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Bullying: o que fazer?

Bullying ¿Qué hay que hacer?

Bullying: what can be done?

 

*Acadêmicas do Curso de Psicologia na Faculdade

Assis Gurgacz (FAG) - Cascavel – Paraná

**Bacharel em Direito e acadêmica do Curso de Psicologia

na Faculdade Assis Gurgacz (FAG) - Cascavel – Paraná

***Acadêmico do Curso de Educação Física

na Faculdade Assis Gurgacz (FAG) – Cascavel – Paraná

****Doutor em Saúde da Criança e do Adolescente pela Universidade

Estadual de Campinas (Campinas – Brasil) e Docente na Faculdade

Assis Gurgacz (FAG) – Cascavel – Paraná

Elaine Cristina Rodrigues*

Kariula Delamura Santos*

Tuany Dandara Feo Vedana*

Stephanie Figueiredo Urbano**

Augusto Gerhart Folmann***

Everton Paulo Roman****

evertonroman75@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Bully é um termo da língua inglesa que significa indivíduo valentão, mandão, brigão, tirano, já a expressão bullying corresponde a um conjunto de violências físicas e psicológicas de caráter intencional e repetitivo. O objetivo deste estudo foi abordar, de forma sistemática, o bullying além do senso comum de brincadeira, versando sobre as características básicas do comportamento e dos indivíduos envolvidos. Foram consultadas as bases de dados eletrônicas Medline (PubMed) e Scientific Eletronic Library Online (SciELO-Brasil) para seleção e revisão de artigos em inglês e português, publicados entre 1994 e 2014.Constatou-se que o perfil dos adolescentes envolvidos é autoritário combinado com uma forte necessidade de controlar ou dominar. É freqüentemente sugerido que os comportamentos agressivos têm sua origem na infância. O estudo identificou as particularidades comportamentais dos agentes e vítimas do bullying, bem como formas de evitar ou diminuir essa prática, as quais podem ser úteis para políticas de intervenção.

          Unitermos: Bullying. Agressão. Transgressão. Adolescentes.

 

Abstract

          Bully is a term used in the English language to describe an individual who is violent, bossy and arrogant; however, bullying refers to a combination of physical and psychological violence with an intentional and repetitive character. The objective was approached, in a systematic way, the bullying beyond the sense of jokes, dealing about basic characteristics of behaviour and the involved individuals. The bases of electronic data Medline (PubMed) and Scientific Electronic Library Online (SciELO-Brazil) were consulted for a review of articles in English and Portuguese, published between 1994 and 2014. It was ascertained that the profile of teenagers involved is authoritarian combined with a strong necessity of controlling or dominating. It is frequently suggested that the aggressive behaviours have originated from childhood. The research identified behavioural peculiarities of the causers and victims of bullying, as well as the ways in which we can prevent or decrease this practice.

          Keywords: Bullying. Aggressiveness. Transgression. Adolescents.

 

          Trabalho desenvolvido dentro de um Projeto de Iniciação Científica (IC) na Faculdade Assis Gurgacz – Cascavel – PR

 

Recepção: 10/11/2015 - Aceitação: 21/01/2016

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 213, Febrero de 2016. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Observa-se que é cada vez mais freqüente abordagens do termo bullying e de como todos estão empenhados em tentar resolver ou pelo menos amenizar esse comportamento.bullying surgiu como uma denominação para os atos do bully (do inglês: valentão, brigão) sendo um vocábulo estrangeiro utilizado de maneira consensual devido à dificuldade de abarcar em uma mesma palavra todos os significados desse comportamento. Ele define condutas com diversos níveis de violência que vão desde chateações inoportunas ou hostis até fatos agressivos, em formas verbais ou não, intencionais e repetitivas, sem motivação aparente, provocadas por um ou mais agressor em relação a outrem numa dinâmica de desequilíbrio de poder entre agente e vítima, causando dor, angústia, violência, exclusão, humilhação e discriminação.

    O termo bullying não é utilizado em todos os países, estes se utilizam de outros termos de sua linguagem sem que se perca o significado. Por exemplo: na Dinamarca e Noruega é conhecido com mobbing, que significa tumultuar; na Suécia e Finlândia utiliza-se o mobbning; na Itália, foi conceituado como prepotenza ou bullismo; na Espanha, intimidación; e, no Japão, utiliza-se yjime (Fante, 2005).

