos. A cultura de andar de bicicleta neste território é clara. Muitas pessoas usam esse meio de transporte não poluente para realizar seus afazeres como, ir para o trabalho, ir à escola e/ou à universidade, dentre outros. E alguns, estão utilizando o MTB como prática de atividade física fora dos ambientes convencionais (academias, campos de futebol, etc.) e em contato puro com a natureza nos seus horários de tempo livre.

Desenvolvimento Territorial Sustentável através do MTB

    Em União da Vitória – PR existe a rota das cachoeiras, que na parte sul possui as cachoeiras do Campo Alto, Cintura da Noiva, da Gruta e Piscina. Em Porto União – SC, temos a Cachoeira do Salto do Rio dos Pardos, Salto do Rio Bonito, Cachoeira do Km 13 e Cachoeira Boca do Corte. Todas essas se localizam próximas a região central dos dois municípios. No município de União da Vitória – PR, há a possibilidade de realizar um trajeto pela comunidade da Barra do Palmital, passando na frente da Cachoeira Cintura da Noiva, seguindo sentido Cachoeira da Foz do Tigre, mas, antes disso, faz a travessia de balsa e chega ao município de Porto Vitória – PR e retorna sentido União da Vitória – PR, passando na frente da Cachoeira do Rio Espingarda em Porto Vitória. Esse trajeto pode ser feito em aproximadamente 2 horas e 30 minutos, perfazendo um total de 60 km em total contato com a natureza e belas paisagens.

    Já no município de Porto União – SC, também existem várias cachoeiras, um trajeto que pode ser realizado na prática do MTB é o da Comunidade do KM 13. Essa comunidade é muito próxima do centro do município. Pode ser realizado num período de 1 hora e 10 minutos perfazendo uma distância de 23 km e passa na frente da Cachoeira do Km 13. Alternando trajetos de asfalto e estradões de terra.

    Esses são apenas dois exemplos da potencialidade do território do Vale do Iguaçu para o MTB. Possuindo muita natureza, um espaço rural rico em diversidade e terrenos propícios, é um convite para a prática do MTB neste território.

    Existe um grande embate entre, Desenvolvimento Regional e Desenvolvimento Territorial entre os teóricos atualmente. Desenvolvimento Regional pode ser definido como, a articulação entre duas idéias: desenvolvimento – mudança (forma de julgar para a maioria) a noção de tempo; região – local onde opera essa mudança, espaço. Relação entre tempo e espaço.

    Para melhor compreensão do processo sobre Desenvolvimento Regional e Desenvolvimento Territorial, elaboramos dois esquemas:

Esquema 1. Desenvolvimento Regional

Fonte: Elaboração dos autores

 

Esquema 2. Desenvolvimento Territorial

Fonte: Elaboração dos autores

    Para a conformação de um território, tem que existir uma calibragem entre, desenvolvimento e região. Isto posto, fixa um ritmo de mudança de uma dimensão local. Entenda-se território. Pois todo território tem uma relação dual (dentro/fora) mais semelhanças dentro e mais diferenças fora.

    Um dos problemas do desenvolvimento tem sido porque, é considerado “a nova religião do Ocidente” (Rist, 1990); é a imposição da ciência como potência (Nandy, 1988), ele não funciona (Kothari, 1988), isso significa ocidentalização cultural e homogeneização (Constantino, 1985) e traz destruição ambiental.

    Em função disso, surge um movimento referente ao Pós-desenvolvimento, que começa a partir de uma realização básica: a de que a obtenção de um estilo de vida de classe média para a maioria da população do mundo é impossível (Dasgupta, 1985 apud Pieterse, 2010). É um paralelo de desenvolvimento alternativo e cultural e críticas do desenvolvimento. Ergue-se ao desenvolvimento como "ecologia profunda" faz a gestão ambiental. Existem diferentes vertentes para esta forma que olhamos para o desenvolvimento. E uma delas apregoa que o desenvolvimento é um mito (Pieterse, 2010).

