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Psicologia e ansiedade em atletas

Psicología y ansiedad en deportistas

Psychology and anxiety in athletes

 

Universidade Feevale

Novo Hamburgo, RS

(Brasil)

Rodrigo Mestriner Fernandes

Prof. Dr. Gilson Luís da Cunha

Profa. Dra. Geraldine Alves dos Santos

Prof. Me. Raquel Maria Rossi Wosiack

geraldinesantos@feevale.br

 

 

 

 

Resumo

          A ansiedade é um aspecto relevante na prática desportiva de alto rendimento que pode afetar negativamente os atletas em treinos e competições. Por isso, o presente trabalho teve como objetivos: identificar o nível de ansiedade de atletas praticantes de handball e de futebol de campo de alto rendimento em uma Instituição Universitária; analisar a importância dos atendimentos individuais psicoterápicos na diminuição da ansiedade nestes mesmos atletas. Método: O estudo teve como amostra dez atletas com idades entre dezessete e vinte e nove anos, sendo seis praticantes de handball e quatro de futebol de campo de alto rendimento, em uma Universidade localizada no Vale do Rio dos Sinos, Rio Grande do Sul, Brasil. Foram utilizados como instrumentos para coleta dos dados os testes psicológicos BAI e BRAMS, para medir a ansiedade e especificamente a tensão e utilizado um saturômetro para medir os batimentos cardíacos e a saturação de oxigênio, antes e após os atendimentos psicológicos durante três meses. Resultados: Atualmente, com terapia, ficou evidenciada a importância da presença de um psicólogo dentro das entidades esportivas, já que ocorreram diferenças significativas no estado de ansiedade e tensão dos atletas. O teste BAI mostrou que 90% dos atletas diminuíram para o nível mínimo de ansiedade. O BRAMS identificou que o índice de tensão caiu em 24,56% e que 90% dos atletas ficaram abaixo da média do nível de tensão. A aferição da freqüência cardíaca com saturômetro monitorou a queda dos batimentos cardíacos em 50%. Portanto, conclui-se que o acompanhamento terapêutico de atletas de alto rendimento pode ser benéfico tanto para o próprio atleta quanto para o clube no qual ele atua.

          Unitermos: Psicologia. Esporte. Ansiedade. Atletas.

 

Abstract

          Anxiety is an important aspect in high sport performance that can negatively affect the athletes in both training and competition. Due this fact, the present survey aim to detect the level of anxiety in ten athletes between seventeen and twenty-nine years old, six practicing handball and four soccer players of high performance, in a university, located in Rio Grande do Sul, Brazil and to demonstrate the importance of psychotherapy treatment in decreasing anxiety in athletes. The psychological tests, BAI and BRAMS to measure the anxiety and tension specifically, and oximetry to measure heart rate and breathing, were applied before and after the psychological treatment during three months. The context “with therapy” emphasized the importance of a psychologist within the sports entities, as the data presented significant differences in the state of anxiety and tension of athletes. The test BAI showed that 90% of the athletes changed to a minimum level of anxiety, the BRAMS identified that the index of tension dropped by 24.56%, and showed that 90% of the athletes were below the average level of tension. The oximetry monitored the heart rate dropped by 50%. Therefore, the therapeutic follow up of high-performance athletes may be beneficial for both the athlete and for the club in which he acts.

          Keywords: Psychology. Sports. Anxiety. Athletes.

 

Recepção: 23/08/2015 - Aceitação: 02/12/2015

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 20, Nº 212, Enero de 2016. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Podemos observar a ansiedade no comportamento diário das pessoas envolvidas com esporte de alto rendimento e este fato é ocasionado pela performance, cobranças e exigências impostas pelos treinadores, por limitações físicas e pela ocorrência de lesões. Na mídia, freqüentemente podemos ver episódios de descontrole por parte de atletas, que se refletem nas atividades esportivas, fazendo com que estes não consigam desempenhar suas habilidades técnicas e táticas, devido a bloqueios gerados pela ansiedade.