    No Brasil, diversas palavras e expressões tem sentido equivalentes ao bullying, como zoar, intimidar, humilhar, ameaçar, excluir, difamar, dentre outras. O comportamento se manifesta também por atos repetidos de opressão, discriminação, intimidação, xingamentos, chacotas, tirania, ofensas, agressão a pessoas ou grupos. Nesse sentido, dada a sua relevância social, o número de pesquisas sobre o tema vem crescendo em todo o mundo nos últimos vinte anos (Malta et al, 2010).

    Entenda-se que, seja por uma questão de circunstâncias ou por desigualdade de poder, por trás dessas atitudes sempre há um bully que domina, geralmente, a maioria dos alunos de uma turma e não deixa que outras pessoas sejam solidárias com o agredido. A maioria das vítimas sofre com o bullying desde criança o que só vem a agravar a situação. Essas crianças são vítimas de apelidos pejorativos, constantes agressões físicas e emocionais e ainda atitudes racistas (Silva, 2010).

    Deve-se ter em mente que esse comportamento funciona como uma balança desajustada, em que existe de um lado o bullying dominante e de outro a vitimização submissa, em um verdadeiro sistema de disparidade, representando diferentes tipos de envolvimento em situações de violência durante a infância, adolescência ou até mesmo na vida adulta. O bullying diz respeito a uma forma de afirmação de poder interpessoal através da agressão. A vitimização ocorre quando uma pessoa é feita de vítima do comportamento agressivo de outra mais poderosa. Tanto o bullying como a vitimização têm conseqüências negativas imediatas e tardias sobre todos os envolvidos: agressores, vítimas e observadores (Lopes Neto, 2005).

    Outra forma de bullying que vem crescendo atualmente é o bullying virtual ou ciberbullying, que são agressões feitas através da internet, utilizando mensagens, e-mails, e principalmente através das redes sociais onde os agressores criam perfis falsos para ofenderem a vítima, ou comunidades exclusivas com a mesma intenção de constranger e expor a vítima através de ofensas e apelidos maldosos. A diferença nesse tipo de bullying é que nem sempre é possível encontrar o autor de tais agressões virtuais, devido aos muitos perfis falsos criados diariamente (Silva, 2010).

    Dessa maneira, esse tipo de atitude deve ser identificado como uma violência tanto pela comunidade escolar, local onde ocorre o maior número de casos, quanto em qualquer outro espaço, virtual ou real, em que tal ato se manifeste e ser trabalhado para a construção de um ambiente saudável. Sendo assim, sabendo da importância de ampliar as pesquisas e as discussões em meio a toda comunidade científica de modo a traçar o perfil dos agressores e vítimas, dos efeitos e do papel dos profissionais frente ao comportamento, o objetivo deste artigo foi abordar de forma ampla o bullying na atualidade tratando-o como um grande problema social e o que se pode fazer em tais circunstâncias.

Metodologia

    Foram consultadas as bases de dados eletrônicas Medline (PubMed) e Scientific Eletronic Library Online (SciELO-Brasil) para seleção e revisão de artigos em inglês e português, publicados entre 1994 e 2014. A pesquisa centrou-se na busca por artigos que abordassem o termo bullying definida pelos Descritores em Saúde (DeCS).

O bullying e seus critérios

    A abrangência de atos que definem o termo fez com que surgisse a dificuldade em caracterizar o bullying e diferenciá-lo de agressões, discussões, desentendimentos, brigas aleatórias ou a mera indisciplina ocasional. Nesse sentido, estabeleceram-se alguns critérios particulares que ajudam a reconhecer esse comportamento e individualizá-lo, sendo eles: a intencionalidade do comportamento; o comportamento deve ser repetitivo ao longo do tempo; e deve haver um desequilíbrio de poder na dinâmica do bullying.

    Observando esses requisitos, torna-se perceptível que esse comportamento não é uma simples desavença eventual, mas sim atos intencionais de violência e constrangimento moral que perduram no tempo com grande disparidade de poder. Logo, deve-se procurar ter cuidado ao caracterizar uma ação como bullying, de modo a não nutrir a banalização do termo e também não desvalorizar o ato promovido, o que poderia prejudicar a identificação e o registro das ocorrências em nosso cotidiano. Pode-se considerar vítima de bullying a criança ou adolescente exposta repetidamente a ações negativas impostas por uma criança ou adolescente ou em grupo. Não é muito comum que a vítima do bullying revele o sofrimento com facilidade, seja por vergonha, medo, ou por recear críticas. As vítimas geralmente não têm muitos amigos, são solitários, e sofrem com vergonha, medo e ansiedade. Esses fatores podem agravar os efeitos das agressões sofridas pelo bullying, podendo também apresentar atitudes de autodestruição ou intenções suicidas, e até mesmo adotar medidas mais drásticas como vingança, portar armas ou cometer suicídio (Lopes Neto, 2005).