    O conceito de desenvolvimento territorial rompe com uma tradição mais antiga de estudos sobre o desenvolvimento regional e não dispõe ainda de uma estrutura de princípios ou de teorias já estabelecidas. Enfim, essas teorias que surgem do desenvolvimento territorial valorizam o papel ativo dos territórios, eles mesmos representados não como suportes do desenvolvimento, e sim como formas de produção social que sustentam o desenvolvimento das regiões (Jean, 2010). Corroborando com esta temática, temos Lacour (2000), um dos pesquisadores associados à necessidade desse novo paradigma, “o território é um recurso para o desenvolvimento”.

    No território do Vale do Iguaçu é realizado o Enduro das Cachoeiras, competição entre motos. Mas, como as motos são abastecidas com combustíveis fósseis, emitem muitos gases contra a natureza, degradando desta forma o meio ambiente local. A realização de uma prova de Trip Trail ou Maratona pode ser mais um evento com destaque nacional para esse território, como um fator de propulsão para alavancar mais ainda a prática dessa modalidade por parte de pessoas que desconhecem essa facilidade de praticar uma atividade física fora de um ambiente controlado, com finalidade de lazer e/ou manutenção da saúde. Pois, o esporte é um produto e ao mesmo tempo uma ferramenta da vida humana (Breilh, 2014).

    É consenso hoje que, a sociedade de mercado, vem substituindo a lógica da vida por uma lógica hostil mercantil ligada à ampliação dos bens monetários por uma pequena parte da classe dominante detentora de grandes capitais, que determinam a sua força produtiva para a geração de objetos vendáveis, dentre eles a atividade física (Breilh, 2014). Destarte, encontra-se uma dificuldade inicial no fato de um território ser constituído por uma série de componentes tangíveis e intangíveis [...]. Ainda mais, em se tratando de uma determinada política de oferta territorial, constituída para um grupo homófono de usuários dotados de idiossincrasias. Disso se presume que, para satisfazer a sua demanda, uma área geográfica deve responder simultaneamente a instâncias múltiplas, heterogêneas e, não raro, contraditórias (Caroli, 2004). A orientação de um território para o esporte assume um significado diferente: trata-se da inclinação, por parte de atores locais, de oportunizar condições que permitam ao território obter ou reforçar o valor que tem de forma a oferecer-se aos próprios usuários (atuais ou potenciais), e isso deve ter um cunho político-local.

    Não é novidade que, a preocupação com a degradação ambiental, ocasionada pelo processo de industrialização, na qual o homem agride o meio ambiente para dele se utilizar de seus recursos, de forma irracional, despertou nas autoridades um processo de intensificação do processo legislativo, na busca da proteção e preservação do meio ambiente. Tanto isso é verossímil que, a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 atesta que:

    Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

    Destarte, no caso do território do Vale do Iguaçu, poderão ser desenvolvidas as condições que permitirão à oferta maximizar o valor potencialmente passível de ser atribuído à demanda de praticantes de MTB e com essa iniciativa, amparar um desenvolvimento sustentável para esse território através do esporte.

O Marketing Territorial

    Uma orientação estratégica de gestão de território para o mercado deve ser enquadrada no princípio de desenvolvimento sustentável. O desígnio de atuação do marketing de território deriva, de fato, dos objetivos do desenvolvimento econômico e social buscados pelo governo local (Caroli, 2004).

    Com base na União Européia, podemos nos situar em relação ao caráter geral que têm com a direção que a autoridade pública deve dar àquelas ações de desenvolvimento econômico e social buscados pelo governo local, em um determinado território. O Artigo 2 do Tratado de Maastrich obriga a União a “promover um desenvolvimento harmonioso e equilibrado das atividades econômicas como um todo, um crescimento sustentável, não-inflacionário e respeitoso para com o meio ambiente.” Com base nessa declaração, podemos notar o distanciamento que existe sobre a forma de pensamento do desenvolvimento entre esses dois continentes. E, neste caso específico, o esporte MTB, parece ser um exemplo desse desenvolvimento para o território do Vale do Iguaçu, com: equilíbrio e coesão social; sustentabilidade ambiental e competitividade econômica.