    Tais acontecimentos podem ser observados cada vez mais precocemente, já que os atletas passam das categorias de base para o profissional rapidamente, fazendo com que seja criada uma responsabilidade que estes jovens ainda não estão preparados para suportar, ocasionando aumento no nível de ansiedade, aparecimento de lesões psicossomáticas e dificuldades em jogos e treinos do cotidiano. Além disso, os atletas também sofrem com questões financeiras. Apenas poucos destes conseguem ter uma vida economicamente estável. Esta realidade também influencia em seu rendimento, causando sofrimento psíquico e ansiedade.

    A partir das necessidades de enfrentamento das dificuldades relatadas, a Psicologia do Esporte, que utiliza ferramentas como testes psicológicos, o trabalho com grupos e os atendimentos individuais, pode melhorar o rendimento profissional destes atletas. Porém, é preciso que a prática da Psicologia do Esporte seja inserida nas instituições esportivas de forma sistemática, melhorando a performance e a qualidade de vida destas pessoas.

    A ausência do psicólogo dentro do ambiente esportivo é uma lacuna. Por isso, este trabalho visa também mostrar a importância do profissional da psicologia para atletas. Outro aspecto a ser considerado é que atualmente os atletas estão em um mesmo nível de preparação física, devido ao alto grau de amparo dos clubes e entidades esportivas. Por isso, a análise psicológica dos atletas, a abordagem dos mais diferentes graus de ansiedade fará a diferença no rendimento de atletas com um mesmo grau de preparação. Desta forma, pode ser através de um projeto de apoio ao atleta, que a psicologia contribuirá para a melhora do rendimento destes atletas, inserindo com isto um novo legado cultural e possibilitando uma visão ampla sobre o trabalho da psicologia nas organizações esportivas.

    Considerando os aspectos apresentados define-se como objetivos deste estudo: identificar como a psicologia esportiva pode contribuir na preparação psíquica de um atleta de alto rendimento; analisar o quanto os fatores externos podem influenciar no desempenho destes profissionais; e identificar o nível de ansiedade dos atletas universitários.

Fundamentos teóricos

    Para o controle da ansiedade no esporte, a literatura tem apontado diversas estratégias, como por exemplo, relaxamento, técnicas de visualização (assim o atleta visualiza suas ações da partida na terapia) e metas, no caso de baixa ansiedade. Porém, não basta para um treinador saber as estratégias de preparo físico e técnico de seus atletas. Ele deve possuir também capacidades de ensinar-lhes a lidar com os fatores desencadeadores de estresse. Para que o atleta atinja este nível de conscientização e de atuação, existem competências psicológicas que ele deve aprender a dominar como forma de responder efetivamente às exigências da competição (Viana, 1989).

    Outra maneira de controlar a ansiedade pode se dar através de jogos, pois, se o "Ego" é a expressão do princípio da realidade que se desenvolve a partir do "real", o jogo seria um meio de descarregar impulsos agressivos, pouco aceitáveis pela sociedade. A visão psicanalítica freudiana enfoca o jogo como uma forma de mecanismo de defesa do Ego contra a ansiedade frente às situações da vida cotidiana. Tal mecanismo de defesa pode vir através de fantasias, cujo aspecto simbólico carrega a tentativa de lidar com a angústia associada aos aspectos racionais (Damázio, 1997).

    No momento em que o atleta utiliza destes mecanismos psicológicos suas reações podem ser: decréscimo da flexibilidade mental, sentimentos de confusão, aumento do número de pensamentos negativos, menor capacidade de centrar-se na atuação, atenção inadequada a vivências internas, esquecimento de detalhes, recorrência de antigos hábitos inadequados, tendência a precipitar-se na atuação e decréscimo da capacidade de tomar decisões, (González, 1997). Estes mecanismos estão presentes em muitos atletas consagrados pela mídia que, por não terem acompanhamento profissional adequado, não conseguiram atingir metas as quais, pelo menos fisicamente, estariam aptos para alcançar.