    A literatura aponta que é possível classi­ficar os estudantes conforme seu envolvimento com o bullying em quatro categorias. A primeira delas é composta pelos alvos (vítimas): eles são os alunos que sofrem o bullying, alunos geralmente pouco sociáveis, inseguros e com problemas de adequação aos grupos; podem também apresen­tar aspectos físicos diferenciados dos padrões so­ciais impostos (por exemplo, obesidade). A baixa autoestima também é uma característica dos alvos, o que acaba sendo agravado pelas atitudes negativas direcionadas a eles. O segundo grupo é o dos autores (agressores): são os estudantes que praticam o bullying, geralmente pouco em­páticos e mais fortes do que os colegas de classe, o que lhes dá a superioridade característica das atitudes de bullying. Eles podem advir de famílias desestruturadas nas quais há pouco relacionamento afetivo entre os membros e comportamentos violentos são utilizados para solucionar conflitos. O terceiro grupo é o das testemunhas (espectadores): são os estudantes que não sofrem nem praticam o bullying, porém, convivem em um ambiente em que esses atos ocorrem. Muitos se calam diante do ocorrido com medo de se tornarem as próximas vítimas. O quarto grupo é dos alvos/autores, que são os estudantes que sofrem e praticam o bullying, transferindo para outros colegas as agressões sofridas (Fante, 2005).

Os agressores (bullies) e o bullying: uma questão a ser amplamente discutida

    O perfil dos agressores adolescentes é autoritário combinado com uma forte necessidade de controlar ou dominar, podendo possuir uma deficiência em habilidades sociais e um ponto de vista preconceituoso sobre a vítima. Os agressores costumam ser hostis, intolerantes e usar a força para resolver seus problemas. Porém, eles também freqüentemente foram vítimas de violência, maus-tratos, vulnerabilidade genética, falência escolar e experiências traumáticas. Comportamentos autodestrutivos como consumo de álcool e drogas e correr riscos desnecessários são vistos com mais freqüência entre os autores de bullying (Mendes, 2011).

    Não há grande distinção de gênero quanto ao agente, ele pode ser tanto do sexo feminino quanto masculino, possuindo em sua personalidade traços de desrespeito e maldade. Na maioria das vezes apresentam um alto poder de liderança, são aversivos às normas, não aceitam ser contrariados, se frustram facilmente e quase sempre estão envolvidos em pequenos delitos, como furtos, roubos ou vandalismo, com destruição do patrimônio público ou privado. O agressor pode agir sozinho ou em grupo, quando estão acompanhados de seus seguidores suas maldades ganham maiores dimensões, e ele se sente mais motivado a ampliar seu território e fazer novas vítimas (Silva, 2010).

    O que leva o agressor a cometer tais atos pode estar ligado à rapidez em se enraivecer e usar a força, em acréscimo a comportamentos agressivos, a má interpretação de ações de outros como hostis, a preocupação com a autoimagem e o empenho em ações obsessivas ou rígidas. Inveja e ressentimento também podem ser motivos para a prática da agressão. É freqüentemente sugerido que os comportamentos agressivos têm sua origem na infância, pois o comportamento agressivo não é desafiado na infância, com isso há o risco de que ele se torne habitual. A prática do assédio escolar durante a infância põe a criança em risco de comportamento criminoso e violência doméstica na idade adulta. Quanto mais sofrem com violência e abusos, mais provável é deles repetirem esses comportamentos em sua vida diária e negligenciarem seu próprio bem estar (Mendes, 2011).

    Pesquisa realizada na cidade de Olinda (estado de Pernambuco) identificou que o tipo de bullying mais empregado pelos adolescentes foi o verbal, com destaque para apelidar e fazer intrigas (Brito e Oliveira, 2013). Estes dados também foram encontrados nas pesquisas realizadas por Moura; Cruz e Quevedo (2011) e Bandeira e Hutz (2012), que constataram o tipo verbal como sendo o mais utilizado para provocar bullying nesta fase de vida Brito e Oliveira (2013) também detectaram que o pátio, escadas, refeitório ou banheiro foi o local de maior ocorrência.