    Mas, para que um território possa ter uma ação de marketing bem sucedida, ele precisa de uma Capacidade de Aprendizado Regional (CAR). Termo este, que significa quanto uma região mais sabe sobre si, mais ela tem a capacidade de se desenvolver. Pois, o território constitui uma rede sociotécnica que associa materialmente e simbolicamente o mundo social no mundo natural. O território precisa ser entendido, pelos sujeitos responsáveis pelo seu governo, de maneira genérica ou simplesmente fisicamente, em função da satisfação das exigências da sua demanda atual e potencial; bem como, atrair aquela parcela da demanda que é portadora dos recursos mais apropriados para o processo de desenvolvimento econômico sustentável do território (Caroli, 2004). E o território do Vale do Iguaçu tem esse potencial para a prática do MTB.

Figura 3. Articulação do marketing territorial

Fonte: Adaptado de Caroli, 2004

    Neste caso, a ação de criar condições para melhor aproveitamento do território, depende da sinergia de microssistemas locais que se cruzam e efetuam trocas entre eles (público/privado), pois, já que as potencialidades e os particularismos locais são valorizados e as solidariedades internas fortalecidas, isso se configura como caráter endógeno. Na comunicação, tem que ser voltada para disponibilizar a oferta desse território como “produto”, para facilitar a escolha por parte do potencial usuário. Isso dá continuidade à iniciativa realizada para desenvolver a percepção do posicionamento do território. Em outras palavras, trata-se da busca pela afirmação de uma identidade, de elementos distintivos, de uma reputação própria, de características ímpares que diferenciem o local. Um esforço que parte da descoberta, do reconhecimento e da valorização dos ativos locais, ou seja, das potencialidades, vocações, oportunidades, vantagens de cada território.

    Destarte, épocas se passaram e acreditávamos que a chave do desenvolvimento estava na habilitação dos empreendedores. Em síntese, quanto mais pessoas fossem preparadas para melhor gerenciar seus negócios, maior seria a capacidade de gerar desenvolvimento. Mas, não podemos incorrer no erro de que, a endogenia é a solução para todos os problemas sobre desenvolvimento. Segundo o economista Brandão (2007), talvez a falha mais grave, em última instância, da literatura sobre desenvolvimento local e regional seja que ela negligencia totalmente a questão fundamental da hegemonia e do poder político. Pois, parece inviável conceber que o território tudo poderia, dependendo apenas da sua vontade de auto-impulso. A visão da endogenia exagerada, não reconhecendo essa complexidade social, deposita apenas na vontade dos atores sociais de um determinado território todos os requisitos para a possível superação do subdesenvolvimento. E, esse processo é mais complexo do que parece.

Considerações finais

    Em suma, caminhos para realizar o MTB no território do Vale do Iguaçu não faltam. O que parece estar faltando é um bom entrosamento entre três atores fundamentais como a abordagem da hélice tríplice preconiza.

    Outra questão importante para a questão do MTB implica em não necessitar construir uma infraestrutura esportiva para a sua prática. É preciso apenas mapear e indicar os caminhos (estradas do interior dos municípios). Destarte, quanto a custos, os investimentos são quase irrisórios, pois o capital natural necessário para a prática esportiva é vasto. Destarte, fica evidenciado um território propício para a prática do MTB por possuir um capital natural e conseqüentemente oportunizar o desenvolvimento da consciência sobre meio ambiente e desenvolvimento regional com perspectiva sustentável para o turismo através do MTB.

Bibliografia

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