    Para complementar, Barrera (2000) argumenta que a ansiedade exacerbada existe nos atletas que têm crenças muito rígidas, que afetam substancialmente sua percepção das situações esportivas e sociais que os rodeiam. Portanto, por meio da identificação dos pensamentos mais comuns nessa população, pode-se propor uma intervenção eficaz. Ao se fazer uso de um atendimento estruturado, com medidas padronizadas para detectar rápidos índices de ansiedade, é possível trabalhar o atleta, num espaço de tempo compatível com a urgência inerente ao esporte, no qual o tempo é crucial.

Metodologia

    Esta pesquisa tem um desenho quantitativo. A amostra foi composta por dez atletas, quatro do sexo feminino e seis do masculino, com idades entre dezessete e vinte e nove anos, participantes de duas modalidades esportivas, o futebol de campo (quatro atletas) e o handball (seis atletas). Os atletas eram oriundos de Instituição Universitária do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil.

    Foram utilizados dois instrumentos para medir a ansiedade, o teste psicológico BAI (Inventario de Ansiedade de Beck) e o BRAMS (Inventário de percepção de satisfação das necessidades psicológicas básicas para praticantes de atividades físicas e/ou esportivas). Além destes dois testes utilizados para detectar o nível de ansiedade nos atletas do grupo, utilizou-se também o aparelho saturômetro para medir o índice de oxigênio e os batimentos cardíacos.

    O saturômetro foi utilizado para detectar a freqüência cardíaca e a saturação transcutânea de oxigênio dos atletas antes das competições, para analisar alguns dados físicos, como freqüência cardíaca e índice de oxigênio com os dados obtidos nos testes psicológicos.

    Após a coleta dos dados, os atletas participaram de intervenções psicológicas na linha cognitiva comportamental. Estes atendimentos terapêuticos foram semanais, em sessões de uma hora de duração, num total de três meses. Foram doze encontros com cada participante. Nestes encontros foram identificadas as crenças negativas dos atletas, buscando modificá-las e auxiliar na sua prática esportiva. Nos últimos quinze minutos antes do término de cada sessão, era feito um trabalho de relaxamento, com técnicas de visualização para melhorar a percepção e concentração dos atletas na sua modalidade esportiva. No penúltimo encontro foram refeitos os testes psicológicos para se obter um comparativo e cruzamento dos dados entre a primeira aplicação e a final. No último encontro foram apresentados os resultados para os atletas.

    O software utilizado para análise estatística foi o Statistical Package for Social Sciences versão 20.0. (SPSS). O teste estatístico utilizado para análise de comparação de médias foi o teste t de Student para duas médias (amostras emparelhadas).

Resultados

    Após a escolha do grupo de atletas adequados ao propósito deste estudo, foi medido o nível de ansiedade dos mesmos para se obter o índice inicial antes do processo psicoterápico. Através do teste BAI foram identificados dois cenários de ansiedade, sem terapia e com terapia. Assim, ao serem aplicados os instrumentos, detectou-se o nível de ansiedade dos atletas durante uma temporada de três meses de competições. A ansiedade destes atletas foi gerada por diversos fatores como: mau rendimento, lesão, pressão da torcida e preocupações pessoais.

    A ansiedade é um fator psicológico que interfere na performance esportiva. Entende-se, neste estudo, a ansiedade como uma resposta emocional determinada a um acontecimento que pode ser agradável, frustrante, ameaçador, entristecedor e cuja realização ou resultado depende não apenas da própria pessoa, mas também dos outros (Machado, 1997).

    No gráfico abaixo, com uma escala de 0 a 63 a ansiedade existente nos dez atletas foi medida nos dois cenários: Sem terapia e Com terapia, de acordo com a tabela de Beck, entre mínimo, leve, moderado e grave.