    Estudo realizado com 348 estudantes que freqüentavam entre o 6° ao 9° ano (média de idade de 13,3 anos), constatou que alunos que são alvos e autores de bullying apresentam cinco vezes mais chances de terem sintomas depressivos em relação aos outros estudantes (Forlim, Stelko-Pereira e Williams, 2014).

    Identificar e diferenciar os envolvidos no fenômeno bullying é uma tarefa difícil devido aos vários fatores que envolvem esse fenômeno. Dessa forma, é preciso estar sempre atento a qualquer mudança no comportamento das crianças e jovens, mesmo que pareça insignificante (Fante, 2005). Como ato depreciativo que é, o bullying ofende inicialmente a autoestima e a dignidade da vítima, tanto no âmbito íntimo quanto nas suas relações interpessoais. Essa ofensa estende-se então à qualidade de vida e à sociedade como um todo, na medida em que existe uma correlação entre autoestima, aprovação social e saúde mental.

    A vítima de bullying apresenta uma introjeção do estigma rotulado, sua autoestima é tão depreciada que o afetado acaba acreditando ser merecedor de tal rejeição, desenvolvendo graves distúrbios mentais. Dentre os sinais e sintomas que podem ser observados em alvos de bullying estão: enurese noturna, alterações do sono, cefaléia, desmaios, vômitos, paralisias, anorexia, bulimia, isolamento, tentativas de suicídio, perda de memória, histeria, depressão, pânico, autoagressão. Socialmente, essas pessoas apresentam dificuldades de se relacionar, são inseguras amorosamente, possuem maior dificuldade em conseguir empregos, expressar opiniões e subir de cargos em empresas. Porém, não só as vítimas são afetadas, “entre os autores, as alterações de comportamento, os comportamentos de risco e o consumo de álcool e drogas são vistos com mais freqüência” (Lopes Neto, 2005).

    Estudos apontam para o fato de os agressores (bullies) possuírem maior probabilidade de praticarem atos de delinqüência e criminalidade. Estes relatam maior probabilidade de autores de bullying se envolverem em comportamentos infratores mais graves e serem criminalmente condenados na vida adulta (Batsche e Knoff, 1994; Heinrichs, 2003; Kumpulainen e Räsänen, 2000). Pesquisa longitudinal realizada pelo psicólogo norueguês Dan Olweus que acompanhou um grupo de adolescentes autores de bullying, entre 12 e 16 anos, ao longo de mais de uma década acabou concluindo que 60% dos adolescentes agressores haviam sido penalizados com pelo menos uma condenação legal antes de completarem 24 anos de idade. Estudos americanos feitos com os mesmos objetivos e metodologias revelaram um considerável aumento na probabilidade de os agressores apresentarem, no mínimo, mais duas condenações judiciais ao longo da vida (Silva, 2010).

    A família envolvida também acaba alterando sua dinâmica, tanto agressor quanto vítima tornam-se centros de preocupação e atenção dos pais, fazendo com que estes percam o foco de suas próprias vidas. Dessa forma, a vítima, o agressor, o espectador e a família formam uma rede integrada, um círculo que necessitará do assistencialismo do governo em: apoio à saúde mental através de psicólogos e psiquiatras; medicamentos; movimentação da justiça através da infância e da juventude e ações indenizatórias; programas sociais de apoio aos familiares; apoio nas relações de trabalho quanto à baixa produtividade e lucro, alta rotatividade de pessoal e a perda de clientes que afetam a economia.

Síntese das informações

    O bullying tornou-se um problema sério, principalmente nas escolas de todo o mundo devido ao aumento de casos repentinos. Para ilustrar a grandiosidade do assunto, a seguir serão abordados alguns exemplos extremos conseqüentes desse comportamento. Um dos casos mais conhecidos e com um desfecho trágico e chocante ocorreu nos Estados Unidos, em 1999, no Colégio Columbine High School, em Denver, Colorado. Os estudantes Eric Harris, de 18 anos, e Dylan Klebold, de 17, mataram 12 colegas da escola e um professor. A motivação seria vingança pela exclusão escolar, que ambos sofreram durante muito tempo. O massacre trouxe a tona discussões sobre maus tratos aos adolescentes nas escolas e segurança nas instituições de ensino norte-americanas, tornando-se referência em relação à violência escolar. Em 2002, essa triste tragédia deu origem ao premiado documentário, Tiros em Columbine, dirigido por Michael Moore, que questiona o culto a violência e o fácil acesso a armas nos Estados Unidos. Infelizmente, essa atitude extrema dos alunos, é considerada, por alguns estudantes adolescentes, um ato de heroísmo, sendo copiada em várias partes do mundo (Silva, 2010).