Gráfico 1. Comparativo dos atletas na fase sem terapia e com terapia através do BAI

Fonte: elaborado pelos autores, 2015

    Os atletas At3, At5 e At9 apresentaram mudanças significativas. O At3 apresentava índice de 23 pontos inicialmente e depois com a terapia diminuiu para 6 pontos. O At5 inicialmente marcou 20 pontos e depois, com terapia, foi para 8 pontos. O At9 iniciou com 10 e diminui para 0. Nota-se, assim, uma diminuição do nível de ansiedade nos atletas At. 3, At. 5 e At. 9. Acredita-se que isto tenha ocorrido devido às sessões de Psicologia do esporte que os atletas freqüentaram. As sessões de Psicologia do Esporte estruturaram-se através de critérios normativos (inevitavelmente reducionistas), porém que possibilitaram, por exemplo, a classificação das mais variadas formas de expressão em um pequeno número de "personalidades", "estados emocionais" e em modelos pré-estabelecidos de comportamento. A partir dos conceitos (e não do atleta real), foram definidas "características psicológicas" e tipos de "tratamento" a serem dispensados ao atleta, com a intenção de favorecer o rendimento esportivo, seguindo sugestão de Frascareli (2008). Os atendimentos estavam apoiados na idéia de que a mente controla o corpo (Ruiz e Lorenzo, 2008), por isso apoiar-se somente no preparo físico e técnico não seria suficiente para afrontar os desafios e pressões da competição.

    Ao serem trabalhadas questões externas ao esporte como família, namoro e condição financeira, houve uma melhora significativa nos rendimentos destes atletas não só evidenciado na terapia, mas também na sua prática esportiva, sendo este fator relatado verbalmente por um dos desportistas atendidos. A prática do relaxamento também ajudou o atleta a baixar seu nível de ansiedade, momento onde o atleta trazia uma música para escutar. Esta mesma música ele sempre utilizava antes das partidas. Ao realizarem estes relaxamentos, os atletas pensavam saídas para seus conflitos psicológicos (ansiedade e medo de errar), e o terapeuta tentava ligar este espaço e momento onde o atleta estava confiante com o momento de sua prática esportiva, onde surgia o medo de errar (jogos, ansiedade, cobranças dos técnicos, da torcida e familiares) e juntos visualizavam como poderiam resolver estas questões e com isto ocorria um decréscimo da ansiedade. Em relação a estes resultados, estudiosos da área da ansiedade informam que a possibilidade de aumentar ou diminuir o grau de ansiedade frente à competição, varia, indo de acordo com a tarefa em questão, ou seja, modalidades que aplicam em resistência e força têm maior probabilidade de dissipar a ansiedade (Radford e Kirby, 1975, p.136).

    O gráfico 2 refere-se ao teste BRAMS, que demonstra, em uma escala 0 a 100, onde a média é considerada 50, o estado de tensão que os atletas chegaram à primeira sessão e como eles se encontravam na última sessão. O resultado demonstrou a eficácia do trabalho de Psicologia Esportiva com estes atletas, pois quase todos ficaram abaixo da média, com exceção do At. 1 e At. 3.

Gráfico 2. Índice de BRAMS dos atletas na fase sem terapia e com terapia com ênfase na tensão

Fonte: elaborado pelos autores, 2015

    Apesar de At1 e At3 terem baixado o nível de tensão de 59 para 55 e de 72 para 55 ainda ficaram acima da média. Interessante observar que At3 que diminuiu 17 pontos é o mesmo atleta que também apresentou um grau elevado de diminuição em relação à ansiedade.

    No gráfico 3 percebe-se mais uma vez que o trabalho terapêutico além de auxiliar a baixar o nível de ansiedade também diminui a tensão entre atletas de alto rendimento.

Gráfico 3. Média dos atletas do índice de BRAMS na fase sem terapia e com terapia com ênfase na tensão

Fonte: elaborado pelos autores, 2015

    Assim, o resultado deste estudo aponta que os atletas sem acompanhamento apresentaram um maior nível de tensão (57%). Em relação aos atletas com acompanhamento psicológico, este índice foi de 43%, sendo que a diferença foi bastante significativa (24,56%).