    Pesquisa realizada com menores em conflito com a lei, os quais cumpriam medidas socioeducativas em regime de semiliberdade e liberdade assistida, observou que todos os participantes da pesquisa (16 adolescentes) relataram terem sido vítimas ou autores de bullying ao menos uma vez no último ano (Zaine, Reis e Padovani, 2010).

    Os mesmos pesquisadores, citados anteriormente, constataram também maior incidência na autoria de bullying do que de intimidação por colegas, onde a pesquisa sugeriu grande necessidade de investigação sobre a relação entre o comportamento de bullying em indivíduos infratores.

    Para Orte (1996) o bullying escolar se apresenta como um mal-estar que se observa desde a perspectiva oculta, desde o desconhecimento, desde a indiferença. Ou, inclusive, desde a ausência de valorização de si mesmo, de sua própria existência e das conseqüências que o mesmo pode ter e tem no desenvolvimento social, emocional e intelectual dos menores que sofrem ou padecem por este novo e velho fenômeno. Ainda de acordo com a autora, pode-se considerar o bullying como um fenômeno novo porque deve ser objeto de investigação, uma vez que se apresenta na desigualdade entre iguais, resultando num processo em que os iguais projetam seu mau caráter de forma oculta dentro de um mesmo contexto.

    O Bullying não se trata de um episódio esporádico ou de brincadeiras próprias de crianças; é um fenômeno violento que se dá em todas as escolas, e que propicia uma vida de sofrimento para uns e de conformismo para outros. Para Fante (2002) os danos físicos, morais e materiais, os insultos, os apelidos cruéis e as gozações que magoam profundamente, as ameaças, as acusações injustas, a atuação de grupos que hostilizam a vida de muitos alunos levando-os à exclusão, tudo isso são algumas das condutas observadas em relação ao Bullying escolar. Algumas informações e relatos extraídos de jornais ou de estudos realizados podem anunciar a extensão e magnitude do problema.

    Sendo assim, todos os profissionais (seja no ambiente escolar ou atendimento social) devem estar empenhados no processo, comprometidos com a elaboração e desenvolvimento de debates, palestras, campanhas, trabalhos específicos, parcerias com as famílias (que desempenham um dos papeis principais) e com demais profissionais, dentre outros, para que, futuramente, possam se orgulhar do ambiente sadio e pacífico que estimularam, em decorrência do desenvolvimento de um maior vínculo entre as crianças ou adultos que sofrem ou causam o bullying (Lemos, 2007).

    O Psicólogo é o profissional adequado para realizar um trabalho de prevenção e enfrentamento no caso da violência escolar, ajudando a escola a construir espaços e relações mais saudáveis. Mas, para isso, é de fundamental importância que ele esteja inserido no ambiente da escola, participando do cotidiano da instituição para que possa ter uma atuação específica e mais voltada à realidade, desenvolvendo através das relações estabelecidas novas alternativas para o seu trabalho. Esse profissional deve ocupar um lugar de escuta, possibilitando que se criem espaços de discussões e construção de conhecimento de forma que os problemas sejam debatidos abertamente entre os alunos e professores e a busca por soluções seja compartilhada. Estando o psicólogo ligado à instituição, ele tem a possibilidade de atuar como agente de mudanças, capaz de promover reflexões a respeito do tema da violência, podendo, assim, conscientizar e treinar os agentes institucionais sobre suas funções, garantindo a construção de relações mais saudáveis e evitando o surgimento de qualquer forma de violência entre os alunos (Freire e Aires, 2012).

    Sugere-se também maior capacitação aos professores das disciplinas que estão inseridas no ambiente escolar. Pode-se considerar de extrema importância o olhar atento desses educadores, pois os mesmos convivem com os estudantes todos os dias, conhecem bem a realidade, os grupos onde os mesmos pertencem e conseguem visualizar de forma antecipada qualquer situação ou transtorno que consiga dar encaminhamento rápido minimizando algumas situações que podem ter desfechos trágicos. Contudo, deve-se tomar cuidado com determinadas percepções, para não acreditar que toda ou qualquer brincadeira seja uma atitude de bullying. Por isso, para evitarmos equívocos na avaliação e encaminhamento dos casos, devemos analisar alguns critérios fundamentais antes de termos o devido diagnóstico de bullying: a vítima tem que ser alvo dos ataques de maneira repetitiva durante certo tempo. Cerca de no mínimo duas vezes no decorrer do ano letivo, segundo o pesquisador norueguês Dan Olweus (Silva, 2010).

    Deve-se também encorajar os alunos a participarem da supervisão e intervenção dos atos de bullying, pois o enfrentamento da situação pelas testemunhas demonstra aos autores que eles não terão o apoio do grupo, fazendo com que desistam de seus objetivos. Treinamentos através de técnicas de dramatização podem ser úteis para que adquiram habilidade para lidar de diferentes formas de com esse tipo de comportamento. Outra estratégia é a formação de grupos de apoio, que protegem os alvos e auxiliam na solução das situações de bullying. Nas escolas onde estudantes têm participação ativa nas decisões e organização, observa-se redução dos níveis de vandalismo e de problemas disciplinares e maior satisfação de alunos e professores com a escola. Lembrando também que a comunidade tem um papel essencial no papel anti-bullying que é a denúncia dos agressores, ajudando assim às vítimas (Lopes Neto, 2005).

    Os ataques não deverão ter qualquer motivação que possam justificá-los. E ainda sempre haverá um desequilíbrio de poder entre o agressor e a vítima, o que impede a defesa desta e a motiva a criar uma série de sentimentos desagradáveis em torno da situação. Uma vez identificado o bullying, os responsáveis pela escola deverão dar início a entrevistas individuais com o agressor e com a vítima, no entanto a pessoa que fará a entrevista deverá ter vasto conhecimento sobre o assunto. Na maioria dos casos o atendimento individualizado e as devidas situações já são suficientes para que as práticas parem. No Brasil não temos nenhuma lei específica sobre o bullying, No entanto, o Estatuto da Criança e do Adolescente é bem claro a respeito de medidas socioeducativas a respeito de jovens que cometam atos infracionais. Vale ressaltar que o registro das ocorrências e o encaminhamento adequado dos casos são extremamente importantes para que se produzam dados estatísticos, pesquisas e estudos que orientem a elaboração e a prática de políticas públicas eficazes contra o bullying (Silva, 2010).

Conclusões/recomendações

    Com a realização desta pesquisa foram identificadas características comportamentais de vítimas e autores de bullying, assim como algumas formas de como evitar ou diminuir essa prática, que podem ser úteis para políticas locais de intervenção, e fonte de hipóteses para futuros estudos e grupos de apoio. Visa também alertar as pessoas do quanto esses comportamentos podem ser traumáticos para quem é vítima desse tipo de agressão.

    O bullying é a forma de violência que mais cresce no mundo. Aproximadamente 20% dos alunos que cometem também sofrem bullying, sendo denominados vítimas e autores. As vítimas de bullying, geralmente, são indefesas com alguma característica diferente dos demais colegas e essas diferenças comportamentais ou físicas com o agressor, somadas às vitimizações, fazem com que a vítima crie quadros de depressão, ansiedade crônica, fobias, e até mesmo, em casos mais graves, desenvolva propensões ao suicídio.

    As conseqüências do bullying para os autores das agressões são: o baixo rendimento escolar, perda de concentração e aprendizagem afetada negativamente pela prática da violência. A prática dos maus tratos é, portanto, negativa para a vida escolar das vítimas e dos agressores, atingindo os dois grupos da mesma forma. As vítimas passam por um processo muito doloroso, desde o dia em que começam as agressões, sejam elas verbais ou físicas, até o dia em que a vítima decide procurar ajuda. Em alguns casos a criança ou adolescente prefere não falar sobre as agressões sofridas e passam a se ausentar das escolas ou qualquer outro ambiente social.

    Em relação à pergunta inicial que motivou a descrição do título desta pesquisa, bullying: o que fazer? Os autores sugerem que campanhas publicitárias sejam realizadas com maior freqüência com o claro propósito de procurar conscientizar a sociedade em geral, principalmente os pais quanto à importância do acompanhamento dos seus filhos (potenciais agressores ou vítimas). Também se espera que seja ampliada a discussão por todos os profissionais envolvidos no ato de educar e que se possa estabelecer o devido valor que o combate ao bullying deve representar, pois este afeta a vítima nas suas mais variadas formas, com sérias conseqüências físicas e mentais que são levadas à sociedade como um todo, meio onde vivemos e convivemos.

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