    Becker (2000) sugere que o objetivo do treinamento psicológico é a modificação dos processos e dos estados psíquicos (percepção, pensamento, motivação), ou seja, as bases psíquicas da regulação do movimento. Ao final do trabalho, observou-se que os atletas estavam mais unidos e constantes no seu rendimento, tanto nas competições como nos treinamentos.

    Um aspecto que precisa ser aqui comentado refere-se aos níveis de tensão. Embora com base em dados empíricos, sabe-se que níveis de tensão elevados ou fora dos padrões ideais podem ser úteis no rendimento esportivo, uma vez que tais alterações poderiam colaborar na geração de energia e compensar a diminuição de outros recursos, tais como a fadiga (Segato, 2009).

    Ao aplicar-se o método de BRAMS foi identificada diminuição no nível de tensão dos atletas principalmente nos At. 5 e At. 8. Em At. 5 a diminuição foi de 61,33% e em At. 8 de 59,70%. Estes resultados demonstram mais uma vez a importância e eficácia do trabalho psicológico com estes atletas.

Gráfico 4. Destaques de evolução dos atletas na fase sem terapia e com terapia através do BRAMS

Fonte: elaborado pelos autores, 2015

    Como se pode perceber no gráfico acima At. 5 e At. 8 estavam bem acima da média e após os atendimentos ficaram abaixo da média.

    Ao considerarmos outro instrumento utilizado, o saturômetro, é importante esclarecer que as medidas extraídas através deste instrumento são mostradas em uma escala de 0 a 100, referente ao índice de SO2 (nível de oxigênio no sangue) e de RP (batimentos cardíacos).

    Ao observar-se o gráfico 6, percebe-se que tanto o batimento cardíaco quanto a saturação aumentavam significativamente, paralelamente aumentando também o nível de ansiedade dos atletas.

Gráfico 5. Índice dos atletas nas fases de terapia, testes e relaxamento através do aparelho

de saturômetro na fase de sem terapia (S.T.) e com terapia (C.T.)

Fonte: elaborado pelos autores, 2015

    Ao aplicarem-se os testes BAI e BRAMS, percebe-se qual era o nível de ansiedade e tensão dos atletas antes de terem contato com um psicólogo do esporte e de se defrontarem com os testes psicológicos. Este estado é semelhante ao que os atletas vivenciavam momentos antes de partidas importantes em suas modalidades esportivas. Entretanto, desde o momento em que se iniciou a terapia (tratamento psicológico) com o grupo de atletas, pode-se perceber uma redução significativa em seu estado de tensão, sendo que o decréscimo chegou a 33%. Já ao ser aplicada a técnica de relaxamento, o estado de ansiedade baixou ainda mais do que com a terapia, chegando a 31%.

Gráfico 6. Média dos atletas do índice de Saturômetro nas fases de terapia, testes e relaxamento

Fonte: elaborado pelos autores, 2015

    Desta forma, observando-se o gráfico 6, percebe-se o quanto foi importante para estes atletas a união da psicoterapia com a técnica de relaxamento para assim diminuir os estados de ansiedade de cada um deles. Destacaram-se os atletas At. 3, At. 4 e At. 8.

    De acordo com Smith (1986) a avaliação cognitiva é importante, mas também as respostas fisiológicas resultantes dessa avaliação, nomeadamente os elevados níveis de ativação que tendem a ocorrer nos casos onde as situações são percebidas como ameaçadoras. É neste sentido que o autor estabelece como uma das áreas de intervenção com os jovens desportistas o desenvolvimento de estratégias de confronto para lidar com esses sentimentos negativos, dando como exemplo o treino de estratégias de relaxamento, que podem funcionar como uma forma de ajudá-los a regular as respostas fisiológicas e comportamentais diante das exigências do rendimento desportivo.

    O relaxamento foi a situação em que se obteve o menor índice de So2 e RP, e conseqüentemente onde se obteve o menor percentual do nível de tensão (31%) sendo que a respiração dos atletas e os batimentos cardíacos mantiveram-se mais equilibrados. Diferentemente, nas etapas de testes houve um aumento nestes índices sendo o mesmo de 36%.

    Segundo Rúbio (2003) existem algumas estratégias que podem auxiliar o atleta a lidar com o excesso de ansiedade e tensão, tais como aprender a reconhecer e mudar pensamentos negativos, utilizar informações positivas, regular a respiração, manter o senso de humor e fazer relaxamento.

Gráfico 7. Destaques de evolução dos atletas nas fases de terapia, testes e 

relaxamento através do Saturômetro nas fases sem terapia e com terapia

Fonte: elaborado pelos autores, 2015

    Como se pode observar no gráfico 7 não houve mudança na fase sem terapia e com terapia nos níveis de So2 dos atletas At 3, At 4 e At 8. Mas na avaliação dos RP (batimentos cardíacos), houve uma melhora significativa nos atletas destacados tanto no relaxamento quanto na terapia demonstrando a eficácia deste trabalho.

    Porém é importante comentar-se que a personalidade de um indivíduo é caracterizada pela composição individual dos traços (necessidades, motivos, interesses, atitudes e temperamento). Assim, de acordo com Samulski (1995), o perfil de personalidade pode dar indicativos para a análise dos fatores que influenciam o seu desempenho dentro de um esporte.

    Ainda assim, ao analisar-se o perfil dos atletas constatou-se que as diferenças entre sexo, esporte praticado (futebol de campo e handball) e idade não foram relevantes para o resultado da pesquisa, pois todos os atletas tiveram melhoras nos seus níveis de ansiedade mesmo frente à diversidade do grupo pesquisado, após a última sessão de terapia e aplicação dos testes. Este fato é apresentado a seguir no gráfico 8.

Gráfico 8. Perfis dos atletas através da idade, sexo e esporte praticado

Fonte: elaborado pelos autores, 2015

    O resultado apresentado no gráfico 8 comprova que não houve uma interferência nos resultados da pesquisa em relação ao sexo e ao esporte praticado pelos atletas pesquisados. Pois ao observar-se o At .4 (handball, feminino e 21 anos), este teve o mesmo rendimento na pesquisa do At. 10 (futebol, masculino e 21 anos).

    Outros pesquisadores encontraram o mesmo resultado, entre eles Melo (1984) que não identificou influência da idade nos níveis de ansiedade no grupo por ele pesquisado, e justifica tal achado mediante a variável autoestima. Para ele, os adultos ficam mais ansiosos por serem ameaçados pela derrota frente a adolescentes, enquanto que, nos adolescentes, o nível de ansiedade pode não ser alterado, pois ser derrotado por adultos pode ser considerado um fator normal, desta forma deixando-os mais tranquilos.

Conclusão

    Nesta pesquisa foi detectado que há um alto índice de ansiedade durante suas práticas esportivas, e, justamente por isto, a presença de um psicólogo do esporte dentro das entidades esportivas, principalmente durante o período de competições, é extremamente necessária e importante. Contudo, na prática, este fator emocional é colocado de lado, ou seja, pouco considerado, por técnicos, dirigentes e comissão técnica destas entidades, apesar de saber-se que a ansiedade é um fator que interfere no rendimento de um atleta.

    Os resultados obtidos sugerem que esta pesquisa possa ser canalizada a dirigentes do esporte e às comissões técnicas, ressaltando a idéia de que o cenário externo em que o atleta se encontra está interligado a seu ambiente interno. Por serem coligados e dependentes, estes cenários terão influência direta no desempenho do atleta, devendo ser igualmente trabalhados. Portanto, conclui-se que o acompanhamento terapêutico de atletas de alto rendimento pode ser benéfico tanto para o próprio atleta quanto para o clube no qual ele atua, já que seu rendimento e performance serão afetados.

Bibliografia

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 20 · N° 212 | Buenos Aires, Enero de 2016
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